
A
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL
A
SERVIÇO DO CATOLICISMO
✠
AS
TEOFANIAS DO AMOR
“No
princípio o Amor criou…”. (Gên.
1, 1)
“No
princípio
era
o Amor…”.
(Jo.
1, 1)
“Na
plenitude dos tempos,
Deus
enviou o seu Amor…”. (Gál.
4, 4)
“Eis
que o Amor vem sem demora…
o
princípio e o
fim…”. (Ap.
22,
12-14)
✠
HINO
AO AMOR
O
que os Santos Padres da Igreja
comentaram
sobre I Cor. 13, 1-13?
Aqui
estão alguns dos principais comentários dos Santos Padres da Igreja
sobre o capítulo 13 da carta de Paulo de Tarso aos Corinto (1 Cor
13, 1-13) — com foco em sua interpretação da união de fé,
esperança e caridade (amor).
São
João Crisóstomo (século IV)
Em
sua Homilia 32 sobre 1 Coríntios, ele comenta 1 Cor 13, 1-3 e
destaca:
“Vês
até a que ponto ele primeiramente exalta o dom, e depois o deita por
terra?” — referindo-se ao “…falar em línguas dos homens e
dos anjos, e não ter amor, sou cobre que soa, ou címbalo que
retine. “Ele realça que S. Paulo primeiro amplia ao máximo os
dons (línguas, profecia, fé grande) e em seguida afirma que, se não
houver amor, mesmo isso se torna ”como cobre que soa” — algo
sem fruto.
Paráfrase/Comentário:
Crisóstomo comenta os versículos 1-3 de 1 Cor 13 destacando
como S. Paulo “eleva ao máximo” os dons — falar em línguas de
homens e de anjos, profecia, fé poderosa, dar todos os bens,
entregar o corpo — e depois afirma que, se não houver amor,
tudo isso “é nada, ou antes um peso e incômodo”. Ele enfatiza:
atenção especial ao argumento de S. Paulo que sem amor os maiores
dons perdem valor.
Observações
úteis para estudo:
Crisóstomo destaca que “falar em
línguas de anjos” não é literalmente querer que existam línguas
angélicas corporais, mas é hipérbole para mostrar o ápice do dom
humano.
Ele aplica: o verdadeiro critério
cristão não é o dom extraordinário, mas o amor concreto para com
o próximo.
Aplicação comunitária: numa Igreja
(como a de Corinto) onde os dons eram valorizados, o predomínio do
amor era o teste mais seguro.
Em
Homilia 33 sobre 1 Cor 13, 4-8, ele analisa as qualidades do amor
(“sofre longamente, é benigno; não possui inveja; não se
vangloria…” etc) apontando que essas virtudes curam os males da
comunidade: divisão, inveja, vanglória.
Paráfrase/Comentário:
Crisóstomo observa que S. Paulo já mostrou que sem amor
os dons são inúteis; agora ele apresenta o amor em si —
suas qualidades: “sofre longamente, é benigno; não possui inveja;
não se vangloria…” (v. 4-7) — uma «imagem pintada» das
virtudes do amor. Em v.8 ele afirma que o amor “nunca falha”, que
permanece quando profecias, línguas, conhecimento cessarem.
Observações
para estudo:
A metáfora “coroa no arco” indica
que o amor ocupa o lugar de supremacia entre os dons.
Crisóstomo aplica isso à vida cristã
cotidiana: a virtude do amor é formada por um conjunto de atitudes
concretas — paciência, bondade, humildade, pacificação etc.
Ele mostra que esta virtude do amor
“cura” os males comunitários: inveja, vanglória, divisão,
orgulho.
Em
Homilia 34 sobre 1 Cor 13, 13, ele comenta:
“Porque
a fé e a esperança, quando as boas coisas esperadas vierem, cessam.
Mas o amor é então mais elevado e se torna mais veemente”. Ou
seja, ele vê que fé e esperança têm um fim quando “o que é
perfeito vier”, mas o amor permanece.
Paráfrase/Comentário:
Crisóstomo analisa os versículos finais 9-13. Ele entende que
“quando o que é perfeito vier” refere-se ao estado em que
veremos face a face, conheceremos plenamente — ou seja, ao futuro
definitivo. O amor permanece além da fé e da esperança, porque fé
e esperança têm seu cumprimento no futuro, mas o amor “permanece”.
Observações
para estudo:
A distinção “agora vemos em parte…
então face a face” (v. 12) é central para a escatologia de
Crisóstomo: a vida presente é “em parte”, o estado futuro será
“completo”.
O amor (caridade) é destacado como
“maior que estes” (fé, esperança) porque não apenas participa
da escatologia mas já começa a operar aqui e agora.
Importante: Crisóstomo aplica ao crente
concreto: viver o amor agora para ter posse do reino futuro.
Resumo
da leitura de Crisóstomo: S. Paulo ensina que os dons (línguas,
profecia, fé, sacrifício) são grandes, mas sem amor perdem o
valor. Depois ele pinta a imagem do amor como virtude dinâmica que
opera em comunidade. Finalmente, ele coloca o amor como o maior
porque permanece além deste mundo.
Santo
Agostinho (século IV-V)
Em
De Doctrina Christiana (Livro I, cap. 39), comenta 1 Cor 13,
13:
“Quando
firmemente alguém repousa em fé, esperança e caridade e
conserva-as, tal pessoa não precisa mais das Escrituras senão para
ensinar os outros”.
Em
outras reflexões, ele destaca que “onde não há amor, não pode
haver justiça” e que a caridade (amor) é o cumprimento supremo,
porque aproxima até de Deus.
Ele
também interpreta “quando vier o que é perfeito” (1 Cor 13, 10)
como a visão de Deus face a face, e que fé e esperança terão fim
neste estado, mas o amor permanece.
Paráfrase/Comentário:
Agostinho interpreta “o que é perfeito” como o gozo da vida
eterna, a visão de Deus face a face, e que ali fé e esperança
cessarão porque terão cumprimento, mas a caridade permanecerá. Ele
também liga a caridade à justiça: sem fé não há justiça, sem
caridade também não.
Observações
para estudo:
Para S. Agostinho, o amor não é apenas
um dom entre muitos, mas a via mediante a qual o crente
alcança Deus.
Ele enfatiza a dimensão escatológica:
a perfeição futura é aquela em que contemplaremos Deus e seremos
transformados à sua imagem.
A prática da caridade no presente é
preparação para esse estado eterno.
Resumo
da leitura de S. Agostinho: Para ele, a tríade
fé-esperança-caridade (amor) é estrutural para a vida cristã, mas
o amor ocupa lugar de destaque porque perdura e porque revela o
próprio relacionamento com Deus. A vida cristã madura é vista como
aquela em que essas virtudes estão firmes e a caridade reina.
Outros
Padres brevemente
São
Gregório de Nissa menciona a tríade “fé, esperança, amor” (1
Cor 13, 13) como direção ascética e chama atenção para o amor
como “primeiro e maior dos mandamentos”, particularmente amor ao
pobre como expressão excelente da caridade.
No
comentário católico (ex: Haydock) sobre 1 Cor 13, 2-3, é observado
que “onde não há verdadeira fé, não pode haver justiça; e onde
não há caridade, não pode haver justiça”.
5.
Síntese versículo-a-versículo (resumo interpretativo)
Versículo
|
Interpretação patrística –
principais ideias
|
13, 1-3
|
Os dons extraordinários (línguas,
profecia, fé, sacrifício) sem amor são inúteis; o amor é
condição básica para que os dons sirvam. (Crisóstomo)
|
13, 4-7
|
O amor é descrito em suas virtudes:
paciência, benignidade, não inveja, não vanglória, tudo sofre,
cria unidade. (Crisóstomo)
|
13, 8
|
“O amor nunca falha” — os dons
cessarão, mas o amor permanece. (Crisóstomo)
|
13, 9-10
|
Conhecimento e profecia são parciais;
“quando o que é perfeito vier” = estado escatológico de
plenitude. (Crisóstomo, Agostinho)
|
13, 11-12
|
Analogias de criança/adulto, ver em
parte/face a face — o futuro trará maturidade e plenitude.
(Crisóstomo, Agostinho)
|
13, 13
|
Permanecem fé, esperança, amor; mas
o maior é o amor — porque ele já opera aqui e terá
continuidade no futuro. (Crisóstomo, Agostinho)
|
6.
Como utilizar esse material para estudo
Leia o texto bíblico (1 Cor 13, 1-13)
em português ou no original.
Compare cada bloco (como 1-3, 4-7, 8-10,
11-13) com os excertos acima.
Pergunte-se: como o amor se manifesta
hoje na minha vida à luz desses Padres?
Reflita na escatologia: como a
“plenitude” futura (ver Deus face a face) molda a vida presente?
Use os excertos para meditar: por
exemplo, “Se eu falo com línguas… mas não tenho amor, sou
cobre que soa” — o que isso significa para mim hoje?
✠
Fazer
um Paralelo entre I Cor. 13, 1-13
e
os Ensinamentos de Jesus Cristo.
Excelente
pedido — e teologicamente muito rico.
Vamos
fazer um paralelo entre 1 Coríntios 13, 1-13 (“Hino à
Caridade”) e os ensinamentos de Jesus Cristo nos Evangelhos,
destacando como S. Paulo, ao escrever este capítulo, reflete e
desenvolve o próprio coração da mensagem de Cristo.
Estrutura
do Paralelo
Tema Principal
|
1 Coríntios 13
|
Ensinamentos de Jesus Cristo
|
Paralelepípedo Teológico
|
1.
Amor como essência da vida cristã
|
“Ainda
que eu fale a língua dos homens e dos anjos… se não tiver
amor, sou como bronze que soa.” (v. 1)
|
“Nisto
todos conhecerão que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns
aos outros.” (Jo 13, 34-35)
|
Tanto
S. Paulo quanto Jesus colocam o amor como o critério
autêntico da vida cristã. O amor não é acessório, é a
própria identidade do discípulo.
|
2.
Amor acima de dons e obras
|
“Ainda
que eu tenha o dom da profecia… e ainda que distribua todos os
meus bens… se não tiver amor, nada sou.” (vv. 2-3)
|
“Muitos
me dirão: ‘Senhor, Senhor, não profetizamos em teu nome?’…
Então lhes direi: nunca vos conheci.” (Mt 7, 22-23)
|
Jesus
advertiu contra praticar obras ou ter dons sem comunhão de
coração com Ele. S. Paulo retoma isso: o valor espiritual das
obras depende do amor.
|
3.
As qualidades do amor
|
“O
amor é paciente, é benigno… não se ensoberbece, não busca
seus próprios interesses…” (vv. 4-7)
|
“Aprendei
de mim, que sou manso e humilde de coração.” (Mt 11, 29) –
“Sede misericordiosos, como o vosso Pai é misericordioso.”
(Lc 6, 36) – “Amai os vossos inimigos…” (Mt 5, 44)
|
As
virtudes descritas por S. Paulo são, na prática, um retrato
moral de Cristo. Ele encarna todas essas atitudes em sua vida
e paixão.
|
4.
Amor como plenitude da Lei
|
“O
amor tudo suporta, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.” (v. 7)
|
“Amarás
o Senhor teu Deus… e o teu próximo como a ti mesmo. Nesses dois
mandamentos se resumem toda a Lei e os Profetas.” (Mt 22, 37-40)
|
S.
Paulo ecoa a visão de Jesus: o amor cumpre a Lei (Rm 13,
10). A caridade é a forma final da justiça cristã.
|
5.
Amor que permanece para sempre
|
“O
amor jamais passará.” (v. 8)
|
“O
céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não hão de
passar.” (Mt 24, 35) – “Permanecei no meu amor.” (Jo 15,
9)
|
O
amor tem caráter eterno porque é a própria natureza de
Deus (1 Jo 4, 8). Jesus convida a permanecer nesse amor — S.
Paulo diz que é o único dom que não cessará.
|
6.
Fé, esperança e amor
|
“Agora
permanecem fé, esperança e amor… mas o maior deles é o amor.”
(v. 13)
|
“Não
se turbe o vosso coração: credes em Deus, crede também em mim.”
(Jo 14, 1) – “Alegrai-vos e exultai, porque grande será a
vossa recompensa no céu.” (Mt 5, 12) – “Este é o meu
mandamento: amai-vos uns aos outros.” (Jo 15, 12)
|
Jesus
ensina fé (confiança em Deus), esperança (esperar o Reino) e
amor (mandamento novo). S. Paulo sistematiza: essas três
virtudes teologais são a estrutura da vida em Cristo.
|
Síntese
Teológica
Jesus é o modelo e a fonte do amor que
Paulo descreve.
Tudo
o que S. Paulo diz sobre o amor em 1 Cor 13 pode ser lido como uma
descrição da pessoa de Cristo:
“O amor é paciente” → Cristo na
Cruz;
“O amor não busca seus interesses”
→ Cristo que “se esvaziou” (Fl 2, 7);
“O amor tudo suporta” → Cristo que
carregou os pecados do mundo.
O mandamento novo de Jesus (“Amai-vos
uns aos outros como eu vos amei”) é o fundamento do hino de S.
Paulo.
O amor como virtude eterna:
Jesus revelou um amor que vence a morte
(“tendo amado os seus, amou-os até o fim” – Jo 13, 1).
S. Paulo reconhece que, mesmo no céu,
o amor não cessará, pois é comunhão plena com Deus.
Fé e esperança apontam para o amor.
A fé crê no Amor (Deus).
A esperança aguarda o Amor (visão de
Deus).
O amor vive o Amor (Deus presente).
Assim, o amor é o fim e a plenitude
das outras virtudes.
Conclusão
Espiritual
1 Coríntios 13 é,
por assim dizer, o eco paulino do Sermão da Montanha e do
Mandamento Novo de Cristo.
Se
quisermos resumir o paralelo:
✠
Monte
um estudo
bíblico temático
com passagens dos Evangelhos
ao
lado de cada versículo de 1 Cor 13 (um tipo de sinopse
amor-caridade),
útil
para grupos de oração ou aulas bíblicas.
Perfeito
— a seguir está um quadro comparativo versículo a versículo
entre 1 Coríntios 13, 1-13 (o “Hino à Caridade” de São
Paulo) e os ensinamentos de Jesus Cristo nos Evangelhos.
A
ideia é mostrar que tudo o que S. Paulo descreve
como “caridade” é a expressão prática do amor vivido e
ensinado por Cristo.
Paralelo
entre 1 Coríntios 13, 1-13 e os Ensinamentos de Jesus Cristo.
1 Coríntios 13
|
Palavras ou Ações de Jesus
|
Comentário e Aplicação
|
v.
1 – “Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos,
se não tiver amor, sou como bronze que soa ou címbalo que
retine”.
|
“Nem
todo aquele que me diz: ‘Senhor, Senhor’ entrará no Reino dos
céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai” (Mt 7, 21).
|
Jesus
adverte que não bastam dons ou palavras; importa o coração
unido a Deus. S. Paulo ecoa essa advertência: a caridade é o
critério de autenticidade espiritual.
|
v.
2 – “Ainda que eu tenha o dom da profecia, conheça todos
os mistérios e tenha uma fé capaz de mover montanhas, se não
tiver amor, nada sou”.
|
“Se
tiverdes fé do tamanho de um grão de mostarda direis a esta
montanha: ‘Move-te’… e ela se moverá.” (Mt 17, 20) +
“Aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração” (Mt
11, 29).
|
A
fé verdadeira deve conduzir à mansidão e ao amor. Jesus
mostra que o poder da fé deve servir ao bem e à misericórdia —
não ao orgulho.
|
v.
3 – “Ainda que eu distribua todos os meus bens… e
entregue o corpo para ser queimado, se não tiver amor, nada me
aproveita.”
|
“Quando
deres esmola, não saiba a tua mão esquerda o que faz a direita…”
(Mt 6, 3) + “O bom Pastor dá a vida por suas ovelhas.” (Jo
10, 11)
|
A
caridade não é ostentação. Mesmo o sacrifício e a
esmola só têm valor se brotarem de amor verdadeiro — como o
sacrifício de Cristo na cruz.
|
v.
4 – “O amor é paciente, é benigno.”
|
“Aprendei
de mim, que sou manso e humilde de coração.” (Mt 11, 29) +
“Bem-aventurados os mansos…” (Mt 5, 5)
|
A
paciência e a bondade são traços do coração de Cristo.
Ele é o modelo da caridade que sabe esperar, suportar e acolher.
|
v.
4 – “O amor não é
invejoso, não se vangloria, não se ensoberbece”.
|
“Quem
se exaltar será humilhado, e quem se humilhar será exaltado.”
(Mt 23, 12) + “O Filho do Homem não veio para ser servido, mas
para servir” (Mc 10, 45).
|
Jesus
é o antídoto da vanglória.
A humildade é a forma concreta do amor. S.
Paulo traduz essa lição para
a vida comunitária.
|
v.
5 – “O amor não é
inconveniente, não busca seus próprios interesses, não se
irrita, não guarda rancor.”
|
“Se
alguém te bater na face direita, oferece-lhe também a outra.”
(Mt 5, 39) + “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”
(Lc 23, 34).
|
A
caridade cristã é desinteressada
e perdoa sempre. O perdão
de Jesus na cruz é a expressão suprema desse amor sem rancor.
|
v.
6 – “O amor não se alegra com a injustiça, mas se
rejubila com a verdade”.
|
“Eu
sou o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14, 6) + “Bem-aventurados
os que têm fome e sede de justiça” (Mt 5, 6).
|
Cristo
une verdade e amor: o amor cristão não é cumplicidade
com o mal, mas alegria no bem e na verdade divina.
|
v.
7 – “Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta”.
|
“Aquele
que perseverar até o fim será salvo” (Mt 24, 13) +
“Bem-aventurados os misericordiosos…” (Mt 5, 7).
|
O
amor de Jesus é perseverante: crê, espera e suporta.
Assim também o cristão é chamado a amar até o fim, mesmo na
dor.
|
v.
8 – “O amor jamais passará”.
|
“O
céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não passarão”
(Mt 24, 35) + “Permanecei no meu amor” (Jo 15, 9).
|
Jesus
mostra que o amor tem caráter eterno — é o que
permanece. S. Paulo afirma o mesmo: os dons cessam, mas o amor
continua na eternidade.
|
v.
9-10 – “Conhecemos em parte… quando vier o que é
perfeito, desaparecerá o que é parcial”.
|
“Agora
não sabes o que eu faço, mas compreenderás mais tarde” (Jo
13, 7) + “Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a
Deus” (Mt 5, 8).
|
Na
terra vivemos a fé “em parte”; o amor é o caminho que nos
prepara para a visão plena de Deus.
|
v.
11 – “Quando eu era criança, falava como criança…
agora que me tornei homem, deixei as coisas de menino”.
|
“Sede
perfeitos, como vosso Pai celeste é perfeito” (Mt 5, 48).
|
O
amor amadurece o cristão. Assim como Jesus chama à perfeição
do Pai, S. Paulo chama à maturidade da caridade.
|
v.
12 – “Agora vemos como em espelho, confusamente; mas então
veremos face a face”.
|
“Felizes
os puros de coração, porque verão a Deus” (Mt 5, 8) + “Quem
me vê, vê o Pai” (Jo 14, 9).
|
A
promessa de ver Deus face a face é a consumação do amor.
Jesus, imagem do Pai, antecipa essa visão na fé.
|
v.
13 – “Agora permanecem fé, esperança e amor; mas o maior
deles é o amor”.
|
“Este
é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros, como eu vos amei”
(Jo 15, 12).
|
Jesus
coloca o amor como mandamento supremo. S. Paulo conclui o
mesmo: fé e esperança passam, o amor é o maior porque é a
própria vida de Deus.
|
Síntese
Final
Jesus viveu o amor que S. Paulo
descreve. O hino de 1 Coríntios 13 é praticamente um retrato
moral de Cristo.
O Sermão da Montanha (Mt 5-7) é
o pano de fundo direto de 1 Coríntios 13.
Paciência,
misericórdia, perdão, pureza de coração e humildade — tudo
isso é o amor que “tudo suporta”.
A Cruz é o ápice do hino. O
amor que “tudo crê, tudo espera, tudo suporta” é o amor de
Cristo crucificado, que “amou até o fim” (Jo 13, 1).
O amor é a eternidade já começada.
Fé e esperança guiam o caminho, mas o amor é o próprio
destino: a comunhão com Deus, que é Amor (1 Jo 4, 8).
✠
Trace-me
um Paralelo entre I Cor. 13, 1-13
e
os ensinamentos dos Livros Sapienciais.
Excelente!
Agora vamos traçar um paralelo entre 1 Coríntios 13, 1–13 (o
“Hino à Caridade”) e os ensinamentos dos Livros Sapienciais
do Antigo Testamento (Provérbios, Eclesiastes, Sabedoria,
Eclesiástico/Sirácida e Cântico dos Cânticos).
Este
paralelo é muito fecundo, porque os livros sapienciais
representam a maturidade moral e espiritual de Israel, enquanto
S. Paulo expressa a plenitude dessa sabedoria à luz de
Cristo — o Amor divino encarnado.
Assim, o Apóstolo não
contradiz a sabedoria antiga, mas a cumpre e eleva à caridade
cristã.
Paralelo:
1 Coríntios 13 e os Livros Sapienciais
-
Tema
|
1 Coríntios 13
|
Livros Sapienciais
|
Paralelepípedo Teológico
|
1. O valor do amor acima de toda
sabedoria
|
“Ainda que eu conheça todos os
mistérios e toda a ciência... se não tiver amor, nada sou.”
(v. 2)
|
“A sabedoria é melhor do que as
pérolas, e tudo o que desejas não se pode comparar com ela.”
(Pr 8, 11) “A caridade cobre todas as faltas.” (Pr 10, 12)
|
A sabedoria antiga já ensinava que a
sabedoria verdadeira é moral e espiritual,
não apenas intelectual. S.
Paulo revela que essa
sabedoria tem um nome: Caridade,
expressão do próprio Deus.
|
2. O amor como fruto da paciência
e da bondade
|
“O amor é paciente, é benigno.”
(v. 4)
|
“A paciência é melhor do que a
bravura.” (Pr 16, 32) “Um homem bondoso faz bem a si mesmo.”
(Pr 11, 17)
|
Nos Provérbios, a paciência e a
bondade são marcas do justo. S.
Paulo as une e as eleva: são
as primeiras manifestações do amor divino no coração humano.
|
3. O amor como antídoto contra a
soberba e a inveja
|
“O amor não é invejoso, não se
ensoberbece.” (v. 4)
|
“O orgulho precede a ruína.” (Pr
16, 18) “A inveja e a ira abreviam os dias.” (Eclo 30, 24)
|
A sabedoria antiga via o orgulho e a
inveja como causas de destruição. S.
Paulo ensina que a
caridade é o caminho da humildade,
e nela o homem encontra paz.
|
4. O amor que perdoa e não guarda
rancor
|
“O amor não se irrita, não guarda
rancor.” (v. 5)
|
“Não guardes rancor contra o teu
próximo.” (Eclo 28, 7) “O insensato mostra logo a sua ira,
mas o prudente ignora a afronta.” (Pr 12, 16)
|
O livro do Eclesiástico e os
Provérbios antecipam o espírito do Evangelho: perdoar
é sabedoria. S.
Paulo mostra que perdoar é o
modo de amar.
|
5. Alegrar-se na verdade, não na
injustiça
|
“O amor não se alegra com a
injustiça, mas se rejubila com a verdade.” (v. 6)
|
“A língua veraz permanece para
sempre, mas a língua mentirosa dura um instante.” (Pr 12, 19)
“A verdade é luz eterna, e a justiça é imortal.” (Sb 1,
15)
|
A sabedoria bíblica identifica
verdade e justiça
como dons divinos. S. Paulo
mostra que o amor é a raiz delas — amar
é alegrar-se na verdade de Deus.
|
6. O amor perseverante
|
“Tudo desculpa, tudo crê, tudo
espera, tudo suporta.” (v. 7)
|
“O homem paciente suporta até o
momento oportuno, e no fim a alegria lhe será restituída.”
(Eclo 1, 29) “A esperança dos justos é alegria.” (Pr 10,
28)
|
O sábio do Antigo Testamento já via
a perseverança e a esperança como virtudes do justo. S.
Paulo mostra que essas
virtudes se unem no amor,
que nunca desiste.
|
7. O amor eterno e superior aos
dons
|
“O amor jamais passará.” (v. 8)
|
“A sabedoria resplandece e não
murcha, e facilmente é vista por aqueles que a amam.” (Sb 6,
12)
|
A Sabedoria é apresentada como
eterna e divina.
S. Paulo
identifica essa Sabedoria com o Amor
de Deus, que é imortal e
permanece para sempre.
|
8. O conhecimento imperfeito e o
“ver face a face”
|
“Agora vemos como em espelho,
confusamente; então veremos face a face.” (v. 12)
|
“Ela [a Sabedoria] é um reflexo da
luz eterna, um espelho sem mancha da atividade de Deus.” (Sb 7,
26)
|
A literatura sapiencial via a
Sabedoria como reflexo de Deus. S.
Paulo anuncia o cumprimento:
em Cristo e na caridade,
veremos o próprio Deus face a face.
|
9. A tríade fé, esperança e
amor
|
“Agora permanecem fé, esperança e
amor; mas o maior deles é o amor.” (v. 13)
|
“A esperança do justo é cheia de
imortalidade.” (Sb 3, 4) “Feliz o homem que confia no
Senhor.” (Pr 16, 20) “A caridade é uma oferta agradável a
Deus.” (Eclo 35, 2)
|
Nos livros sapienciais, fé
(confiança), esperança (expectativa) e amor (caridade/justiça)
são virtudes centrais. S.
Paulo as reúne e declara que
a caridade é o ápice de
toda a sabedoria.
|
Síntese
Teológica
A Sabedoria e o Amor coincidem em
Cristo. Nos livros sapienciais, a Sabedoria é “emanada de
Deus”, criadora e justa (Sb 7, 22–30). S. Paulo revela que essa
Sabedoria é o Amor de Deus manifestado em Jesus (cf. 1 Cor 1,
24: “Cristo, poder e sabedoria de Deus”).
A Caridade é a plenitude da
Sabedoria. O sábio de Israel buscava o coração prudente; o
cristão, iluminado por Cristo, busca o coração amante.
A
sabedoria sem amor torna-se vaidade; o amor é a sabedoria “em
ato”.
Do temor à caridade. Nos livros
sapienciais, “o temor do Senhor é o princípio da sabedoria”
(Pr 1, 7). Em S. Paulo, o amor é o seu cumprimento: “O
amor perfeito lança fora o temor” (1 Jo 4, 18). O temor inicia a
relação com Deus; o amor a consuma.
A eternidade do amor. Assim como
a Sabedoria é eterna em Deus, também o amor o é — porque
ambos são expressões do ser divino. O homem sábio do Antigo
Testamento procurava participar da Sabedoria; o cristão participa
do próprio Amor eterno.
Conclusão
Espiritual
O
Hino à Caridade é o cume da espiritualidade sapiencial bíblica.
Tudo
o que os Livros Sapienciais intuíam sobre a Sabedoria — sua
paciência, justiça, fidelidade e bondade — S. Paulo o
vê realizado no Amor, que é o próprio Espírito de Deus agindo
no coração humano.
Em
suma:
✠
Faça-me
um Paralelo entre I Cor. 13, 1-13
e
as Epístolas de São João Apóstolo.
Perfeito
— este é um dos paralelos mais belos e profundos do Novo
Testamento, porque São João e São Paulo convergem na mesma
revelação central: Deus é Amor, e o amor (caridade) é a marca
distintiva do cristão.
A
seguir, apresento um paralelo detalhado entre 1 Coríntios 13,
1-13 e as Epístolas de São João Apóstolo
(principalmente 1 João 3–4, mas também 2 João e 3 João),
mostrando como ambos falam do amor como essência da vida em Deus.
1.
Introdução: S. Paulo e S. João — duas vozes, uma mesma teologia
Paulo (1 Cor 13) escreve em tom
doutrinal e poético: descreve o amor como a virtude suprema, que dá
valor a todas as obras e dons.
João (1 João 4) fala em tom
contemplativo e experiencial: quem ama conhece Deus, quem não ama
permanece nas trevas.
Ambos, porém, se encontram no mesmo
ponto: o amor é a própria vida divina participada no homem.
Paralelo:
1 Coríntios 13 e as Epístolas Joaninas
1 Coríntios 13
|
Epístolas de São João
|
Paralelo Teológico e Espiritual
|
v. 1–3
– “Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos… se
não tiver amor, nada sou.”
|
1 Jo 4, 7-8
– “Amemo-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus, e todo
aquele que ama nasceu de Deus e conhece a Deus. Quem não ama não
conhece a Deus, pois Deus é amor.”
|
S.
Paulo fala do amor
como critério do verdadeiro dom espiritual;
S. João
fala do amor como critério
do verdadeiro conhecimento de Deus.
Em ambos, sem amor, toda religiosidade é vazia.
|
v. 4
– “O amor é paciente, é benigno.”
|
1 Jo 3, 17-18
– “Quem possuir bens do mundo e vir o seu irmão passar
necessidade, mas lhe fechar o coração, como pode permanecer nele
o amor de Deus? Filhinhos, não amemos com palavras, mas com obras
e em verdade.”
|
A paciência e a bondade que S.
Paulo descreve são a caridade
concreta que S.
João exige. O amor verdadeiro
age e sofre pelo outro.
|
v. 4
– “O amor não é invejoso, não se ensoberbece.”
|
3 Jo 9-11
– S. João
censura Diótrefes, “que gosta de ser o primeiro entre eles” e
não acolhe os irmãos.
|
A inveja e a vanglória destroem a
comunhão eclesial. S. João
e S. Paulo
convergem: quem busca
exaltar-se, perde o amor.
|
v. 5
– “O amor não busca seus interesses, não se irrita, não
guarda rancor.”
|
1 Jo 3, 15
– “Todo aquele que odeia seu irmão é homicida, e vós sabeis
que nenhum homicida tem a vida eterna permanecendo nele.”
|
O amor, para S.
João, é vida
eterna presente; o ódio é
morte. S. Paulo
traduz em termos morais o mesmo princípio: o amor renuncia ao
egoísmo e ao rancor.
|
v. 6
– “O amor não se alegra com a injustiça, mas se rejubila com
a verdade.”
|
2 Jo 1-2
– “Aos eleitos… a quem amo na verdade; e não só eu, mas
todos os que conhecem a verdade.”
|
Em S.
João, verdade
e amor caminham juntos; o
amor cristão é alegre porque se fundamenta na verdade divina.
|
v. 7
– “Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.”
|
1 Jo 4, 16-17
– “Quem permanece no amor, permanece em Deus, e Deus nele.
Nisto se aperfeiçoa o amor em nós: para que tenhamos confiança
no dia do juízo.”
|
Para S.
João, o amor gera confiança
e perseverança. S. Paulo
fala do mesmo amor que crê,
espera e suporta — ambos
expressam a força fiel do amor divino em nós.
|
v. 8
– “O amor jamais passará.”
|
1 Jo 2, 17
– “O mundo passa, e sua concupiscência; mas quem faz a
vontade de Deus permanece eternamente.”
|
S. João
confirma: tudo é transitório, só
o amor permanece, porque
ele é a vontade eterna de Deus.
|
v. 9-10
– “Conhecemos em parte… quando vier o que é perfeito,
desaparecerá o que é parcial.”
|
1 Jo 3, 2
– “Agora somos filhos de Deus, mas ainda não se manifestou o
que havemos de ser. Sabemos que, quando Ele se manifestar, seremos
semelhantes a Ele, porque O veremos tal como Ele é.”
|
S. Paulo
fala do ver face a face;
S. João
explica: essa visão será a transformação total em Cristo. O
amor é o caminho que nos conduz a essa plenitude.
|
v. 11-12
– “Agora vemos como em espelho, confusamente; então veremos
face a face.”
|
1 Jo 4, 12
– “Ninguém jamais viu a Deus; se nos amamos uns aos outros,
Deus permanece em nós, e o seu amor é perfeito em nós.”
|
S. João
antecipa a “visão” de S.
Paulo: já vemos
Deus pelo amor que
permanece em nós, ainda que não O
vejamos plenamente. O amor é a presença
invisível de Deus.
|
v. 13
– “Agora permanecem fé, esperança e amor, mas o maior deles
é o amor.”
|
1 Jo 4, 16
– “Deus é amor; e quem permanece no amor, permanece em Deus,
e Deus nele.”
|
S. João
dá a explicação final de S.
Paulo: o amor é maior, porque
é o próprio Deus.
Fé e Esperança
são caminhos; o Amor
é o fim — a união com
Deus.
|
Síntese
Teológica
Amor como essência de Deus
S. João: “Deus é amor” (1 Jo 4,
8).
S. Paulo: “O amor jamais passará”
(1 Cor 13, 8).
➜
Ambos afirmam que o amor é divino,
eterno e absoluto — não uma virtude entre outras, mas o
próprio ser de Deus.
Amor como critério de autenticidade
cristã
S. João: “Quem não ama, permanece
na morte.” (1 Jo 3, 14)
S. Paulo: “Se não tiver amor, nada
sou.” (1 Cor 13, 2)
➜
O amor é o sinal de vida espiritual verdadeira; sem ele,
toda fé é estéril.
Amor como comunhão
S. João: “Quem ama, permanece em
Deus e Deus nele.” (1 Jo 4, 16)
S. Paulo: o amor “une” o corpo
místico, sendo “o vínculo da perfeição” (Cl 3, 14).
➜
O amor é o laço que une o homem a Deus e os irmãos entre si.
Amor perfeito expulsa o medo
S. João: “No amor não há temor,
mas o perfeito amor lança fora o medo.” (1 Jo 4, 18)
S. Paulo: “O amor tudo suporta.” (1
Cor 13, 7)
➜
O amor maduro vence o medo e a dor, porque confia totalmente em
Deus.
Eterno destino do amor
S. João: “Quem faz a vontade de Deus
permanece para sempre.” (1 Jo 2, 17)
S. Paulo: “O amor jamais passará.”
(1 Cor 13, 8)
➜
A Caridade é a única realidade que atravessa a morte, pois
é a própria vida de Deus em nós.
Conclusão
Espiritual
O
que S. Paulo define, S. João revela. O que S. Paulo
exalta, S. João personifica em Deus.
Para S. Paulo, o amor é a
virtude suprema.
Para S. João, o amor é a
natureza divina.
Ambos proclamam que o cristão autêntico
é aquele em quem a vida de Deus se torna amor vivido.
Assim,
podemos dizer:
✠
Faça-me
uma Síntese entre I Cor. 13, 1-13
com
os ensinamentos de Jesus Cristo,
dos
Livros Sapienciais e as
Epístolas
de São João Apóstolo.
Excelente
pedido — e profundo!
Você
quer unir as três grandes linhas da espiritualidade bíblica:
a sabedoria do Antigo Testamento,
o amor encarnado em Cristo,
e a contemplação mística de S.
João, tendo como eixo o hino de 1 Coríntios 13,
1-13, o “coração pulsante” da teologia de São Paulo.
A
seguir, apresento uma síntese teológica e espiritual que
mostra a harmonia entre esses três horizontes — a Sabedoria, Jesus
e João — todos convergindo no mesmo ponto: o Amor como
plenitude da revelação e da vida humana em Deus.
I.
A Estrutura do Amor segundo 1 Coríntios 13
São
Paulo não fala do amor como sentimento, mas como a forma suprema
da vida espiritual.
O
hino divide-se em três partes:
A primazia do amor (vv. 1-3): sem
amor, tudo perde sentido.
As qualidades do amor (vv. 4-7):
paciência, humildade, perdão, verdade.
A eternidade do amor (vv. 8-13):
o amor é a única realidade que não passará.
Este
é o núcleo que unirá a sabedoria antiga, o Evangelho e a
teologia joanina.
II.
O Eco dos Livros Sapienciais: o Amor como Sabedoria Divina
Nos
livros de Provérbios, Sabedoria e Eclesiástico, encontramos a
preparação espiritual para o hino paulino:
Tema
|
Livros Sapienciais
|
Convergência com 1 Cor 13
|
A sabedoria acima de tudo
|
“A sabedoria é melhor que as
pérolas.” (Pr 8, 11)
|
S. Paulo:
“Ainda que eu conheça todos os mistérios, se não tiver amor,
nada sou.” O amor é a
sabedoria em ato.
|
A paciência e a bondade do justo
|
“A paciência é melhor do que a
bravura.” (Pr 16, 32)
|
S. Paulo: “O amor é paciente, é
benigno.”
|
A humildade como virtude do sábio
|
“O orgulho precede a ruína.” (Pr
16, 18)
|
S. Paulo: “O amor não se
ensoberbece.”
|
A justiça e a verdade
|
“A verdade é luz eterna.” (Sb 1,
15)
|
S. Paulo: “O amor rejubila-se com a
verdade.”
|
A esperança e a perseverança
|
“O homem paciente suportará até o
fim.” (Eclo 1, 29)
|
S. Paulo: “O amor tudo suporta.”
|
Síntese
sapiencial:
A
verdadeira sabedoria é agir com amor, pois é nesse agir que
o homem participa da luz divina. O hino de São Paulo é o
coroamento da sabedoria bíblica: o Amor é a Sabedoria viva.
III.
O Ensinamento de Jesus Cristo: o Amor como Mandamento e Vida
Nos
Evangelhos, Jesus não apenas ensina o amor — Ele o encarna.
Tudo o que S. Paulo canta em 1 Cor 13 é visível na vida
de Cristo:
1 Cor 13
|
Ensinamento de Jesus
|
Síntese
|
“O amor é paciente, é benigno.”
|
“Aprendei de mim, que sou manso e
humilde de coração.” (Mt 11, 29)
|
Jesus é a paciência e a bondade
encarnadas.
|
“O amor não busca os próprios
interesses.”
|
“O Filho do Homem não veio para ser
servido, mas para servir.” (Mc 10, 45)
|
O amor de Cristo é serviço.
|
“O amor tudo desculpa, tudo
suporta.”
|
“Pai, perdoa-lhes.” (Lc 23, 34)
|
A Cruz é o cume do amor que tudo
suporta.
|
“O amor jamais passará.”
|
“Permanecei no meu amor.” (Jo 15,
9)
|
O amor é eterno porque é a própria
comunhão com Deus.
|
Síntese
evangélica:
Jesus
leva a sabedoria antiga à perfeição: Ele é o Modelo vivo do
amor que S. Paulo descreve. O Sermão da Montanha e
o Hino à Caridade são duas faces da mesma lei: a do Amor que é
Deus.
IV.
As Epístolas de São João: o Amor como Essência Divina
Em
João, o amor deixa de ser apenas Mandamento — torna-se ontologia
divina:
1 Cor 13
|
1 João
|
Convergência
|
“Sem amor, nada sou.”
|
“Quem não ama não conhece a Deus.”
(1 Jo 4, 8)
|
Amor é o critério da vida
espiritual.
|
“O amor tudo crê, tudo espera.”
|
“Quem permanece no amor permanece em
Deus.” (1 Jo 4, 16)
|
Amor é comunhão e permanência em
Deus.
|
“O amor jamais passará.”
|
“O mundo passa... mas quem faz a
vontade de Deus permanece para sempre.” (1 Jo 2, 17)
|
O amor é eterno porque é o próprio
Deus.
|
Síntese
joanina:
São
João contempla aquilo que S. Paulo descreve: Deus é Amor.
O
hino paulino fala do que o amor faz; São João
fala do que o amor é.
No
amor, o cristão conhece e participa de Deus.
V.
Síntese Final — O Amor como Cume da Revelação
Dimensão
|
Expressão Bíblica
|
Núcleo da Mensagem
|
Sabedoria
(Antigo Testamento)
|
O amor é o caminho da prudência, da
justiça e da paz.
|
“Quem ama age sabiamente.”
|
Cristo
(Evangelhos)
|
O amor é Mandamento e entrega total.
|
“Amai-vos uns aos outros, como Eu
vos amei.”
|
Caridade
(Paulo)
|
O amor é a virtude suprema e eterna.
|
“O maior deles é o amor.”
|
Comunhão
(João)
|
O amor é a própria vida de Deus em
nós.
|
“Deus é amor.”
|
Síntese
Teológica e Espiritual
A Sabedoria busca Deus pela reta
conduta.
Jesus revela Deus pelo amor vivido.
São Paulo ordena a vida cristã pelo
amor operante.
São João contempla Deus como o
próprio Amor.
A
Sabedoria é o caminho;
Jesus
é o modelo;
Paulo
é o teólogo;
João
é o místico.
Todos
conduzem ao mesmo centro: Deus-Amor.
Conclusão
Espiritual
O
amor é a chave de toda a Revelação.
A
Sabedoria o pressentiu, Cristo o viveu, Paulo o
cantou, João o contemplou.
Em
1 Coríntios 13, a Bíblia inteira encontra sua voz unificada:
o sábio o busca,
o discípulo o pratica,
o apóstolo o proclama,
o místico o contempla.
“Agora
permanecem fé, esperança e amor; mas o maior deles é o amor.” (1
Cor 13, 13)
✠
Desta
Síntese do Amor,
de
que forma reflete na vida da Virgem Maria?
Que
pergunta linda e profunda!
A
Virgem Maria é, sem dúvida, a encarnação perfeita do Amor
conforme descrito em 1 Coríntios 13, pois sua vida reflete na
prática — de modo único e exemplar — toda a sabedoria, o amor
de Cristo e a comunhão divina que Paulo, os Livros Sapienciais e São
João contemplam.
Vamos
ver como a síntese do amor se manifesta na vida da Virgem Maria:
1.
Maria e a Sabedoria dos Livros Sapienciais
“O temor do Senhor é o princípio
da sabedoria” (Pr 1, 7) — Maria é a “Servo do Senhor”
que aceita com humildade e fé total a vontade de Deus (Lc 1, 38).
Ela vive a sabedoria em atitude
constante de escuta e obediência, como aquela que “meditava
tudo no seu coração” (Lc 2, 19.51).
Sua vida é um exemplo de paciência,
mansidão e confiança — virtudes centrais dos livros
sapienciais.
2.
Maria como Modelo do Amor de Cristo
O amor paciente e benfazejo de Maria
está no seu sim incondicional, na aceitação da cruz que Jesus
viveria, acompanhando-O até o Calvário (Jo 19, 25-27).
Ela não busca seus próprios
interesses, mas serve com generosidade e doação, ensinando e
intercedendo (Caná, Jo 2).
O amor de Maria é indulgente e fiel,
sustentando Jesus em sua missão até o fim.
3.
Maria no Espírito de São Paulo (1 Cor 13)
Pacientemente ela suporta as
dores da missão e do sofrimento do Filho, sem perder a fé.
Humilde, nunca se coloca acima
dos outros, é a “serva do Senhor”.
Bondosa, cuida dos primeiros
discípulos na comunidade nascente (At 1, 14).
Fiel até o fim, permanece no
amor que “tudo suporta” e “nunca falha”.
Ela encarna o amor que é maior que a fé
e a esperança, pois acredita no amor eterno de Deus.
4.
Maria e a Comunhão com Deus segundo São João
Maria é aquela que permanece no amor
de Deus como ninguém mais (Jo 15, 9).
Ela é a “Mãe do amor” que gerou
Jesus, o Verbo eterno do amor encarnado.
Sua vida é uma contínua oração e
entrega, um espelho da comunhão perfeita entre o Pai e o Filho.
Maria é a mulher nova que vive na
intimidade do Deus-Amor, e de quem nasce a Igreja, o Corpo do amor
encarnado.
Síntese
final: Maria, a obra-prima do Amor Cristão
Dimensão do Amor
|
Como Maria a vive
|
Sabedoria
|
Aceita o plano de Deus com
confiança e humildade
|
Amor de Cristo
|
Dá-se inteira, até a cruz,
no serviço aos outros
|
Amor de Paulo
|
Vive o amor paciente, bondoso,
humilde e fiel
|
Amor de João
|
Permanece no amor eterno, em
perfeita comunhão com Deus
|
Conclusão
Maria
não só reflete, mas é o modelo vivo e supremo do amor que Paulo
canta em
1
Coríntios 13:
ela
é a mulher da sabedoria, da entrega total, da paciência e da
comunhão profunda com Deus, pela qual o amor nunca passa, nunca
falha.
Ela
é o exemplo para cada cristão que deseja fazer do amor a sua lei
de vida, inspirando-nos a dizer todos os dias com ela o nosso
“sim” ao Amor que salva o mundo.
✠
Desta
Síntese, trace-me um Itinerário Prático
e
Diário para todo Cristão.
Excelente
— e muito maduro espiritualmente!
A
partir dessa síntese entre 1 Coríntios 13, os Livros
Sapienciais, os ensinamentos de Jesus e as Epístolas de São João,
podemos construir um Itinerário Prático e Diário
de Vida Cristã, que une sabedoria, seguimento e comunhão
— o caminho do amor em ato.
Este
itinerário não é uma lista de tarefas morais, mas um ritmo de
vida espiritual, inspirado no próprio modo como o amor divino
cresce no coração humano.
Dividiremos
em três momentos diários (manhã, dia e noite) e sete
atitudes permanentes (um para cada virtude do amor segundo 1 Cor
13).
ITINERÁRIO
PRÁTICO E DIÁRIO DO AMOR CRISTÃO
Inspirado
em 1 Cor 13; nos Livros Sapienciais; nas palavras de Jesus e nas
cartas de São João.
1.
MANHÃ — Acolher a Sabedoria e a Presença de Deus
Atitudes
práticas:
Acordar em espírito de gratidão.
Ao
despertar, fazer o Sinal da Cruz e dizer:
Isso
coloca o coração sob a luz do amor divino.
Meditar brevemente uma Palavra do
Livro da Sabedoria.
Pode
ser um versículo dos Provérbios, do Eclesiástico ou do Evangelho
do dia.
Pergunte:
Como posso viver esta sabedoria em amor hoje?
Oferenda do dia.
Esta
é a sabedoria de Paulo (1 Cor 13, 3): sem amor, nada tem valor.
2.
DURANTE O DIA — Viver o Amor em Ação
Atitudes
práticas:
É
a sabedoria do coração (Eclo 1, 29) em ato.
Fazer o bem silenciosamente.
Um
gesto discreto de bondade, sem buscar reconhecimento (Mt 6, 3).
Assim,
o amor se torna puro e humilde.
Fugir da murmuração e do
julgamento.
“O
amor não se irrita, não guarda rancor” (1 Cor 13, 5).
Em
vez de julgar, reze interiormente por quem o magoa — o perdão
é o exercício do amor perseverante.
Alegrar-se na verdade.
“O
amor se rejubila com a verdade” (1 Cor 13, 6).
Busque
falar e agir com sinceridade, mesmo nas pequenas coisas. A
verdade é o solo onde floresce o amor.
3.
NOITE — Contemplar e Purificar o Coração
Atitudes
práticas:
Silêncio e revisão do dia.
Pergunte
a si mesmo:
Onde pratiquei o amor hoje?
Onde falhei em paciência, bondade ou
verdade?
Onde posso reparar amanhã?
Agradecer e oferecer.
Agradeça
as oportunidades de amar e ofereça a Deus suas quedas. Isso
transforma cada dia em aprendizado no amor.
Pequeno ato de confiança.
Antes
de dormir, diga:
Essa
oração é o eco final de 1 Cor 13, 8.
AS
SETE ATITUDES PERMANENTES DO AMOR CRISTÃO
Virtude
|
Fonte Bíblica
|
Prática Diária
|
1. Paciência
|
1 Cor 13, 4; Pr 16, 32
|
Esperar, ouvir e suportar com
mansidão.
|
2. Bondade
|
Lc 6, 35; Eclo 35, 2
|
Fazer o bem gratuitamente, sem
cálculo.
|
3. Humildade
|
Mt 11, 29; Pr 16, 18
|
Preferir servir a ser servido.
|
4. Perdão
|
Lc 23, 34; Eclo 28, 7
|
Libertar o coração do rancor.
|
5. Verdade
|
Jo 8, 32; Sb 1, 15
|
Falar com sinceridade e agir com
retidão.
|
6. Esperança
|
1 Cor 13, 7; Sb 3, 4
|
Ver em cada dor uma semente de bem.
|
7. Perseverança no Amor
|
1 Jo 4, 16; 1 Cor 13, 8
|
Amar mesmo quando é difícil. Amar
sempre.
|
Síntese
Espiritual Final
A Sabedoria ensina o como
viver.
Jesus mostra o exemplo do
amor vivido.
Paulo ordena o caminho do
amor.
João revela o mistério
de Deus que é amor.
O
cristão, unindo esses quatro caminhos, faz do seu dia uma escola
de amor:
Pensa com a Sabedoria (prudência
e serenidade).
Age com Jesus (bondade e
serviço).
Disciplina-se com Paulo
(constância e verdade).
Permanece com João (oração e
comunhão).
Oração
Final para Encerrar o Dia
“Senhor
Jesus, Sabedoria do Pai,
ensina-me
a amar com o coração paciente de Paulo,
com
a simplicidade dos teus Evangelhos,
com
a pureza dos sábios e a luz de João,
para
que cada gesto meu seja reflexo do Teu amor.
Amém.”