Deus ordenou aos judeus que celebrassem três festas apenas; a nós Ele mandou celebrá-las incessantemente. Pois, para nós, cada dia é um dia de festa. Para ensinar-se que assim é de fato, vou enunciar o que dá motivo as nossas festas, e vereis que todos os dias são dias de festa.
Comunhão da Virgem Maria |
Para bem compreender que devemos estar sempre em festa, que não há, para isso, data determinada e que não estamos limitados a uma necessidade de tempo, escutai o que diz Paulo: “Sede alegres sempre.4 Ora, quando ele escreveu estas palavras não era um dia de festa; não era o dia de Páscoa, nem de Epifania, nem de Pentecostes, mas Paulo demonstrava que o que constitui a condição essencial do contentamento não é a data, mas a pureza da consciência. Uma festa, de fato, não é mais que alegria, mas a alegria espiritual, a alegria da alma, não possui outra fonte além da consciência das boas ações; aquele que tem uma boa consciência e que é o autor de boas ações tem o direito de estar alegre sempre.5
Contra uma Falsa Concepção das Festas
O Pentecostes passou, mas a festa não passou; pois toda santa reunião é uma festa. Que é que o prova? As próprias palavras do Cristo, ao dizer: “Onde estão dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles”.6 Uma vez que o Cristo está no meio dos fiéis reunidos, que mais podeis exigir, que melhor caracterize uma festa. Onde quer que se encontrem ensinamentos e orações, a bênção dos pais e a audiência das Leis Divinas, a assembleia dos irmãos e os laços do verdadeiro amor, a conversão dos homens com Deus, palestra de Deus com os homens, como não teríamos aí uma festa, e uma festa solene? O que faz as festas, não é a numerosa assistência, mas a virtude dos que se reúnem; não são as vestes suntuosas, é o ornamento da piedade; não é uma mesa opulenta, é o cuidado que se tem com a alma; a maior de todas as festas consiste em possuir-se uma boa consciência… Aquele que vive praticando a justiça e as boas obras está sempre alegre sem que haja festa consagrada, porque ele recolhe o prazer sem mácula que lhe dá a consciência. Mas aquele que passa o tempo na prática do mal e da perversidade, aquele que tem muitas coisas pesando sobre a consciência, mesmo por ocasião de uma festa, mais que ninguém ignora a alegria da festa. Podemos, pois, se o quisermos, estar em festa todos os dias, contanto que nos apliquemos à virtude, e purifiquemos nossa consciência.7
Fonte: “O Esplendor Cristão”, Vol. I, Terceira Parte, Cap. II, pp. 145-147. Ação Carismática Cristã, Fundação São João Crisóstomo, Rio de Janeiro, 1978.
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1. Mat. 28, 20.
2. I Cor. 11, 26.
3. Jo. 14, 15-17.
4. I Tes. 5, 16.
5. São João Crisóstomo, “I Homilia sobre o Pentecostes”, 1 – 2.
6. Mat. 18, 29.
7. São João Crisóstomo, “V Sermão sobre Ana”, 1.
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