Parte II
A Devoção para com o Sagrado Coração de Jesus tem o seu gérmen na origem da Humanidade.
Foi no Paraíso, depois da queda primitiva de Adão e Eva, que o Filho de Deus recebeu, pela primeira vez, o justo tributo de veneração e de amor.
Apresentado e prometido por Deus mesmo ao Gênero Humano, como Redentor, suspiravam por Ele incessante e ardentemente todas as nações. Com Seu Nascimento, exultaram de alegria os descendentes de Adão, por virem realizados os seus votos. Desde esta data gloriosa surgiu e foi-se desenvolvendo, rapidamente, a devoção para com o Divino Coração.
O Fundador do Cristianismo ainda não havia instituído os Santos Sacramentos, nem lançado os alicerces inabaláveis destinados a sustentar o edifício grandioso da Igreja Católica, e já se venerava e adorava o Seu Sagrado Coração. Já naquele tempo, era este o objeto do amor entranhado da Virgem Mãe de Deus e de São José.
Anjos do Céu aparecem aqui na terra convidando os homens a renderem ao Salvador recém-nascido as suas homenagens. Aos coros angélicos se unem os bons pastores, os três Reis Magos do Oriente, porfiando em testemunhar os sentimentos de fé e confiança, de gratidão e respeito, de submissão e amor ao Sagrado Coração de Jesus. Ao contemplá-Lo, todos ficaram cativados e extasiados.
E com efeito, o que há de mais nobre e sublime, se acha concentrado no Amantíssimo Coração de Jesus, como na sua fonte original. O Seu Amor transcende todos os afetos, por mais puros que sejam. Símbolo tocante, imagem perfeita e personificação do amor infinito de Deus para com os homens é o Seu Sagrado Coração.
Nele habita a plenitude da Divindade, estão encerrados todos os tesouros da ciência e sabedoria e o Pai eterno pôs n’Ele todas as Suas complacências, é portanto, digníssimo de louvor, veneração e adoração...
… O Sagrado Coração não deixou de mostrar ao Seu filho predileto, quanto Lhe era agradável a sua terna devoção, por um milagre todo excepcional.
Santo Antônio havia pregado durante a estação do Advento de 1229 na cidade de Pádua.
Um fidalgo, chamado Tiso, Conde de Campo Sampiero, íntimo amigo do Santo, convidou-o, repetidas vezes, a honrá-lo com a sua visita e passar algum tempo na sua chácara silenciosa e pitoresca. Santo Antônio aceitou o convite. O piedoso Conde, todo atenção para com o seu venerado hóspede, não poupou coisa alguma para lhe tornar bem aprazível a demora em sua residência, oferecendo-lhe um aposento separado e condigno.
Segundo o seu louvável costume, Santo Antônio prolongava a vigília pelas noites, todo concentrado nas suaves delícias da oração.
Numa das vezes, que em sua vigilância doméstica Tiso passava junto ao aposento do Santo, surpreendeu-o uma claridade vivíssima, que partia de dentro.
A precaução levou-o, providencialmente, a observar por um orifício da porta a razão de uma luz tão intensa. Ficou então maravilhado.
Vê o Santo envolvido em fulgores brilhantes, tendo nos braços um menino resplandecente e de uma beleza incomparável; este a prodigalizar afavelmente ao Taumaturgo as graças mais doces e angélicas; Santo Antônio a responder-lhe respeitosamente com as carícias mais santas e afetuosas.
Esta cena encantadora deixou estupefato o fidalgo, que ansiava por saber, donde viera aquele menino tão formoso e deslumbrante. Jesus Cristo mesmo descera aos braços do seu filho predileto Antônio, transformado na forma graciosa de menino, a fim de preconizar deliciosamente os seus labores apostólicos, demonstrar a todos a sua pureza angélica, e recompensar o seu amor eminentemente seráfico.
Ao desaparecer do aposento de Santo Antônio, o Divino Menino advertiu-lhe, que o Conde Tiso observara aquela cena. Por este facto, Santo Antônio após os transportes inefáveis desta contemplação divina, chama o seu benfeitor, explica-lhe a realidade daquele milagre, que havia sido uma afetuosa aparição de Jesus, na encantadora figura da Sua Infância, como símbolo de verdadeiro amor, e por último, proibiu-lhe, terminantemente que revelasse coisa alguma do que ali se passara, enquanto ele vivesse na terra.
Assim foi; depois da morte de Santo Antônio, o ditoso fidalgo manifestou, com garantia de seu juramento, e enternecido até às lágrimas a cena maravilhosa, que se passara no aposento, que cedera a Santo Antônio.
Todos os historiadores são unânimes em afirmar a realidade desta deliciosa e divina visão, que tem dado assunto, o mais eloquente à escultura e à pintura cristãs, que se desvanecem em caracterizar e imortalizar o filho Amantíssimo do Sagrado Coração de Jesus.
Este fato prodigioso, que só o piedoso Tiso testemunhara, despertou e amadureceu em seu coração, fascinado pelo perfume das virtudes acrisoladas de Santo Antônio, e cativado pela formosura celestial de Deus-Menino, cuja contemplação o inebriara de amor divino, o ardente desejo, de consagrar-se exclusivamente ao Divino Coração abraçando a vida religiosa.
Seus votos se realizaram. Passados poucos anos, voou a sua bela alma ao Céu, onde Santo Antônio já o havia precedido, e onde ambos acharam uma felicidade indefinível no Sagrado Coração de Jesus, delícias de todos os Santos.
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Fonte: “A Vida e o Culto de Santo Antônio”, por Fr. Luiz, O.F.M., 1ª Parte, Cap. XXIII, pp. 238-240.242-245; 3ª Edição, Kevelaer Butzon e Bercker Editores Pontifícios, 1907.
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