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"Uma vez que, como todos os fiéis, são encarregados por Deus do apostolado em virtude do Batismo e da Confirmação, os leigos têm a OBRIGAÇÃO e o DIREITO, individualmente ou agrupados em associações, de trabalhar para que a mensagem divina da salvação seja conhecida e recebida por todos os homens e por toda a terra; esta obrigação é ainda mais presente se levarmos em conta que é somente através deles que os homens podem ouvir o Evangelho e conhecer a Cristo. Nas comunidades eclesiais, a ação deles é tão necessária que, sem ela, o apostolado dos pastores não pode, o mais das vezes, obter seu pleno efeito" (S.S. o Papa Pio XII, Discurso de 20 de fevereiro de 1946: citado por João Paulo II, CL 9; cfr. Catecismo da Igreja Católica, n. 900).

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

FESTA DA PURIFICAÇÃO DA BEM-AVENTURADA VIRGEM MARIA.


Por Que a Festa Dedicada a Nossa Senhora,
no Dia 2 de Fevereiro,
Chama-se “Candelária”?


“… Essa Festa recebe o nome de Candelária, porque nela se leva na mão uma candeia [“vela”] acesa. Por quatro razões a Igreja determinou que se levaria na mão uma vela acesa.

Primeira, para abolir um mau costume. Outrora, de cinco em cinco anos, nas calendas de Fevereiro que homenageavam Fébrua, mãe de Marte, deus da guerra, os romanos iluminavam a cidade por toda a noite com círios e tochas, esperando que graças às homenagens prestadas à sua mãe, aquele deus lhes concedesse a vitória sobre seus inimigos. A esses intervalos quinquenais chamavam lustro. Também no mês de Fevereiro os romanos ofereciam sacrifícios a Fébruo, isto é, a Plutão e a outros deuses infernais, pelas almas de seus ancestrais. Para que tivessem piedade destes, ofereciam-lhes vítimas solenes e a noite inteira velavam, cantando louvações e empunhando círios e tochas acesas. O Papa Inocêncio diz que as mulheres romanas celebravam nesse dia a festa das luzes, originada das fábulas dos poetas. Estes relatam que Prosérpina era tão bela que o deus dos infernos, Plutão, ficou enamorado por ela, raptou-a e transformou-a em deusa. Seus pais procuraram-na por muito tempo nas florestas e nos bosques com tochas e archotes, e é isso que as mulheres de Roma evocavam. Como é difícil abandonar costumes arraigados, os cristãos recém-convertidos não sabiam o que conservar dos costumes pagãos, levando o Papa Sérgio[1] a atribuir um sentido melhor à festa. Ele ordenou aos cristãos de todo o mundo que a cada ano, nessa data, celebrassem uma Festa em homenagem à Santa Mãe do Senhor, com círios acesos e velas bentas. Desta maneira a solenidade permanecia, mas sua intenção era outra.


Segunda, para mostrar a pureza da Virgem. Ao ouvir dizer que a Virgem tinha se purificado, algumas pessoas poderiam pensar que Ela necessitava de purificação. Para mostrar que Ela era puríssima e esplêndida, a Igreja determinou que se levassem tochas acesas, como se dissesse: “Ó Bem-aventurada Virgem, Vós não necessita de purificação, pois é toda brilhante, toda resplandecente”. De fato, não necessitava de purificação quem tinha concebido sem sêmen, quem tinha sido purificada e santificada de maneira perfeitíssima já no ventre materno. Ela tinha sido a tal ponto glorificada e purificada no ventre da Sua mãe com a vinda do Espírito Santo, que n'Ela não restou inclinação alguma para o pecado, e as virtudes de Sua santidade transmitiam-se aos outros, derramavam-se sobre eles, extinguindo em todos qualquer concupiscência carnal. Daí os judeus dizerem que muito embora Maria tenha sido de extrema beleza, nunca despertou desejos concupiscente em ninguém. A razão disso é que a virtude da Sua castidade penetrava em todos que A viam e repelia neles toda concupiscência. Ela é comparada ao cedro, cujo cheiro faz as serpentes morrerem, da mesma forma que a santidade irradiada por Ela matava a serpente dos movimentos da carne. Ela também é comparada à mirra, que mata os vermes, da mesma forma que a santidade d'Ela destrói toda concupiscência carnal. Ela possuía essa qualidade mais do outras pessoas que também foram santificadas no ventre materno ou que permaneceram virgens, mas cuja santidade e castidade não se transmitiam aos outros, nem extinguia neles os movimentos da carne, ao passo que a força da castidade da Virgem penetrava até o fundo do coração dos impudicos, tornando-os imediatamente castos em relação a Ela.

Terceira, para lembrar a procissão que teve lugar naquele dia, quando Maria, José, Simeão e Ana fizeram uma procissão digna de honra para apresentar o Menino Jesus no templo. Por isso, ainda hoje se faz uma procissão até às igrejas, levando na mão um círio aceso, representação de Jesus. Há três elementos no círio, a cera, a mecha e o fogo, que são a representação das Três Substâncias que existiram em Cristo: a cera, é representação da Sua Carne, que nasceu da Virgem Maria sem corrupção da carne, da mesma maneira que as abelhas fabricam a cera sem impurezas; a mecha escondida no círio, é representação de Sua Alma cândida escondida em Sua Carne; o fogo ou a luz, é representação da Divindade, porque nosso Deus é fogo que consome. Isso levou o poeta a dizer:

Em homenagem à pia Maria,
Levo esta vela
Cuja cera representa
A verdadeira Carne virginal.
A luz significa
A excelência da Majestade,
A mecha é Sua Alma
Escondida na Carne.

Quarta, para nossa instrução. Tudo pode nos instruir se quisermos ser puros e límpidos, devendo para isso termos três disposições, uma fé verdadeira, uma conduta santa e uma intenção reta. A vela acesa na mão é a fé com boas obras, pois  da mesma forma que uma vela sem luz está morta, e que a luz que não pode brilhar por falta de vela, também parece morta, as obras sem fé e a fé sem boas obras são como se estivessem mortas. A mecha escondida na cera é a intenção reta, daí Gregório dizer: “A obra é feita diante do público, mas a intenção permanece oculta”.




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Fonte: Jacopo de Varazze,[2] “Legenda Áurea – Vida de Santos”,[3] Cap. 37 – Purificação da Bem-aventurada Virgem Maria, pp. 243-252; tradução do latim por Hilário Franco Júnior, Editora Schwarcz Ltda – Companhia das Letras, São Paulo-SP, 2003.

[1]     Trata-se de Sérgio I (687-701), o 84º Papa da Igreja, de origem síria como vários outros daquela época. A procissão da Candelária surgiu em Roma como substituta da procissão lustral pagã (como mostra Jacopo), mas a iniciativa do Papa Sérgio de incluí-la na Festa da Purificação de Maria foi inspirada pelo exemplo oriental, já que tal festa existia em Jerusalém desde pelo menos o século IV, na Síria e Egito desde o século V, em Constantinopla desde o século VI.

[2]     Arcebispo de Gênova, ca. 1229-1298.

[3]     Título original: Legendae sanctorum, vulgo historia lombardica dicta.


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