Album de Família: netinhos carinhosos de Bela Khun
O que é a Teologia da
Libertação?
Que é então a “teologia da
libertação”? É uma reviravolta de todo o Cristianismo
sub specie marxismi.
O próprio Boff confessa no artigo
Marxismo na teologia:
“Que tipo de marxismo pode ser útil à teologia? Podemos agora responder:
o
marxismo como teologia científica das realidades sócio-históricas. Ele nos
ajuda a entender, não a Deus, a graça, o Reino, mas a formação, os conflitos e
o desenvolvimento das sociedades humanas”. É o chamado
materialismo
histórico. Ouçamos um pouco mais a confissão marxista de Boff: “O marxismo
não entra em todas as partes da construção teológica; entra no momento da
apreensão que o teólogo faz da realidade social; utiliza este método e não
outro porque lhe parece mais adequado para denunciar as falsificações
ideológicas do capitalismo,
ocultando as verdadeiras causas que geram o
empobrecimento que é principalmente a acumulação da riqueza em poucas
mãos com a exclusão das grandes maiorias. Este tipo de análise se afina melhor
com a intenção da Fé”. (grifos nossos). E arremata Boff:
“O que propomos não
é teologia dentro do marxismo, mas marxismo (materialismo histórico)
dentro da teologia”.
Para dar somente alguns exemplos dos erros de Leonardo Boff:
- Eclesiogênese, pp. 79-80, em que
afirma que um leigo, não ordenado, pode, em caso de necessidade, tornar
Cristo presente sacramentalmente;
- Jesus Cristo Libertador, pp. 11-285, em que nega a Divindade e a Ressurreição de Nosso
Senhor Jesus Cristo. Recomendamos vivamente a crítica feita ao livro na Revue
Thomiste, nº 79 (1979), pelo consagrado teólogo dominicano Marie-Vincent
Leroy;
- Una Iglesia que nace del pueblo, em que nega a Igreja Institucional em
favor de uma Igreja Popular. Recomendamos a leitura da Carta do Papa João
Paulo II aos Bispos da Nicarágua, de 29-6-1982,
em que o Santo Padre condena formalmente a chamada “Igreja
Popular” ou “Igreja-que-nasce-do-povo”. Recomendamos também a crítica feita ao
livro de Boff pelo Pe. A. Perego, S.J., na revista DivusThomas, de
Piacenza, 83.3 (1980), pp. 289-291;
- Igreja: Carisma e Poder, em que nega ou relativiza diversos
Dogmas Católicos, dentre os quais os referentes à estrutura da Igreja, à
concepção do próprio Dogma, ao exercício do Poder sagrado e ao profetismo.
Conferir a Notificação sobre o livro “Igreja: Carisma e Poder – Ensaios de Eclesiologia Militante”, da Sagrada
Congregação para a Doutrina da Fé, de 11-3-1985, aprovada e mandada publicar
pelo Papa, e em que se diz na Conclusão: “Ao tornar público o que acima ficou
exposto, a Congregação sente-se na obrigação de declarar, outrossim, que as
opções aqui analisadas de Frei Leonardo Boff são de tal natureza que põem em
perigo a sã Doutrina da Fé, que esta mesma Congregação tem o dever
de promover e tutelar”. Recomendamos também a crítica feita ao livro pelo
teólogo franciscano, hoje Bispo - Auxiliar de Salvador-BA, Dom Boaventura
Kloppenburg, na revista Communio,
pp. 126-147, como também em seu livro Igreja Popular,
179-186. Recomendamos ainda a crítica do saudoso Pe. Paulo Bannwarth, S.J., no
seu livro Em Defesa das Sagradas Escrituras,
pp. 45-52 e 61-71;
- Os Sacramentos da Vida e a Vida dos Sacramentos, pp. 9-80, em que afirma que os
Sacramentos instituídos por Jesus Cristo não são sete, como ensina a Igreja,
mas que existem sacramentos naturais, que toda religião cristã ou pagã
possui também uma estrutura sacramental; que o dia a dia é cheio de
sacramentos, como o “sacramento da caneca” (p. 16) e o “sacramento do toco de
cigarro” (p. 21);
- A Ressurreição de Cristo – A nossa ressurreição na morte, pp. 9-109, em que nega a Ressurreição de
Cristo e a nossa, tal como ensina a Santa Igreja Católica. Recomendamos a
crítica do Pe. Paulo Bannwarth, S.J., ainda no seu livro Em Defesa das Sagradas
Escrituras, pp. 73-83. Conferir também Armando Bandeira, O.P., La Muerte
de Jesucristo en la Cristologia de Leonardo Boff.
Fonte: Paulo
Rodrigues, “Igreja e Anti-Igreja – Teologia da Libertação”, pp. 27; 36-37; T.A.
Queiroz, Editor, São Paulo, 1985.
Entrevista de Leonardo Boff pela Revista "Isto é"
"O Papa deveria renunciar"
Teólogo diz que Bento XVI infantiliza os fiéis, é complacente com os pedófilos e fechou as portas para as outras religiões.
Débora Crivellaro
CRISE
Para o ex-frei, a Igreja ainda funciona como na Idade Média
O brasileiro Leonardo Boff, 71 anos, e o
alemão Joseph Ratzinger, 83, têm uma longa história em comum.
Intelectuais de fôlego, respeitados fora dos muros da Igreja Católica,
os teólogos se conhecem há mais de 40 anos, quando conviveram na
universidade, em Munique, Alemanha. O atual pontífice já era um cultuado
professor, admirado pelo jovem franciscano que frequentava como ouvinte
suas conferências, enquanto preparava a tese de doutorado – que contou
com a ajuda providencial do alemão para ser publicada. Tempos depois, os
dois trabalharam juntos em uma prestigiosa revista de teologia.
"A Igreja Católica é mais que Bento XVI. É também o papa
João XXIII, é dom Helder Câmara, é a Irmã Dulce (foto)"
Durou pouco, pois as contendas ideológicas
provocaram a saída de Ratzinger. Mas o encontro mais marcante aconteceu
em 1985, quando ambos estavam, definitivamente, em trincheiras opostas,
dentro da mesma instituição. Boff já era o grande mentor por trás da
Teologia da Libertação, movimento que interpreta o Evangelho à luz das
questões sociais. E Ratzinger já havia se tornado o temido cardeal que
punia severamente quem se atrevesse a mudar, uma vírgula que fosse, a
interpretação oficial da “Bíblia”. O embate terminou com o silêncio
forçado do franciscano e sua posterior saída da ordem, em 1992. Vinte e
cinco anos depois desse encontro, casado com Márcia Miranda, padrasto de
seis filhos e autor de mais de 60 livros traduzidos para diversas
línguas, Boff analisa a Igreja da qual nunca se afastou e seu líder
máximo. Que ele conhece como poucos.
"O cristianismo (dos padres cantores, como Marcelo Rossi)
não pode funcionar como um ansiolítico que nos alivia"
Istoé - A Igreja Católica está em crise?
Leonardo Boff - A Igreja possui uma crise
própria: até hoje ela não encontrou seu lugar no mundo moderno e no
mundo globalizado. Suas estruturas são medievais. Ela é a única
monarquia absolutista do mundo, concentrando o poder em pouquíssimas
mãos. Nesse sentido ela está em contradição com o sonho originário de
Jesus que foi o de criar uma comunidade fraterna de iguais e sem nenhuma
discriminação.
Istoé - Mas a Igreja Católica pode se modernizar sem perder a essência de seus princípios e, consequentemente, sua identidade?
Leonardo Boff - A Igreja se engessou em
suas doutrinas, em suas normas, em seus ritos que poucos entendem e num
direito canônico escrito para legitimar desigualdades e
conservadorismos. Os homens de hoje têm o direito de receber a mensagem
de Jesus na linguagem de nossa cultura moderna, coisa que a Igreja não
faz. Ela coloca sob suspeita e até persegue quem tenta fazer.
Istoé - O que o sr. acha que a Igreja Católica deveria fazer para sair dessa crise?
Leonardo Boff - Ela deveria ser menos
arrogante, deixando de se imaginar a exclusiva portadora dos meios de
salvação, a única verdadeira. Ela se diz perita em humanidade, mas
maltrata a muitos desta humanidade internamente e ofende a vários
direitos humanos. Por isso que até hoje não subscreveu a Carta dos
Direitos Humanos da ONU, sob o pretexto de que ela não faz nenhuma
referência a Deus, e retirou seu apoio ao Unicef, porque ele aconselha o
uso de preservativos para combater a Aids e fazer o planejamento
familiar. Uma igreja que afirma constantemente que fora dela não há
salvação, ela mesma precisa de salvação.
Istoé -
O sr. acha que os
escândalos de pedofilia contribuem para a debandada católica, com fiéis
migrando, no Brasil, principalmente, para as igrejas evangélicas?
Leonardo Boff - Muitos cristãos não aceitam
ser infantilizados pela Igreja como se nada soubessem e tivessem que
receber a comida na boca. Estes estão emigrando em massa. Mas é uma
emigração interna. Continuam se sentindo dentro da Igreja, mas não
identificados com as doutrinas deste papa, nem com o estilo com o qual
ela se apresenta no mundo, com hábitos e símbolos palacianos que os
tornam simplesmente ridículos. As igrejas evangélicas crescem porque a
católica deixou um espaço vazio.
Istoé -
Muitos vaticanistas dizem
que Bento XVI pensa em termos de séculos e não está preocupado em
conquistar mais fiéis. O sr. concorda?
Leonardo Boff - Bento XVI é fiel a uma
esdrúxula teologia que sempre defendeu e da qual eu ainda como estudante
e ouvinte dele discordava. Ele é um especialista em Santo Agostinho,
grande teólogo. Santo Agostinho partia do fato de que a humanidade é uma
“massa condenada” pelo pecado original e pelos demais pecados. Cristo a
redimiu. Criou um oásis onde só há salvação e graça. Esse oásis é a
Igreja. Ocorre que esse oásis é uma fantasia. Ele é tão contaminado como
qualquer ambiente, haja vista os pedófilos e outros escândalos
financeiros.
Istoé -
Como o sr. avalia o pontificado de Bento XVI?
Leonardo Boff - Do ponto de vista da fé,
este papa é um flagelo. Ele fechou a Igreja de tal forma sobre si mesma
que rompeu com mais de 50 anos de diálogo ecumênico, vive criticando a
cultura moderna, desestimula qualquer pensamento criativo, mantendo-o
sob suspeita. Todo papa tem a missão imposta por Jesus de “confirmar os
irmãos e as irmãs na fé”. Esta missão, a meu ver, não está sendo
cumprida.
Istoé -
Por quê?
Leonardo Boff - Bento XVI cometeu vários
erros de governo com respeito aos muçulmanos, aos judeus, às mulheres e
às religiões do mundo. Reintroduziu o latim nas missas em que se reza
ainda pela conversão dos judeus, reconciliou-se com os mais duros
seguidores de Lefebvre (Marcel Lefebvre arcebispo católico
ultraconservador, que morreu em 1991), verdadeiros cismáticos. Enquanto
trata a nós teólogos da libertação a bastonadas, trata os conservadores
com mão de pelica. É um papa que não suscita entusiasmo. Mesmo assim,
convivemos com ele, porque a Igreja é mais que Bento XVI. É também o
papa João XXIII, é dom Helder Câmara, é a Irmã Dulce, a Irmã Doroty
Stang, é dom Pedro Casaldáliga e tantos e tantas.
Istoé -
O sr. acha que ele deveria renunciar?
Leonardo Boff - O papa, para o bem dele e
da Igreja, deveria renunciar. Devemos exercer a compaixão: ele é um
homem doente, velho, com achaques próprios da idade e com dificuldades
de administração, pois é mais professor que pastor. Em razão disso,
faria bem se fosse para um convento rezar sua missa em latim, cantar seu
canto gregoriano que tanto aprecia, rezar pela humanidade sofredora,
especialmente pelas vítimas da pedofilia, e se preparar para o grande
encontro com o Senhor da Igreja e da história. E pedir misericórdia
divina.
Istoé -
Como foi a convivência dos srs. no mesmo ambiente acadêmico?
Leonardo Boff - Ouvi-o muitas vezes, pois
era um apreciado conferencista. Teve um papel importante na publicação
de minha tese doutoral, que, por seu tamanho – mais de 500 páginas –,
encontrava dificuldades junto às editoras. Ele encontrou uma,
arranjou-me boa parte do dinheiro para a impressão em forma de livro.
Depois fomos colegas nas reuniões anuais da revista internacional
“Concilium”. Mas ele se desentendeu com a linha da revista e criou uma
outra, a “Communio”, em franca oposição à “Concilium”.
Istoé -
Anos depois, em 1985, já na Congregação para a Doutrina da Fé, ele o puniu. Como foi esse encontro?
Leonardo Boff - Ele me fez sentar na
cadeira onde sentou Galileo Galilei, no famoso edifício, ao lado do
Vaticano, do Santo Ofício e da antiga Santa Inquisição. Foi meu
“inquisidor”, interrogando-me por mais de três horas sobre o livro
“Igreja: Carisma e Poder”, que me custou o “silêncio obsequioso”, a
deposição de cátedra e a proibição de publicar qualquer coisa. Mas devo
dizer que é uma pessoa finíssima, extremamente elegante na relação, mas
determinado em suas opiniões. E muito, mas muito, tímido.
Istoé -
O sr. é a favor da ordenação de mulheres pela Igreja Católica?
Leonardo Boff - Não há nenhuma doutrina ou
dogma que impeça as mulheres de serem ordenadas e até de serem bispos. O
patriarcalismo intrínseco à instituição, governada só por homens e
celibatários, faz com que não se tenha apreço pelas mulheres nem se
reconheça o imenso trabalho que fazem dentro da Igreja. E, no entanto,
devemos reconhecer que as mulheres, nos evangelhos, nunca traíram Jesus,
como fez Pedro, foram as primeiras testemunhas do fato maior para a fé
cristã, que é a ressurreição, e também foram discípulas.
Istoé -
O sr. também é a favor do fim da obrigatoriedade do celibato?
Leonardo Boff - O primeiro papa, Pedro, era
casado. Aceito o celibato livremente assumido pelos que se propõem a
servir às comunidades cristãs. Seria tão enriquecedor para a própria
Igreja se houvesse, como há em outras igrejas, padres casados e padres
celibatários. Mas o celibato desempenha uma função importante no estilo
autoritário da instituição: ela pode dispor totalmente dos celibatários,
sem laços com a família, transferi-los para onde quiser e ver-se livre
de problemas de herança.
Istoé -
O sr. acha que os casos de pedofilia cometidos por padres têm relação com a obrigatoriedade da castidade?
Leonardo Boff - Entre a pedofilia e o
celibato há um denominador comum que é a sexualidade. A educação sexual
que os candidatos ao sacerdócio recebem é carregada de suspeitas e
distorções e é feita longe do contato com as mulheres. Hoje sabemos que o
homem amadurece sob o olhar da mulher e vice-versa. Quando se tolhe um
desses polos da equação, pode surgir o recalque, a sublimação e as
eventuais distorções. A pedofilia é uma distorção de uma educação sexual
mal realizada. Ademais, a pedofilia é um pecado e um delito.
Istoé -
O sr. pode explicar melhor?
Leonardo Boff - A Igreja só via o pecado
que podia ser perdoado, e tudo terminava aí. Não via as vítimas, que
eram crianças e adolescentes que sofreram violência. Ela não via o
delito que deve ser levado aos tribunais para ser julgado e receber a
punição adequada. Este lado sempre foi mantido em sigilo, para não
prejudicar a imagem da Igreja. Isso configura cumplicidade no crime.
Graças a Deus, o papa agora acordou, se redimiu, reconheceu o delito e
exige a denúncia dos pedófilos aos tribunais civis.
Istoé -
Quando o sr. era frei franciscano, soube de casos de abuso sexual?
Leonardo Boff - Nunca soube de nada.
Istoé -
O que o sr. acha da Renovação Carismática Católica?
Leonardo Boff - É um movimento forte, que
trouxe muitos elementos positivos, pois tirou o monopólio dos padres.
Agora o leigo fala e inventa orações, coisa que não ocorria. Deu certa
leveza ao cristianismo, muito centrado na cruz e na paixão e menos na
alegria e na celebração. Mas, a meu ver, ela ficou a meio caminho.
Istoé -
Por quê?
Leonardo Boff - Não se pode pensar no
cristianismo sem justiça social e preocupação com os pobres. Todo
carismatismo corre o risco de alienação. Eles se perdem no louvor, no
cantar e dançar.
Istoé -
E como o sr. avalia os padres cantores, como Marcelo Rossi e Fábio de Melo?
Leonardo Boff - Eles produzem um tipo de
evangelização adequada ao que é dominante hoje, que é o mercado. Mas com
as limitações que o mercado impõe, tenham eles consciência disso ou
não. É sempre problemático, do ponto de vista teológico, transformar a
mensagem cristã numa mercadoria de fácil consumo e de pacificação das
consciências atribuladas. Noto que as grandes questões sociais estão
ausentes em seus discursos e cânticos.
Istoé -
Por quê?
Leonardo Boff - Eles falam sobre questões
subjetivas. O cristianismo não pode funcionar como um ansiolítico que
nos alivia, mas deve falar às consciências para que as pessoas tomem
decisões que vão na direção do outro. Para mim, a mensagem cristã não
significa buscar um porto seguro onde ancoramos para repousar. Mas é um
chamado para irmos ao mar alto, para enfrentar as ondas perigosas. E não
pedimos a Deus que nos livre das ondas, mas que nos dê força e coragem
para enfrentá-las.
Leonardo Boff e sua companheira Márcia Miranda
Istoé -
O sr. ainda é católico?
Leonardo Boff -
Sou católico apostólico
franciscano. Acho que São Francisco foi o último cristão verdadeiro e
talvez o primeiro depois do Único, que foi Jesus Cristo. O
franciscanismo me inspira mais do que o romanismo porque o romano é
apenas uma qualificação geográfica.
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