Eu Sou o Caminho: segui-Me.
Eu sou a Verdade: escutai-Me.
Eu sou a Vida: vivei em Mim.
Compreende-se que a vida cristã prática assim como a santidade, consistem em nossa união íntima com Jesus Cristo.
“Permanecei em Mim, e Eu permanecerei em vós. Como a vide não pode de si mesma dar fruto, se não permanecer na videira, assim, nem vós o podereis dar, se não permanecerdes em Mim. O que permanece em Mim e aquele em quem Eu permaneço, esse dá muito fruto; porque vós, separados de Mim, não podeis fazer nada”,1 e eis, portanto, o magno dever cristão: permanecer em Jesus.
Viver em Jesus compendia tudo, facilita tudo, coloca o cristão em suas relações justas com Deus e facilita-lhe a realização de sua vocação, que se explica plenamente por estas poucas palavras: estabelecer relações de intimidade com Deus nosso Pai, por Jesus Cristo e em união com o Espírito Santo, que é o termo subsistente do eterno amor.
É o Batismo que, primeiramente, nos une a Cristo. “O Batismo incorpora-nos a Cristo”, diz Santo Tomás. Segue-se, pois, que a plenitude de vida, de graça e de virtudes que há em Cristo, nos invade: é de regra, que a vida da cabeça se comunique aos membros. “Todos nós participamos da sua plenitude”.2
A Confirmação consolida, desenvolve e aperfeiçoa a união sobrenatural estabelecida já pelo Sacramento da Regeneração. “Abeberando-nos com o espírito de Cristo”,3 encaminha ela o nosso desenvolvimento espiritual para a sua perfeição e torna-nos aptos para agir virilmente na ordem sobrenatural, manifestar e defender corajosamente a fé recebida no Batismo. “Este Sacramento, ensina Santo Tomás, aumenta e aperfeiçoa a nossa vida espiritual em tudo que diz respeito às lutas externas contra os inimigos de Cristo. O seu aumento e aperfeiçoamento, porém, para que o homem se torne perfeito pessoalmente, por sua união íntima com Deus, depende do influxo da Eucaristia”.4
A nossa união com Cristo, iniciada no Batismo e aperfeiçoada na Confirmação, fica consumada no momento da Comunhão.
É preciso notar ainda que recebemos o Batismo e a Confirmação uma vez só e que, infelizmente, podemos perder a vida com que eles nos enriqueceram. Entretanto, esta vida está sujeita a enfraquecimentos e é mesmo, por demais certo, que ela terá frequentes decadências motivadas por nossas fraquezas cotidianas. Acabará ela por finar-se em nós, enfraquecendo-se cada dia? Não. O Senhor, para restaurá-la, instituiu o Sacramento do Altar, de todos o mais admirável e no qual todos os outros recebem a sua consumação e aperfeiçoamento.
O seu duplo fim é conservar nossa união com Cristo e encaminhá-la para a sua última perfeição. Mas que os outros, este é o Sacramento da vida, porque é alimento que podemos tomar cada dia, é “pão vivo”,5 expressamente instituído para nos comunicar a vida eterna, a própria vida de Deus. Os efeitos que o pão material tem para a vida do corpo, tem-nos também este pão vivo para a vida sobrenatural: reforma, conserva, aumenta, renova, consola.
Em definitivo, pois, todo o Mistério de Cristo remata, pela Encarnação e Redenção, na Comunhão. Das sublimidades da Trindade Santíssima baixa o Verbo encarnado ao homem, na Eucaristia, a fim de que, pela comunhão, este se eleve até ao seu fim último, a Trindade adorável.
“Da Santíssima Trindade à Comunhão”: tal é a carreira que Cristo percorre para efetuar a obra da difusão da vida divina; carreira descendente do amor divino até ao homem que quer salvar.
“Da Comunhão à Santíssima Trindade”: tal é a carreira que o homem purificado e reconfortado deve percorrer com o auxílio de Cristo feito seu companheiro de viagem, para participar dos bens infinitos: carreira ascendente do amor humano até Deus que o atrai à inesgotável felicidade da visão beatífica.
“Demos graças a Deus Pai, que nos fez dignos de participar da sorte dos Santos na luz, livrando-nos do poder das trevas para nos transferir para o reino de seu Filho muito amado… Este é a imagem de Deus invisível, o Primogênito de toda criatura: porque por Ele foram criadas todas as coisas nos Céus e na terra, visíveis e invisíveis… Tudo foi criado por Ele e para Ele. Ele existe antes de tudo e todas as coisas subsistem por Ele.
Ele é a Cabeça do Corpo da Igreja, é o Princípio, o Primogênito dentre os mortos, de maneira que tem a primazia em todas as coisas. Porque foi do agrado do Pai que residisse n'Ele toda a plenitude: e reconciliar Consigo, por Ele, todas as coisas, purificando pelo Sangue da sua Cruz, tanto o que está na terra como o que está no Céu.
E a vós, noutro tempo, estranhos e inimigos de coração, pelas más obras, agora, por certo, vos reconciliou pela morte de seu Filho para vos apresentar santos, imaculados e irrepreensíveis diante d'Ele, se é que perseverais fundados na fé e inabaláveis na esperança”.6
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Fonte: Fr. M. Vicente Bernadot, O.P., “Da Eucaristia à Santíssima Trindade”, Introdução, pp. 12-15. 3ª Edição, Editora Vozes Ltda. Petrópolis/RJ, 1956.
1. Jo., 15, 4-5.
2. Jo., 1, 16.
3. 1 Cor., 12, 13.
4. Sum. Theol. III, 79, I ad I.
5. Jo., 6, 51.
6. Col., 1, 12-13.
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