"O
mundo, no sentido em que fala Nosso Senhor, distingue-se da Carne e
do Demônio.
É
a alma absorvida em objetivos terrenos, com prejuízo de Deus,
objetivos que em si mesmos não são viciosos, mas que têm o
inconveniente de obscurecer as verdadeiras perspectivas.
Oficialmente não se intima a Deus que se ponha fora da porta,
mas praticamente é pô-Lo em segundo plano pela importância
que se dá a tudo o que não é Ele.
Uma
das melhores definições do espírito
do Mundo é
dada pelo R. Pe. Faber: 'A
mundanidade, explica
ele, consiste
numa infinidade de coisas, que em si se poderiam permitir, mas que
levam facilmente a um fim que não pode ser permitido, ou porque a
acumulação de todas elas é má, ou porque tomam demasiado
ascendente sobre as nossas afeições. Coisas que nada têm de mal em
si, são condenáveis quando se interpõem entre Deus e nós,
mil vezes detestáveis quando tomam o lugar de Deus em nossos
corações'.

Nisso
está a sua grande nocividade.
No conflito de valores, a coisa que mais se esquece é a
importância relativa desses diferentes valores. Nisto não se digna
refletir a maior parte dos homens, e o seu instinto leva-os o mais
das vezes a prestar atenção às diferentes realidades, em
razão inversa da sua importância. O assunto dos pensamentos e
das conversas será uma aventura escandalosa, ou então, o
último romance em voga, as proezas de um cineasta ou de uma
'estrela'; e pelos maiores acontecimentos, sobretudo se são
religiosos e jogam com o futuro da Cristandade, não se tomará
o menor interesse.
Ao
mesmo tempo que faz esquecer as preocupações essenciais, o espírito
do Mundo tende a enfraquecer e até a corromper os
caracteres: é a invasão da frivolidade.
Mesmo
quando se tratar de Religião, o que dominará não será, por
exemplo, o Culto a prestar a Deus, mas a satisfação de uma
vaidade: serão os bailes de caridade, os casamentos que se rodeiam
de um esplendor mais digno de uma ópera, que de uma Cerimônia
Religiosa.
Na
vida de São Vicente Ferrer conta-se que em Toulouse se haviam
organizado, para afastar graves flagelos, Procissões de Penitência
e Cerimônias de Desagravo. Dessas Procissões vieram os
penitentes a aproveitar-se para se mostrarem nas suas paradas
com trajes apropriados, chegando em certa sociedade a
introduzir-se o costume de se procurarem disciplinas com cabos de
prata, a fim de se distinguirem pelos instrumentos de
Penitência, os ricos dos pobres. Até onde se vai aninhar a
vaidade!
A
que escravidão não se vota quem se abandona a este espírito
de vaidade!
'É costume assim. Então? O que se há de fazer?' Se é
estúpido ou discordante, pouco importa. O
que importa é o Mundo.
Não vale a pena discutir.
Uma
das primeiras companheiras de Santa Madalena −
Sofia Barat, Fundadora das Damas do Sagrado Coração, Madame de
Marboeuf, que tinha uma grande experiência do Mundo, dizia às novas
religiosas: 'Vós
que deixastes o Mundo antes de o conheceres, julgais ter nisso
feito muito por Deus. Não sejais tão ufanas do vosso
sacrifício. Se soubésseis o que é a escravidão do Mundo! É uma
vida de galés. Não sejamos desses condenados às galés. Viva a
nobre independência!"(R.
Pe. Raul Plus, S.J., "Cristo no Lar", Liv. II, c, p. 207).
Fonte: Acessar o ensaio "Reminiscência sobre a Modéstia no Vestir" no link "Meus Documentos".