BLOG CATÓLICO PARA OS CATÓLICOS.

BLOG CATÓLICO, PARA OS CATÓLICOS.

"Uma vez que, como todos os fiéis, são encarregados por Deus do apostolado em virtude do Batismo e da Confirmação, os leigos têm a OBRIGAÇÃO e o DIREITO, individualmente ou agrupados em associações, de trabalhar para que a mensagem divina da salvação seja conhecida e recebida por todos os homens e por toda a terra; esta obrigação é ainda mais presente se levarmos em conta que é somente através deles que os homens podem ouvir o Evangelho e conhecer a Cristo. Nas comunidades eclesiais, a ação deles é tão necessária que, sem ela, o apostolado dos pastores não pode, o mais das vezes, obter seu pleno efeito" (S.S. o Papa Pio XII, Discurso de 20 de fevereiro de 1946: citado por João Paulo II, CL 9; cfr. Catecismo da Igreja Católica, n. 900).

sábado, 31 de maio de 2025

INVOCAÇÃO E LOUVOR AO ESPÍRITO SANTO.

(Ven. Pe. Manuel Bernardes, Oratoriano)


Vinde, ó Luz verdadeira.

Vinde, eterna Vida.

Vinde, Tesouro que não tem nome.


Vinde, Alegria eficiente,

Sol que não conhece ocaso,

Esperança fiel de todos os que se salvam.


Vinde, ó Virtude poderosa,

que só com o aceno realizais,

utilizais e renovais todas as coisas,

ficando Vós imutável.


Vinde, ó Primeiro Móvel,1

dos universos místicos do nosso espírito.


Vinde, Grinalda florida,

que não sabe murchar-se.


Vinde, Cíngulo de brilhante pedraria,

que vence as estrelas em claridade.


Vinde, Refúgio altíssimo

e seguríssimo.


Vinde, Dedo da Mão direita

da Augusta Majestade do Altíssimo.


Vinde, Semeador de conselhos sábios

e propósitos santos,

que frutificam honra e glória.


Vinde, Eterno Abraço com que o Pai

e o Verbo exprimem entre Si,

o seu Amor infinito.


Vinde, Luz dos Profetas,

Doutrina dos Apóstolos,

Fortaleza dos Mártires,

Testemunha das Virgens,

Selo de todos os Justos,

Coração de toda a Igreja Católica.


Vinde, vinde; porque a minha pobre alma, por misericórdia vossa Vos deseja, Vos invoca e Vos espera.

Graças Vos dou, porque Vós sois o meu alento, a minha vida, o meu gozo, a minha glória e a luz formosa do meu mundo interior.

Graças Vos dou, porque sendo Vós o Espírito de Deus, Vos dignais infundir-Vos em meu espírito, e dentro dos seios de minhas potências, entrando nas Vossas, cultivais os favos de vossa doce consolação.

Graças Vos dou, porque Vós sois o meu Alimento diário, que nunca pode acabar; o meu Maná que a tudo sabe; o Leite racional e sem engano, que brota como fonte do fundo de meu espírito, e enche todas as partes dele de refrigério e suavidade.

Graças Vos dou, porque Vós sois a minha Armadura e a Lâmina de meu gládio, que lançam de si vibrantes esplendores, onde os Demônios ao se aproximarem se queimam, e ao olharem ficam cegos.

Graças Vos dou, porque Vós sois o meu Batismo, significado pelas santas lágrimas, que jorram da montanha viva de minha alma, ferida com a vara prodigiosa de vossa Presença.

Graças Vos dou, porque estando eu, miserabilíssimo pecador e o mais ingrato dos nascidos, morto e já em decomposição sobre as abominações e horrores de minhas maldades, quisestes por compaixão, ressuscitar-me com vosso sopro e renovar-me na vossa semelhança, e separar-me do infeliz número das vítimas, onde se alimenta a Morte que não morre.

Graças Vos dou, porque acendestes no tenebroso caos da minha alma aquela luz que é o selo da Face de Deus, e sugere discernimento para separar o miserável do precioso, o transitório do eterno, a Lei Santa do Senhor das leis tirânicas, as mentiras do mundo e os pecados.

Graças infinitas Vos dou, porque, sendo antes a minha alma pocilga de animais imundos, esconderijo de feras e hospedaria de assaltantes infernais, Vós a convertestes e consagrastes com vossa Unção mística em Templo do Altíssimo, onde existe sacrifício matutino e vespertino de Seus louvores, e o incenso da Oração evapora e recende nos altares de Sua Presença, que edificou vossa graça liberal e clementíssima.

Ó Espírito Santíssimo, Terceira Pessoa daquele Deus incriado, que é de todas as Essências, Princípio sem princípio!

Ó fidelíssimo Amigo e dulcíssimo Hóspede das almas, que lavou o Sangue do Cordeiro de Deus! Agora, Senhor, eu estou aqui sozinho conVosco, e estando somente conVosco, estou com todo o Bem.

Rogo-Vos com aqueles gemidos inexplicáveis, que Vós mesmo me inspirais, não desampareis a minha morada. Ficai comigo sempre, porque já vem caindo a tarde da minha vida mortal.2

Não Vos ausenteis minha Pombinha prateada; não Vos ausenteis das cavernas de minha parede e dos seios de minhas potências: Fica conosco, Senhor: Não Vos ausenteis, porque eu Vos porei incenso que Vos delicie, dando-me Vós, incenso que Vos ofereça.

Senhor, dai-me um coração humilde, bondoso, pacífico, conformado; um coração desapegado de tudo o que não é Deus, e unido conVosco inteiramente. Ensinai-me a verdade, ensinai-me a aprender o vosso ensinamento; convertei-me a Vós, sempre mais e mais, para a maior glória vossa; Vós, que com o Pai e o Filho, viveis e reinais pelos séculos dos séculos. Amém.


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1  Causa.

2  Luc. 24, 29.


sexta-feira, 30 de maio de 2025

Ó ESPÍRITO SANTO.


Santa Faustina



Ó Espírito Divino, Espírito de amor e misericórdia,

fazei morada em minha alma continuamente pela graça de Deus,

que a Vossa inspiração dissipe as minhas trevas,

e nessa luz multipliquem-se as boas obras.


Ó Espírito Divino, Espírito de amor e misericórdia,

que derramas em meu coração o bálsamo da confiança,

Vossa graça confirma a minha alma no bem,

dando-lhe a força invencível da perseverança.


Ó Espírito Divino, Espírito de paz e de alegria,

que fortificas o meu coração sedento,

e derramas nele a fonte viva do Amor Divino,

e o tornas intrépido para a luta.


Ó Espírito Divino, amado Hóspede da minha alma,

desejo da minha parte ser-Te fiel,

tanto nos dias de alegria, como no suplício dos sofrimentos,

desejo sempre viver em Vossa presença, ó Espírito Divino.


Ó Espírito Divino, que penetras em todo o meu ser,

e me dás a conhecer Vossa Vida Divina e Trina,

e me iniciais em Vossa Essência Divina,

e assim, unido convosco, viverei a vida eterna.


Amém!


quinta-feira, 29 de maio de 2025

COMO DEVEMOS ESPERAR, A SEGUNDA VINDA DO ESPÍRITO SANTO.


Viver despojado das preocupações temporais, sem pensar em outra coisa que não seja as coisas celestiais, e em unir-se com o Céu e a terra, e descer com todas as almas boas. Uni-vos com a Rainha dos Anjos, dos Arcanjos, dos Tronos, das Dominações e dos Espíritos Bem-aventurados, como se fosse uma criança. Não penseis mais, nem nos parentes, nem nas pessoas; não penseis em nada; que seja, como se nesta terra não houvesse nada.

Assim estareis esperando a vinda do Espírito, que vos inflamará e vos comunicará o que ardentemente desejais”.1


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1  Beata Anna Maria Taigi.


segunda-feira, 26 de maio de 2025

DO NÚMERO DOS PECADOS A SEREM PERDOADOS POR DEUS.


Quia non profertur cito contra malos sententia,

ideo filii hominum perpetrant mala.


Porquanto o não ser proferida sentença logo

contra os maus, é causa de os filhos dos homens

cometerem crimes sem temor algum”.1



PONTO I

Se Deus castigasse imediatamente a quem O ofende, não Se veria, sem dúvida, tão ultrajado como O é atualmente. Mas, porque o Senhor não tem por hábito castigar logo, senão que espera benignamente, os pecadores cobram ânimo para ofendê-Lo. É preciso, porém, considerar que Deus espera e é pacientíssimo, mas não para sempre. É opinião de muitos Santos Padres (de São Basílio, São Jerônimo, Santo Ambrósio, São Cirilo de Alexandria, São João Crisóstomo, Santo Agostinho e outros) que Deus, assim como determinou para cada homem o número dos dias de vida, e dotes de saúde e de talento que lhe quer outorgar2, assim, também, contou e fixou o número de pecados que lhe quer perdoar. E, completo esse número, já não perdoa mais, diz Santo Agostinho3, Eusébio de Cesaréia4 e os outros Padres acima citados afirmam o mesmo. E não falaram estes Padres sem fundamento, mas baseados na Sagrada Escritura. Diz o Senhor, em certo lugar do texto, que adiava a ruína dos amorreus porque ainda não estava completo o número de suas culpas5. Em outra parte diz: “Não terei no futuro misericórdia de Israel6. Já por dez vezes me provocaram. Não verão a terra”7. E no livro de Jó se lê: “Tendes selado, como num saco, as minhas culpas”8. Os pecadores não tomam conta dos seus delitos, mas Deus enumera-os bem, a fim de os decifrar quando a seara estiver madura, isto é, quando estiver completo o número de pecados9. Em outra passagem lemos: “Não estejas sem temor da ofensa que te foi perdoada, e não amontoes pecado sobre pecado”10. Ou seja: é preciso, pecador, que tremas ainda dos pecados que já te perdoei; porque, se lhes acrescentares outro poderá ser que este novo pecado com aquele complete o número e então não haverá misericórdia para ti. Ainda mais claramente, em outra passagem, diz a Escritura: “O Senhor espera com paciência (as nações) para castigá-las quando se completar a conta dos pecados, e então virá o dia do juízo”11. De sorte que Deus espera o dia em que se completa a medida dos pecados, e depois castiga.

A Escritura oferece-nos muitos exemplos de tais castigos, especialmente o de Saul, que, por ter reincidido na desobediência ao Senhor, foi abandonado por Deus de tal modo, que, ao rogar a Samuel que por ele intercedesse, lhe disse: “Rogo-te que tomes sobre ti o meu pecado e venhas comigo para adorar ao Senhor”12. Ao que Samuel respondeu: “Não irei contigo, porque desprezaste a palavra do Senhor, e o Senhor te repeliu”13. Temos também o exemplo do rei Baltasar que, achando-se num festim a profanar os vasos do templo, viu mão misteriosa a escrever na parede: Mane, Thecel, Phares.

Veio o profeta Daniel e explicou assim as palavras: “Foste pesado na balança e achado demasiadamente leve”14, dando-lhe a entender que o peso de seus pecados havia inclinado até ao castigo a balança da Justiça Divina. E, com efeito, Baltasar foi morto naquela mesma noite15. Quantos não há a quem sucede a mesma desgraça! Vivem longos anos em pecado; mas, quando se completa o número que lhes foi fixado, a morte os arrebata e são precipitados no Inferno16. Quantos procuram investigar o número das estrelas que existem, saber a quantidade dos Anjos no Céu, e computar os anos de vida dos homens; mas quem se atreve a indagar do número de pecados que Deus quer perdoar-lhes…? Tenhamos, pois, salutar temor. Quem sabe, meu irmão, se, depois do primeiro deleite ilícito, ou do primeiro mau pensamento em que consintas, ou do próximo pecado em que incorras, Deus ainda te perdoará?



Afetos e Súplicas

Meu Deus, dou-Vos fervorosas graças! Quantas almas, menos culpadas que eu, estão agora no Inferno, enquanto eu vivo ainda fora daquele cárcere eterno, e com esperança de alcançar, se o quiser, perdão e glória!… Sim, meu Deus, desejo ser perdoado. Arrependo-me de todo o coração de Vos ter ofendido, porque injuriei a vossa Bondade infinita. Eterno Pai, contemplai vosso divino Filho morto na Cruz por mim17, e, em consideração de seus merecimentos tende misericórdia de minha alma. Proponho antes morrer do que tornar a ofender-Vos. Sem dúvida, devo temer que, em vista dos pecados que cometi e das graças que me concedestes, uma nova culpa venha completar a medida e eu seja justamente condenado… Ajudai-me, pois, com vossa graça, que de Vós espero luz e graça para Vos ser fiel. Se previrdes que tornarei a ofender-Vos, dai-me a morte antes que perca a vossa graça. Amo-Vos, meu Deus, sobre todas as coisas, e mais do que a morte receio a desgraça de afastar-me de Vós outra vez. Por piedade, não o permitais… Maria, minha Mãe, alcançai-me a santa perseverança. Amém.



PONTO II

Dirá talvez o pecador que Deus, é Deus de misericórdia… Quem o nega?… A misericórdia do Senhor é infinita; mas, apesar dela, quantas almas se condenam todos os dias? Deus cura os que têm boa vontade18. Perdoa o pecado, mas não pode perdoar a vontade de pecar… Replicará o pecador que, ainda é muito jovem… És moço?… Deus não conta os anos, conta as culpas. Ora, a medida dos pecados não é igual para todos. A um perdoa Deus 100 pecados; a outro, 1000; outro, ao segundo pecado, se verá precipitado no Inferno. A quantos condenou após o primeiro pecado! Refere São Gregório que, um menino de cinco anos, por ter proferido uma blasfêmia, foi lançado no Inferno. Segundo revelou a Santíssima Virgem à Bem-aventurada Benedita de Florença, uma menina de 12 anos fora condenada por seu primeiro pecado. Outro menino, de oito anos de idade, também morreu com o primeiro pecado e se condenou. Lemos no Evangelho de São Mateus que, o Senhor, a primeira vez em que achou a figueira sem fruto a amaldiçoou, e a árvore secou19. Em outro lugar, diz o Senhor: “Depois das maldades que o povo de Damasco cometeu três e quatro vezes, eu não mudarei o meu decreto” (não revogarei os castigos que lhe tenho decretado)20. Algum temerário talvez ouse perguntar, por que Deus perdoa a tal pecador três culpas e não quatro? Neste ponto é preciso adorar os inefáveis juízos de Deus e exclamar com o Apóstolo: “Ó profundidade das riquezas da sabedoria e ciência de Deus! Quão incompreensíveis são seus juízos e imperscrutáveis seus caminhos”21. O Senhor sabe, diz Santo Agostinho, a quem há de perdoar e a quem não. Àqueles a quem se concede misericórdia, gratuitamente se concede a mesma, e àqueles a quem se lha nega, com justiça lhes é negada”22.

Replicará a alma obstinada que, tendo ofendido tantas vezes a Deus, e Deus lhe tendo perdoado, espera que Ele ainda lhe perdoará um novo pecado… Mas porque Deus não o tem castigado até esta hora, segue-se que sempre há de proceder assim? Encher-se-á a medida e o castigo virá. Sem interromper as relações com Dalila, esperava Sansão salvar-se das mãos dos filisteus, como antes tinha feito23; mas nesta última vez foi preso e perdeu a vida. – “Não digas – exclama o Senhor – pequei, e qual a adversidade que me sobreveio?24 Porque o Altíssimo, ainda que nos tolere, dá-nos o que merecemos25, isto é: chegará o dia em que tudo lhe pagaremos, e quanto maior tiver sido a misericórdia, tanto maior será a pena. Afiança-nos São João Crisóstomo que, há mais para recear quando Deus tolera um pecador obstinado, do que quando lhe aplica o castigo sem detença26. Com efeito, observa São Gregório, todos aqueles a quem Deus espera com mais paciência, são depois, se perseverarem na sua ingratidão, castigados com mais rigor27; e muitas vezes acontece, acrescenta o mesmo Santo, que os que foram por mais tempo tolerados por Deus, morrem de improviso sem ter tempo de se converter28. Especialmente, quanto maiores tenham sido as luzes que Deus te haja dado, tanto maiores serão tua cegueira e obstinação no pecado, se a tempo não fizeres penitência. “Era-lhes melhor – diz São Pedro – não ter conhecido o caminho da justiça, que depois do conhecimento voltar-lhe as costas”29. São Paulo diz que, é (moralmente) impossível que uma alma ilustrada por luzes celestes, quando reincidir no pecado, se converta de novo30.

Terríveis são as palavras do Senhor contra aqueles que não querem atender a seu convite: “Já que vos chamei e dissestes: não… eu também me rirei na hora da vossa morte e vos escarnecerei”31. Note-se que as palavras eu também significam que, assim como o pecador zombou de Deus, confessando-se, fazendo propósitos e não os cumprindo nunca, assim o Senhor zombará dele na hora da morte.

O Sábio diz além disso: “Como cão que volta ao que vomitou, assim é o imprudente que recai na sua loucura”32. Dionísio, o Cartuxo, desenvolve este pensamento e diz que tão abominável e asqueroso como o cão que devora o que tinha vomitado, se faz odioso a Deus o pecador que volta a cometer os pecados de que se arrependeu no Sacramento da Penitência33.



Afetos e Súplicas

Eis-me aqui, Senhor, a vossos pés. Sou como o cão repugnante e asqueroso, que tantas vezes voltei a deleitar-me com o que antes tinha detestado. Não mereço perdão, meu Redentor. O precioso Sangue, porém, que por mim derramastes, me alenta e me obriga a esperar… Quantas vezes Vos ofendi e Vós me perdoastes! Prometi não tornar a ofender-Vos e daí a pouco de novo recaí, e Vós outra vez me concedestes perdão! Que devo esperar, pois? Que me envieis ao Inferno ou que me abandoneis aos meus pecados, castigo maior que o próprio Inferno? Não, meu Deus; quero emendar-me, e, para Vos ser fiel, ponho em Vós toda a minha confiança e prometo recorrer sempre a Vós quando me vir assediado de tentações. No passado fiei-me em minhas promessas e resoluções, esquecendo de me encomendar a Vós nas tentações. Daí proveio a minha ruína. Mas, de hoje em diante, sereis Vós minha esperança, minha fortaleza e assim tudo me será possível34. Dai-me, pois, meu Jesus, por vossos méritos, a graça de me encomendar sempre a Vós, e de pedir vosso auxílio em todas as minhas necessidades. Amo-Vos, Sumo Bem, digno de ser amado sobre todos os bens e só a Vós amarei se me ajudais para isso. Vós também, ó Maria, Mãe nossa, auxiliai-me por vossa intercessão; abrigai-me debaixo de vosso manto; fazei que Vos invoque sempre na tentação, e vosso Nome dulcíssimo será a minha defesa. Amém.



PONTO III

Filho, pecaste? Não tornes a pecar; mas roga pelas culpas antigas, a fim de que te sejam perdoadas”35.Assim te adverte, ó Cristão, Nosso Senhor, porque, deseja salvar-te. “Não Me ofendas, filho, novamente, mas pede perdão dos pecados cometidos”. Quanto mais tiveres ofendido a Deus, meu irmão, tanto mais deves temer a reincidência em ofendê-Lo; porque talvez mais um pecado que cometeres fará pender a balança da justiça divina, e serás condenado. Falando absolutamente, não quero dizer, porque não sei, que não haja perdão se cometeres novo pecado; afirmo, porém, que isto pode acontecer. Por conseguinte, quando te assaltar a tentação, deves considerar: quem sabe se Deus me perdoará outra vez ou ficarei condenado? Dize-me, por favor: Provarias uma comida, que supusesses estar provavelmente envenenada? Se presumisses fundamente que em determinado caminho estavam teus inimigos à espreita para te matar, passarias por ali, podendo tomar outra via mais segura? Do mesmo modo, que certeza ou que probabilidade podes ter de que, tornando a pecar, sentirás logo verdadeira contrição e não voltarás à culpa detestável? Ou ainda, se novamente pecares, não te fará deus morrer no próprio ato do pecado, ou te abandonará depois da queda?

Ao comprar uma casa, tomas prudentemente as necessárias precauções para não perderes teu dinheiro. Se vais usar algum remédio, procurarás certificar-te que não te possa fazer mal. Ao atravessar um rio, evitas o perigo de cair nele. E, por um vil prazer, por um deleite brutal arriscas tua salvação eterna, dizendo: “Eu me confessarei”. Mas, pergunto eu: Quando te confessarás? – No Domingo. – E quem te afiança esse dia de amanhã, quando não sabes sequer se tens ainda uma boa hora de vida? “Tendes um dia – diz Santo Agostinho – quando não tendes certeza de uma hora?” Deus – prossegue o mesmo Santo – promete o perdão ao que se arrepende, não promete o dia de amanhã a quem O ofende: Se agora pecares, Deus, talvez, te dará tempo de fazer penitência, ou talvez não. E se não to der, que será de ti eternamente? E, não obstante, queres perder tua alma por um mísero prazer e a expões ao perigo da perdição eterna. Arriscarás mil ducados por essa vil satisfação? Digo mais: darias tudo, fazenda, casa, poder, liberdade e vida, por esse gosto ilícito? Não, sem dúvida. E, contudo, por esse mesmo indigno prazer, queres perder tudo: Deus, a alma e o Céu. Dize-me, pois: as coisas que ensina a fé são verdades altíssimas, ou não passam de puras fábulas que haja Céu, Inferno e eternidade? Crês que se a morte te surpreender em pecado estarás perdido para sempre?… Que temeridade, que loucura, condenares a ti mesmo às penas eternas com a vã esperança de remediá-lo mais tarde? “Ninguém quer enfermar com a esperança de curar-se” – diz Santo Agostinho. Não teríamos por louco a quem bebesse veneno dizendo: depois, por meio de um remédio, me salvarei? E tu queres a condenação à morte eterna, fiado em que talvez mais tarde possas livrar-te dela?… Loucura terrível, que tantas almas tem levado e leva ao Inferno, segundo a ameaça do Senhor! “Pecaste confiando temerariamente na misericórdia divina; mas o castigo virá de improviso sobre ti, sem que saibas donde vem”36.



AFETOS SÚPLICAS

Aqui tendes, Senhor, um desses insensatos, que tantas vezes perdeu a sua alma e a vossa graça, esperando recuperá-la depois. Ai de mim, se me tivésseis enviado a morte no instante em que pequei! Que seria de mim?… Agradeço de todo o coração à vossa clemência o ter-me esperado, dando-me a conhecer meu desvairamento. Reconheço que desejais salvar-me, e eu quero me salvar. Dói-me, Bondade infinita, de me ter afastado de Vós tantas vezes. Amo-Vos com todo o fervor de meu coração, e espero, ó Jesus, que, pelos merecimentos de vosso precioso Sangue, não recairei em tal demência. Perdoai-me, Senhor, acolhei-me em vossa graça, que jamais quero separar-me de Vós. In te, Domine, speravi non confundar in aeternum. Espero, ó meu Redentor, não ter de sofrer a desdita e confusão de ver-me privado outra vez de vosso amor e de vossa graça. Concedei-me a santa perseverança, e fazei que sempre vo-la peça, particularmente nas tentações, invocando vosso Santo Nome e o de vossa Mãe Santíssima: “Meu Jesus, socorrei-me!… Maria, nossa Mãe, amparai-me!…” Sim, Rainha e Senhora minha, enquanto recorrer a Vós, não serei vencido. E se persistir a tentação, fazei, ó minha Mãe, que persista em invocar-Vos. Amém.


________________________________________

Fonte: Santo Afonso Maria de Ligório, Preparação para a Morte, ou, Considerações sobre as Verdades Eternas, Consideração XVIII, Pontos I-II-III, pp. 135-143. IV Edição. Editora Vozes Limitada. Petrópolis/RJ. 1956.

1  Eclesiastes 8, 11.

2  Sab. 11, 21.

3  De vita christiana, c. III.

4  Lib. VII, c. III.

5  Gên. 15, 16.

6  Os. 1, 6.

7  Núm. 14, 22-23.

8  Jó 14, 17.

9Joel 3, 13.

10  Eclesiástico 5, 5.

11  II Mac. 6, 14.

12  1 Rs. 15, 25.

13  1 Rs. 15, 26.

14  Dan. 5, 27.

15  Dan. 5, 30.

16  Jó 21, 13.

17  Salm. 83, 10.

18  Is. 61, 1.

19  Mat. 21, 19.

20  Am. 1, 3.

21  Rom. 11, 33.

22  Liber de correptione, c. V.

23  Jz. 16, 20.

24  Eclesiástico 5, 4.

25  Eclesiástico 5, 4.

26  Plus timendum est cum tolerat, quam cum festinanter punit.

27  Quos dilutius exspectat, durius damnat.

28  Saepe qui diu tolerati sunt, subita morte rapientur ut nec fleant mortem liceat.

29  II Ped. 2, 21.

30  Heb. 6, 4.6.

31  Prov. 1, 24-26.

32  Prov. 26, 11.

33  Sicut id quod per vomitum est rejectum, resumere est valde abomonabile ac turpe, sic peccata deleta reiterare.

34  Filip. 4, 13.

35  Eclesiástico 21, 1.

36  Is. 47, 10-11.


sábado, 10 de maio de 2025

A VEROSSIMILHANÇA ENTRE A PRIMEIRA E A ÚLTIMA HERESIA.


Estas heresias dos tempos Apostólicos reveladas e combatidas nas “Epístolas de São João, São Paulo e São Pedro, dão conta de diversos erros e heresias. Deixando de parte o erro do particularismo judaico, resolvido no Concílio de Jerusalém, o caráter típico dos primeiros erros e heresias foi uma certa liberdade exagerada, que acabava por derivar em excessos da carne. Os Nicolaítas são o tipo característico destas aberrações”.1 Vejamos:

Escreve2 ao Anjo da Igreja de Éfeso: Isto diz Aquele que tem as sete estrelas na sua direita, e anda no meio dos sete candelabros de ouro: ...Isto, porém, tens (de bom), que aborreces (odeias) as ações dos Nicolaítas, que Eu também aborreço (odeio)(Sed hoc habes, quia odisti facta Nicolaitarum, quae et ego odi)3.4

A primeira heresia, atribuída a Nicolau, um dos sete primeiros Diáconos, estava muito estendida, pois a veremos logo repetida em Pérgamo e Tiatira.

Assim tens tu também sequazes da doutrina dos Nicolaítas. Faze igualmente penitência…”.5

Porém, tenho alguma coisa contra ti, porque permites a Jezabel6, que se diz profetisa, ensinar e seduzir os meus servos, para fornicarem e comerem das coisas sacrificadas aos ídolos…”.7

A primeira heresia, pelo que sabemos dela, se parece à última heresia; quero dizer, à dos nossos tempos, e se pode dizer que, transcorre transversalmente toda a história da Igreja e, é como o fundo de todas as heresias históricas. Era uma espécie de gnosticismo dogmático e laxismo moral, um sincretismo, como dizem hoje os teohistoriógrafos. Era uma falsificação dos dogmas cristãos, adaptando-os aos mitos pagãos, sem tocar sua forma externa, por um lado; e concordantemente, uma promiscuidade com os costumes relaxados dos gentios; nominalmente, na luxúria e na idolatria, como lhes critica mais abaixo o Apóstolo. Comiam das carnes sacrificadas aos deuses, nos banquetes e rituais que celebravam os diversos grêmios, o qual era uma espécie de ato religioso idolátrico, ou seja, de comunhão; e se entregavam facilmente à fornicação, que entre os pagãos não era falta maior nem vício algum; inclusive, segundo parece, depois e como apêndice dos ditos banquetes religiosos.

De Nicolau narra Alberto Magno, que pôs a sua mulher à disposição de todos e, o imitaram os seus sequazes, e se fez rito…8


________________________________

1  Bernardino Llorca, Manual de História Eclesiástica, Vol. I, Período I, Cap. IV, pp. 67-69. Edições ASA. Porto/Portugal. 1960.

2  BÍBLIA SAGRADA, traduzida da Vulgata e anotada pelo Pe. Matos Soares. Edições Paulinas. 13ª edição. 1961.

3  BIBLIA SACRA Juxta Vulgatam Clementinam, Typis Societatis S. Joannis Evang. Desclée et Socii Edit. Ponti. ROMAE – TORNACI – PARISIIS. 1927.

4  Apoc. 2, 6.

5  Apoc. 2, 15-16.

6  Pseudo-profetisa da seita dos Nicolaítas.

7  Apoc. 2, 20.

8  Padre Leonardo Castellani, S.J., O Apocalipse de São João, Primeira Visão, pp. 74-85. Coleção O Fim dos Tempos. Editora Instituto Santo Atanásio. Curitiba/PR. 2021.


segunda-feira, 5 de maio de 2025

APELO AOS FIÉIS DA SANTA MADRE IGREJA CATÓLICA ROMANA.


Ai daquelas mulheres que cosem almofadinhas para todos os cotovelos, e que fazem travesseiros para as cabeças de pessoas de todas as idades, a fim de lhes apanharem as almas! E quando elas surpreenderam as almas do meu povo, prometem-lhe a vida… Vereis o que farei dos travesseiros de que vos servis para enganar as almas santas… Rasgarei os travesseiros e libertarei meu povo de vossas mãos e sabereis que Eu sou o Senhor” (Ezeq. XIII, 17-23).

Nossas aflições são bem conhecidas por vós, e não há necessidade de repetir; a revolta já se estende a toda a Cristandade. Os ensinamentos dos Padres são desprezados; as Tradições Apostólicas, consideradas nulas; as descobertas inovadoras, muito discutidas nas igrejas… a sabedoria do mundo passou a ocupar o lugar de honra, suplantando a glorificação da Cruz” (“Esquisses patristique” de Newman. Edit. Desclées de Brower, pp. 99-100).


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