No discurso de recepção na Academia Brasileira de Letras, pronunciado a 28 de Maio de 1920, D. Silvério, falando da dor, a mais bela composição literária de Alcindo Guanabara, seu antecessor no silogeu, cita este lanço do grande escritor e parlamentar:
“Se sois cristãos, a dor não vos abate, mas vos conforta, vos anima, vos eleva, vos engrandece. Jesus, Filho de Deus e Deus Ele próprio, quis sofrer a dor humana para reabilitá-la e torná-la profícua. Era porém Deus, e toda Sua grandeza está no que havia de voluntário nesse sofrimento. Maria, porém, é uma Mulher. E Mãe… Os desfalecimentos da alma, a paixão, a agonia, as lágrimas, o sofrimento que não há palavra que o descreva, que a pungia acompanhando toda a Paixão do Filho Unigênito, desde o Pretório por essa via dolorosa que terminou na Cruz, donde Ele pendia, não nasceram de nenhuma renúncia à qualidade de Deus, senão que foram sentidos em toda fraqueza de Sua condição humana pela Mulher e pela Mãe, cuja caridade e cujo altruísmo são tamanhos, que Lhe inspiraram por amor da Redenção da humanidade aquela resignação da lágrima muda que cai do alto do Gólgota pelos séculos a fora, como o bálsamo consolador de todos os corações em chaga. Se há entre vós, se há na humanidade inteira a vítima infeliz de uma dor sem consolo, erga ela o espírito e o coração até essa tragédia sangrenta, e funda a sua dor na maior dor que jamais houve sobre a terra, na dor de Maria… porque tanto quanto a humanidade viva, não haverá dor tão forte que se amesquinhe, quando o espírito se orientar para esse calvário de redenção, e soarem ao ouvido do infeliz os versos do hino sagrado:
Juxta crucem lacrimosa
Dum pendebat Filius”.
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Fonte: José Lopes Ribeiro, “D. Silvério e o Culto de Maria Santíssima – Subsídios para a História da Civilização Mineira”, pp. 25-26. Imprensa Oficial, Belo Horizonte/MG, 1940.
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