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"Uma vez que, como todos os fiéis, são encarregados por Deus do apostolado em virtude do Batismo e da Confirmação, os leigos têm a OBRIGAÇÃO e o DIREITO, individualmente ou agrupados em associações, de trabalhar para que a mensagem divina da salvação seja conhecida e recebida por todos os homens e por toda a terra; esta obrigação é ainda mais presente se levarmos em conta que é somente através deles que os homens podem ouvir o Evangelho e conhecer a Cristo. Nas comunidades eclesiais, a ação deles é tão necessária que, sem ela, o apostolado dos pastores não pode, o mais das vezes, obter seu pleno efeito" (S.S. o Papa Pio XII, Discurso de 20 de fevereiro de 1946: citado por João Paulo II, CL 9; cfr. Catecismo da Igreja Católica, n. 900).

quinta-feira, 1 de abril de 2021

NOSSO SENHOR JESUS CRISTO, PREPARA-SE PARA CELEBRAR, SUA ÚLTIMA PÁSCOA.


1ª Meditação

Nosso Senhor Jesus cristo timbrou sempre em observar fielmente a lei mosaica até nas suas minudências,1 coerente consigo mesmo quer agora celebrar o rito pascoal embora Ele visse, através das cerimônias judaicas, uma outra páscoa de maior glória à Deus e maior vantagem a nós.

Consistia a Páscoa dos hebreus, em comemorar a passagem do povo de Deus da Escravidão de Faraó para a liberdade; enquanto para nós significa, a passagem do pecado à graça, da pena à glória.2 A páscoa, portanto, tão desejada pelo Salvador da nossa salvação eterna,3 e como para Ele celebrar a páscoa é sinônimo de morte,4 é-lhe, todavia, mui cara havendo dela falado frequentes vezes e sempre com desejo ardentíssimo.5

Os discípulos, portanto, atendendo aos desejos do Divino Mestre, puseram-se em movimento para fazer os preparativos como lhes fora ordenado.6 E qual será a páscoa que eu também devo desejar e com diligente solicitude aparelhar-me a celebrar? Ó minha alma, se a palavra páscoa significa passagem,7 a que Deus te manda celebrar será esta, que tu passes do amor desregrado que tens às coisas terrenas e caducas ao amor das celestiais e eternas.8

Feliz Páscoa para nós, se estamos resolvidos a dar tal passo! Eia, sus! Para que demoras inúteis e delongas perigosas? Passemos generosamente da tibieza ao fervor, da vaidade à verdade, da vida mundana à uma vida estritamente cristã.9

Eis-me aqui, Senhor, pronto a aderir às vossas inspirações e agradecendo-Vos o amor generoso porque ides celebrar páscoa tão dolorosa, espontaneamente resolvo imitar-Vos, celebrando eu também uma páscoa salutar mediante a reforma radical de minha vida. Bendita seja vossa misericórdia que dignou-se instruir e iluminar minha alma, surda e cega.10 Envergonho-me arrependido das vãs e torpes diversões nas quais prodigamente desperdicei um tempo tão precioso.11 De grande amargura transborda meu coração em refletir na troca infeliz que fiz, deixando-Vos à margem, imensa e inefável doçura!12 Já não serei o que fui. Adeus ó mundo, nas tuas orgulhosas máximas; adeus ó carne, nos teus bramidos culposos; adeus ó Demônio, nas tuas falazes lisonjas e desmentidas promessas! Deus, alma, eternidade, doravante serão estes os meus pensamentos e afetos.

Mas posso eu formular propósitos com tamanha franqueza, eu que já dei tantas provas de lamentável instabilidade? Ah, meu Jesus, se conseguir fazer a páscoa, quebrando as algemas das paixões que me escravizam, adquirindo assim a liberdade dos vossos eleitos, vossa será toda a glória, porque efeito daquela graça que me foi por Vós merecida e que eu de novo confiadamente peço pelos vossos padecimentos.

Propósito

É preciso me convencer de que tenho inadiável necessidade de reformar minha vida tíbia e relaxada. Usufruirei eficazmente da Paixão do Senhor, cujo Mistério é representado na última ceia, se, deveras mudar de vida.



2ª Meditação

Sabendo os Apóstolos da solicitude que tem o Divino Mestre por celebrar a próxima páscoa, perguntam-Lhe na manhã de quinta-feira Santa, onde quer que se prepare a ceia para o sacrifício do cordeiro;13 e Jesus para se conformar com a lei que preceitua não se celebre a páscoa senão na Cidade Santa,14 escolhe à Pedro e a João, e, é o discípulo amante e o discípulo amado,15 e dá-lhe instruções para que procurem em certa rua, à um certo homem e assim lhe falem da parte d'Ele: “A hora da minha partida está a chegar; quero celebrar a páscoa em tua casa”.16 Os dois Apóstolos obedecem; vão, encontram, falam e, em dois tempos, tudo está disposto e preparado.17

Em primeiro lugar, me será útil refletir como Nosso Senhor Jesus Cristo, o Soberano do Céu e da terra tenha-se por nosso amor empobrecido, a ponto de não possuir em Jerusalém, nem cômodo nem vivenda, precisando da casa alheia para celebrar a páscoa.18

Já tinha dito que as raposas têm suas covas e as aves seus ninhos, mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça.19 Grande confusão para mim tão agarrado aos meus cômodos e de tal maneira sensível, que rompe em queixumes e lamentos, toda vez que me falta qualquer bagatela. Pobreza de espírito, desprendimento de todas as afeições, tão necessário para quem aspira à fruição dos bens celestes, onde estás? Certamente não te acho dentro de mim! Em segundo lugar, deve considerar-se a honra de que é alvo o humilde e desconhecido dono da casa, escolhida por Nosso Senhor, como lugar próprio para celebração dos Mistérios mais altos e sublimes que jamais se tenham oferecido sob a face da terra, coligindo daí o grande amor que Jesus tem aos humildes e o seu cuidado em exaltá-los.=

Não se deve, porém, omitir uma terceira reflexão, e é a pronta e heroica obediência do proprietário do Cenáculo, o qual sabendo, pelos públicos editais,20 das perseguições e tramas urdidas pelos primazes da Sinagoga contra a Pessoa do Divino Mestre, não se retrai contudo diante do pedido; mas embora corra risco sua segurança pessoal, concede generosamente hospedagem a Jesus, objeto das iras dos poderosos da terra.21

O amor misericordioso de Jesus aproxima-se muitas vezes também de mim e segreda-me ao coração palavras dulcíssimas, pedindo-me permissão para entrar na casa de minha alma e aí poder celebrar a páscoa e operar para mim minha santificação. Que grande honra que o Filho do Altíssimo se digne lembrar-se de mim e queira favorecer-me com sua visita?22 Se é do vosso agrado, vinde com toda liberdade, ó Senhor! A casa com seus três aposentos: memória, intelecto e vontade, está ao vosso inteiro dispor, reconhecendo, porém, que ela não é digna de vossa presença, rogo-Vos a embelezeis enriquecendo-a de santas virtudes. Sim, vinde, meu Jesus; eu Vos espero. Cedendo-Vos meu coração e dando-Vos nele guarida, sei que vou sofrer perseguições23 do Demônio, do mundo, e de minha própria humanidade rebelde, mas nada temo, estribado em vossos auxílios.24

Propósito

Exercitarei uma vigilância rigorosa moderando as inclinações exageradas que tenho às coisas do mundo; lembrando-me que para engajar-me no exército de Jesus, cumpre combater os humanos respeitos e desprezar as prudências que cheiram à carne.



3ª Meditação

Não é a primeira vez que Jesus celebra a páscoa, havendo por costume realizar todos os anos, com pontualidade rigorosa, e com afetos dignos do seu Coração Santíssimo, esta cerimônia simbólica, que Lhe lembrava o sacrifício real de sua Pessoa a oferecer-se mais tarde na Cruz.25

Nesta última, porém, na qual tem seu ponto final todas as figuras e símbolos, compenetra-Se de um profundo recolhimento e dá começo ao sagrado rito com desusada solenidade. O cordeiro pascal seguindo as prescrições legais, é por Ele sacrificado na tarde da quinta-feira Santa;26 e é justamente as primeiras horas desta mesma noite que se dá sua captura, podendo considerar-se aquela noite como o prólogo do lúgubre drama de sua Paixão, que terá seu desfecho final na Crucificação e Morte.27

Acompanhemos, com devota atenção em todas as suas fases o banquete presidido pelo Salvador e não ficará nossa alma em jejum.28 Que pensamentos e afetos perpassam na mente e no Coração do Divino Mestre ao contemplar sobre a mesa o cordeiro assado; ao ter de cortá-lo em pedaços e reparti-lo entre os Apóstolos,29 e ao lembrar-Se de que tudo aquilo não passa de uma pálida figura da cruenta tragédia de que será expectadora amanhã toda Jerusalém no alto ensanguentado do Calvário?30

Nunca os séculos presenciariam, nem nunca presenciarão semelhante conúbio, vendo colocadas face à face a sombra e a luz, a figura e a verdade, o símbolo e a sua realidade.31

Ao contemplar o cordeiro, memorial dos grandes prodígios operados por Deus para libertar do Egito o povo escolhido, Jesus pensa que chegou a hora de voltar ao Seio do Pai querido, pois que, páscoa para Ele é a passagem deste vale de lágrimas para o Céu, sua pátria, desde a eternidade.32

Ele vai, portanto, fechar a porta do Velho Testamento e abrir a Nova Era de paz e de amor; vai pôr um termo ao período das figuras para iniciar a fase das realidades, vai enxertar sobre o tronco da lei mosaica o rebento viçoso da Nova Lei; já não sendo mais tempo de se imolarem animais à Divindade, imolando-Se daqui em diante o verdadeiro Cordeiro que tira os pecados do mundo. Jesus implora ao Altíssimo se digne acolher o Novo Sacrifício, e, assim como pelo passado, não dedignara-se aceitar em holocausto os cordeiros, agora seja Sua Divina Majestade servida, receber a oblação que faz de Si mesmo, pela salvação do mundo.33

Que ações de graças Vos renderei, ó Eterno Pai,34 por haverdes consentido que eu nascesse em uma terra banhada pela luz de vossa fé, santificada pela vossa lei e onde continuamente se Vos oferece a Hóstia Santa do Vosso Unigênito Filho?

Eu também, Senhor, vo-Lo ofereço em expiação das minhas culpas, unindo aqueles sentimentos que Ele teve ao banquete da última páscoa, quando generosamente se interpôs Mediador entre as dívidas insolúveis dos homens e a vossa Justiça. Ah! Senhor! Nada poderia oferecer-Vos que seja ou mais precioso, ou mais digno e aceitável aos vossos olhos, do que a Humanidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, única oblação imaculada, única espiral de incenso que exala perfumes que Vos sejam agradáveis. É, pois, em nome desta Vítima que Vos peço perdoeis minhas fragilidades,35 e é apoiado nos merecimentos deste Cordeiro, que eu espero tudo de vossa misericórdia.36

Encoberto, pois, nas dobras da túnica imaculada do Vosso Unigênito, a Vós me apresento, ó Pai que estás no Céu, esperando a remissão de minhas culpas, esperando a graça e a glória, esperando, enfim, não ser iludido em minhas esperanças.

Propósito

Habituar-me-ei à oferecer ao Eterno Pai a Pessoa adorável de Jesus, como propiciação copiosa, dizendo com São João Batista: “Eis o Cordeiro de Deus; eis Aquele que tira os pecados do mundo”.37



4ª Meditação

Quando nos está iminente alguma contrariedade vultuosa, perturbamo-nos e, por vezes chegamos a nos irritar.

Não é assim que se dá com Nosso Senhor Jesus Cristo.

Ele sabe que está mui próximo de sua Paixão, da qual O separam apenas poucas horas; e, apesar disto, seu espírito se conserva numa tranquilidade imperturbável, dando-nos nesta sua atitude a prova de que é verdadeiro Filho de Deus e Salvador do mundo; não recuando, mas indo encontrar a morte com intrepidez.38

Como, um pai prestes a empreender uma longa viagem, dirige aos filhinhos palavras de despedida repassadas da maior ternura e incendido afeto, assim o amável Redentor, fala aos Apóstolos, neste último banquete, com acentuada doçura e fundas saudades.39

Claramente lhes revela o que Lhe vai acontecer nesta mesma noite, a fim de que a surpresa não os abata, e o imprevisto não os desalente,40 mas fiquem certos de que ninguém O obriga a sofrer e morrer, senão sua livre e espontânea vontade.41

Explana-lhes o Mistério da Redenção que iniciada com a pregação de sua doutrina, reforçada pelos milagres, vai ter o selo final com a Paixão e a Morte.42

Em seguida, como que expandindo-se, abre-lhes seu Coração e com acesso de transporte assim lhes diz: “Com imenso ardor tenho desejado celebrar esta páscoa convosco,43 e a páscoa deste ano é verdadeiramente a minha, e que me é mais cara,44 porque dela depende a salvação de todos os filhos de Adão.45

Pesquisemos donde nasce em Nosso Senhor Jesus Cristo o desejo tão veemente de celebrar esta páscoa.

Nasce o desejo do amor; e deve-se inferir ser este bem grande, se produz um desejo tão ardente. Sim, como mãe carinhosa nesta última hora Ele pensa em amar o filho, a Igreja,46 que vai ficar só no mundo, à mercê dos eventos, entregue as contingências do tempo, frente a frente aos perseguidores que lhe moverão encarniçada guerra.47

Ó Salvador caridoso, se do imenso desejo que tendes de ver realizado minha santificação e garantida minha salvação, eu tivesse uma parcela ao menos, quão diversa seria a conduta de minha vida e quanto maior zelo sentiria para minha perfeição! Quisera ser bom, e ajuntar todas as virtudes possíveis; quisera atingir o mais alto grau da santidade; sim, quisera-o, mas… o meu desejo é como o vai e vem das ondas, efeito de uma vontade enfraquecida.

Quem, deveras quer uma coisa, quer também todos os meios que a ela conduzem, envidando todos os esforços para consegui-la.48 Mas eu passo os dias numa sonolência inexplicável; cruzo os braços, e enquanto rapidamente declina a minha juventude e vem se aproximando a tarde de minha existência, reparo que estou de mãos vazias.

Acendei em mim, ó bom Jesus, o vosso amor e surgirá em meu coração o desejo de fazer-Vos o gosto em tudo aquilo que Vos apraz. Quisera agradar-Vos, mas minha fraca vontade é por demais instável. A Vós pertence, Senhor, torná-la forte na intenção e eficaz na execução dos seus deveres, de sorte que me torne santo nesta e salvo eternamente na outra vida.49

Propósito

Assim como Nosso Senhor Jesus Cristo desejou ardentemente sua Paixão por meu amor; assim eu também, por amor Dele, excitarei em mim o desejo de meditá-la e imitá-la, consistindo nisto a medula da santidade e a consumação do último fim.


____________________________

Fonte: Pe. Caetano Maria de Bergamo, O.F.M.Cap., “Pensamentos e Afetos sobre a Paixão de Jesus Cristo para cada dia do ano – Extraídos da Sagrada Escritura e dos Santos Padres”, Vol. 1, Caps. IX-XXII, pp. 48-59; Tradução de Frei Marcellino de Milão, O.F.M.Cap.; Escola Typographica Salesiana, Bahia, 1933.

1.  Matth., 5, 18; D. Chrysost., hom. 82 in Matth.

2.  D. Remig., in Cat. d. Matth. 26.

3.  D. Chrysost., hom. 80 in Matth.

4.  Matth., 26, 2.

5.  D. Chrysost., in Cat. Luc., 22.

6.  Matth., 26, 18.

7.  Beda in Marc., 14.

8.  D. Hieron., in Matth., 26.

9.  D. Bern., serm. 1 die pasch. Aug., lib. 18.

10.  D. Aug., 1, 10 Conf., cap. 27.

11.  D. Aug., 1, 10 Conf., cap. 21.

12.  D. Aug., lib. 2 Conf., cap. I.

13.  Matth., 26, 17.

14.  Deut., 16, 5.

15.  Teoph., in Matth., 26.

16.  Matth., 26, 18.

17.  Marc., 14, 16.

18.  D. Chrysost., hom. 82 in Matth.; 2 Cor., 8, 9.

19.  Matth., 8, 20.

20.  Jo., 11, 56.

21.  D. Chrysost., hom. 82 in Matth.

22.  Psalm., 8, 5.

23.  2 Tim., 3, 12.

24.  Psalm., 17, 4.

25.  Euseb., Emiss. In Matth., 26.

26.  Matth., 26, 20; Exod., 12, 6.

27.  Beda in Luc., 22.

28.  D. Bonav., Medit. Vit. Chr., cap. 73.

29.  Idem, ibid.

30.  D. Remig., in Cat. d. Th. Matth. 26.

31.  Orig., tract. 15 in Matth.; Euthiam., in Matth. 26; Euseb., Emiss. In Matth. 26.

32.  Patrem., Jo., 13, 3.

33.  Heb., 10, 8.

34.  D. Bonav., Medit., cap. 73.

35.  D. Aug., Medit., cap. 5 et 6.

36.  Psalm., 4, 6 et 8.

37.  Jo., 1, 19.

38.  D. Athan., serm. De pass. Dom.

39.  Teoph., in Luc., 22.

40.  Orig., tract., 15 in Matth.

41.  D. Chrysost., hom. 82 in Jo.

42.  Orig., tract., 15 in Matth.

43.  Luc., 22, 15.

44.  Teoph., in Luc., 22.

45.  D. Chrysost., hom. 80 in Matth.

46.  Euseb., Emiss. In Luc. 22.

47.  Tit., Bostr., in Luc. 22.

48.  D. Th. 1, 2, qu. 20, art. 4.

49.  Idiot., Cont. Div. am., cap. 11.


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