Blog Católico, para os Católicos

BLOG CATÓLICO, PARA OS CATÓLICOS.

"Uma vez que, como todos os fiéis, são encarregados por Deus do apostolado em virtude do Batismo e da Confirmação, os leigos têm a OBRIGAÇÃO e o DIREITO, individualmente ou agrupados em associações, de trabalhar para que a mensagem divina da salvação seja conhecida e recebida por todos os homens e por toda a terra; esta obrigação é ainda mais presente se levarmos em conta que é somente através deles que os homens podem ouvir o Evangelho e conhecer a Cristo. Nas comunidades eclesiais, a ação deles é tão necessária que, sem ela, o apostolado dos pastores não pode, o mais das vezes, obter seu pleno efeito" (S.S. o Papa Pio XII, Discurso de 20 de fevereiro de 1946: citado por João Paulo II, CL 9; cfr. Catecismo da Igreja Católica, n. 900).

terça-feira, 31 de março de 2020

PROÍBE-ME A RETA RAZÃO DE ADERIR A MORAL INDEPENDENTE.



A Moral Independente


Os Partidários deste sistema sustentam que não há outra religião senão a moral, que é, segundo eles, separada e independente de dogmas teológicos e até filosóficos. Isto induz a absurdas contradições.

I

Quando o homem se contenta com a moral, e que esta não depende de crença alguma teológica, ou mesmo filosófica, é porque ele pôde prescindir de todos os dogmas, e ser livre pensador, cético ou qualquer das outras situações já estudadas1; porque do princípio que lhe basta a moral, segue-se necessariamente que o seu espírito pode entregar-se a livre carreira para qualquer sistema.

Mas nesse caso recairia nas contradições já indicadas, e seria envolvido nos maiores contrassensos. Primeira contradição.

II

A evidência me obriga a reconhecer que a moral é um conjunto de preceitos, que indicam ao homem o seu dever; que não há prescrição possível sem lei que a imponha; que, por consequência, os deveres da moral não tem razão de ser se não há princípio superior ao homem, e que lhe sirva de base.

Mas, no sistema da moral independente, eu haveria que sustentar que ela é separada de todo o dogma teológico e até filosófico, e por consequência, de Deus; isto é, que a moral é lei sem legislador, efeito sem causa; e portanto, a moral independente é a independência a respeito da moral. Segunda contradição.

III

Não posso abster-me de confessar que a lei privada da sanção não tem eficácia, e lei ineficaz é como se não existisse.

Mas, no sistema da moral independente, eu afirmaria que não há outra sanção senão a consciência, a qual, acomodando-se com o hábito, admite transações; e o código penal, que ataca só os atos exteriores, deixa curso livre às fantasias do homem e aos artifícios do interesse e do crime; esse código castiga o mal, mas não cria o bem, e assim a moral seria uma lei ineficaz, e a um tempo seria e deixaria de ser lei. Terceira contradição.

IV

Diz-me a razão, que o dever é invariável; que o bem por natureza é sempre bem, e o mal sempre mal; que o dever de fazer o bem e de evitar o mal é por consequência princípio essencial, imutável, necessário, absoluto.

Mas, no sistema da moral independente, aos deveres, que a constituem, tiraria eu toda a base absoluta, e fá-los-ia assentar unicamente no juízo arbitrário do homem, que produz o direito e o dever. Não seria, pois, o dever para mim senão o direito reconhecido por mim em outrem; de onde, se o direito cessasse de ser reconhecido em mim, eu poderia legitimamente pagar na mesma moeda; preterir o meu dever como os outros faltam ao seu; enganar quem me enganasse; caluniar quem me calunia; desculpar todos os meus crimes, pelo exemplo alheio. Quarta contradição.

V

Se tenho horror ao ateísmo doutrinal, que eu e tudo quanto me rodeia condena e reprova, como absurdo tão repugnante como palpável, repilo da mesma sorte e com igual e invencível convicção o ateísmo prático, que não se importa com Deus, vive e procede como se Ele não existisse, e não fosse Autor, Conservador e Senhor absoluto das criaturas; ateísmo que faz caminhar o homem, como sucede ao animal, para a morte sem temor e sem esperança.

Mas, no sistema da moral independente, eu admitiria necessariamente esta detestável incoerência, essa desordem abominável do ateísmo teórico. Quinta contradição.

VI

O princípio inconcusso da existência de Deus Criador, sendo estabelecido, deduzo filosoficamente a necessidade para o homem de um culto interior, resultante das faculdades da sua alma e das suas relações essenciais com o seu Autor; a de um culto exterior que manifeste os sentimentos da alma, e sem o qual o culto interior esmorece e definha em breve, como a experiência o prova; a dispensabilidade, enfim, de um culto público, pelo qual os homens reunidos manifestem as suas crenças comuns e suas emoções religiosas, sem o qual o culto interno e externo não podiam manter-se por muito tempo, e que está por tal modo fundado sobre os direitos do Deus Autor, Benfeitor e Senhor Soberano das sociedades como dos indivíduos, que tem a sanção de todos os séculos e o testemunho de todos os povos.

Mas, no sistema da moral independente, eu suprimiria todo o culto, toda a religião, por não haver necessidade alguma destas coisas. Sexta contradição.

VII

É fato da história antiga para os pagãos, e da contemporânea para os povos ainda estranhor ao Cristianismo, que a sua moral tem lacunas, deficiências e manchas, ao passo que a Moral Cristã é perfeita. É, pois, fato incontestável aos nossos olhos que esta deve a sua perfeição às verdades dogmáticas, que lhe servem de base, princípio e origem, com as quais a sua união é indissolúvel.

Mas, no sistema da moral independente, eu seria compelido a negar este fato, esplêndido como o sol. Sétima contradição.2



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Fonte: Cônego E. Barthe, “Motivos da Minha Fé Religiosa”, 1ª Parte, Cap. IX, pp. 145-150. 2ª Edição, J.J. de Mesquita Pimentel – Editor, Porto, 1882.

1.  Ateísmo, Panteísmo, Materialismo, Darwinismo, Positivismo, Fatalismo, Ceticismo religioso e Livre Pensamento ou Liberalismo em Matéria de religião.

2.  A moral independente é uma dessas teorias, que surgem com o fim de estabelecer a descrença, deixando subsistir aquilo cuja doutrina oposta o senso comum repeliria imediatamente, quando lh’o apresentassem em substituição. A moral independente, tal como o homem a poderia criar por si, seria a antropofagia dos Novos Caledônios, os sacrifícios horrorosos, ainda há pouco mais de um ano descritos, mandados fazer pelo rei de Dahomey: a poligamia e a escravidão da religião e civilização muçulmana. Outra qualquer moral é originária do Cristianismo, e aqueles que a inculcam foram buscar-lhe a inspiração. Querem eles uma moral, revestida à cristã, mas sem sanção alguma. Obedecer ou deixar de obedecer aos preceitos dessa lei moral, é obra do capricho e das conveniências de qualquer um. Enquanto lhe convém seguir essas regras, conforma-se; logo que os seus interesses ou as suas paixões lhe aconselham o desvio, afasta-se sem o mínimo temor. Essa moral acomodatícia é excelente para se passar vida larga neste mundo. É a mais generalizada, e tanto que, para a grande maioria dos publicistas, que dominam a opinião, ou não há sanção possível, ou, havendo-a, ela sempre se torna ineficaz, porque todos morrem santificados, embora tenham toda a vida passado fora do grêmio da Igreja, e mesmo à hora da morte não procurem reentrar no seu seio. Vida livre e folgada, moral relaxada e de conveniências, derramamento de péssimas doutrinas às mãos cheias, atos repreensíveis; e afinal tudo ótimo, excelente e louvável. Eis a moral independente pelo seu lado prático. Será cômodo, mas tem um só contra: consiste em não ser verdadeiro nem justo. (Nota do Tradutor).

segunda-feira, 30 de março de 2020

PROÍBE-ME A RETA RAZÃO, DE SER LIVRE PENSADOR.



Livre Pensamento
ou Liberalismo em
Matéria de Religião

Pretendem os livres pensadores, que cada qual tem liberdade de pensar e crer o que lhe aprouver com referência às questões religiosas; que, em consequência disto, cada um pode ser ateu, panteísta, materialista, darwinista, positivista, fatalista ou cético ou qualquer outra coisa. Vai-se mais adiante, e diz-se, que cada um tem o direito de dizer o que pensa e crê, podendo manifestar as suas opiniões de viva voz ou por escrito, e que, em toda a sociedade regularmente constituída, o direito de liberdade de consciência e de cultos deve ser reconhecido e garantido pela lei.

Este sistema vai esbarrar-se com as contradições já apontadas,1 mas além disto envolve outras próprias.

§ 1º

Contradições Relativas ao Livre Pensamento

I

Em uma questão, que interessa a minha felicidade e a de minha família, a minha felicidade pessoal e a dos que me são caros, horrorizar-me-ia pensar e dizer que tenho a liberdade de tomar o partido que me aprouver, sem me importar com a opinião e convicção dos homens mais sensatos e respeitáveis. Mas sendo livre pensador, eu poderia em plena independência tomar o partido, que me conviesse, com referência às questões religiosas, sem me importar com a opinião e convicção racional dos homens que com maior seriedade a aprofundaram, os mais competentes para julgá-la. Primeira contradição.

II

A minha razão e a minha consciência repelem com toda a energia a liberdade de fazer tudo, como princípio execrável, o qual tornaria a terra o receptáculo imundo de todas as malversações.2

Mas, como livre pensador, deveria admitir a liberdade de fazer tudo, consequência lógica e irresistível da liberdade de pensar. Segunda contradição.

III

Nas artes, nas ciências físicas, em literatura, direito, medicina, o livre pensamento é aos olhos da minha razão verdadeira loucura.

Mas, sendo livre pensador, eu deveria, nas questões religiosas, que sem dúvida, são muito mais importantes a todos os respeitos, dar a esse sistema o nome de verdadeira filosofia. Terceira contradição.

IV

Assim como a minha vontade não é soberana, porque, quer queira, quer não, depende mais ou menos dos meus semelhantes, e até dos seres inanimados, também a minha inteligência o não é, porque em grande número de ocasiões sou forçado a reconhecer que ela precisa do auxílio de outrem, ou até que, entregue a si mesma, se enganou.

Mas, como livre pensador, eu havia de reconhecer-lhe o direito de não precisar de ninguém para atingir a verdade; e até a declararia independente de Deus, cuja existência e soberania absoluta eu tenho demonstrado invencivelmente. É a quarta contradição.

§ 2º

Contradições Relativas à Manifestação do Livre Pensamento

I

Não posso abster-me de reconhecer que o direito, atribuído a cada um de manifestar pela palavra e pela pena os seus pensamentos e opiniões quaisquer, é princípio cuja aplicação daria livre curso a todos os erros, ainda os mais monstruosos; aos vícios mais abjetos; às devassidões do espírito, do coração e dos sentidos; destruiria a sociedade, a família, legitimaria todas as desordens possíveis, e arrastaria a humanidade à última degradação.

Este princípio é pois essencialmente falso em si mesmo, e, aplicado às questões religiosas, fica falso e detestável, como por natureza o é.

Mas, sendo livre pensador, deveria sustentá-lo apesar de tudo, e afirmar que a árvore é sempre boa, embora os frutos sejam essencialmente maus e pestilentos. Quinta contradição.

II

O erro é o mal da inteligência, como o vício é o mal da vontade; não posso pois admitir racionalmente o direito de semear o erro, como não posso aceitar o direito de fomentar a imoralidade ou a injustiça; só me cumpre proclamar como absurda e abominável a liberdade de corromper as inteligências por falsas doutrinas, e de cometer assim um crime igual ao envenenamento das fontes públicas e ainda outros mais odiosos; porque, segundo o profundo pensamento de Santo Agostinho, “a morte das almas pela liberdade do erro é o pior dos envenenamentos”.

Mas, como livre pensador, eu só poderia autorizar e preconizar essa liberdade sacrílega, e chamá-la direito inviolável. Sexta contradição.

III

Se algum espírito extravagante se propusesse proclamar o direito universal de publicar teorias falsas e funestas à indústria, ao comércio, à agricultura, à economia, à saúde pública, diria logo, com toda a energia do mais simples bom senso revoltado, indignado: é absurdo, insensato e criminoso.

Mas, o livre pensador, seria forçado a dizer, para ser consequente, que é um direito tão legítimo como o de publicar livremente e sem reserva em matéria de religião, opiniões quaisquer. Sétima contradição.

IV

Uma lei contrária à retidão natural do espírito humano e ao bem público, longe de merecer este nome, é uma desordem intelectual e moral, que a razão e a consciência pública repelem como um flagelo para o povo, condenado a suportá-la. Mas querer que a lei reconheça e assegure a liberdade de consciência e de cultos, é querer que se coloque em oposição direta com a sã razão, e que organize a desordem em matéria de religião na sociedade; é querer que o legislador proclame oficialmente, que não há erro nem verdade: ou que ambos tem os mesmos direitos a serem protegidos; e como estas ideias exercem uma influência incontestável sobre os costumes, é querer que as ideias más tenham o direito legal de corromper os costumes.

Todo o meu ser racional e honesto se insurge contra semelhante doutrina.

Mas, o livre pensador é arrastado a defender este absurdo frisante e repugnante. Oitava contradição.

V

Seria razoável o homem, que admitisse em uma sociedade regularmente constituída, que a lei deva reconhecer e assegurar a todas as escolas médicas o direito de praticar indiferentemente todos os sistemas de terapêutica e de higiene, ainda aqueles que fossem prejudiciais ao corpo e comprometessem a vida? Não, por certo, e seria estulta semelhante hipótese.

Mas, o livre pensador deveria admitir que o mesmo cumpria praticar para com todos os cultos e sociedades religiosas; e que as que fossem nocivas à saúde da alma e comprometessem os interesses incomparavelmente superiores da vida eterna, pelos seus dogmas e práticas, tem direito para serem reconhecidas e protegidas exatamente como aquelas cujos efeitos sejam contrários. Nona contradição.3


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Fonte: Cônego E. Barthe, “Motivos da Minha Fé Religiosa”, 1ª Parte, Cap. VIII, pp. 137-143. 2ª Edição, J.J. de Mesquita Pimentel – Editor, Porto, 1882.

1.  Ateísmo, Panteísmo, Materialismo, Darwinismo Positivismo Fatalismo Ceticismo religioso...

2.  Corrupções, más gerências, más administrações.

3.  Não deve concluir-se desta discussão em oposição ao liberalismo em matéria de religião, que o Catolicismo receia a luta e a discussão. Bem pelo contrário, onde esta se travar entre o Catolicismo e qualquer Seita filosófica ou religiosa, o triunfo é certo para aquele. Nem essas discussões devem assustar, quando temos a certeza absoluta da vitória. Já Pascal dizia: “Pode assustar a violência da tempestade quando estamos em um navio que pode naufragar; mas é até um espetáculo imponente quando temos a certeza de ser impossível que o nosso navio soçobre”. Ate o liberalismo em matéria religiosa deixará de existir desde que se separe a questão pertinente à religião das questões que interessam aos partidos. Nos Estados Unidos da América, onde o Catolicismo aparece expurgado de tudo quanto é obra do homem, da sua ingerência na esfera dos partidos, ele progride a olhos vistos, sem embargo de não ter proteção direta da parte do Estado. Não podem ser iguais os direitos do bem e do mal, da verdade e do erro, da virtude e do vício; mas não se conclua daqui que o Catolicismo está ameaçado pela discussão e pelas oposições, que se levantem contra ele. Em seu abono tudo conspira: o sentimento, a razão, a história, a manifesta proteção que vem do Céu, fazendo resplandecer mais e mais as eternas verdades que foram reveladas aos homens.


sábado, 28 de março de 2020

BREVE CONHECIMENTO SOBRE HERESIA E HEREGES. 1ª Parte.



A Caridade
Jamais Deve Abafar
A Verdade
(1ª Parte)


O QUE É DOGMA?

1. Em sentido amplo, dogma é uma verdade contida na Revelação Divina.

2. Em sentido estrito, dogmas são as verdades reveladas por Deus e que estão contidas, ou na Sagrada Escritura, ou na Tradição, ou em ambas, e que são propostas como tais aos fiéis pelo Magistério da Igreja, com a obrigação de acreditarem nelas. Quem nega ou põe em dúvida de modo pertinaz as verdades que devem ser acreditadas, comete o pecado da Heresia.

O QUE É HERESIA?

São João Bosco: “… o termo é usado para exprimir um erro condenado pela Igreja em termos expressos e professados com conhecimentos de causa e vontade deliberada. Chama-se herege, aquele que professa doutrina contrária aos dogmas da Igreja; aquele que, conhecendo o erro condenado pela Igreja, apesar de tudo o segue e professa”.1

CNBB – 1953: “Todos os que são verdadeiros hereges e fautores de heresias, não podem ser admitidos à recepção dos Sacramentos, sem que antes reparem os escândalos dados, abjurem da heresia cometida e façam a Profissão de Fé”.

Código de Direito Canônico – 1983 (Cânon 751): “Chama-se de heresia a negação pertinaz, após a recepção do Batismo, de qualquer verdade que se deve crer com Fé divina e católica, ou a dúvida pertinaz a respeito dela”.

D. Boaventura Kloppenburg, O.F.M.: O herege incorre automaticamente em excomunhão,2 isto é, deve ser excluído da recepção dos Sacramentos,3 e não pode ser padrinho de Batismo,4 nem da Confirmação (Crisma),5 e não lhe será lícito receber o Sacramento do Matrimônio sem licença especial do Bispo,6 e sem as condições indicadas pelo cânon 1125. Também não pode ser membro de Associação ou Irmandade católica.7 Enfim, o católico que resolve tornar-se herege, por este fato, exclui-se a si mesmo da Igreja Católica, perdendo todos os direitos de católico”.

Também, o herege fica sem sepultura eclesiástica (Missa de 7º dia, e etc.).

A HERESIA É UM PECADO CONTRA A FÉ?

Sim! Pois a heresia destrói a Fé. Vejamos: “Perde-se a Fé pela Apostasia e pela Heresia, como por exemplo, se o batizado rejeita uma ou mais verdades da Fé, ou as põe em dúvida por ato deliberado”.8

São Tomás de Aquino afirma: “Os hereges não podem crer com Fé sobrenatural! Porque, embora admitam algumas verdades reveladas, não fundam o assentimento na autoridade divina, senão no próprio juízo. Por isso, os hereges estão mais afastados da verdadeira Fé do que os ímpios, e do que os mesmos Demônios”..9

A HERESIA, É UM PECADO CONTRA DEUS ESPÍRITO SANTO?

Sim! “Por isso vos digo: todo o pecado e blasfêmia serão perdoados aos homens, porém, a blasfêmia contra o Espírito Santo não será perdoado. E todo o que disser alguma palavra contra o Filho do Homem, lhe será perdoada; porém, o que a disser contra o Espírito Santo, não lhe será perdoado, nem neste século (neste mundo) nem no futuro (no Purgatório)...”.10

Na verdade vos digo que serão perdoados aos filhos dos homens todos os pecado e as blasfêmias que proferirem; porém, o que blasfemar contra o Espírito Santo, nunca, jamais terá perdão; mas será réu de eterno delito...”.11

A doutrina Católica, que é a Lei de Nosso Senhor Jesus Cristo ensinada pela Santa Madre Igreja, nos diz claramente que:

Contradizer (combater) a verdade conhecida como tal”, ou, em outras palavras, “combater as verdades da Fé que a Igreja propõe ao mundo”, é confirmadamente um dos pecados contra Deus Espírito Santo.12

Santo Tomás de Aquino, O.P., afirma que: “Comete este pecado quem, conhecendo a verdade da Fé, nega-a, para mais livremente continuar a pecar”.13

São Pedro Canísio, S.J., diz que: “Este pecado é contra o Espírito Santo, porque o pecador, por malícia, remove o que o pode impedir de pecar, desprezando a graça que se atribui particularmente ao Espírito Santo, como fonte dos bens”.14

São Pio X ensina que: “Chama-se este pecado, particularmente, pecado contra o Espírito Santo, porque se comete por pura malícia, o que é contrário à bondade que se atribui ao Espírito Santo”.15

E POR QUE NÃO HÁ PERDÃO?

O Catecismo dos Párocos, redigido por decreto do Concílio de Trento, publicado por ordem do Papa São Pio V, ensina que: “Quando lemos, nas Escrituras, que certos homens não conseguiram do Senhor nenhuma misericórdia, apesar de a terem pedido com instância, devemos entender que tal aconteceu, porque não tinham verdadeiro e sincero arrependimento de seus pecados”. Exemplo:

“… E assim, derribado com isto da sua grande soberba, começou a entrar no conhecimento de si mesmo, estimulado pelo castigo de Deus, e aumentando cada instante as suas dores. E, como nem ele mesmo pudesse já suportar o seu mau cheiro, disse assim: ‘É justo que o homem seja sujeito a Deus, e que quem é mortal não pretenda igualar-se com o mesmo Deus’. Ora, este malvado orava ao Senhor, do qual não havia de alcançar misericórdia…”.16

Mas, voltando ao Catecismo dos Párocos:

Outrossim, quando nas Sagradas Escrituras, ou nos Santos Padres, ocorrem passagens em que parece afirmar-se que alguns pecados não podem ser perdoados, devemos por elas entender que, é muito difícil alcançar o perdão de tais pecados.17

Assim como uma moléstia é tida como incurável, se o paciente sente horror ao remédio que lhe restitui a saúde; assim há também certa espécie de pecados, para os quais não se dá nenhum perdão, porque levam a repelir o remédio próprio da salvação, que é a graça de Deus.18

Neste mesmo sentido se pronunciou Santo Agostinho: Se alguém que, pela graça de Cristo, chegou ao conhecimento de Deus, mas combate seus irmãos na Fé, e resiste à própria graça com os ardores da inveja, tão forte é a peçonha de seu pecado, que já não tem a humildade de pedir perdão, embora seja forçado, pelos remorsos de consciência, a reconhecer e confessar o pecado’19”.20

Perdão dos Mais Graves Pecados

Não há pois delito tão grave e abominável, que não seja apagado pelo Sacramento da Penitência. Disso falou o Senhor, pela boca do Profeta Ezequiel: “Se o ímpio fizer penitência de todos os pecados por ele cometidos, se observar Meus Mandamentos, se proceder com equidade e justiça, terá a vida, e não morrerá. De todas as iniquidades que praticou, não guardarei lembrança”.21

E São João diz: “Se confessarmos nossos pecados, Ele é fiel e justo, para nos perdoar nossos pecados”.22

Logo depois acrescenta: “Se alguém pecou (não se exclui, pois, nenhuma espécie de pecado), temos junto ao Pai um Advogado, Jesus Cristo, o Justo. Ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não só pelos nossos, mas também pelos pecados do mundo inteiro”.23

Portanto, somente, não existe perdão, para os que rejeitam a graça do perdão.

A HERESIA É UM PECADO
CONTRA O 1º MANDAMENTO DA LEI DE DEUS?

É pecado mortal cometido contra o 1º Mandamento da Lei de Deus:24

a) Não crer na Religião Católica, a única revelada por Deus;
b) Duvidar de alguma verdade revelada (Dogma);
c) Dar ouvidos a conversas ou discursos ímpios ou heréticos;
d) Assistir a sessões espíritas ou ao culto dos Protestantes;
e) Abandonar a única Igreja verdadeira, que é a Católica, para abraçar as heresias dos Protestantes, ou a seita diabólica dos espíritas, ou tornar-se incrédulo;
f) Ler, assinar, publicar, emprestar livros, folhetos, artigos, revistas ou jornais ofensivos a Deus e a Santa Religião;
g) Falar contra Deus, a Virgem Maria e os Santos, contra a Igreja e seus Ministros;
h) Não querer saber de Deus nem de sua Lei, etc.

ANTES MORRER CATÓLICO DO QUE HEREGE

A esposa de São Tomás More, para induzi-lo a ceder à vontade do Heresiarca Anglicano, soberano rei, Henrique VIII, foi visitá-lo no cárcere, e pôs em campo toda indústria possível para convencê-lo a que se salvasse a si mesmo e a sua família. São Tomás, porém, falou-lhe intrepidamente desta maneira:

Diz-me mulher, se eu renuncio à minha Fé, e recupero juntamente com minhas riquezas, a minha primeira dignidade, quantos anos poderia eu ainda gozar delas? Talvez 20 anos”, respondeu sua tímida consorte. “Pois bem!”, acrescentou o magnânimo São Tomás, “queres tu que por 20 anos de vida eu perca uma eternidade de gozo no Céu, e me condene a uma eternidade de tormentos no Inferno?”25

DEUS DETESTA OS HEREGES26

Assim falou Nosso Senhor Jesus Cristo à Madre Mariana de Jesus Torres: “Malditos mil vezes, sejam os hereges e seus seguidores, que põem em dúvida os Mistérios concernentes a Mim e à minha Mãe! Malditos sejam! E seja a sua morada eterna o centro da terra, junto com o Pai da mentira, Lúcifer, e seus Demônios, no meio do fogo criado pela ira Divina, para os Anjos rebeldes e os homens que a eles seguirem, apartando-se da verdade, fora da Igreja Católica”.27

DA SOBERBA DA HERESIA

Santo Antônio de Pádua (ou de Lisboa), no Sermão do Domingo da Sexagésima ensina: “A soberba do teu coração, ó religioso, elevou-te, isto é, levou-te para fora de ti, para que vãmente caminhasses sobre ti, tu que habitas nas fendas do rochedo. A pedra é qualquer religião (Ordem Religiosa) da Igreja. Dela escreve Jeremias: ‘Nunca faltará neve nos penhascos do campo’.28 O campo é a Igreja; o penhasco do campo é a Religião fundada sobre o rochedo da Fé. A neve é a alvura do entendimento e do corpo, que não deve nunca abandonar a Religião. Mas, ai! Ai! Quantas fendas, quantos cismas, quantas divisões e dissensões existem no rochedo, isto é, na Religião! Se a semente da Palavra divina cair sobre ela, não frutifica, porque não possui a umidade da graça do Espírito Santo, que habita, não nas fendas da discórdia, mas na mansão da unidade’. ‘Entre eles’, escreve São Lucas, ‘havia uma só alma e um só coração’.29 Na religião há fendas, de verdade, porque há contenda no capítulo, dissonância no coro, murmuração no claustro, gastrimagia30 no refeitório, petulância da carne no dormitório. Com muita razão, pois, diz o Senhor: ‘E outra caiu sobre terreno pedregoso, e uma vez nascida secou, porque’, como escreve São Mateus, ‘não tinha raiz’, ou seja, humildade, raiz de todas as virtudes.31 Disto abertamente se conclui que a fenda da religião se abre com um coração soberbo. A religião não pode produzir fruto, porque não têm em si a raiz da humildade.

Tal religião é o armazém; de fato, depois das dissidências internas, procuram os louvores externos. Com efeito, na praça pública, os falsos religiosos vendem, como se fossem comerciantes, gêneros sofísticos; sob o hábito religioso e à sombra de falso nome apetecem ser louvados, revestem certo fingimento pessoal de perfeição junto dos homens; querem parecer santos, mas não o querem ser, infelizmente, a religião, que devia conservar as mercadorias das virtudes, os aromas dos costumes, é destruída e transforma-se em armazém público. Daí, a deploração de Joel: ‘Foram demolidos os celeiros’, isto é, os claustros dos Cônegos, ‘arruinados os armazéns’, isto é, as Abadias dos monges, ‘porque se perdeu o trigo’.32 No trigo, alvo no interior e avermelhado na casca, significa-se a Caridade, que mantém a Pureza para consigo e o amor para com o próximo. Por isso, este trigo perdeu-se, por ter caído sobre terreno pedregoso; e uma vez nascido secou, por não ter a raiz da humildade nem a umidade da graça septiforme. Daqui se deduz que, da perda do trigo, isto é, da falta de Caridade, se destrói o armazém de toda a religião”.33

Ensina o Rev. Pe. Manuel Bernardes, Oratoriano: “A heresia, como é corrupção espiritual do entendimento, é contrária a luz da lei, da razão e da verdade, sempre anda anexa à confusão e incoerência: tudo embaralha e mistura; e ao mesmo tempo que se mostra escrupulosa em pontos de menos momentos, concede e devora os maiores absurdos”.

E em outra parte: “A Religião (Católica) é Céu, mas no Céu pecou Lúcifer; é Paraíso, mas no Paraíso pecou Adão; é Colégio (Apostólico) de Cristo, mas na companhia de Cristo pecou Judas. Levando, uma religiosa ou religioso, consigo a sua carne, aí (na carne) tem a Eva, que o tente; Lúcifer, e seus ministros, como invisíveis, em qualquer parte podem entrar; e o apego aos bens deste mundo, que lutam contra a aquisição da graça de Deus; e o nosso Judas (o amor-próprio), que vende a Nosso Senhor por trinta moedas”.




A Caridade
Jamais Deve Abafar
A Verdade
(2ª Parte)


Verdades Reveladas sobre os Falsos Profetas (Hereges)

1 – Profeta Moisés:

Se se levantar no meio de ti um profeta, ou alguém que diga que teve um sonho, e predisser algum sinal ou prodígio, e suceder o que ele anunciou, e te disser: ‘Vamos, e sigamos os Deuses estranhos, que não conheces, e sirvamo-lo’, não ouvirás a palavra de tal profeta ou sonhador, porque o Senhor vosso Deus vos põe à prova, para se tornar manifesto se O amais ou não, de todo o vosso coração e de toda a vossa alma. Segui o Senhor vosso Deus, e temei-O, e guardai os seus Mandamentos, e ouvi a sua voz; a Ele servireis, e a Ele vos unireis. E aquele profeta, ou inventor de sonhos será posto à morte, porque vos falou para vos afastar do Senhor vosso Deus, que vos tirou da terra do Egito, e vos resgatou da casa da escravidão; e para te desviar do caminho que o Senhor teu Deus te ordenou, e assim tirarás o mal do meio de ti”.34

2 – Profeta Jeremias:

Quanto aos (falsos) profetas, o meu coração (diz Jeremias) está feito em pedaços dentro de mim mesmo…, E como um homem cheio de vinho, contemplando a face do Senhor, e à vista das suas santas palavras (tão desprezadas pelo seu povo). Porque a terra está cheia de adúlteros, porque a terra chora à vista da maldição… Porque o profeta e o sacerdote se corromperam, e na minha casa encontrei os males que eles lá cometeram, diz o Senhor. Por isso, o seu caminho será como um caminho escorregadio nas trevas; serão impelidos, e cairão nele; porque farei vir sobre eles males no tempo em que Eu os visitar, diz o Senhor.

Portanto, isto diz o Senhor dos Exércitos aos profetas: Eis que os alimentarei com absinto, e lhes darei a beber fel; porque dos profetas de Jerusalém, é que se derramou a corrupção sobre toda a terra.

Eu não enviava estes (falsos) profetas e eles corriam; não lhes dizia nada, e eles profetizavam. Se tivessem assistido ao meu Conselho, e tivessem feito saber as minhas palavras ao meu povo, E os teria certamente desviado do seu mau caminho e dos seus tão depravados pensamentos… entregar-vos-ei a um opróbrio sempiterno, e a uma eterna ignomínia, que nunca se apagará da memória”.35

3 – Nosso Senhor Jesus Cristo:

Guardai-vos dos falsos profetas, que vêm a vós com vestidos de ovelhas, e por dentro são lobos rapaces. Pelos seus frutos os conhecereis. Porventura, colhem-se uvas dos espinhos, ou figos dos abrolhos? Assim toda a árvore boa dá bons frutos, e a árvore má dá maus frutos. Toda a árvore, que não dá bom fruto, será cortada e lançada no fogo. Vós os conhecereis, pois, pelos seus frutos”.36

e em outro lugar, o Senhor diz: “Então, se alguém vos disser: Eis aqui o Cristo, ou ei-lO acolá, não deis crédito. Porque se levantarão falsos cristos e falsos profetas, e farão grandes milagres e prodígios, de tal modo que (se fosse possível) até os escolhidos se enganariam. Eis que Eu vo-lo predisse”.37

4 – São Lucas:

Eu sei que, depois da minha partida, se introduzirão entre vós lobos arrebatadores, que não pouparão o rebanho. E dentre vós mesmos hão de levantar-se homens a ensinar doutrinas perversas, para levarem após de si discípulos. Por isso, estai vigilantes…” (At. 20, 29-31).

5 – São Paulo:

Com efeito a ira de Deus manifesta-se do Céu contra toda a impiedade e injustiça daqueles homens que retém na injustiça a verdade… Pelo que Deus os abandonou aos desejos do seu coração… os que fazem tais coisas são dignos de morte; e não somente quem as faz, mas também quem aprova aqueles que as fazem”.38

Escreveu também: “Rogo-vos, irmãos, acautelai-vos dos que provocam dissensões e escândalos, contrariando o ensinamento que aprendestes; afastai-vos deles. Esses tais não servem a Cristo, nosso Senhor, mas ao próprio ventre. Com um palavreado bonito e lisonjeiro, enganam os simples”.39

Disse mais: "Admiro-me de que, assim tão depressa, passeis daquele que vos chamou à graça de Cristo, para outro Evangelho. Evidentemente que não há outro (Evangelho diferente do que eu vos preguei), mas há alguns que vos perturbam e querem inverter o Evangelho de Cristo. Mas, ainda que nós mesmos ou um Anjo do Céu vos anuncie um Evangelho diferente daquele que vos temos anunciado, seja anátema. Como já vo-lo dissemos, agora de novo o digo: SE ALGUÉM VOS ANUNCIAR UM EVANGELHO DIFERENTE DAQUELE QUE RECEBESTES, SEJA ANÁTEMA. Porque, em suma, é a aprovação dos homens que eu procuro, ou a de Deus? Porventura, é aos homens que eu pretendo agradar? Se agradasse ainda aos homens, não seria servo de Cristo.

Ora, eu vos declaro, Irmãos, que o Evangelho, que tem sido pregado por mim, não é segundo o homem; porque não O recebi, nem aprendi de homem (algum), mas por revelação de Jesus Cristo".40

Em outro lugar: “Ora, as obras da carne são… as Seitas…, sobre as quais vos previno, como já vos disse, que os que fazem tais coisas não possuirão o Reino de Deus”.41

E num outro: “… E não tomeis parte nas obras infrutuosas das trevas, mas, antes, condenai-as...”.42

Em outro escrito: “Como te roguei que ficasses em Éfeso… para que admoestasses alguns que não ensinassem doutrina diversa (da que tem sido ensinada por nós), nem se ocupassem em fábulas e genealogias intermináveis, as quais servem mais para questões do que para aquela edificação de Deus, que se funda na Fé… Apartando-se alguns destas coisas, entregaram-se a discursos vãos, querendo ser doutores da lei, não sabendo nem o que dizem, nem o que afirmam… Ora, o Espírito diz claramente, que nos últimos tempos alguns apostatarão da Fé, dando ouvido a espíritos enganadores e a doutrina de Demônios, que com hipocrisia propagam a mentira, e têm cauterizada a sua consciência… Se alguém ensina de modo diferente, e não abraça as sãs palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo, e aquela doutrina que é conforme à piedade, é um soberbo, que nada sabe, um espírito doente, que se ocupa de questões e contendas de palavras, donde se originam invejas, contendas, maledicências, más suspeitas, altercações de homens com o espírito pervertido, que estão privados da verdade, e pensam que a piedade é uma fonte de lucro… Porque os que querem enriquecer, caem na tentação e no laço do Demônio, e em muitos desejos inúteis e perigosos, que submergem os homens na morte e na perdição. Porque a raiz de todos os males é o amor ao dinheiro, por causa do qual alguns se desencaminharam da fé, e se enredaram em muitas aflições… guarda o depósito (da Fé), evitando as novidades profanas de palavras, e as contradições de uma ciência de falso nome, professando a qual alguns se desviaram da Fé”.43

Afirma também que: “… Evita as conversas profanas e vãs, porque contribuem muito para a impiedade; e a sua palavra lavra como gangrena; entre os quais estão Himeneu e Fileto, que se extraviaram da verdade, dizendo que já se deu a Ressurreição, e perverteram a Fé de alguns… Afaste-se da iniquidade todo aquele que invoca o Nome do Senhor… Ora, convém que o servo do Senhor… corrija com modéstia os que resistem à verdade, na esperança de que Deus lhes dará a graça de se converterem ao conhecimento da verdade, e se desprendam dos laços do Demônio, que os tem escravos da sua vontade… Sabe, porém, isto, que nos últimos dias sobrevirão tempos perigosos; porque haverá homens egoístas… E, assim como Janes e Mambres44 resistiram a Moisés, assim também estes resistem à verdade, homens corrompidos do espírito, réprobos acerca da Fé, mas não irão avante (com os seus maus desígnios), porque se tornará manifesta a todos a sua loucura, como também se tornou a daqueles...”.45

Advertiu ainda: “Porque muitos, de quem muitas vezes vos falei e também agora falo com lágrimas, procedem (com a sua vida sensual) como inimigos da Cruz de Cristo, o fim deles é a perdição; o deus deles é o ventre; e fazem consistir a sua glória na sua própria confusão, gostando somente das coisas terrenas”.46

E, por fim: “Porque há ainda muitos desobedientes, vãos faladores e sedutores… Portanto, repreende-os asperamente, para que sejam sãos na Fé, não deem ouvidos a fábulas judaicas nem a mandamentos de homens que se afastam da verdade… Confessam que conhecem a Deus, mas negam-no com as obras, sendo abomináveis, e rebeldes, e incapazes de toda a obra boa… Esta é uma verdade infalível; e quero que afirmes isto… Foge do homem herege, depois da primeira e segunda correção; sabendo que um tal homem está pervertido e peca, como quem é condenado pelo seu próprio juízo”.47

6 – São Pedro:

Ora, assim como entre o povo (Hebreu) houve falsos profetas, do mesmo modo haverá entre nós falsos doutores (hereges), que introduzirão Seitas de perdição, e renegarão Aquele Senhor que os resgatou, atraindo sobre si mesmo uma pronta ruína. E muitos seguirão as suas dissoluções, por causa dos quais será blasfemado o caminho da verdade; e por avareza, com palavras fingidas, farão negócio de vós; mas a sua condenação já desde há muito (pronunciada na pessoa de outros culpados) não repousa; e a sua perdição não dorme… Eles são fontes sem água, e névoas agitadas por turbilhões, para os quais está reservada a obscuridade das trevas… Sabei antes de tudo que, nos últimos tempos, virão embusteiros zombadores, vivendo segundo as suas concupiscências… E crede que a longanimidade do Nosso Senhor é para vossa salvação, conforme também nosso irmão caríssimo Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada, como também (faz) em todas as cartas, em que fala disto, nas quais há algumas coisas difíceis de entender, que os indoutos e inconstantes (na Fé) adulteram (como também as outras Escrituras) para sua própria perdição”.48

7 – São João:

Filhinhos, é a última hora; e como ouvistes dizer que o Anticristo vem, também já agora há muitos anticristos; donde conhecemos que é a última hora. Eles saíram de entre nós, mas não eram dos nossos (verdadeiros fiéis), porque, se tivessem sido dos nossos, ficariam certamente conosco; mas (saíram de entre nós) para que se conheça que nem todos são dos nossos… O que vós ouvistes desde o princípio (da vossa conversão), permanece em vós. Se em vós permanecer o que ouvistes desde o princípio, também vós permanecereis no Filho e no Pai. E esta é a promessa que Ele mesmo nos fez, a vida eterna. Isto vos escrevi acerca daqueles que vos seduzem… Caríssimos, não queiras crer em todo o espírito (para ver) se são de Deus; porque muitos falsos profetas vieram para o mundo… Eles são do mundo; por isso, falam do mundo, e o mundo os ouve… Quem conhece a Deus, ouve-nos; quem não é de Deus, não nos ouve...”.49

Falou mais: “… e todo o espírito que divide Jesus, não é de Deus; mas este é um Anticristo, do qual vós ouvistes que vem, e agora está já no mundo (por meio dos seus precursores, os hereges)”.50

E, em outro lugar: “… Porque este é o Mandamento segundo o qual deveis caminhar, como ouvistes desde o princípio; porque muitos sedutores se tem levantado no mundo, que não confessam que Jesus Cristo tenha vindo em carne; este tal é sedutor e anticristo. Estai alerta sobre vós, para que não percais o fruto do vosso trabalho, mas recebais uma plena recompensa. Todo o que se aparta e não permanece na doutrina de Cristo, não tem (união com) Deus; o que permanece na doutrina, este tem (união íntima com) o Pai e o Filho. Se alguém vem a vós, e não traz esta doutrina, não o recebais em vossa casa, nem o saudeis. Porque quem o saúda, participa (em certo modo) das suas obras más”.51

E ainda isto: “Escreve ao Anjo da Igreja de Éfeso: Isto diz aquEle que tem as sete estrelas na sua direita, e anda no meio dos sete candeeiros de ouro: ...Isto, porém, tens, (de bom) que aborreces as ações dos Nicolaítas (hereges), QUE EU TAMBÉM ABORREÇO...”.52

E noutro escrito: “Mas, pelo que toca aos tímidos, e aos incrédulos, e aos execráveis, e aos homicidas, e aos fornicadores, e aos feiticeiros, e aos idólatras, e a todos os mentirosos, a sua parte será no tanque ardente de fogo e de enxofre, o que é a segunda morte”.53

8 – São Judas Tadeu:

“… Porque se introduziram entre vós certos homens ímpios (dos quais está escrito há muito tempo, que viriam a cair nesta condenação)… da mesma maneira também estes contaminaram a sua carne, e desprezam a dominação (de Cristo), e blasfemam da Majestade… Ai, deles, porque andaram pelo caminho de Caim,54 e, por (causa de um aviltante) lucro, precipitaram-se no erro de Balaão,55 e pereceram na rebelião de Coré.56

Eles são máculas nos seus festins, banqueteando-se sem respeito, apascentando-se a si mesmos, nuvens sem água, que os ventos levam de uma parte para a outra, árvores do outono, sem fruto, duas vezes mortas, desarraigadas, ondas furiosas do mar, que arrojam as espumas da sua torpeza; estrelas errantes, para os quais está reservada uma tempestade de trevas por toda a eternidade.

Eis que vem o Senhor entre milhares dos seus Santos a fazer juízo contra todos, e arguir todos os ímpios de todas as obras da sua impiedade, que impiamente fizeram, e de todas as palavras injuriosas, que os pecadores ímpios, tem proferido contra Deus.

Eles são uns murmuradores queixosos, que andam segundo as suas paixões e a sua boca profere coisas soberbas, os quais mostram admiração pelas pessoas segundo convém ao seu próprio interesse”.57




A Caridade
Jamais Deve Abafar
A Verdade
(3ª Parte)


Não fui eu que vos escolhi
a vós os doze?
E, (contudo),
um de vós é um Demônio”
(Jo. 6, 70)

Desde os primeiros tempos da Igreja, tem sido esta a sua linguagem.58 Se algum católico, hoje em dia, dissesse, falando dos hereges, que são “como animais irracionais, destinados por natureza a serem capturados e mortos”, a indignação seria imensa em alguns de nossos círculos. São Pedro, Apóstolo, entretanto, o disse.59 Se algum católico escrevesse, a verdade tradicional, sobre todas as seitas, dizendo: “Eles são fontes sem água, e névoas agitadas por turbilhões, para os quais está reservada a obscuridade das trevas… Porque se realizou neles aquele provérbio verdadeiro: voltou o cão ao seu vômito; e: A porca lavada tornou a revolver-se no lamaçal”; se um católico, repetimos, escrevesse tais coisas, o que lhe aconteceria? São Pedro, entretanto, o disse.60

Na linguagem e conduta dos Santos, encontramos expressões idênticas. Exemplos:

1. Santo Inácio de Antioquia, Mártir do século II, escreveu antes de seu martírio, várias cartas a diversas igrejas. Nestas, lemos sobre os hereges, as seguintes expressões:

Bestas ferozes”, “cães danados que atacam traiçoeiramente” (Ef. VII).
Ervas do Diabo” (Ef. X, 1).
Plantas destinadas ao fogo eterno” (Ef. XVI, 2).
Lobos rapaces” (Fil. II, 2).
Feras em forma de homens” (Esmirn. IV, 1).
Plantas parasitas que o Pai não plantou” (Tral. XI).

2. Um dos mais diletos discípulos do Apóstolo do Amor, foi sem dúvida São Policarpo, por intermédio de quem soube Santo Irineu que, indo certa vez São João, Evangelista, aos banhos, retirou-se sem se lavar, porque aí vira Cerinto, herege que negava a Divindade de Jesus Cristo, “dizia com receio, que o prédio viesse abaixo, pois nele se encontrava Cerinto, inimigo da Verdade”. Pode-se imaginar que Cerinto não se sentiu satisfeito! O próprio São Policarpo, encontrando-se um dia com Marcião, herege docetista, e Marcião perguntou-lhe se o conhecia, respondeu o Santo: “Sim, sem dúvida, és o primogênito de Satanás”. Aliás, nisto seguiam o conselho de São Paulo.61 O mesmo São Policarpo, se casualmente se encontrava com hereges, exclamava, tapando os ouvidos: “Deus de bondade, por que me conservastes na terra a fim de suportar tais coisas?” E fugia imediatamente, para evitar semelhante companhia.

3. Falando, ainda, Santo Inácio de Antioquia sobre os hereges: “Não só não deveis recebê-los, mas, se possível, sequer encontrá-los… Eles se afastaram da Eucaristia e da oração, porque não professam que a Eucaristia é a Carne de Nosso Salvador Jesus Cristo, que sofreu por nossos pecados… convém para nós manter-se distantes dessas pessoas e não falar com elas, seja em particular, seja em público... .62

4. “Quem não confessar que Jesus Cristo veio na Carne, é anticristo; aquele que não d´testemunho da Cruz, é do Diabo; aquele que distorce as palavras do Senhor segundo seus próprios desejos… esse é primogênito de Satanás”.63

5. Santo Antão, “não teve nenhuma relação de amizade com os maniqueus ou com os outros hereges, a não ser para exortá-los a se converterem à piedade; pensava e declarava que a amizade e o relacionamento com os hereges fazem mal à alma e a arruínam. Abominava a heresia ariana e proibia a todos de se aproximarem deles e de seguir sua fé pervertida… dizia que suas palavras eram piores que o veneno das serpentes”.64

6. Quinto Setímio Florêncio Tertuliano, ensinava que “sempre existirão heréticos, porque os homens são livres e fracos”.

Tertuliano, falando com os inventores de novas seitas, disse: “Quem sois vós? De onde, e quando viestes? Onde estivestes escondidos até agora?”65

Mostrai-nos as origens das vossas igrejas; ostentai-nos a sucessão dos vossos pastores; provai que o primeiro remonta até o princípio e foi ou um Apóstolo, ou um Delegado Apostólico”.66

De diversas maneiras o Demônio mostra sua hostilidade à verdade. Pretende por vezes golpeá-la simulando defendê-la. Faz-se de campeão do Único Senhor, Todo-poderoso, do Criador do mundo, mas para extrair da divina unidade uma heresia”.67

Se cada palavra de Deus se apoia sobre três testemunhas, quanto mais não ocorre isso com seu dom! Por força da bênção batismal, temos como testemunhas da Fé os mesmos Três que lhe conferem a promessa da Salvação. O próprio número dos nomes divinos bastaria para fundar a esperança de nossa Fé. Mas, o testemunho da Fé e a promessa da Salvação incluem ainda a menção da Igreja, porque onde estão os Três, o Pai, o Filho, e o Espírito Santo, também aí está a Igreja, Corpo dos Três”.68

7. Dizia S. Agostinho, que “parece-me salutar essas recomendações aos jovens estudiosos, inteligentes e tementes a Deus, que procuram a vida bem-aventurada: que não se arrisquem sob o pretexto de tender à vida feliz e que não se dediquem temerariamente a seguir doutrina alguma das que se praticam fora da Igreja de Cristo”.

Chamando-nos de católicos, vos condenais a vós mesmos. Confessais que a verdade não é do vosso lado”.69

8. “Necessariamente, pois, tais hereges, sendo cegos para a verdade, mudam sempre de direção e daí disseminam suas doutrinas de modo discordante e incoerente. Ao contrário, o caminho dos que pertencem à Igreja Católica cerca o universo inteiro, possuindo a firme Tradição dos Apóstolos, mostra-nos que todos possuímos a mesma fé. Sim, todos ensinamos a existência de um mesmo Deus Pai, temos idêntica Fé no plano da Encarnação do Filho de Deus, reconhecemos o Dom do Espírito, aplicamo-nos aos mesmos Preceitos, observamos na Igreja Católica a mesma forma de oração, esperamos a mesma vinda do Senhor e aguardamos a mesma salvação do homem integral, isto é, da alma e do corpo.70

9. Santo Tomás de Aquino, o plácido e angélico Doutor, qualificou da seguinte maneira Guilherme do santo amor e seus sequazes: “Inimigos de Deus, ministros do Diabo, membros do anticristo, inimigos da salvação do gênero humano, difamadores, réprobos, perversos, ignorantes, iguais a Faraó, piores que Joviniano e Vigilância”, que eram hereges contrários à Virgindade de Nossa Senhora.

10. São Boaventura, o Doutor Seráfico, chamou Geraldo, seu contemporâneo, de “protervo, caluniador, louco, envenenador, ignorante, embusteiro, malvado, insensato, pérfido”.

11. São Bernardo, o Doutor Melífluo, disse de Arnaldo de Bréscia, que era “desordenado, vagabundo, impostor, vaso de ignomínia, escorpião vomitado de Bréscia, visto com horror em Roma, com abominação na Alemanha, desdenhado pelo Romano Pontífice, louvado pelo Diabo, obrador de inimigos, devorador do povo, boca cheia de maldição, semeador de discórdias, fabricador de cismas, lobo feroz”.

12. São Gregório Magno, disse contra João, Bispo de Constantinopla, que tinha “um profano e nefando orgulho, a soberba de Lúcifer, fecundo em palavras néscias, vaidoso e escasso de inteligência”.

13. Disse São Bernardo de Claraval: “Todo herege é ovelha na lã, raposa nas entranhas, lobo nas obras”.71

14. Ensinou J. de Maistre: “As heresias deformam-se a si e reformam-nos a nós”.

15. S. Optato de Milêvo, ensina que os hereges “são filhos sem pais, discípulos sem mestres, sucessores sem predecessores, pastores sem rebanhos”.72

16. São Jerônimo, falando com outro herege, disse: “Para que, ao cabo de 400 anos, trabalhas para nos ensinar o que até agora não soubemos? Até o presente dia, sem esta vossa doutrina, foi cristão o mundo”.73

17. Assim ensinou sobre os hereges, o grande Oratoriano74, e uma das maiores glórias da Literatura de Portugal:

– “Os hereges são como as rãs: desde o charco de seus imundos pareceres e opiniões não cessam de vozear molestamente.75 E, assim, é necessário reprimir sua insolência com liberdade evangélica, como ensinou São Paulo: ‘Repreende-os asperamente, para que sejam sãos na fé’76 E como o mesmo São Paulo com o mago Elimas, chamando-lhe também de filho do Diabo,77 porque, se lhe mostram medo, ou respeito, ainda clamam com maior audácia, e interpretam a modéstia alheia como sua vitória”.

– “O pai de São Francisco de Sales, vendo que muitos no seu tempo recebiam em Saboia a seita de Calvino, disse abominando-a: Não abraço religião que eu vi nascer, e é mais moça que eu 12 anos”.

– “Os heresiarcas são dentes do dragão infernal, que ele mesmo semeou, uns em Holanda, outros em Inglaterra, outros em França, Suécia, Dinamarca, Alemanha, etc… Ontem nasceram, e já se gloriam de mui crescidos, e nos querem vender suas doutrinas por antiquíssimas. Porém, ainda que a Igreja não os vencesse e destruísse a todos, eles mesmos, impugnando-se uns aos outros, se destroem”.

Encontrando-se Juliano Apóstata com São Pigmênio, Presbítero romano, que era cego, e depois padeceu o martírio, como quem o saudava benevolamente, disse o apóstata: “Glória aos deuses e deusas imortais, que te cheguei a ver” - Respondeu o Santo: “Glória a meu Senhor, Jesus Cristo, nazareno crucificado, que cheguei a não te ver?”

Daqui veremos a cautela, estranhes e ainda o desprezo com que nos devemos portar com os hereges. É dogma de São Paulo em vários textos,78 e São João Evangelista proíbe até o saudá-los.79 Como os hereges têm as entranhas da intenção corruptas, é força que o bafo das palavras seja pestilente; e se nos desviamos do ar que respira um apestado ou tísico, para ressalvar a nossa saúde corporal, quanto mais devemos evitar de um herege, para cautelar a saúde da alma. O mesmo São João confirmou com o exemplo o que ensinou com a palavra, pois não quis entrar no banho onde Cerinto, herege, se lavava.80

Notável é o caso que sucedeu a São Martinho, Bispo. Por uma leve e quase inescusável comunicação que teve com Itácio, herege, levou uma áspera repreensão do seu Anjo, e dali por diante experimentou mais dificuldade e trabalho em curar os energúmenos, e por 16 anos, que lhe restaram de vida, se absteve de entrar em Sínodo.81

Estando o Padre João da Gauda, S.J., em Bruxelas, comentando sobre a festa de Corpus Christi, o acometeram mui orgulhosos dois hereges com este argumento: “que, se o Sacerdote na procissão levava nas mãos a Cristo Real e verdadeiramente, levava também a máquina de todo o mundo, a quem Deus sustenta”. Respondeu-lhe o Padre: Não vos espanteis, que também vosso irmão, o asno, levou a Cristo entrando em Jerusalém, e também vosso pai, o Diabo82 levou ao mesmo Senhor ao pináculo do templo, e mais, nem o asno nem o Diabo levaram o mundo às costas”.

Rabi Salomão, hebreu, disse que ‘o gigante Golias fora filho de 100 homens e um cão’. É delírio semelhante às outras fábulas dos rabinos, para significar o vasto da sua corpulência e o intrépido da sua ousadia; mas, o que se pode dizer com verdade, é que a heresia dos nossos tempos é filha de 100 heresiarcas e do Diabo, porque de todos participa alguma coisa; porém, sai a pedra da funda de Davi, isto é, São Pedro, constituído pela mão de Cristo, pedra primária do edifício místico da Igreja, a qual, vence e prostra este soberbíssimo monstro de monstros, e nesta pedra se funda a verdadeira Igreja, que é uma só, e tem uma só fé, que tiveram os Apóstolos, e um só Mestre, que é o Espírito Santo”.

Severo, heresiarca, afirmava que Cristo é puramente Deus, e não juntamente homem. Sucedeu que, Alamundaro, príncipe sarraceno, recebeu com o sagrado Batismo a Fé ortodoxa. Enviou-lhe logo Severo dois bispos da sua facção, para que o infeccionassem com o seu erro. O dito príncipe, usando de cautela, lhe disse entre a prática, ‘que naquele dia havia recebido cartas com as novas da morte de São Miguel Arcanjo’. Adiantaram-se logo os bispos dizendo: “Quem inventou essa quimera quis enganar-vos, e fazer irrisão, porque o Príncipe São Miguel, sendo Anjo, e puro espírito, como podia morrer?” – Respondeu Alamundaro: Logo, também é quimera e ficção o dizerdes vós outros que Cristo é puramente Deus, e não homem, porque, se São Miguel não pode morrer, porque é Anjo, como poderia morrer Cristo, sendo só Deus?”

Envergonharam-se os bispos, e nisto tiveram muita razão, assim porque, vindo a enganar, se viram enganados, como porque o raciocínio era claro, e dado a Príncipes da Igreja por um homem secular recém-convertido do Maometismo.

Certo ministro calvinista, pretendendo do Baxá de Buda, faculdade para ensinar publicamente aos cristãos a sua seita, alegava, pelo adular, que o calvinismo era mui parecido ao Alcorão. – Dizia,porque nós e vós negamos a intercessão dos Santos, e temos o Purgatório por fábula, por ídolos as Imagens. Vós tendes muitas mulheres, e nós não fazemos grande reparo em que uma mulher casada deixe o seu esposo, e busque o de outra. Vós não venerais a virgindade, e nós derrubamos os mosteiros das virgens. Vós fazeis dos templos dos católicos estrebarias, nós o mesmo fazemos!” Ouvindo o Baxá este longo palavreado disse: “Conforme eu vejo, facilmente concordaríamos em tudo, se vós não vos embebedásseis, deixando só a água para nós!”

– … Distintos são o Alcorão e o Calvinismo; porém, como estão debaixo do mesmo meridiano da infidelidade, desprezo do eterno e liberdade da carne, não é de admirar que padeçam semelhantes eclipses da razão, e as mesmas oposições dos dogmas da Igreja Católica… Envergonha-te, maldito Calvinismo, que os teus amigos e semelhantes são os maometanos, opróbrio do gênero humano; confunde-te, que teus predicantes se conchavam com os seus baxás… Há mais outra diferença bem lamentável e vergonhosa, e é que os maometanos estão firmes na adoração de um só Deus; mas, os luteranos e calvinistas, se os deixarem, todos propendem para o ateísmo”.

João Huss, outro heresiarca, que morreu queimado no ano de 1415, se arremessou a fazer seu papel de profeta, porque, escrevendo desde Constância, onde estava já encarcerado, e aludindo a seu sobrenome “Huss”, que na língua boêmia quer dizer “Pato”, disse assim: Assarão o pato, mas daí a 100 anos virá um cisne, que cantará melhor que ele, e não o poderão assar”. Pegou daqui Lutero, dizendo “que São João – assim chama a João Huss, canonizando-o mártir – profetizara dele, que era o dito cisne, e que assim era força que o ouvissem cantar”. Porém, um católico lhe respondeu que, “tão verdadeira era a profecia, como ser o corvo cisne”.

18. O Papa Inocêncio IV, ensina que “os hereges são assassinos de almas e ladrões dos Sacramentos de Deus”.

19. Eusébio de Cesaréia, ensinou que: “Na terceira Carta sobre o Batismo, escrita a Filêmon, Sacerdote de Roma, acrescenta o mesmo Dionísio o seguinte: ‘Eu, também, tomei conhecimento das obras e das tradições dos hereges; durante algum tempo, manchei a alma com suas abomináveis cogitações, mas daí retirei a vantagem de refutá-las no meu íntimo e sentir horror tanto maior”.83

20. S. Basílio ensina: “Dessa gente (hereges) deveis acautelar-vos, como gente estranha à Fé Evangélica e Apostólica, e também à Caridade, lembrados da palavra do Apóstolo: ‘Se alguém, dentre nós mesmos ou até um Anjo do Céu, vos anunciasse um Evangelho diferente do que vos temos anunciado, seja anátema’.84 Lembrai-vos igualmente da palavra: ‘guardai-vos dos falsos profetas’,85 e desta outra: ‘mantende-vos à distância de todo irmão que vive de modo irregular e não seguindo a Tradição recebida de nós’.86 Conformai-vos à regra dos antigos, pois estais ‘edificados sobre o Fundamento dos Apóstolos e dos Profetas, com Nosso Senhor Jesus Cristo como Pedra Angular, Ele, em quem o edifício, perfeitamente coordenado, se eleva para formar um Templo Santo no Senhor’87”.88

Ensinando sobre os hereges, diz: “A meta comum de todos os adversários, inimigos da sã doutrina, é abalar o fundamento da Fé em Cristo, arrasando, fazendo desaparecer a Tradição Apostólica. Por isso, eles, aparentando ser detentores de bons sentimentos, recorrem a provas extraídas das Escrituras, e lançam para bem longe, como se fossem objetos vis, os testemunhos orais dos Padres”.89

21. S. Teófilo de Antioquia, ensina que “no mar há ilhas. Umas são habitáveis, têm boa água, um solo fértil, margens abordáveis, portos de refúgio contra as tempestades; assim foi que Deus deu ao mundo, agitado pelas tempestades dos pecados, comunidades, queremos dizer santas igrejas, onde se acham, como nos portos facilmente abordáveis das ilhas, as Doutrinas da Verdade; lá se refugiam os que aspiram ser salvos, os que se fascinaram pela Verdade e querem escapar à ira e ao julgamento de Deus.

E há outras ilhas, rochosas, sem água, estéreis, selvagens, inóspitas, onde se chocam os navios e perecem os que aí desejam aportar; tais são as doutrinas do erro, quero dizer as heresias, causadoras da ruína dos que se lhes avizinham, pois não estão sob a Palavra da Verdade. Os piratas enchem de passageiros seus navios para depois os despedaçarem sobre os recifes e os fazerem perecer; assim, os que erram longe da Verdade acham sua ruína nos próprios erros”.90

22. Hermas escreveu: “Senhora, perguntei-lhe, queria saber a sorte e a significação das pedras.

Eis agora o que concerne às pedras na construção (da Igreja)…

Queres saber o que representam estas pedras que foram quebradas longe da torre? São os filhos da iniquidade; sua fé é apenas hipocrisia e não renunciaram totalmente ao mal. Também não há para eles salvação, pois sua perversidade os torna impróprios à construção. Foram quebrados em pedaços e jogados longe devido à cólera do Senhor, a quem irritaram. Quanto às outras pedras, que viste sobre o solo em grande quantidade sem entrar na construção, umas, as que estão se desfazendo, representam os homens que após haver conhecido a Verdade, nela jamais perseveraram e não frequentam os santos: daí sua inutilidade…

Quanto às outras pedras que tu viste, lançadas longe da torre, caindo sobre a estrada e de lá rolando para lugares inacessíveis, são os que, após terem abraçado a Fé, se deixaram em seguida arrastar pelas dúvidas e abandonaram o caminho da Verdade. Crendo-se capazes de encontrar uma via melhor, desgarram-se e cansam de caminhar em países sem estradas. As pedras que caem no fogo e aí queimam, são os que se separam definitivamente do Deus vivo, jamais entrando em seu coração o pensamento de fazer penitência, escravos de suas paixões e das infâmias que cometeram...”.91

23. S. Atanásio, afirma que o desprezo e a audácia dos hereges é “satânica”.92

24. Santo Hilário de Poitiers, comentando sobre os erros dos heréticos, diz: “… Exclui-se, evidentemente, das Promessas Evangélicas quem se exclui da Fé das mesmas… A última loucura da impiedade é, ou não crer nas coisas que conhece, ou corromper o conhecimento do que deve crer”.93

25. Pe. Francisco Suarez, S.J., ensina que: “O Anticristo… esse nome evidentemente designa um homem ímpio, inimigo de Cristo e contrário a Ele em tudo… e que se esforça por arrancar sua Fé e Religião…

Aquela perseguição há de ser universalíssima, por todo o mundo, como abertamente se conclui dos capítulos 13 e 20 do Apocalipse: ‘E estenderam-se pela superfície da terra, e cercaram os acampamentos dos Santos e a cidade querida’. Valendo-se desta passagem, nota Santo Agostinho, que todos os homens maus, hereges e seus semelhantes, se hão de unir com o Anticristo para perseguir por todas as partes aos fiéis”.94

26. S. Francisco de Sales, ensinando como devemos honrar e invocar os Santos, narra o seguinte fato: “O grande Pedro Fabro, primeiro Sacerdote e primeiro pregador e leitor de Teologia da Companhia de Jesus, e primeiro companheiro de Santo Inácio, seu Fundador, vindo um dia da Alemanha, onde tinha feito grandes serviços para a glória de Nosso Senhor, e passando por esta Diocese, lugar de seu nascimento, recontava: Que tendo atravessado muitos lugares heréticos, recebera milhares de consolações, saudando na entrada de cada Paróquia os Anjos protetores delas: os quais visivelmente conhecera serem-lhe propícios, tanto para se salvar das emboscadas dos hereges, como para tornar muitas almas brandas e dóceis a receber a Doutrina saudável’. Isto dizia com tanta asseveração, que uma donzela de pouca idade, ouvindo-o da sua boca, o referia há quatro anos: isto é, mais de quarenta anos depois, com um extremoso afeto. E eu neste ano passado, recebi a consolação de consagrar um altar, no lugar onde Deus foi servido, que nascesse este Bem-aventurado varão: no lugarejo de Villaret, entre as nossas mais ásperas montanhas”.95

A Voz de Deus Espírito Santo:
OS CONCÍLIOS ECUMÊNICOS.

27. “A quem, com a máscara de uma espiritualidade falsa, rejeita o Sacramento do Corpo e do Sangue de Nosso Senhor, o Batismo das Crianças, o Sacerdócio e mais Ordens Eclesiásticas, as Legítimas Alianças Conjugais, a este, separamos da Igreja de Deus, condenamos como herege e ordenamos que seja punido pelos poderes seculares”.96

28. “Pronunciamos o anátema contra todos estes hereges (os albigenses) e suas intrigas perniciosas; nós as punimos com o anátema, a elas e aos seus fautores. Quanto aqueles que não respeitam as igrejas, nem os mosteiros, sentenciamos contra eles e todos aqueles que os auxiliarem de qualquer maneira, as mesmas penas impostas aos hereges, ordenamos que eles sejam denunciados nas igrejas das regiões que assolaram”.97 Ao mesmo tempo, o Concílio desligou de toda homenagem e obediência os súditos desses promotores de desordens e mandou aos fiéis que se opusessem às suas depredações, protegendo pelas armas o povo cristão; concedeu aqueles que morressem nesta guerra santa a mesma indulgência que dava aos Cruzados. Referindo-se aos hereges e aos fautores de heresia, diz: “Que já não exercem sua maldade ocultamente como outros, mas que manifestam o seu erro publicamente e atraem ao seu acordo os simples e débeis. A eles e aos defensores deles e aos encobridores, decretamos que fiquem sob excomunhão, e proibimos que, não os tenha ninguém em suas casas ou em sua terra ou pretenda exercer negócio com eles, sob pena de excomunhão. Mas aqueles que tiverem caído neste pecado, nem sob pretexto de nossos privilégios, nem pelos indultos, nem por qualquer outra causa, possa ser feita oferenda por eles, nem possam receber sepultura entre cristãos… mas os Bispos ou Presbíteros, que não se oponham aos tais fortemente, sejam castigados com privações de seu ofício, até que obtenham misericórdia da Sé Apostólica”.98

Outros Rasgos sobre os Hereges

29. São Roberto Belarmino ensinou: “Os Santos Padres ensinam unanimemente, não só que os hereges estão fora da Igreja, mas também, que estão ‘ipso facto’ privados de toda jurisdição e dignidade eclesiásticas. São Cipriano diz: ‘Afirmamos que absolutamente todos os hereges e cismáticos não tem poder e direito algum’;99 e ensina também, ‘que os hereges que retornam à Igreja devem ser recebidos como leigos, ainda que tenham sido anteriormente Presbíteros ou Bispos na Igreja’.100 Santo Optato ensina, ‘que os hereges e cismáticos não podem ter as chaves do Reino dos Céus, nem ligar ou desligar’.101 O mesmo ensinam Santo Ambrósio,102 Santo Agostinho,103 São Jerônimo104… O Concílio de Constância só trata dos excomungados, isto é, dos que perderam a jurisdição por sentença da Igreja, ao passo que os hereges já antes de serem excomungados estão fora da Igreja e privados de toda jurisdição. Pois já foram condenados por sua própria sentença, como ensina o Apóstolo,105 isto é, foram cortados do Corpo da Igreja sem excomunhão, conforme explica São Jerônimo...”.106

30. “Esta é a sentença de grandes doutores recentes, como João Driedo,107 o qual ensina que só se separam da Igreja os que são expulsos, como os excomungados, e os que por si próprios dela se afastam e a Ela se opõem, como os hereges e os cismáticos. E, na sua 7ª afirmação, sustenta que naqueles que se afastaram da Igreja, não resta absolutamente nenhum poder espiritual sobre os que estão na Igreja, O mesmo diz Melchior Cano,108 ensinando que os hereges não são partes, nem membros da Igreja… e ensina no mesmo local, com palavras claras, que os hereges ocultos ainda são da Igreja, são partes e membros…

O fundamento desta sentença, é que o herege manifesto não é de modo algum membro da Igreja, isto é, nem espiritual nem corporalmente, o que significa que não o é nem por união interna nem por união externa. Pois, mesmos os maus católicos estão unidos e são membros, espiritualmente pela fé e pela participação nos Sacramentos visíveis; os hereges ocultos estão unidos e são membros, embora apenas por união externa; mas, os hereges manifestos não pertencem de modo nenhum, como já provamos”109

31. São Bruno, Bispo de Segni, Abade de Monte Cassino, ensina: “Temos os Cânones; temos as Constituições dos Santos Padres, desde os tempos dos Apóstolos até vós. (…) Os Apóstolos condenam e expulsam da comunhão dos fiéis todos aqueles que obtêm cargos na Igreja através do poder secular. (…) Esta determinação dos Apóstolos (…) é santa, é católica, e quem quer que a ela contradiga, não é católico. Pois somente são católicos os que não se opõem à Fé e à Doutrina da Igreja Católica. E, pelo contrário, são hereges os que se opõem obstinadamente à Fé e à Doutrina da Igreja Católica. (...)”.110

32. Pe. Pietro Ballerini, teólogo italiano (séc. XVIII), afirma: “Para qualquer pessoa, mesmo privada, valem as palavras de São Paulo à Tito: ‘Evita o herege’, depois da primeira e segunda correção, sabendo que um tal homem está pervertido e peca, uma vez que foi condenado por seu próprio juízo’.111 Pois, a pessoa que, advertida uma ou duas vezes, não se arrepende, mas mantém-se pertinaz numa sentença contrária a um Dogma manifesto ou definido – não podendo, em razão dessa pertinácia pública, ser escusada de forma alguma da heresia propriamente dita, que requer a pertinácia – essa pessoa declara a si mesma, abertamente, herege. Revela que por própria vontade se afastou da Fé Católica e da Igreja, de tal forma que já não é necessária nenhuma declaração ou sentença de quem quer que seja para cortá-la do Corpo da Igreja. É muito claro nessa matéria o argumento dado por São Jerônimo à propósito das citadas palavras de São Paulo: ‘Por isso, diz-se que o herege condenou a si mesmo: porque o fornicador, o adúltero, o homicida e os demais pecadores são expulsos da Igreja pelos Sacerdotes; mas, os hereges proferem a sentença contra si mesmos, excluindo-se da Igreja espontaneamente: exclusão essa que é a sua condenação pela própria consciência”.112

33. D. Prosper Guéranger, Abade Beneditino, escreveu: “Não nos devemos espantar com a contradição que a heresia apresenta em suas obras, quando consideramos que o 4º princípio, ou, se quiser, a 4ª necessidade imposta aos sectários pela própria natureza do seu estado de revolta, é uma contradição habitual com os seus próprios princípios. Deve ser assim, para confusão deles próprios no grande dia, que cedo ou tarde há de vir, em que Deus revelará a nudez dos hereges aos olhos dos povos que eles seduziram, e também, porque não é próprio ao homem ser consequente: somente a verdade o pode ser. Assim, todos os sectários, sem exceção, começam por reivindicar os direitos da antiguidade; querem expurgar o Cristianismo de tudo aquilo que o erro e as paixões dos hereges nele introduziram de falso e de indigno de Deus. Nada desejam senão o primitivo, e pretendem retomar a instituição cristã em seu berço. Para isso, eles mutilam, destroem, cortam. Tudo cai a seus golpes. E quando se espera ver o culto divino reaparecer em sua pureza primeira, eis que se é atulhado de fórmulas novas, que não datam senão da véspera, e que são incontestavelmente humanas, pois quem as redigiu vive ainda. Todas as seitas estão sujeitas a essa necessidade. Nós o vimos nos monofisitas e nestorianos, e encontraremos a mesma coisa em todos os ramos de protestantes. A ostentação com que pregam a antiguidade não conduz senão a pô-los em condições de impugnar todo o passado. Depois eles se colocam diante dos povos seduzidos e lhes juram que tudo está bem, que as excrescências papistas desapareceram, que o culto divino retornou à sua santidade primitiva. Notemos ainda algo de característico nas modificações litúrgicas feitas pelos hereges: em seu furor de inovações, eles não se contentam em mutilar as fórmulas de estilo eclesiástico, por eles estigmatizadas como palavra humana, mas estendem sua reprovação as próprias leituras e preces que a Igreja tomou das Escrituras; eles mudam, substituem, não querendo rezar com a Igreja, excomungando desse modo a si próprios, temendo até a mínima parcela de ortodoxia que presidiu a escolha dessas passagens”.113

34. José María Caro Rodríguez, primeiro Cardeal chileno, afirma em sua monumental obra sobre a Maçonaria: “… El Protestantismo – como decía la revista masónica alemana “HATOMIA” - es la mitad de la Masonería”.114

35. D. Frei Vital Maria Gonçalves de Oliveira escreveu: “Para um coração que lamenta amargamente os males da pátria querida, é de sumo lenitivo e doce alívio ver o modo tão judicioso, exato e reto, porque V. Excia. Revma. Aquilata o magnífico movimento religioso que a perseguição injusta tem, mau-grado seu, desenvolvido em todos os pontos do Império; movimento abençoado e salvador, despertar repentino e feliz de um povo que havia adormecido nos braços da Indiferença em matéria de religião, e dormia a sono solto à borda de um abismo insondável: o Protestantismo”.115


36. O Rev. Pe. Júlio Maria de Lombaerde, S.D.N., ensina que “um homem inteligente não pode acreditar no Protestantismo, porque é uma balbúrdia, um labirinto sem saída, uma pura negação”.116

37. “As raposas simbolizam os hereges, que são astutos como elas. É preciso detê-los logo no princípio, quando ainda são pequenos, ao contrário, serão mais tarde a desolação da Igreja”.117

38. Afirmou Santa Teresinha do Menino Jesus: “Com que alegria, no tempo das Cruzadas, teria partido para combater os hereges”.

39. O insigne Dom Vital, sentiu a necessidade de dizer o seguinte, em um dos seus sermões ao povo de Olinda: “Há hoje toda uma espécie de homens que, negando o princípio da autoridade… pretendem ensinar aos Bispos, que devem ser todos doçura e conciliação, sem jamais fazer uso de uma paternal severidade. Ora, se percorrermos as primeiras páginas da história da Igreja, o que veremos? São Paulo, cujas epístolas respiram a mais suave caridade do Senhor, dizer aos cristãos culpados de Corinto: ‘Irei a vós de chicote em punho’. E pronunciou contra eles a pena de excomunhão”.118

Os Hereges Estão Mais Afastados da Fé do Que os Demônios 119

Do livro “A Suma Teológica em Forma de Catecismo”, obra da qual escreveu o Santo Padre Bento XV, em carta ao autor, que este soube “acomodar ao alcance de sábios e ignorantes os tesouros daquele gênio excelso [São Tomás de Aquino], condensando em fórmulas claras, breves e concisas, o que ele com maior amplitude e abundância escreveu”.

A Suma Teológica, principal documento, do Santo Angélico, foi resumida com a melhora da linguagem para iniciantes pelo Pe. Tomás Pègues, O.P. em francês em 1919 e traduzido ao português por anônimo em 1942 e reproduzido pela Editora SCJ, de Taubaté e já extinta, em forma de catecismo. Esta obra tem o beneplácito de Dom Gil Antônio Moreira e do Santo Padre Bento XV.

P. Existe algum compêndio das verdades essenciais da fé?

R. Sim, senhor; o Credo, o Símbolo dos Apóstolos. Ei-lo aqui conforme o reza diariamente a Igreja:

Creio em Deus Pai Todo Poderoso,
Criador do Céu e da terra;
e em Jesus Cristo seu único Filho, Nosso Senhor,
o qual foi concebido do Espírito Santo;
nasceu de Maria Virgem;
padeceu sob o poder de Pôncio Pilatos,
foi crucificado, morto e sepultado;
desceu aos infernos;
ao terceiro dia ressuscitou de entre os mortos;
subiu aos céus
e está sentado à mão direita de Deus Pai, Todo Poderoso;
donde há de vir a julgar os vivos e os mortos.
Creio no Espírito Santo,
na Santa Igreja Católica,
na Comunhão dos Santos,
na remissão dos pecados,
na ressurreição da carne,
na vida eterna.
Amém.

P. É a recitação do Credo ou Símbolo dos Apóstolos o ato de fé por excelência?

R. Sim, senhor; e nunca devemos cessar de recomendar aos fiéis a sua prática diária.

P. Podereis indicar-me alguma outra fórmula breve, exata e suficiente para praticar a virtude da fé sobrenatural?

R. Sim, senhor; eis aqui uma, em forma de súplica: “Deus e Senhor meu; confiado em vossa divina palavra, creio tudo o que haveis revelado para que os homens, conhecendo-Vos, Vos glorifiquem na terra e gozem um dia de Vossa presença no Céu”.

P. Quem pode fazer atos de fé?

R. Somente os que possuem a correspondente virtude sobrenatural.

P. Logo, não podem os infiéis fazer atos de fé?

R. Não, senhor; porque não creem na Revelação, ou seja, porque ignorando-a, não se entregam confiadamente nas mãos de Deus, nem se submetem ao que deles exige, ou porque, conhecendo-a, recusam prestar-lhe assentimento.

P. Podem fazê-lo os ímpios?

R. Tampouco, porque, se bem que têm por certas as verdades reveladas, fundadas na absoluta veracidade divina, a sua fé não é efeito de acatamento e submissão a Deus, a Quem detestam, ainda que com pesar seu se vejam obrigados a confessá-Lo.

P. É possível que haja homens sem fé sobrenatural, e que creiam desta forma?

R. Sim, senhor; e nisto imitam a fé dos Demônios.

P. Podem crer os hereges com fé sobrenatural?

R. Não, senhor; porque, embora admitam algumas verdades reveladas, não fundam o assentimento na autoridade divina, senão no próprio juízo.

P. Logo, os hereges estão mais afastados da verdadeira fé, que os ímpios e que os mesmos Demônios?

R. Sim, senhor; porque não se apoiam na autoridade de Deus.

P. Podem crer com fé sobrenatural os apóstatas?

R. Não, senhor; porque desprezam o que haviam crido por virtude da palavra divina.

P. Podem crer os pecadores com fé sobrenatural?

R. Podem, contanto que conservem a fé, como virtude sobrenatural; e podem tê-la, se bem que em estado imperfeito, ainda quando, por efeito do pecado mortal, estejam privados da caridade.

P. Logo, nem todos os pecados mortais destroem a fé?

R. Não, senhor.

P. Em que consiste o pecado contra a fé chamado infidelidade?

R. Em recusar submeter o entendimento, por veneração e amor de Deus, às verdades sobrenaturalmente reveladas.

P. E sempre que isto acontece, é por culpa do homem?

R. Sim, senhor; porque resiste à graça atual com que Deus o convida e impele a submeter-se.

P. Concede Deus esta graça atual a todos os homens?

R. Com maior ou menor intensidade e em medida prefixada nos decretos de sua providência, sim, senhor.

P. É grande e muito estimável a mercê que Deus nos faz, ao infundir-nos a virtude da fé?

R. É em certo modo a maior de todas.

P. Por quê?

R. Porque, sem fé sobrenatural, nada podemos intentar em ordem à nossa salvação, e estamos perpetuamente excluídos da glória, se Deus não se digna conceder-no-la antes da morte.

P. Logo, quando se tem a dita de possuí-la, que pecado será, frequentar companhias, manter conversações ou dedicar-se a leituras capazes de fazê-la perder?

R. Pecado gravíssimo, fazendo-o espontânea e conscientemente, e de qualquer modo ato reprovável, que sempre o é, expor-se a semelhante perigo.

P. Logo, importa sobremaneira escolher com acerto as nossas amizades e leituras, para encontrar nelas, não embaraços, mas estímulos para arraigar a fé?

R. Sim, senhor; e especialmente nesta época, em que o desenfreio de expressão, chamado liberdade de imprensa, oferece tantas ocasiões e meios de perdê-la.

P. Existe algum outro pecado contra a fé?

R. Sim, senhor; o pecado da blasfêmia.

P. Por que a blasfêmia é pecado contra a fé?

R. Por ser diretamente oposta ao ato exterior da fé, que consiste em confessá-la por palavras, e a blasfêmia consiste em proferir palavras injuriosas contra Deus e seus Santos.

P. É sempre pecado grave a blasfêmia?

R. Sim, senhor.

P. O costume de proferi-las escusa ou atenua a sua gravidade?

R. Em vez de atenuá-la, agrava-a, pois o costume demonstra que se deixou arraigar o mal, em lugar de dar-lhe remédio.

Conclusão

Da mesma forma falaram todos os Padres da Igreja, que se distinguiram por suas virtudes heroicas.

O princípio em que se inspira o procedimento de tantos Santos, condensou-o de modo admirável o suavíssimo Bispo de Genebra, São Francisco de Sales, nas seguintes palavras: “Os inimigos declarados de Deus e da Igreja Católica, devem ser difamados tanto quanto se possa, desde que não falte à verdade, sendo obra de caridade gritar: eis o lobo! Quando está entre o rebanho ou em qualquer lugar onde seja encontrado”.

O Ven. Pe. Manuel Bernardes, finaliza afirmando: “Observemos esta regra, que é muito certa. Todas as vezes que virmos que a Sagrada Escritura, e os Santos Padres martelam repetidamente sobre uma mesma doutrina, é sinal de sua grande importância; e que pretendem que saia ao encontro aos leitores, e que estes parem, e reparem nela”.120


____________________

1.  “História Eclesiástica”, 1947.

2.  C.I.C. - Cân. 1364, parág. 1.

3.  C.I.C. - Cân. 1331, parág. 1.

4.  C.I.C. - Cân. 8740.

5.  C.I.C. - Cân. 892.

6.  C.I.C. - Cân. 1071.

7.  C.I.C. - Cân. 316.

8.  Cardeal Pedro Gasparri, “Catecismo Católico – Terceiro Catecismo”, Cap. X, Secção 2ª, Art. 2 – A, Perg. 522, p. 188. 3ª Edição, Est. Gráfico Santa Teresinha, Porto Alegre/RS, 1936.

9.  Rev. Pe. Fr. Tomás Pègues, O.P., “A Suma Teológica em Forma de Catecismo”, Segunda Parte, Segunda Secção, Cap. II (V. 3), p. 93.

10.  Mat. 12, 31-37.

11.  Marc. 3, 28-30; Luc. 12, 10-12.

12.  São Pio X, Cardeal Pedro Gasparri, Pe. Antônio José de Mesquita Pimentel, Pe. Francisco Xavier Schouppe.

13.  Summ. Theolog. 2 a. 2 ae., q. 14, a. 1, 2.

14.  De peccatis in Spiritum Sanctum, n. 1; S. Tomaz, 1. c.

15.  Catecismo Maior, Das Virtudes Principais, Cap. VI, q. 961-962.

16.  II Mac. 9, 5-17; cfr. Heb. 12, 17.

17.  Cfr. Êx. 4, 21; I Rs. 2, 25; Mat. 12, 31-32; Heb. 6, 4 ss.; 10, 26 ss.

18.  Cfr. Jud. 4 ss.; II Ped. 3, 3 ss.; I Jo. 2, 7 ss.

19.  Segundo Aug., “De Sermon. Domini in monte”, 1, 22 (aliás 75): ML 34, 1266.

20.  Catecismo Romano, “Do Sacramento da Penitência”, Part. II, Cap. V, art. 19.

21.  Ez. 18, 21 ss.

22.  I Jo. 1, 9.

23.  I Jo. 2, 1 ss.

24.  D. Frei Eduardo José Herberhold, O.F.M., Bispo Titular de Hermopolis Magna e Prelado-coadjutor de Santarém.

25.  São João Bosco, “Historia Eclesiástica”.

26.  Ap. 2, 6.14-15.

27.  “Vida Admirable de La Rda. Madre Mariana de Jesus Torres”, Tom. II, p. 77, 1934.

28.  Jer. 18, 14.

29.  At. 4, 32.

30.  Concupiscência da gula.

31.  Mat. 13, 6; S. Bern., in die Paschae, sermo, 3, PL 183, 275.

32.  1, 17.

33.  Item sermo contra falsos religiosos, ibi: Et aliud cecidit supra petram.

34.  Deut. 13, 1-5; cfr. 17, 2-7; 18, 21 ss.

35.  Jer. 23, 9-40; cfr. 28, 7-9.

36.  Mat. 7, 15-20.

37.  Mat. 24, 23-25; cfr. 2 Tes. 2, 1-12.

38.  Rom. 1, 18-32.

39.  Rom. 16, 17-18.

40.  Gál. 1, 6-12.

41.  Gál. 5, 19-21.

42.  Efés. 5, 10-11.

43.  I Tim. 1, 3-7; 4, 1-16; 6, 3-10.20-21.

44.  Êx. 7, 11-13.22.

45.  II Tim. 2, 14-26; 3, 1-9.

46.  Fil. 3, 18-19.

47.  Tit. 1, 10-16; 3, 8-11.

48.  II Ped. 2, 1-22; 3, 15-16.

49.  I Jo. 2, 18-19.24-26; 4, 1.5-6.

50.  I Jo. 4, 3.

51.  II Jo. 6-11.

52.  Ap. 2, 1-7.15-16.

53.  Ap. 21, 8; 22, 15.

54.  Gên. 4, 8.

55.  Núm. 22, 2 ss.

56.  Núm. 16.

57.  Jud. 4-16.

58.  Sardá y Salvani, “El liberalismo es Pecado”.

59.  II Ped. 2, 12 ss.

60.  II Ped. 2, 17-22.

61.  Tit. 3, 10-11.

62.  S. Inácio de Antioquia aos Esmirniotas, Cap. “Fugir das Heresias”, Ponto 4, pp. 116-118. Coleção PATRÍSTICA, Vol. 1 – PADRES APOSTÓLICOS, Editora PAULUS, São Paulo/SP, 1995.

63.  S. Policarpo aos Filipenses, Cap. “Contra os Ensinamentos Falsos”, Ponto 7, p. 143. Coleção PATRÍSTICA, Vol. 1 – PADRES APOSTÓLICOS, Editora PAULUS, São Paulo/SP, 1995.

64.  S. Atanásio, “Vida e Conduta de Santo Antão”, III Parte, Cap. 68, p. 88. Coleção “Herança Espiritual”, Edições Paulinas, São Paulo/SP, 1991.

65.  Libro de Praescript.

66.  “De Praescriptione”, cap. 37.

67.  Tertuliano, “Contra Praxéias”.

68.  Tertuliano, “O Batismo”.

69.  S. Agostinho aos hereges donatistas.

70.  S. Ireneu, Bispo de Lião.

71.  Serm. 66, super Cont., in princip.

72.  Sobre os hereges de seu tempo.

73.  Epist. Ad Pamachium et Oceanum.

74.  Ven. Pe. Manuel Bernardes, “Nova Floresta”, Quinto Tomo, Letra H, Título I – Caps. I-XIV, pp. 184-219. Livraria LELLO & IRMÃO – Editores, Porto; AILLAUD & LELLOS, LIMITADA, Lisboa, 1949.

75.  Cassiodoro, Super Psalm. 77, v. 51.

76.  Tit. 1, 13.

77.  At. 13, 8-12.

78.  Tit. 3, 10; II Tim. 3, 1 ss; Rom. 16, 7.

79.  II Jo. 10-11.

80.  Beda et gloss. in praediet. Locum Joan.

81.  Sultitius, Dialog. 6.

82.  Jo. 8, 44.

83.  “História Eclesiástica”, Liv. VII, Cap. VII.

84.  Gál. 1, 8.

85.  Mat. 7, 15.

86.  2 Tes. 3, 6.

87.  Ef. 2, 20.

88.  “Profissão de Fé”.

89.  S. Basílio, “Tratado sobre o Espírito Santo”.

90.  Dos “Livros a Autólico”.

91.  “O Pastor”.

92.  Da 1ª Carta a São Serapião.

93.  Do Tratado “Sobre a Santíssima Trindade”, ext. Liv. VIII.

94.  Lib. 20, “De civitate Dei”, Cap. 9.

95.  “Introdução à Vida Devota”, 4ª Parte, Cap. XVI.

96.  2º Concílio de Latrão (1139), 10º ecumênico, Cân. XXIII.

97.  3º Concílio de Latrão (1179), 11º ecumênico, Cân. XXII.

98.  3º Concílio de Latrão (1179), 11º ecumênico, Cân. XXVII. Compilação de “Acta Conciliorum et Epistolae Decretale ac Constitutiones Summorum Pontificum”, studio P. Jeanni Harduini, S.J., vol. VI, Part. II.

99.  Lib. 2, epist. 6.

100.  Lib. 2, epist. 1.

101.  Lib. 1 cont. Parmen.

102.  Lib. 1 de Poenit., cap. 2.

103.  In Enchir., cap. 65.

104.  Lib. Cont. Lúcifer.

105.  Tit. 3, 10-11.

106.  “De Rom. Pont.”, Lib. II, cap. 30, pp. 418-420.

107.  Lib. 4 de Script. et Dogmat. Eccles., cap. 2, par. 2, sent. 2.

108.  Lib. 4 de loc., cap. 2.

109.  “De Rom. Pont.”, Lib. II, cap. 30, p. 420.

110.  Carta ao Papa Pascoal II, escrita em 1111.

111.  Tit. 3, 10-11.

112.  “De Potestate Ecclesiastica...”, pp. 104-105.

113.  “Institutions Liturgiques”, tom. I, pp. 417-418.

114.  El Misterio de la Masonería, p. 226.

115.  Carta do Exmo. e Revmo. Sr. Bispo de Olinda ao Exmo. e Revmo. Sr. D. Frederico Aneiros, Arcebispo de Buenos Aires, enviada de sua prisão na Fortaleza de S. João, em 2 de Agosto de 1874.

116.  “Sol Eucarístico e Trevas Protestantes”, cap. I, III Ponto, p. 14. Typ. do “O Lutador”, Manhumirim/MG, 1937.

117.  Rev. Pe. Matos Soares.

118.  “Monseigneur Vital”, Pe. Louis de Gonzague, O.M.C., p. 329.

119.  Rev. Pe. Thomás Pègue, O.P., A Suma Teológica de Santo Tomás de Aquino em Forma de Catecismo”, 2ª Parte, 2ª Secção, Cap. II, pp. 91-94, da Edição Brasileira.

120.  “Luz e Calor”.

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