Blog Católico, para os Católicos

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"Uma vez que, como todos os fiéis, são encarregados por Deus do apostolado em virtude do Batismo e da Confirmação, os leigos têm a OBRIGAÇÃO e o DIREITO, individualmente ou agrupados em associações, de trabalhar para que a mensagem divina da salvação seja conhecida e recebida por todos os homens e por toda a terra; esta obrigação é ainda mais presente se levarmos em conta que é somente através deles que os homens podem ouvir o Evangelho e conhecer a Cristo. Nas comunidades eclesiais, a ação deles é tão necessária que, sem ela, o apostolado dos pastores não pode, o mais das vezes, obter seu pleno efeito" (S.S. o Papa Pio XII, Discurso de 20 de fevereiro de 1946: citado por João Paulo II, CL 9; cfr. Catecismo da Igreja Católica, n. 900).

sexta-feira, 6 de setembro de 2024

SÃO LOURENÇO JUSTINIANO, BISPO E CONFESSOR.


Glória do Final da Idade Média1

São Lourenço, cuja memória celebra a Igreja neste dia, era da ilustre casa dos Justiniani, tão célebre em Veneza, em Gênova, no reino de Nápoles e na ilha da Córsega. Nasceu em Veneza no dia 1 de julho de 1381. Era filho de Bernardo Justiniano e de Quirina, notável por sua virtude e pela nobreza do seu sangue.

Lourenço nasceu com uma índole tão feliz, com inclinações tão nobres e cristãs, que os cuidados que tomaram seus pais para lhe darem uma boa educação, só serviram para lhe fazer contemplar de mais perto a beleza do seu engenho e as excelentes qualidades do seu grande coração. Sua mãe enviuvou muito cedo e pôs todos os cuidados em bem o educar. Atentando um dia na modéstia, recato e sabedoria extraordinária deste jovem, receou que isto proviesse de uma nativa altivez e de um secreto orgulho. Chegou mesmo a dizer-lho; o pequeno respondeu-lhe sorrindo: “Não receeis nada, minha mãe; tenho uma única ambição, é a de vir a ser um grande servo de Deus, e mais devoto que todos os meus irmãos”.

A sua juventude foi um prodígio de inocência e de virtude. No meio de uma multidão de jovens licenciosos e libertinos, em um século em que a corrupção dos costumes parecia ter inundado toda a terra, este gentil-homem rico, bem-apessoado, cheio de espírito, tornou-se na idade de dezoito à vinte anos, um modelo perfeito de todas as virtudes e a admiração de toda a cidade.

Uma alma tão privilegiada não era destinada para o mundo; o Senhor destinara-o para ser o ornamento do estado religioso e a glória do Clero. Embora vivesse no mundo como perfeito religioso, no entanto, suspirava incessantemente por maior retiro. O atrativo que tinha pela oração, o gosto que encontrava neste exercício, tornavam-lhe insuportáveis os exercícios mais inocentes. A maceração da carne acompanhava o fervor do espírito.

Lourenço aplicava todas as suas obras boas e todos os exercícios de piedade para obter de Deus a graça de conhecer a que estado de vida o chamava, sendo a vontade de Deus a única regra de sua conduta. Não deliberou muito tempo. Estando um dia em oração aos pés do crucifixo e diante da imagem da Santíssima Virgem, sentiu seu coração todo abrasado de um novo fervor; renunciando então generosamente a todas as vãs esperanças, com que o mundo o lisonjeava, e a todas as vantagens de família, resolveu viver somente para Deus, e só a Ele servir. Terminada a sua oração, retirou-se para entre os Cônegos Regulares de S. Jorge de Alga, que era uma ilha a meia légua da cidade. Suplicou instantemente que o recebessem. A sua virtude, o seu nome, as suas belas qualidades, tudo depunha em seu favor. Foi imediatamente recebido.

Não precisou mudar de vida, mudando de estado. Foi até preciso em religião moderar-lhe o fervor e os rigores de suas penitências. Foi posto debaixo da disciplina de seu tio materno, Marino Quirino, homem de santa vida, que confessou a breve trecho que o seu educando ia mais adiantado nas vias da perfeição do que o próprio mestre que o devia conduzir. Não tinha então mais de dezenove anos, e os progressos extraordinários que fez na virtude e na ciência dos Santos, tornaram-no desde então um modelo de perfeitos. Desde o primeiro dia do seu noviciado prescreveu-se certas práticas de piedade que jamais omitiu até a morte. A sua abstinência e o seu jejum foram rigorosos e contínuos, as suas vigílias excessivas. Ficava na igreja desde Matinas até Prima; e por muito intenso que fosse o frio durante o inverno, nunca se chegava ao lume, e todavia era de compleição muito delicada e muito fria.

Impôs-se como preceito não beber fora da refeição, por maior que fosse a sede durante os calores do estio. Tendo-lhe ordenado alguns Padres antigos na casa, da parte do Capítulo, que moderasse suas abstinências, respondeu: “Obedecerei, mas Deus encontrará meio de me indenizar da vossa muita indulgência”. De fato, pouco depois cobriu-se-lhe o corpo de escrófulas.2 Para o curar foi preciso aplicar-lhe o ferro e o fogo, causando-lhe terríveis dores, o que fez admirar muito a sua paciência. O nome de Jesus e Maria foram os únicos sinais de extrema dor que sentiu nestas cruéis operações. E não obstante, repreendia a sua covardia, comparando o que sofria com o que tinham sofrido os Mártires.

A humildade foi sempre a sua virtude favorita; nada desejava tão ardentemente como passar toda a sua vida na humilhação e na obscuridade; mas os seus Superiores não tiveram contemplações com ele, a tal respeito. Obrigaram-no a receber as Ordens Sacras, e elevaram-no às primeiras dignidades da Ordem. A sua devoção ao altar atraía os fiéis em multidão para lhe ouvirem a Missa; e as lágrimas que derramava durante o adorável Sacrifício, emocionavam todos os assistentes e aumentavam a fé. Sem entrarem em consultas a propósito da sua idade nem do pouco tempo que tinha de religioso, confiaram-lhe o mando; promoveram-no às primeiras dignidades, e desempenhou-as sempre com plena satisfação. Os sábios regulamentos que elaborou, quando eleito Geral, têm-no feito considerar como o verdadeiro fundador da Congregação de São Jorge. Tinha sido eleito pela segunda vez Geral da sua Ordem, quando em 1433 o Papa Eugênio IV, perfeitamente instruído do mérito e da virtude eminente do homem de Deus, o escolheu para Bispo de Veneza. Defendeu-se a mais não poder; de nada lhe valeu: foi sagrado; passou toda a noite que precedeu o dia de sua Sagração junto dos altares.

O episcopado em nada alterou o seu modo de vida monástica, tal como a vivera entre os Cônegos Regulares de São Jorge; também em nada afrouxou em sua assiduidade à oração. Aumentou mesmo as suas horas de vigília para ter mais tempo disponível, a fim de atender o seu povo. Por maior que fosse o cuidado que tinha de ocultar as suas mortificações e abstinências, foi-lhe impossível impedir que transpirassem para o público algumas das suas mais secretas austeridades. A sua modéstia e simplicidade cristã patentearam-se com brilho no regulamento da sua casa, e na frugalidade de sua mesa. Posto que elevado a uma das maiores Sés da Igreja, foram sempre a humildade e a piedade que regularam as coisas de sua casa. Dizia que só a virtude era a que dava esplendor à sua dignidade; quis que os pobres partilhassem com ele a sua renda, e compusessem em certo a sua família.

A dureza, com que tratava o corpo em todo o tempo, não diminuía nunca um ápice a sua afabilidade e doçura para com todos. Deste modo ganhou os corações e reformou o seu Clero, que, vendo o seu maravilhoso desinteresse, e impressionado por seus grandes exemplos, se submeteu a tudo o que ele queria para o restabelecimento da disciplina.

As ovelhas amavam e estimavam muito o Pastor, para quererem afastar-se do rebanho; ouviam com docilidade e com respeito a sua voz; e desde a sua primeira visita, toda a Diocese mudou. Tendo sido ultrajado por ditos picantes de uns certos libertinos, só paciência e moderação é que empregou para os converter. A impiedade não pode jamais afrontar a sua virtude, porque a sua pureza desarmava os mais insolentes e a conversão destes foi olhada como um de seus maiores milagres. A sua caridade extraordinária para com os pobres operou maravilhas. Muitas vezes lhe aconteceu, depois de não ter dinheiro e de o pedir emprestado, ver-se, sem saber como, socorrido por Deus.

Tendo pedido um de seus parentes, alguma coisa com que pudesse dotar uma de suas filhas, segundo a sua qualidade, o Santo Bispo, que era surdo à voz da carne e do sangue, respondeu-lhe que, se lhe desse pouco, de pouco lhe serviria, e que se lhe desse muito cometeria uma espécie de roubo, dando-lhe o que era dos pobres.

Tinha poucas rendas, mas o zelo era muito. Sustentava uma multidão de pobres, que parecia deverem empobrecê-lo; poucas eram as famílias que não achassem socorro justo dele. Não só aumentou o número dos Cônegos de sua Catedral e criou vários lugares, a fim de que, os Ofícios divinos se celebrassem com esplendor; mas estabeleceu ainda grande número de Colegiadas nas igrejas da sua Diocese.

Fundou por sua parte, quinze casas religiosas que proveu de tudo; reformou o luxo dos hábitos e os costumes de toda a sua Diocese. O Papa Nicolau V, cheio de estima e de veneração por sua eminente virtude, procurava elevá-lo a algum posto, donde pudesse iluminar com mais extensão, quando morreu Dominic Michaeli, Patriarca de Grado em 1451. O Papa, prevendo que o senado e o povo de Veneza não consentiriam nunca que se lhes tirasse o Santo Prelado, transferiu o título de Patriarca de Grado para a Sé de Veneza, simplesmente por consideração do nosso Santo. Não foi coisa fácil levá-lo a aceitar esta nova dignidade; foi preciso toda a autoridade do Papa para vencer a sua repugnância; tudo o que podia dar-lhe brilho ofendia a sua modéstia.

Dizia Missa todos os dias com nova devoção; o seu amor a Jesus Cristo e a sua terna devoção a Maria cresciam todos os dias, por isso Deus o cumulava todos os dias de novas graças. Um santo eremita que vivia muito fervorosamente na ilha Corfú, asseverou a um nobre veneziano, que Deus estava extremamente irritado contra a cidade de Veneza, que certamente teria já experimentado os efeitos da sua cólera, se não O houvessem desarmado as preces do Santo Prelado.

Havia já algum tempo que as suas forças diminuíam, sem que fosse possível levá-lo a afrouxar em seus trabalhos apostólicos, em suas austeridades e abstinências, quando, ao celebrar a Missa da Festa de Natal, se sentiu fortemente abrasado do desejo de gozar de Deus e de O ver Face a face. Ao acabar a Missa tinha febre, que em poucos dias o reduziu à extremidade. Sempre se deitara na terra dura e nem ainda neste transe foi possível movê-lo a que se deitasse com mais comodidade.

Jesus Cristo morreu em uma Cruz, respondia aos que o aconselhavam a mudar de leito, e vós quereis que um pecador, como eu, morra na delicadeza?

Via com dissabor os incômodos e os cuidados que se empregavam para o aliviar. Enfim, depois de ter recebido os últimos Sacramentos, consolando ele próprio os seus domésticos que se desfaziam em pranto, dizendo-lhes, que o mais belo dia da sua vida não devia ser motivo de lágrimas, entregou tranquilamente o seu espírito ao Senhor, a 8 de janeiro de 1455, cheio de dias e de merecimentos, dotado do dom da profecia e dos milagres, que ainda depois da sua morte continuaram.

As obras que deixou publicadas são fruto de uma piedade sólida, antes do que de uma erudição estudada. É impossível lê-las e não sentir unção.

Foi preciso deixar o seu corpo por muitos dias exposto à veneração do povo que acudira em multidão de toda a parte à nova da sua morte. A contestação que se levantou a propósito da sua inumação entre o cabido e os religiosos de São Jorge, foi causa de que permanecesse durante 67 dias insepulto na Sacristia da grande igreja; e todavia, não apareceu o mais leve indício de corrupção ao fim desse tempo.

Deus tem tornado o seu túmulo glorioso por um grande número de milagres que, juntos à eminente santidade da sua vida, obrigaram o Papa Clemente VII, depois de todas as formalidades necessárias, a declará-lo Bem-aventurado; e o Papa Alexandre VIII canonizou-o solenemente no ano de 1690. A sua festa foi fixada por ordem da Santa Sé a 5 de setembro.



MEDITAÇÃO3

O Cristão deve ser discípulo de Jesus Cristo

1. Jesus Cristo veio do Céu à terra, para nos ensinar uma doutrina inteiramente divina. Devemos adquiri-la com perfeição. Nada mais belo nem mais necessário ao homem. Por que a desprezamos então? Para que deixamos esta fonte de água viva, para irmos matar a sede nas cisternas lodosas do Egito?

2. A ciência do cristão não é puramente especulativa; não basta admirar a doutrina, que o divino Mestre nos ensinou, é preciso pô-la em prática. Para bem a entender, é necessário imitar Jesus Cristo nosso Mestre, porque a Sua doutrina não é senão um resumo dos atos que praticou. Ó meu divino Mestre, ensinai-me a amar-Vos e a imitar-Vos. A religião cristã consiste em imitar o que honramosSanto Agostinho.

3. A vida do Salvador foi um ensinamento constante. No Presépio, pregou a pobreza; na Montanha, ensinou a humildade; do alto da Cruz, o amor dos sofrimentos. Fixemos bem na memória estas três grandes lições, e sobretudo, ponhamo-las em prática. Se ninguém nos crucifixa, crucifiquemo-nos nós por uma mortificação constante.São Pedro Crisólogo.

Imitação de Jesus Cristo.Orar pelos pregadores do Evangelho.

Oremos: Deus Onipotente, que a veneranda solenidade do Bem-aventurado Lourenço, vosso Confessor e Pontífice, aumente em nós o espírito de piedade e o desejo da salvação. Por Nosso Senhor Jesus Cristo. Amém.


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1.  Rev. Pe. Croiset, “Ano Cristão”. Volume IX, pp. 65-69. Traduzido do Francês pelo Rev. Pe. Matos Soares; O Tradutor - Seminário do Porto, Porto, 1923.

2.  Tuberculose Linfática.

3.  “Vida dos Santos – com uma Meditação para cada dia do Ano”, pelo Pe. João Estevam Grossez, S.J., Segunda Parte, 5 de Setembro, pp. 145-146. Edição Portuguesa, “União Gráfica”. Lisboa. 1928.


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