“… Temendo os Superiores que segunda vez lhe roubassem aquele tesouro, enviaram-no para Roma, donde o Geral da Ordem o fez partir para Paris, e dali para Colônia, onde estava então ensinando teologia Alberto Magno, o mais famoso doutor que naquele tempo tinha a Ordem dos Pregadores.
Sob a direção de tal mestre, fez Tomás assombrosos progressos; porém, tão ocultos no véu da modéstia, que os seus condiscípulos chamavam-lhe o boi mudo. Mas, por maior cuidado que tivesse de confirmar pelo silêncio a opinião menos vantajosa que corria da sua capacidade, a penetração do seu espírito transluzia através da profunda humildade, e aquele pretenso boi mudo, tornou-se dentro de pouco tempo o oráculo de todo o universo e o Anjo das Escolas…
A facilidade que tinha em aclarar e resolver as dificuldades mais obscuras, comprovam o que o Papa João XXII diz na Bula da sua canonização: Que a sua doutrina teve mais de infusa que de adquirida…
Posto que houvesse recebido por especial privilégio o dom da pureza, nada poupou que pudesse servir à conservação de tão delicada virtude. Nunca fitou o rosto de mulher alguma, e toda a vida evitou escrupulosamente todas as conversações que pode escusar com este sexo…
A ternura de Santo Tomás para com a Santíssima Virgem constituiu desde o berço parte do seu caráter. Muitas vezes lhe apareceu esta Soberana Rainha durante a vida; e poucos dias antes de morrer assegurou-lhe que ele nada tinha pedido ao Filho por intercessão da Mãe, que não tivesse conseguido.
Seria interminável a relação das virtudes e das maravilhas deste grande gênio. Nunca deixava de pregar a Palavra de Deus; e estando a exercer este Ministério pela Oitava da Páscoa na Basílica de São Pedro, curou de um fluxo de sangue uma mulher, que tocou a fímbria das suas vestes.
A sua vida foi uma perpétua cadeia de milagres, o mais visível dos quais, como notaram os próprios Sumos Pontífices, é que um só homem em menos de vinte anos pudesse ensinar com inaudito aplauso em quase todas as universidades mais célebres da Europa; combater e dissipar com os seus escritos os maiores inimigos da Igreja; converter com os seus sermões grande número de pecadores e de hereges; compor aquela prodigiosa multidão de sapientíssimas obras, que podem chamar-se o Tesouro da Religião; explicar com tanta precisão e com tanta solidez os Mistérios mais obscuros da teologia; ensinar com tanta unção e nitidez as verdades da moral; expor com tanta clareza nos seus sábios comentários os livros da Sagrada Escritura; satisfazer tão plenamente a quantas dúvidas que incessantemente e de todas as partes lhe propunham como a oráculo; e apesar disto, dar todos os dias muitas horas à oração; não se dispensar quase nunca dos mais ordinários exercícios da comunidade; macerar a sua carne com austeríssima penitência, sem embargo de ter uma saúde débil. Tal foi a vida de Santo Tomás de Aquino.
Mas não se deve admirar, diz Santo Antonino, falando do nosso grande Santo, que um homem que nunca perdia a Deus de vista e tinha frequente conversação com as celestiais inteligências; que um homem, a quem tantas vezes se viu arrebatado em êxtases maravilhosos, durando alguns por espaço de três dias inteiros; um homem a quem os Apóstolos São Pedro e São Paulo ditavam a exposição de suas Epístolas; não se deve admirar, que um homem assim possuísse uma ciência tão profunda e operasse tantas maravilhas em favor da Religião…”.1
Doctor communis Ecclesiae
O Papa Pio XI “como seus antecessores, é a Santo Tomás que recorre para dirigir a especulação teológica e filosófica. Com ênfase não comum, Pio XI, em Alocuções e, principalmente, na Encíclica Studiorum Ducem,2 valoriza a doutrina de Santo Tomás e o proclama Doutor Universal da Igreja. Lê-se nesta Encíclica: A sua doutrina3 acerca da ciência metafísica, não obstante ter sido frequentemente impugnada por uma crítica contumaz e injusta, retém integralmente toda sua força e esplendor, como o ouro, que por ácido algum pode ser dissolvido. Bem dizia o nosso Predecessor Pio X: Não se pode abandonar S. Tomás nas questões metafísicas, principalmente, sem grave detrimento4”.5
“… o Cardeal Gaetano não hesitou em escrever – e o texto é citado na Encíclica:6 “Santo Tomás, porque teve em suma reverência os Doutores Sagrados, herdou, em certo sentido, o pensamento de todos eles... As obras do Angélico, escreve ainda Leão XIII, contém a doutrina mais conforme ao Magistério da Igreja”.7
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1. Pe. Croiset, “Ano Cristão – ou Devocionário para Todos os Dias do Ano”, Vol. III – 7 de Março, pp. 88-84. Traduzido do Francês, revisto e adaptado às últimas reformas litúrgicas pelo Pe. Matos Soares, Professor do Seminário do Porto, A. Campos – Livraria Católica, São Paulo, 1923.
2. 29/5/1923.
3. De S. Tomás.
4. Cfr. Santiago Ramirez, “Introduction a Tomás de Aquino”, Madrid, BAC, 1957.
5. D. Odilão Moura, O.S.B., “Ideias Católicas no Brasil – Direção do Pensamento Católico do Brasil no Século XX”, Cap. III, pp. 92-93. Ed. Convívio, São Paulo, 1978.
6. Leão XIII, Carta Encíclica “Aeterni Patris”, de 4/8/1879.
7. S. Tomás de Aquino, Exposição Sobre o Credo, Apresentação, pp. 9-10. 4ª Edição, Tradução de D. Odilão Moura, O.S.B., Edições Loyola, São Paulo, 1997.
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