O MANUSCRITO DO PURGATÓRIO1
Introdução
Ninguém pode logo, à priori, recusar a possibilidade das aparições das almas do purgatório aos vivos na terra. Estas espécies de aparições não são raras e não faltam na vida dos Santos. Há fatos documentados e muito bem provados, com o testemunho de teólogos. Basta-nos citar estes: o Cônego Ribet, na sua “Mystique Divine”, T. II, cap. VIII. Deus permite estas aparições para consolo dos vivos e para excitar a compaixão, instruir e despertar a ideia da severidade dos juízos de Deus, contra faltas que julgamos muito leves. Uma coleção de diversas aparições publicadas pelo bispo de Osma na Espanha, Mons. Palafox, trás este título: “Luz aos vivos pela experiência dos mortos”. Não se poderia justificar melhor a razão providencial das manifestações das almas sofredoras, que se dirigem aos vivos para implorarem sua piedade e intercessão.
A autenticidade do “Manuscrito do Purgatório”
A autenticidade do “Manuscrito do Purgatório” não pode ser posta em dúvida. Teve testemunhas certas de pleno acordo e os fatos foram bem examinados. Uma religiosa do convento de V., Irmã M.d.I.C., falecida em 2 de maio de 1917, ouviu junto dela de repente, em novembro de 1873, uns gemidos muito prolongados. Assustada, exclamou: “Quem é que me faz assim tanto medo? Que não apareça, mas me diga quem é!” Nenhuma resposta. E os gemidos se aproximavam cada vez mais. A pobre Irmã multiplicava orações, Vias Sacras, Comunhões, Rosários, e os gemidos não cessavam, e cada vez mais misteriosos. Finalmente, no dia 15 de fevereiro de 1874, uma voz muito conhecida se fez ouvir: “Tão tenhais medo! Eu sou a Irmã M.G.” (uma religiosa falecida em X, com 36 anos e idade, no dia 22 de fevereiro de 1871, vitima da sua dedicação). E a alma que sofria deu a conhecer à sua antiga companheira cujos conselhos havia desprezado outrora, que ela havia de multiplicar as visitas para santificá-la, e que, assim santificada, havia de aliviar a antiga companheira no Purgatório.
A Irmã M.d.I.C pediu à visitante que desaparecesse e não voltasse mais. Foi porém em vão. Foi-lhe respondido que deveria suportar, quanto tempo Deus quisesse, aquilo de que tinha tanto medo.
E foi assim que, durante vários anos, se estabeleceram entre a alma de Irmã M.G. e Irmã M.d.I.C. relações que foram escritas em precioso manuscrito, minuciosamente, de 1874 a 1890. Eis a origem do “Manuscrito do Purgatório”.
Valor deste Manuscrito
Este valor se deduz: 1º. – Da pessoa da própria Irmã M.d.I.C. Todos que a conheceram sem uma nota discordante, atestam que ela nunca deixou de praticar todas as virtudes cristãs até ao heroísmo, muitas vezes. Era ótima religiosa. Como diretora de um pensionato, exerceu ela uma grande influência sobrenatural sobre as alunas, e todas a chamavam de verdadeira Santa.
Todas as testemunhas atestam unanimemente que era dotada de um juízo muito reto, era muito equilibrada e de muito bom senso. Além do mais, nunca desejou vias extraordinárias, e, ao contrário, procurou se convencer de que era duvidoso o que era obrigada a ouvir, e alegava ser coisa diabólica, declarando que não queria sair da via comum, desejava ser como toda gente e passar desapercebida. Enfim, com isto ela aproveitou muito na vida espiritual e todos testemunham quanto se santificou com estas visitas ao purgatório.
2º. – Testemunhos de autoridades. Em primeiro lugar declaramos que a Irmã M.d.I.C. tinha um diretor espiritual, o R. P. Prevel, dos Padres de Pontigny, e que mais tarde foi Superior Geral da Congregação. Este sacerdote esteve a par de todos os acontecimentos.
O R. Cônego Dobosq, ex-Superior do seminário Maior de Bayeux e autor de várias obras, e promotor da fé no processo de canonização de Santa Teresa do Menino Jesus.
O R. Cônego Gontier, censor oficial dos livros da Diocese de Bayeux e autor de muitas obras, entre elas a “Explication du Pontifical”, “Reglement de la vie sacerdotal”, etc. Um grande mestre da espiritualidade, cujo nome é mister fique no anonimato e que mereceu este elogio de Pio X: “Homem esclarecido pela sua ciência e experiência”.
Depois de maduro exame, estes mestres não hesitaram em declarar que o manuscrito nada continha contra os ensinamentos da fé e estava de perfeito acordo com os princípios da vida espiritual, e podia edificar muito as almas.
Além disso, notaram que a Irmã M.d.I.C. não possuía imaginação viva e perigosa para se iludir facilmente. Ela considerava estas aparições um verdadeiro castigo, e nelas não se comprazia; pedia a Nosso Senhor que a libertasse destas visitas que a importunavam.
Todos se impressionam bem: 1º – a grande lição de caridade cristã que contém. A Irmã falecida (em vida) tinha feito sofrer muito à Irmã M.d.I.C. e a ela justamente veio pedir socorro depois da morte, para se livrar do Purgatório. 2º – Quanto mais vivas eram as luzes adquiridas pela Irmã M.d.I.C., tanto mais se purificava a Irmã falecida e, por sua vez, progredia na santificação a Irmã M.d.I.C.
Finalmente, os teólogos que foram consultados deram o seu parecer de que o Manuscrito tinha o selo de uma perfeita autenticidade e, por conseguinte, tinha pleno valor, quer quanto à autenticidade, quer quanto à origem.
TEXTO DO MANUSCRITO
(O que a alma de Irmã M.G. dizia à Irmã M.d.I.C.)
“Madre Superiora está no Céu desde que morreu, porque sofreu muito e era muito caridosa.
Se fôsseis perfeitas como Deus o quer, quantas graças Ele não vos concederia!
Deus quer que sejais mais santa do que as outras.
O Padre L. está no Purgatório, porque ele gostava muito de pregar retiros e pregar por toda parte.
– E isto é falta?!
Sim, é verdade, mas ele se descuidava da Paróquia.
Deus aceitará o que fizerdes por todas as almas do Purgatório como se o fizesses por uma só.
A Via Sacra é a melhor oração depois da Santa Missa.
Observem bem o grande silêncio, porque faltam muito a ele.
Não posso dar sinal exterior. Deus não o permite. Sou muito culpada.
Porque eu vos fiz sofrer, Deus quer que rezeis por mim.
Podeis dizer também à Irmã S…, a quem eu aborreci muito, e à Madre Superiora, a quem fiz sofrer tanto, que se ela puder, mande dizer por mim algumas Missas.
Vossos rosários por mim e meditações bem feitas, porque eu não as fazia muito bem.
Vosso Ofício bem rezado, por mim, porque eu não o rezava bem. Vossa modéstia bem grande por toda parte, porque eu tinha sempre os olhos levantados para ver o que não tinha necessidade de ver. Muita elevação e uma grande submissão para com a Madre Superiora a quem eu fiz sofrer tanto… pobre Madre Superiora! (Isto foi repetido dez ou quinze vezes).
Ai! Se soubessem o que eu sofro! Rezai por mim. Sofro por toda parte, e muito.
Ó meu Deus, como sois misericordioso! Ai! Ninguém pode imaginar o que seja o Purgatório! É preciso ser muito boa e ter compaixão das almas!
Há um grande espaço entre o Purgatório e o Céu! Às vezes ouvimos um eco das alegrias que desfrutam os Bem-aventurados no Céu! Todavia, é como que um castigo para nós, porque nos dá um grande desejo de ver a Deus. No Céu há luz pura… no Purgatório, profundas trevas…
Deus vos ama mais do que às outras. Não vos deu já tantas provas disto?
Madre E. está no Céu. Era uma pessoa escondida e muito interior.
Não, eu não sou o Diabo! Sou a Irmã M.G.; eu vos hei de atormentar até que estejais no Céu. Depois, eu rezarei por vós.
Sim, eu posso rezar desde já e eu o farei todos os dias. Haveis de ver se as Almas do Purgatório são ingratas!
As almas muito culpadas não veem a Santíssima Virgem.
Quando se liberta uma alma do Purgatório, é uma grande alegria para Deus. O que se lê nos livros a este respeito é bem verdade.
Eu terei um pouco de alívio no dia de Páscoa.
Se cuidardes bem de mim, Deus vos concederá graças como Ele não deu a ninguém.
Podeis dizer o vosso Saltério por diversas almas a um tempo, mas antes de o recitar tenha o cuidado de dirigir a intenção como se vós o pudésseis rezar por intenção de cada uma delas, e todas hão de aproveitar como se fosse recitado um para cada uma.
Há uma penitência especial no Purgatório para as religiosas que fizeram sofrer as suas Superioras. Para estas o Purgatório é terrível.
1874
(24 de março, 2º Domingo de Páscoa) – Ide muitas vezes quanto vos for possível, amanhã, diante do Santíssimo Sacramento. Como eu vos acompanho, terei de estar perto do bom Deus, e isto me alivia.
(Anunciação) – Estou agora, no segundo Purgatório. Desde minha morte eu estava no primeiro, onde se sofrem dores muito grandes. Sofre-se também muito no segundo, porém, menos que no primeiro.
Sede sempre um apoio da vossa Superiora.
(Maio) — Eu estou no segundo Purgatório desde o dia da Anunciação da Santíssima Virgem. Neste dia, vi pela primeira vez a Santíssima Virgem, porque no primeiro Purgatório a gente não a vê. A visita de Maria nos anima, e depois esta boa Mãe nos fala do Céu. Enquanto a vemos, nossos sofrimentos parecem diminuídos.
Ai! como desejo ver o Céu! Ó que martírio sofremos desde que conhecemos o bom Deus!
O que eu penso… Deus o permite para o vosso bem e para meu alívio. Ouvi bem o que vos vou dizer: Deus tem grandes desígnios, graças para vos conceder. Quer Ele que salveis um grande número de almas. Se por vosso procedimento puserdes obstáculo a isto, um dia haveis de responder por todas as almas que poderíeis ter salvo.
É verdade que não sois digna, mas Deus permitiu isto tudo… Ele é o Senhor e concede as suas graças a quem lhe apraz.
Fazeis muito bem em rezar e mandar rezar para São Miguel. A gente é muito feliz na hora da morte por ter confiança, em alguns Santos, para que sejam nossos protetores junto de Deus naquele terrível momento.
Lembrai às vossas filhas as grandes verdades eternas. É preciso abalar as almas de vez em quando com estas verdades.
Não deveis viver senão para Deus. Procurai em toda parte e sempre a glória de Deus.
Quanto bem não podeis fazer às almas!
Nada deveis fazer que não seja para agradar a Deus. Antes de cada ação, recolher-se um momento e ver se é coisa que agrade a Deus. Tudo pelo vosso Jesus. Ó, amai-O muito!
Sim, eu sofro, mas o meu maior tormento é não ver a Deus. É um martírio contínuo que me faz sofrer mais do que o fogo do Purgatório. Se mais tarde chegardes a amar a Deus como Ele o quer, haveis de sentir um pouco desta fraqueza que faz desejar a união com o objeto do seu amor: o bom Jesus.
Sim, nós vemos algumas vezes a São José, mas não tantas vezes como a Nossa Senhora.
É preciso que fiqueis indiferente para com tudo, exceto para com Deus. Eis como chegareis ao cume da perfeição a que Jesus vos chama.
Madre I. não teve as Missas que mandou dizer por ela. As religiosas não têm o direito de dispor dos seus bens. É contra a pobreza.
Deus nunca recusa as graças que lhe pedem numa oração bem feita.
O Purgatório das religiosas é mais longo e rigoroso que o das pessoas do mundo, porque abusaram mais das graças.
Sim, Deus ama muito a Madre Superiora. Vede que Ele lhe dá uma boa cruz para carregar. Eis a melhor prova do seu amor por ela.
Ninguém pode imaginar o sofrimento que se tem no Purgatório! Ninguém pensa nisto neste mundo. As comunidades religiosas também se esquecem disto. Eis porque Deus quer que aqui se reze, especialmente pelas Almas do Purgatório, e que se inspire esta devoção às alunas, a fim de que elas por sua vez falem dela no mundo.
Não tenhais medo das fadigas. Desde que sejam por Deus, sacrificai tudo por Ele.
Obedecei à vossa Superiora prontamente. Que ela vos faça virar por todas os lados como queira. Sede sempre humilde. Humilhai-vos sempre até o centro da terra, se isto fosse possível.
M. está no Purgatório; está no Purgatório porque ela paralisou o bem que as Superioras poderiam ter feito, por suas palavras astuciosas.
Tomai como prática a presença de Deus e a pureza de intenção.
Deus procura almas devotadas que O amem só por Ele. Há tão poucas! Quer Ele que sejais do número de suas verdadeiras amigas. Pouca gente ama a Deus. Muitos julgam que O amam, mas, na realidade só amam a si próprios. Eis a verdade…
Não, nós não podemos ver a Deus no Purgatório… Então seria já o Céu!
Quando uma alma procura a Deus sinceramente, por amor e verdadeiramente no seu coração, Ele nunca permite que seja ela enganada.
Entregai-vos, sacrificai-vos, imolai-vos por Deus. Nunca podereis fazer demais por Ele.
Pensai bem que só depois que a gente se encheu bem de piedade é que pode difundi-la para os outros.
Não tenhais respeito humano, ainda mesmo para com as Irmãs mais antigas. Dizei sempre alguma coisa quando se tratar de defender a Superiora.
Não, eu não vejo o bom Deus quando Ele está exposto. Sinto Sua presença. Vejo como vós, com os olhos da fé, mas a nossa fé é muito mais viva do que a vossa. Nós sabemos, sim, nós sabemos bem o que é o bom Deus!
Tende sempre Deus convosco. Dizei-lhe tudo como a um amigo e vigiai muito o vosso interior.
Para se preparar bem para a Santa Comunhão é preciso amor antes, durante e depois, durante a ação de graças. Amor, sempre amor.
Deus quer que não penseis senão n’Ele, que não vivais senão para Ele, e não sonheis senão com Ele, não vos volteis senão para Ele.
Mortificai vosso espírito, vossa língua, isto será muito mais agradável a Deus do que as mortificações do corpo, que muitas vezes procedem de nossa própria vontade.
É necessário proceder para com Deus como para com um pai, um amigo cheio de ternura, um esposo querido.
É preciso derramar toda a ternura de vosso coração sobre Jesus, sobre Ele tão somente, e dar tudo, inteiramente tudo!
Sim, cantareis por toda a eternidade as misericórdias infinitas de Deus para convosco.
É preciso amar tanto a Jesus, e de tal modo, que Ele encontre em vosso coração uma doce mansão onde possa repousar (se assim posso dizer), das ofensas que recebe em toda parte. É necessário que O ameis pelos indiferentes, pelas almas relaxadas e covardes e por vós em primeiro lugar. É preciso amá-lO tanto de modo que o vosso exemplo toque.
(12 de dezembro) — Se amardes a Deus, Ele não vos há de recusar nada. Quando uma pessoa ama realmente a uma outra, sabeis muito bem como ela vira e revira em torno dela para obter um sim, para que ela peça alguma coisa e obtenha logo o que deseja. Assim faz Deus para convosco. Ele vos concederá tudo quanto lhe pedirdes.
Deus quer que vos ocupeis só com Ele, com seu amor, e em cumprir sempre a Sua vontade Santíssima.
Quando a gente se ocupa com Deus, é necessário se ocupar também com a salvação das almas. Não haveria grande mérito em se salvar sozinho.
1875
(Fevereiro) — Vigiai muito o vosso interior. Vossa vida deve ser uma vida de contínuos atos interiores de amor, de mortificação. Nada fazer de extraordinário. Vida bem oculta, bem unida a Jesus.
Deus quer que ameis a Ele unicamente. Se não puserdes obstáculos às Suas graças, Ele tem algumas extraordinárias para vos conceder, e que não deu ainda a ninguém. Ele vos ama de modo todo especial. Não percebestes ainda isto? Procuremos adorar os Seus desígnios sem aprofundá-los. Ele é o Senhor e faz com as almas o que bem Lhe apraz. Sede sempre muito humilde, bem escondida. Não vos preocupeis com ninguém. Cuidai tão só do que diz respeito à vossa própria santificação.
Amai o bom Deus. Ó como são felizes as almas que possuem este tesouro!
Vossa grande penitência nesta vida não há de ser só a ausência de Jesus, mas uma grande dor por todo o pesar que Lhe causastes no passado, pelo excesso das graças de que vos cumulou e vos há de conceder ainda, e a impotência em que vos encontrais para retribuir todo amor que desejais Lhe dar.
(14 de maio) — Ao fazer o vosso retiro, procurai ter a intenção de não perder nenhuma das graças que Deus vos conceder, e seguir sempre o atrativo de Suas graças, ter um grande espírito de fé e um grande recolhimento. Há muito tempo vos estou perseguindo por isto.
É preciso andar sempre tão recolhida, em todas as ações como quando se fica na ação de graças depois da Santa Comunhão.
Não deveis fazer nada sem vos recolherdes um instante, e sem consultar Jesus que está em vosso coração: Entendestes?
Ó, sim, eu amo o bom Deus, mas à medida que uma alma se purifica, isto é, se aproxima do céu, seu amor também cresce cada vez mais.
Pensai muitas vezes no amor que tem por vós. Sede bem fiel a todas as inspirações da graça.
Recomeçai cada dia como se nada ainda tivésseis feito, e sem nunca desanimar.
(18 de maio) — Ó! O número das verdadeiras religiosas, as que têm o verdadeiro espírito, é muito pequeno! Quase uma por cinquenta! É preciso que sejais, custe o que custar, do número destas privilegiadas.
À medida, e na proporção em que eu for me libertando, haveis de me ouvir mais claramente, e, quando eu estiver livre, imediatamente serei para vós um Anjo da Guarda. Mas um Anjo que não haveis de ver.
(20 de junho) — Deus pede mas não obriga, não força. Oferece. Ele só quer o coração todo para Ele.
É preciso para obter as graças de Deus, tanto para vós como para a Comunidade, que vos renuncieis de manhã à noite, para que nada procureis em coisa alguma, e tudo seja bem escondido aos olhos das criaturas, e que só Deus saiba de tudo e veja vossos pequenos sacrifícios de cada dia.
Experimentais uma repugnância por diversas coisas. Deus o permite a fim de que possais merecer mais. Prestai atenção e não deixeis perder nada disto.
Quereis saber por que Deus não vos concede agora as graças que Lhe pedis? É porque não tendes bastante confiança n’Ele.
É preciso que ameis a Deus tanto, que encontre Ele em vosso coração uma doce mansão onde possa repousar. É preciso que Jesus vos conte os seus sofrimentos, os aborrecimentos que Lhe causa o mundo todo o dia, e, da vossa parte, testemunhai-Lhe tanto amor que fique Ele consolado.
(14 de agosto) — Não estejais a dar ouvidos a vós mesma. Confiai nele, já não vos disse tantas vezes? Será que Ele não há de querer vos conceder todas as forças necessárias para O servir?
(15 de agosto) — Sim, nós vimos a Santíssima Virgem. Ela subiu ao céu com muitas almas, mas eu… eu fiquei!…
Sentis calor? Ai! Se soubésseis o calor do Purgatório comparado ao vosso! Uma pequenina oração nos faz tanto bem! Ela nos refrigera como um copo de água fria dada a uma pessoa que tem muita sede.
Fazei todas as vossas ações com olhar em Deus. Eu vos digo: consultai-O antes de tudo que tiverdes de fazer ou dizer. Ó, então, quantas graças se hão de derramar sobre vós! Que seja a vossa vida uma, vida de fé e de amor, e se assim fizerdes, já sabeis o que vos disse.
Ocupai-vos do único objeto que há de ser o móvel de toda a vossa vida: Jesus. Sim, Jesus de manhã, Jesus de noite, Jesus de manhã à noite.
(20 de agosto) — Fazei todas as vossas ações sob o olhar de Deus, simplesmente, e neste mundo, não procureis agradar senão a Ele. Enquanto não chegardes a ‘este despojamento de todas as coisas para, não atender senão a Ele, Ele também não vos deixará em paz.
(8 de setembro) — Deus permite que certas almas tenham uma grande ternura de coração, enquanto outras são menos sensíveis. Tudo está nos Seus desígnios. As que têm um coração mais amoroso, este coração Ele o fez assim só para Ele, a fim de que derramem todo este amor no seu Coração adorável. Ele é o Senhor, e dá a cada um o que bem Lhe apraz.
Sofro mais de noite quando repousais. É verdade que eu trago sempre o meu Purgatório comigo, mas de dia tenho permissão de vos acompanhar por toda parte, e sofro um pouco menos. Tudo isto é uma permissão de Deus.
(8 de dezembro) — Amai muito ao bom Deus. Não tenhais receio do sofrimento. Confiai muito n’Ele e nunca em vós. Não respireis, não vivais senão para Jesus Cristo!
(12 de dezembro) — Deus Nosso Senhor deseja que, antes da adoração perpétua a façais primeiro no coração. Compreendeis bem… É preciso também que vos habitueis a fazer muitas vezes a Comunhão espiritual. Dela haveis de tirar frutos abundantes e os mais salutares, se a fizerdes com boas disposições.
1876
Não só deveis preparar uma morada para Jesus, mas convidá-lO também. Que adiantaria preparar um belo cômodo para um amigo se não o convidassem para entrar?
(Fevereiro) — Sim, é verdade que no céu Deus recebe adorações infinitas; mas, como na terra é que Ele é ultrajado, quer também da terra receber a reparação. E de vós espera esta reparação para que O ameis, a fim de desagravá-lO pela vossa ternura, do abandono que Ele sente por toda parte.
(Anunciação) — Quando Deus quer uma alma só para ele, começa por espremê-la como as uvas no lagar para extrair o suco. Depois, quando esta alma assim espremida venceu as suas paixões, os defeitos, a procura de si, então dispõe dela como bem quer, e se ela é fiel logo ficará toda transformada, e então Jesus a cumula de graças escolhidas e a inunda do seu amor.
(16 de julho) — A Eucaristia deve ser para vós um ímã, que vos atraia sempre cada vez mais. A Eucaristia, numa palavra, deve ser o móvel de toda a vossa vida.
(28 de agosto) — Não tenhais outro desejo além do amar a Deus sempre mais, e de vos unir cada vez mais a Ele. Deveis procurar cada dia estar mais unida a Jesus. Vossa vida deve ser uma vida interior e de união a Jesus, pelos sofrimentos do corpo e da alma, e, principalmente pelo amor.
Deus fez o vosso coração só para Ele. Abandonai-vos a Nosso Senhor sem nunca olhar nem para trás nem para diante. Lançai-vos nos seus braços divinos e junto ao coração, e depois de lá estar, não tenhais medo de nada.
Fazei cada manhã uma oração para adorar a Nosso Senhor em todas as igrejas onde se acha abandonado. Transportai-vos então pelo pensamento para essas igrejas e dizei a Jesus então quanto O amais e quereis reparar o abandono em que Ele se encontra. Renovai esta intenção muitas vezes no dia. Dareis um grande prazer a Jesus.
O bom Deus deseja que penseis sempre n’Ele e que façais tudo sob os Seus divinos olhares. Em vossas orações e trabalhos, numa palavra, nunca O deveis perder de vista quanto possível. Tudo isto, entretanto, há de ser feito com tranquilidade e sem afetação.
Não tenhais nenhum desejo a não ser o de amar a Deus cada vez mais.
No fim do vosso retiro tomai como resolução pensar muitas vezes no que vos vou dizer: Deus somente! Meu Deus e meu tudo! Tudo passa e passa depressa! O Tabernáculo é meu repouso! A Eucaristia é minha vida. A Cruz é minha herança. Maria, minha Mãe. O Céu, minha esperança.
(20 de novembro) — Não é preciso andar examinando e julgando o que fazem as Irmãs. Não tereis que dar contas a Deus por elas e nem vos modelar por elas. Deus não pede de todos a mesma perfeição. Mortificai-vos e não deveis andar examinando se as outras não fazem o que fazeis, porque Deus não exige isto.
(Natal) — Sim, eu estou muito aliviada, e eu creio que o termo do exílio não está longe. Ai! Se soubésseis como desejo ver a Deus.
1877
(13 de fevereiro) — Diante do Santíssimo Sacramento — Vede como Jesus está só! Neste momento poderia ter Ele aqui mais gente se houvesse um pouco mais de boa vontade. Todavia, que indiferença até entre as almas religiosas. Nosso Senhor é muito sensível no Santíssimo Sacramento! Pelo menos, então, amai-O pelas almas injustas, e o bom Jesus sentir-se-á confortado e consolado neste desprezo.
(12 de maio) — Mortificai-vos no corpo, mas sobretudo no espírito. Esquecei-vos. Fazei um ato total de abnegação de vós mesma. Não repareis nunca no que fazem as outras. O bom Deus não pede a mesma perfeição de todas as almas. Nem todas são esclarecidas com as mesmas luzes. Vós, a quem Jesus ilumina, não olheis senão para Ele. Que só Ele seja o vosso fim em tudo.
Tende uma confiança sem limites na bondade de Jesus. Se soubésseis que poder tem Ele, haveríeis de pôr assim limites ao seu poder? O que não pode Ele em favor de uma alma que O ama.
Preparai-vos sempre com muito cuidado para a Santa Comunhão, para a Confissão e para o Oficio Divino, enfim, para tudo que tende à uma união maior com Nosso Senhor.
Eu já vos disse que o bom Deus procura neste mundo almas que O amem, mas com este amor de criança, esta ternura respeitosa, é verdade, mas cordial. Pois bem! Ele não encontra estas almas… O número delas é muito menor do que se pensa. Consideram o bom Jesus muito grande para poderem se achegar a Ele, e o amor que Lhe dão é muito frio! O respeito, afinal, se degenera numa certa indiferença. Eu bem sei que nem todas as almas são capazes de compreender este amor que Nosso Senhor pede; mas vós, a quem Jesus fez compreender isto, reparai esta indiferença, esta frieza. Pedi-lhe que dilate o vosso coração para poder conter muito amor. Por vossa ternura e as respeitosas familiaridades que Jesus vos permite, podeis reparar o que não é dado a todos compreender. Fazei isto, sim, e sobretudo amai muito.
Não vos canseis jamais de trabalhar. Recomeçai cada dia como se tivésseis de começar e não tivésseis feito nada. Esta renúncia perpétua da própria vontade de seus cômodos, e da maneira, própria de ver, é um longo martírio, mas muito meritório e muito agradável a Deus.
1878
(Retiro de agosto) — Os grandes pecadores e os que ficaram toda a vida, afastados de Deus pela indiferença, e bem assim as religiosas que não foram o que deveriam ter sido, estão no grande Purgatório. E lá as operações que se fazem por estas almas não são aplicadas. Elas foram indiferentes para com Deus em vida, e por sua vez agora Ele, o Senhor, é indiferente para com elas e as deixa numa espécie de abandono, a fim de que, elas reparem assim, a sua vida que foi nula.
Ah! Não podeis imaginar nem representar ainda na terra quem é Deus. Nós, porém, O sabemos e O entendemos, porque nossa alma está desprendida de todos os laços que a prendiam e impediam de compreender a Santidade, a Majestade do bom Deus, Sua grande misericórdia. Somos mártires, nós nos derretemos de amor, por assim dizer. Uma força irresistível nos leva para o bom Deus como nosso Centro, e, ao mesmo tempo, uma força nos impele para o lugar da nossa expiação. Estamos neste estado, oprimidas e aflitas pela impossibilidade de satisfazer os nossos desejos.
Ó que sofrimento! Nós, porém, o merecemos e aqui ninguém murmura. Queremos o que Deus quer. Ninguém poderá compreender na terra o que padecemos!
Sim, eu estou bem aliviada, eu não estou mais no fogo. Agora eu só tenho o desejo insaciável de ver a Deus, sofrimento bem cruel ainda! Sinto, todavia, que se aproxima o termo do meu exílio e me aproximo do lugar a que aspiro com todos os meus desejos.
Eu o percebo muito bem. Eu me sinto pouco a pouco mais livre, mas dizer quando chegará o dia, não o sei. Só Deus o sabe! Talvez eu ainda tenha de ficar anos a desejar assim o Céu. Continuai sempre a rezar e eu vos pagarei mais tarde, embora eu desde já reze por vós, e muito.
Ó como são grandes as misericórdias de Deus para convosco! Quem poderá compreender, porque Jesus age assim para convosco? Por que vos ama muito mais do que as outras? Será que o mereceis? Não. Pois o mereceis até bem menos do que outras almas. Mas Ele quer proceder assim para convosco! É Ele o Senhor das Suas graças.
Sede então muito reconhecida. Ficai sempre em espírito aos pés do Senhor, e deixai que Ele faça o que quiser. Vigia muito vosso interior. Sede bem fiel ao examinar tudo que possa agradar a Jesus. Não tenhais olhos nem coração senão para Ele. Consultai-O sempre antes de qualquer coisa. Abandonai-vos ao que Ele quiser, e depois, ficai tranquila. Tudo quanto vos disse se há de cumprir. Não deveis pôr obstáculos, é Jesus quem o quer assim.
Quando eu estiver lá, eu vo-lo direi, mas eu penso que as grandes festas no céu se celebram por um duplo êxtase de admiração, de ação de graças, e sobretudo, de amor.
Para que chegueis a uma grande união com Deus, como já vos disse, é necessário que nada vos perturbe: penas, alegrias, sucessos, insucessos, boa, ou má graça. É necessário que nada disto vos impressione nem um pouco, mas que Jesus domine tudo em vós e que tenhais os olhos fixos n’Ele para compreender Seus menores desejos.
Eu vos repito ainda, não tenhais medo de mim. Não me vereis no sofrimento. Mais tarde, quando estiverdes mais forte de alma, vereis as Almas do Purgatório. Mas não penseis que será para vos assustar. Deus vos dará então a coragem necessária, e tudo se fará para cumprir a Sua santa vontade.
— Mas isto não é um castigo?
Resposta: — Não. Eu estou aqui para meu alívio e para vossa santificação. Prestai um pouco de atenção ao que vos digo…
— É verdade, mas eu acho estas coisas tão esquisitas… que posso eu pensar de tudo isto? Não é ordinário estar a vos escutar assim…
Resposta: — Eu compreendo bem o vosso embaraço. Eu sei o que tendes sofrido com isto, mas já que Deus o permite, e é para meu alívio, deveis ter piedade de mim, não é? Quando eu estiver livre, vereis como eu vos darei mais do que fizestes por mim. Eu, desde já, rezo muito por vós.
– Onde está a Irmã X?
Resposta: — No Grande Purgatório, onde ela não recebe as orações de ninguém. O bom Deus fica muito contrariado, se assim posso falar, na morte de muitas religiosas, porque Ele chamou estas almas para que O servissem fielmente na terra, e fossem depois da morte imediatamente O glorificar no Céu. E acontece o contrário, pelas suas infidelidades, ficam elas muito tempo no Purgatório, muito mais tempo até que as pessoas do mundo, que não receberam tantas graças!
1879
(Retiro de setembro) — Nós vemos São Miguel como se veem os Anjos, eles não têm corpo. São Miguel vem ao Purgatório buscar todas as almas que já estão purificadas, porque é ele quem as conduz ao Céu. Sim, é verdade, ele está entre os Serafins, como me disse Monsenhor. É o primeiro Anjo do céu. Nossos Anjos da Guarda vêm também nos ver, mas São Miguel é muito mais belo do que todos eles! Quanto à Santíssima Virgem, nós a vemos com o seu corpo. Ela vem ao Purgatório nas Suas festas e volta para o Céu com muitas almas. Enquanto Ela está conosco, não sofremos. São Miguel a acompanha, mas enquanto São Miguel está só, nós sofremos como sempre.
Quando eu vos falei do Grande, e do segundo Purgatório, era, para vos fazer compreender. Eu queria dizer que há diferença de graus no Purgatório. Assim, eu chamo o Grande Purgatório, o lugar onde estão as almas mais culpadas, onde eu fiquei dois anos, sem poder dar nenhum sinal dos meus tormentos, pois no ano em que eu comecei a me queixar que eu ainda estava no Grande Purgatório quando comecei a vos falar.
No segundo Purgatório, que é sempre o Purgatório, mas que, no entanto, é diferente do primeiro, sofre-se também, porém, menos do que no primeiro Purgatório. Finalmente, há um terceiro lugar que é o Purgatório do desejo. Lá não há fogo. Lá estão as almas que não desejaram bastante o céu e que não amaram bastante a Deus neste mundo. Eu estou agora lá neste momento.
Nestes três purgatórios, há ainda graus. À medida que uma alma se purifica, sofre menos, e já não sofre os mesmos tormentos. Tudo está em proporção às faltas que deve expiar.
O Retiro foi bom. Há de produzir muitos frutos. O Diabo é que não está contente.
O bom Deus ama muito o Padre que vos pregou o retiro.
Dizei ao bom Padre que eu agradeço o “Memento” que prometeu rezar por mim na Santa Missa. Da minha parte, não serei ingrata. Pedirei a Deus que lhe conceda as graças de que ele necessita.
Fizestes muito bem em lhe dizer esta tarde tudo que vos disse. Foi São Miguel quem vo-lo enviou. A Comunidade aproveitou, mas ele veio aqui principalmente para vós. São Miguel, a quem amais e que vos protege, quis que fosse um dos seus missionários, que soubesse tudo o que vos disse. Deus tem desígnio nisto. Conhecereis mais tarde. Mais tarde também podereis lhe dar, algumas novas mais precisas sobre São Miguel.
Vós me perguntais se o Padre P. é agradável a Deus? Eis o que deveis lhe dizer: que ele continue a proceder como o fez até aqui. O que Deus mais gosta nele é a sua pureza de intenção, o seu espírito interior e a grande bondade para com as almas. Dizei-lhe, que ele continue a se unir mais ao Coração de Jesus. Quanto mais íntima for esta união, mais a sua vida toda será proveitosa e suas ações serão proveitosas para as almas e meritórias para o Céu.
Eu não espero dele uma perfeição comum. Que ele recomende nas missões e retiros, o oferecimento das ações do dia, porque no mundo, e mesmo nas Comunidades, não se pensa bem nisto, e muitas ações boas não terão recompensa no último dia, porque não foram oferecidas a Deus antes de serem executadas. Que ele não perca nunca a coragem, embora veja que seus esforços não produzem o que deseja. Pense ele que Deus fica satisfeito com seus trabalhos, ainda que tenha conseguido dar a um coração, um quarto de hora de amor de Deus que seja.
Pedi muito por mim, a fim de que, logo alcance o objeto de meus longos e tão grandes desejos. Eu vos hei de ser, muito mais útil no céu do que aqui. Tivestes um bom pensamento de me convidar no encerramento do retiro, para adorar Jesus presente em vosso coração, durante a ação de graças depois da Comunhão. Se já o tivésseis feito até agora, eu teria tido muito mais alivio. Fazei também assim antes de todas as vossas orações. Depois oferecereis um pouco do vosso trabalho por mim, eu tenho um desejo tão grande de ver a Deus!
Eu espero há muito tempo, um pouco mais de amor, em tudo o que fazeis. Quanto mais uma alma ama a Jesus, tanto mais as suas orações e ações são meritórias diante d’Ele. No Céu, só o amor é que há de ser recompensado. Tudo o que for feito com outra intenção, será nulo e por conseguinte, perdido. Amai então a Jesus como Ele quer ser amado, com isto eu sinto um grande alívio.
– Deus está um pouco mais contente comigo nestes dias?
Resposta: — Sim, Ele está muito contente convosco, porque Lhe procurastes agradar mais. Já notastes como Ele é bom? Não vos deu tanto prazer também nestes dias? Pois bem, eis como Ele há de proceder sempre para convosco. Quanto mais fizerdes por Ele, mais Ele fará por vós. Sou tão feliz ao ver que realmente quereis trabalhar para a vossa perfeição, e se fosse preciso ficar mais tempo no Purgatório, eu o faria de boa vontade, se soubesse que por este sofrimento, alcançaria que chegásseis ao estado em que Deus vos quer ver, para cumprir os desígnios que tem sobre vós.
Não olheis nunca para trás, para examinar muito vosso procedimento. Entregai tudo nas mãos de Deus e caminhai sempre avante.
Vossa vida deve se resumir em duas palavras: sacrifício e amor. Sacrifício de manhã à noite, e ao mesmo tempo: amor.
Se soubésseis o que é o bom Deus! Não haveria sacrifício que não quisésseis fazer, sofrimento que não quisésseis padecer para O ver um minuto somente, e então, ficaríeis bem satisfeita, bem consolada, ainda que nunca mais tivésseis de vê-lO. Que não será, então, vê-lO por toda eternidade?
(13 de agosto) — Qual é o melhor meio de glorificar a São Miguel?
Resposta: — O meio mais eficaz de o glorificar no Céu e na terra, é recomendar quanto possível, a devoção às Almas do Purgatório e fazer conhecer a grande missão que ele tem junto das almas sofredoras. Ele é o encarregado de levá-las do lugar da expiação e introduzi-las depois da satisfação, no Céu, morada eterna. Cada vez que uma alma vem aumentar o número dos eleitos, Deus é glorificado por ela e esta glória, de certo modo, reflete sobre o glorioso Ministro do Céu. É uma honra para ele, apresentar ao Senhor as almas que irão cantar as infinitas misericórdias e unir Seu reconhecimento aos dos eleitos por toda eternidade. Eu não posso vos fazer compreender, todo o amor que o celeste Arcanjo tem por seu divino Mestre e o amor que por Sua vez, Deus tem por São Miguel e bem como a grande piedade que São Miguel tem de nós. Ele nos dá coragem no sofrimento, quando nos fala do Céu. Dizei ao Padre que, se ele quiser dar um grande prazer a São Miguel, recomende muito a devoção às Almas do Purgatório. Não se pensa muito nisto neste mundo! Quando se perdem os parentes e amigos, fazem algumas orações, choram durante alguns dias, depois… tudo se acaba! As almas ficam abandonadas! É verdade que isso elas merecem muito porque não rezaram pelos mortos quando estavam na terra, e o divino Juiz, só nos dá no outro mundo, o que fazemos neste. As pessoas que deixaram esquecidas as Almas do Purgatório, serão esquecidas também, mas se lhes tivessem dado a inspiração de rezar pelos defuntos, e lhes feito conhecer o que é o Purgatório, talvez elas tivessem procedido de outra maneira, de modo muito diferente…
Quando Deus o permite, podemos nos comunicar diretamente com o Arcanjo, à maneira dos espíritos e como as almas se comunicam entre si.
— Como se festeja São Miguel no Purgatório?
Resposta: — No dia de sua festa, São Miguel vem ao Purgatório e volta para o Céu com muitas almas, principalmente as almas que lhe tiveram devoção na terra.
— Que glória recebe São Miguel da sua festa na terra?
Resposta: — Quando se faz a festa de um Santo na terra, ele recebe no Céu uma glória acidental. Ainda mesmo que não o festejem na terra, em memória de alguma ação especial heroica que praticou neste mundo, ou da glória que deu a Deus em alguma ocasião, nesta época, recebe no Céu uma recompensa especial que consiste numa maior glória acidental, junta com a que lhe dão na terra.
A glória acidental que recebe o Arcanjo São Miguel, é superior a de todos os outros Santos, porque esta glória de que vos falo, é proporcionada à grandeza do mérito daquele que a recebe, como também ao valor da ação que mereceu esta recompensa.
— Conheceis as coisas da terra?
Resposta: — Eu não as conheço senão enquanto Deus o quer, e meu conhecimento é muito restrito. Conheço alguma coisa da comunidade e é só. Não sei o que se passa na alma das outras pessoas, à exceção da vossa, e isto porque Deus o permitiu, para vossa perfeição. O que vos digo algumas vezes de pessoas particulares, e ainda vos direi, Deus mo fez conhecer no momento, mas fora disto não sei mais de coisa alguma. Certas almas, têm conhecimentos mais e mais extensos do que eu. Tudo isto é proporcionado ao mérito.
Quanto aos graus do Purgatório, eu vos posso falar deles, pois eu passei por lá. No Grande Purgatório há diferentes graus. No mais profundo e baixo, no que mais se sofre, e que é um inferno momentâneo; lá estão os pecadores que cometeram enormes crimes durante a vida, e que a morte os surpreendeu neste estado, sem que tivessem tempo de se penitenciarem. Salvaram-se por milagre, muitas vezes pelas orações dos parentes e de pessoas piedosas. Algumas vezes nem puderam se confessar, e o mundo os julgou condenados, mas o bom Deus, cuja misericórdia é infinita, lhes deu no momento da morte a contrição necessária para se salvarem, tendo em vista algumas ações boas que praticaram na vida. Para estas almas, o Purgatório é terrível! É um inferno, exceto isto, que no Inferno se amaldiçoa a Deus, enquanto que no Purgatório O bendizem e agradecem, por terem sido salvos.
Logo em seguida, vêm as almas que, sem terem cometido grandes crimes, foram indiferentes para com Deus. Não cumpriam o dever pascal, e convertidas na hora da morte, nem puderam às vezes comungar, e no Purgatório, se encontram em penitência de sua longa indiferença. Sofrem penas inauditas, abandonadas, sem orações. Se se fazem orações por elas, não as podem aproveitar.
Depois, enfim, há ainda o Purgatório das religiosas e dos religiosos tíbios, que se esqueceram dos seus deveres, indiferentes para com Jesus; Padres, que não exerceram seu Ministério, com a reverência devida à Majestade Divina e não fizeram as almas que lhe foram confiadas, amar bem a Deus.
Eu estou neste grau. No segundo Purgatório, se encontram as almas que, morrem culpadas de pecados veniais não expiados antes da morte, ou então, em pecados mortais perdoados, mas dos quais não satisfizeram inteiramente à Justiça Divina. Há também no Purgatório, diferentes graus, segundo os méritos das pessoas.
Assim, o Purgatório das pessoas consagradas e que receberam maiores graças, é mais longo e mais penoso do que o das pessoas do mundo.
Finalmente, o Purgatório do desejo, que se chama o Átrio ou Vestíbulo do Céu. Poucas pessoas o evitam. Para o evitar é necessário ter desejado ardentemente o céu, e tendo em vista Deus, a presença e a visão de Deus. E é raro isto, porque muitas pessoas, mesmo muito piedosas, têm medo de Deus e não desejam bastante o Céu com ardor. Este Purgatório, tem seu martírio bem doloroso como os outros. Estar privado da vista do bom Jesus, que sofrimento!
— Conhecei-vos uma às outras no Purgatório?
Resposta: — As almas se comunicam entre si quando Deus o permite, porém, à maneira das almas, sem palavras…
Sim, é verdade que eu vos falo, mas sois um espírito? Havíeis de me compreender se eu não pronunciasse as palavras? Para mim, pois, que Deus o permitiu, eu vos compreendo sem que pronuncieis palavras com os lábios. Há entretanto, comunicações de almas, assim, quando vos vem um bom pensamento pelo vosso Anjo de Guarda, ou por Deus mesmo. Eis a linguagem das almas.
— Onde está o Purgatório?
Resposta: — No centro da terra, próximo do Inferno (como o vistes depois da Comunhão). As almas estão aí num lugar restrito, comparado à multidão que aí se encontra, pois são milhares e milhares de almas. Entretanto, que lugar ocupa uma alma? Cada dia aí chegam milhares e milhares, e, a maior parte, dos trinta aos quarenta anos. Eu vos digo segundo os cálculos da terra, porque aqui é outra coisa muito diferente. Ah! Se soubessem e pensassem o que é o Purgatório, e se soubessem que amargura é pensar, que a gente está aqui por própria culpa! Estou aqui há oito anos, e parece-me que há dez mil anos!… Ó, meu Deus! Dizei isto ao vosso Padre espiritual. Que ele aprenda de mim o que é este lugar de sofrimento, a fim de que ele o faça conhecer para o futuro. Ele há de experimentar por ele mesmo, quanto é proveitosa, a devoção às Almas do Purgatório!
Deus concede muitas vezes mais graças por intermédio das almas do purgatório, do que pela intercessão dos próprios Santos. Quando o Padre X quiser obter uma coisa com mais segurança, dirija-se de preferência às almas que mais amaram a Santíssima Virgem neste mundo, e que, por conseguinte, esta boa Mãe deseja libertar mais depressa, e depois ele vos dirá se não foi muito bem tudo!…
Há também algumas almas, que não ficam no Purgatório propriamente dito. Assim, por exemplo, eu vos acompanho por toda parte, e quando repousais, eu sofro mais, pois fico no Purgatório. Outras almas fazem às vezes o seu Purgatório nos lugares onde pecaram, ao pé dos santos altares, onde se encontra o Santíssimo Sacramento, mas não importa o lugar onde se encontram, porque levam com elas o sofrimento, embora sejam estes menos intensos do que no Purgatório mesmo.
O Padre tem razão quando vos diz, que não deveis procurar senão a vontade de Deus em tudo o que fazeis. Será para vós felicidade, ver a vontade de Deus em tudo o que acontece. Sofrimentos ou alegrias, tudo vem igualmente de Jesus. Sede muito boa, duas vezes boa, para dar prazer a Jesus, que é tão bom para convosco! Tende sempre os olhos da alma abertos para Ele, a fim de prevenir o menor dos Seus desejos. Ide mesmo adiante, a fim de Lhe dar prazer.
A inglesa que se afogou junto do Monte São Miguel, foi diretamente para o Céu. Teve ela a contrição necessária no momento da morte, e ao mesmo tempo o Batismo de desejo. Tudo aconteceu por intercessão de São Miguel. Feliz naufrágio!
Pio IX foi direito para o Céu. Seu Purgatório estava já feito na terra.
— Como sabeis que M. P. foi direito para o Céu, pois não a vistes passar pelo Purgatório?
Resposta: — Deus me revelou e Ele também por pura bondade, permite que eu saiba o que vós me pedis, quando eu não O vi ou não percebi por mim mesma. A Justiça de Deus nos retém no Purgatório é verdade, e nós o merecemos, mas crede que a sua misericórdia e seu Coração Paterno, não nos deixam lá sem nenhuma consolação. Desejamos muito nossa união com Deus, mas Ele não a deseja menos do que nós. Na terra, Ele se comunica de uma maneira íntima a certas almas e se compraz em lhes desvendar Seus segredos. As almas que lhe são agradáveis, são as que no seu modo de proceder não vivem e não respiram senão por Jesus, e só procuram agradá-lO. No Purgatório há almas bem culpadas, mas arrependidas, e não obstante as faltas que têm ainda a expiar, estão confirmadas em graça e não podem mais pecar. São perfeitas. Pois bem, à medida, e na proporção que uma alma se purifica no lugar da expiação, compreende melhor a Deus, ou Deus e ela se compreendem melhor, sem entretanto se verem, porque então não haveria mais Purgatório!
Se nós não conhecêssemos a Deus mais do que aí na terra, nossas penas, nosso martírio, não seriam tão poderosos, nosso martírio tão cruel! O que faz nosso principal tormento, é a ausência d’Aquele único objeto de nossos longos anos de desejos.
— E quando uma alma é destinada a ter uma mais bela coroa no céu, não tem também no Purgatório, mais graças do que as outras?
Resposta: — Sim, quanto mais uma alma está destinada a ocupar um lugar mais elevado no céu, também os seus conhecimentos são mais extensos e sua união mais íntima com Ele no lugar da expiação. Tudo aqui é proporcionado ao mérito.
— Os três amigos de V. P. estão no Céu há muito tempo? Que é feito das orações que se fizeram por eles?
Resposta: — As pessoas que estão no Céu, e pelas quais rezam na terra, podem dispor destas orações pelas almas que desejem aplicá-las. É uma lembrança bem doce para as almas do outro mundo, ver que os parentes e os amigos não as esqueceram na terra, embora não tenham mais necessidade de orações. E em retribuição não são elas ingratas!
Os juízos de Deus são bem diferentes dos da terra. Ele olha para o temperamento, o caráter, o que se fez por leviandade ou por pura malícia. Conhece o fundo dos corações, não lhe é difícil ver o que neles se passa. Jesus é muito bom, sim, mas é muito justo também!…
— Que distância há entre a terra que habitamos e o Purgatório?
Resposta: — O Purgatório está no centro do globo. A terra mesma não é um Purgatório? Entre as pessoas que nela moram, umas aí fazem o seu Purgatório inteiramente pela penitência voluntária ou aceita. Estas, depois da morte, vão diretamente para o céu. Outras, começam o Purgatório na terra, porque a terra é um lugar de sofrimento, mas estas almas como não têm bastante generosidade, vão acabar o seu Purgatório da terra no Purgatório real.
— As mortes repentinas são uma justiça ou uma misericórdia de Deus?
Resposta: — Estas espécies de mortes às vezes são justiça e outras misericórdia de Deus. Quando uma alma tem o temor de Deus e Deus sabe que ela está preparada para comparecer diante d’Ele, para lhe poupar os horrores da angústia que poderia ter nos últimos momentos, Deus a retira deste mundo com uma morte repentina. Às vezes também Deus toma estas almas por justiça. Não ficam de todo perdidas, mas sem os últimos Sacramentos, ou recebendo-os às pressas, sem estarem preparadas para a última viagem, seu Purgatório é bem mais doloroso e se prolonga muito. Outros encheram a medida de seus crimes, abafaram a voz de todas as graças divinas e Deus as tira da terra, a fim de que não excitem mais a vingança divina.
— O fogo do Purgatório é um fogo como o da terra?
Resposta: — Sim, com esta diferença: o fogo do Purgatório é uma purificação da Justiça Divina e o da terra é bem “doce”, comparado com o do Purgatório. É uma sombra, junto dos grandes braseiros da Divina Justiça.
– Como uma alma pode se queimar?
Resposta: — Por uma justa permissão de Deus. A alma foi verdadeira culpada, pois o corpo nada mais fez que obedecê-la (que malícia, ter um corpo morto?); a alma sofre, como se ela tivesse corpo para sofrer.
— Dizei-me o que se passa na agonia e depois? A alma encontra a luz nas trevas? Sob que forma se pronuncia a sentença?
Resposta: — Eu não tive agonia, como bem sabeis, mas eu posso vos dizer que no último momento decisivo, o Demônio emprega toda a sua raiva em torno dos agonizantes. Deus, para dar mais mérito às almas, permite que elas sofram as últimas provas nestes últimos combates, sobretudo as almas fortes e generosas, a fim de que, tenham um lugar mais belo no céu. Muitas vezes, no fim da vida, naqueles transes da morte, naquelas lutas terríveis contra o Anjo das Trevas (fostes testemunha disto…), saem elas vitoriosas. Deus não permite que uma alma que lhe foi dedicada na vida, pereça nestes últimos momentos. As pessoas que amaram a Santíssima Virgem e a invocaram toda a vida, recebem dela muitas graças nas últimas lutas. Acontece o mesmo para as que foram devotas de São José e de São Miguel, ou de algum Santo. Nesta hora, então, é que a gente é muito feliz de ter um intercessor junto de Deus neste momento penoso! Há almas que morrem tranquilas, sem nada experimentarem do que acabo de vos dizer. Deus tem seus desígnios em tudo. Faz ou permite tudo para o bem particular de cada um.
Como hei de vos descrever o que se passa depois da agonia? Não é possível compreender o que se passa então. Vou procurar explicar da melhor maneira que puder. A alma, ao deixar o corpo, se encontra toda tomada, toda investida, se assim posso me exprimir, de Deus. Ela se encontra numa tal claridade, que num instante percebe toda a sua vida e o que ela mereceu. É em meio desta visão clara que se pronuncia sua sentença. Se é uma alma culpada, e por conseguinte, merece o Purgatório como eu, ela fica de tal maneira esmagada sob o peso das suas faltas, que ficam para apagar, que ela por si mesma se atira no Purgatório. A alma vê o bom Deus, mas está aniquilada na sua Presença. É só então que a gente compreende o bom Deus, o seu grande amor pelas almas, e que desgraça é o pecado aos olhos da Majestade Divina! Eu vi também meu Anjo da Guarda. Para vos dar a entender como é que São Miguel leva as almas ao Purgatório, porque uma alma não se leva, eu vos digo que é neste sentido que ele está presente na execução da sentença. Tudo quanto se passa no outro mundo, é um Mistério para o vosso!
— E quando uma alma vai direto para o céu?
Para esta alma a união começada com Jesus na terra, continua no Céu, na morte, eis o Céu, mas a união do Céu é muito mais íntima que a da terra.
Tendes muita razão de não gostar dos êxtases. É preciso aceitá-los quando Deus os envia, mas Ele não quer que a gente os deseje. Não são estas coisas que levam ao céu. Uma vida mortificada, e humilde, é muito mais para se desejar e é muito mais segura. É verdade que diversos Santos tiveram revelações de Deus, que lhes dava isto depois de longos combates, e de uma vida de renúncia, ou ainda, porque queria se servir deles para grandes coisas, tendo em vista a Sua maior glória. Todavia, tudo isto se fez sem ruído, sem brilho, no silêncio da oração e quando eram descobertos, ficavam envergonhados e não falavam disto senão por obediência. Pelo que me dizeis, podeis ficar tranquila. Eis como se pode conhecer, quando uma graça vem de Deus. Estas graças vêm como uma onda que vos surpreende num belo dia, como uma chuva em pleno dia claro, que se despeja sobre a alma, quando o Céu parece mais sereno. Não se deve temer então haver procurado isto, pois nem se pensou nisto às vezes. Haveis de ter observado isto diversas vezes. É muito diferente isto, das graças que julgam serem dadas por Jesus, e, pelo contrário, não são mais do que trabalho da imaginação, que as produziu. Estas devem ser temidas, porque o Demônio se aproveita, de um cérebro fraco, de um temperamento mole e de um juízo pouco equilibrado, e ilude estas pobres almas que entretanto não pecam, contanto que se submetam às pessoas que as dirigem. E posso vos dizer que há muitas destas neste mundo de hoje… O demônio procede assim para lançar a religião ao ridículo.
Poucas pessoas amam a Deus como Ele quer. Elas se procuram a si mesmas, julgando procurar a Deus, e sonham com uma santidade que não é verdadeira.
— Dizei-me então em que consiste a verdadeira Santidade?
Resposta: — Já o sabeis, mas já que desejais, vou repetir o que já foi dito diversas vezes. A verdadeira santidade consiste em se renunciar de amanhã à noite, viver de sacrifício. Saber pôr de lado a toda hora o “eu” humano, deixar que Deus trabalhe como queira em nós. Receber, com uma profunda humildade, as graças que Ele nos dá, reconhecendo-se indigna delas. Estar quanto possível sempre na presença de Deus. Fazer todas as ações sob o divino olhar e não procurar outra testemunha para os próprios esforços. Ter a Deus como única recompensa, e todas as coisas que eu já vos disse. Eis a santidade que Jesus exige e quer das almas que querem viver só para Ele. O resto não é mais que ilusão.
Certas almas fazem, pelo sofrimento, o seu Purgatório na terra; outras por amor, porque o amor tem também um martírio. A alma que procura amar verdadeiramente a Jesus, acha que, apesar dos seus esforços, ela não O ama na medida dos seus desejos. Isto é para a alma um martírio perpétuo, causado unicamente pelo amor, e não é um martírio sem grandes dores! É como já vos disse, um pouco daquele estado da alma do Purgatório que impele incessantemente para Deus, seu único desejo, e se vê repelida porque sua expiação não está acabada!
— Se eu não tivesse falado a ninguém, tudo o que me dizeis desde que estou vos ouvindo, qual seria o resultado? Sabeis que eu tenho um grande desejo de guardar segredo, guardar isto tudo só comigo?
Resposta: — Sois livre de o fazer ou não, mas se ainda não falastes disto, eu vos aconselho a que o façais, porque Deus nunca permitiu que a perfeição de ninguém viesse diretamente do céu. Ela habita na terra, e quer que na terra mesmo ela se aperfeiçoe, segundo os conselhos que recebe para isto. Fizestes bem em confiar o que vos custava tanto dizer. E além do mais, tudo isto não vem de vós, e Deus, que de tudo sabe tirar proveito para a sua glória, dirige tudo para proveito daqueles que Ele ama.
(Novembro-Dezembro) — O dia e a oitava dos Defuntos trazem uma alegria no Purgatório e se livram muitas almas?
Resposta: — No dia dos Mortos muitas almas deixam o lugar de expiação para o céu, e por uma grande graça do Bom Deus, só neste dia todas as almas sofredoras, sem exceção, têm parte nas orações públicas da Santa Igreja, até mesmo as do Grande Purgatório. Entretanto, o alívio de cada alma é proporcionado ao seu mérito. Umas recebem mais, outras menos. Entretanto, todas aproveitam esta graça excepcional. Muitas almas, pobres almas, só recebem este único alívio pela Justiça de Deus, durante os longos anos que passam no Purgatório.
– Entretanto, não é no dia dos Mortos que sobem mais almas ao Céu. É na noite de Natal?
Há muitas coisas que eu vos poderia dizer, mas eu não tenho permissão.
É preciso que me interrogueis, porque então eu posso responder. Eu estou bem aliviada pelas orações do Reverendo Padre. Dizei-lhe que lhe agradeço pelas orações que fez e que mandou fazer por minha intenção. Eu rezo sempre por ele. Espero fazer mais ainda quando eu estiver no céu. Dizei-lhe também, que eu sei que ele reza por mim e pelas Almas do Purgatório. Por permissão de Deus há um sofrimento maior para as Almas, quando as orações que se fazem por elas não lhes podem ser aproveitadas. No Purgatório, não se recebem as orações da terra, senão na medida em que Deus quer que sejam aproveitadas às almas. Depende da disposição de Deus. Quanto ao tempo da nossa libertação, não sabemos nada. Se soubéssemos o fim dos nossos sofrimentos, seria um alívio, uma alegria para nós, mas não! Vemos bem que nossas dores diminuem quando a nossa união com Deus se torna mais íntima, mas em que dia? (segundo a terra, porque não há dias), e em que dia estaremos todos reunidos? Não o sabemos, é o segredo de Deus!…
As Almas do Purgatório não têm conhecimento do futuro, a não ser que Deus lhes queira dar isto. Algumas almas o possuem, umas mais, outras menos. Mas o que adianta saber o futuro para nós, a menos que se trate da glória de Deus e do bem de algumas almas?
Não se admirem se o Demônio e seus satélites, têm algumas vezes conhecimento de coisas que se realizam no futuro. O Diabo é um espírito e, por conseguinte, tem mais astúcias e conhecimentos do que qualquer pessoa na terra, à exceção dos Santos, aos quais Deus ilumina com suas luzes. Ele, o Diabo, procura rondar por toda parte, procurando o mal. Ele vê o que se passa, no mundo, e segundo a sua sagacidade, pode prever coisas que se vão realizar. Eis a única explicação. Desgraçados são aqueles que se entregam ao Demônio e o consultam! É um pecado que desagrada a Deus, e muito! (Não está aí uma condenação do Espiritismo, que muitas vezes é uma consulta ao Diabo? – Nota do tradutor).
— As almas podem alguma vez se enganarem?
Resposta: — Sim, mas não quanto às coisas que existem, só quanto ao futuro. Pode acontecer, por exemplo, que Deus na sua Justiça queira castigar um reino, uma província, uma pessoa, é uma intenção que Ele manifestou. Todavia, se alguma pessoa daquele reino, daquela província pela oração ou por outros meios, desarma a Divina Justiça, Deus dará a graça, concederá a graça ou diminuirá o castigo, segundo as previsões da Sua infinita sabedoria. Muitas vezes permite que os grandes acontecimentos sejam preditos antes ou os dá a conhecer a algumas almas, a fim de que elas previnam e afastem o castigo. A misericórdia de Deus é tão grande, que Ele não castiga senão em caso extremo. Assim para aquela pessoa de que me falaste outro dia. Deus me fez conhecer que não lhe infligirá castigo, senão pela metade, se ela permanecer nas mesmas disposições. Eis como a gente pode às vezes parecer que se engana.
– Há muitos Protestantes salvos?
Resposta: — Pela misericórdia de Deus, um certo número de Protestantes se salvam, mas o Purgatório deles é longo e rigoroso. Eles não abusaram da graça, é verdade, como muitos católicos, mas não tiveram as graças insignes dos Sacramentos e outros socorros da verdadeira Religião, o que faz com que a sua expiação se prolongue por muito tempo no Purgatório.
Eu falo mais baixo do que de costume, porque há oito dias vós falais muito baixo com Deus na recitação dos Salmos. Quando rezardes mais alto, eu falarei também mais alto.
— Conheceis no Purgatório a perseguição que está sofrendo a Igreja?
Resposta: — Sabemos que a Igreja está sendo perseguida e rezamos pelo seu triunfo, mas quando será ele? Eu o ignoro. Talvez algumas almas o saibam. Eu não o sei…
No Purgatório as almas não ficam só ocupadas com seus sofrimentos. Elas rezam pelos grandes interesses de Deus, pelas pessoas para abreviar seus sofrimentos. Louvam, agradecem a Nosso Senhor as misericórdias infinitas para com elas, porque o limite do Purgatório e do Inferno, para muitas almas foi bem extremo, e por um pouco não se condenaram! Imaginai qual não há de ser o reconhecimento, a gratidão destas almas que foram assim arrancadas de Satã!
Eu não vos posso explicar como vemos nós a terra, de modo muito diferente do vosso modo de ver. Isto só se pode entender quando a alma deixa o corpo. Então a terra que ela acaba de deixar, não lhe há de parecer mais do que um pontinho, no horizonte sem fim da eternidade, que se abre para ela.
Eu recebo mais alívio de uma das ações de graças feita, com uma grande união a Jesus, do que de uma oração vocal. O que Deus mais ouve? Tudo o que é feito com espírito interior. Quanto mais íntima é a união de uma alma com Deus, mais esta alma é ouvida. Uma alma intimamente unida a Jesus, é dona do seu Coração Divino. Deveis procurar sempre esta união que Jesus espera de há muito tempo de vós. Se quereis agradá-lO, eis o único meio: aproximar-se sempre mais do Seu Coração, por uma grande atenção aos menores desejos da Sua Vontade Santíssima. É preciso que Ele vos vire e revire como bem queira, sem nunca encontrar resistência da vossa parte. Então haveis de ver e compreender Sua bondade!
Procurai trabalhar atentamente só por Deus. Não procureis outro, para testemunha de vossas ações.
(8 de dezembro — 2 horas da tarde — Imaculada Conceição) — Ai! Quantas vidas parecem cheias de boas obras e, no entanto, na hora da morte estarão vazias! Se soubésseis quão poucas são as pessoas que agem só por Deus e que praticam seus atos só por Deus! Na morte, então ai! Quando a gente não está mais cego, quanto arrependimento! Ai! Se refletissem algumas vezes no que é a eternidade! Que é esta vida, comparada com este dia sem noite para os eleitos, e esta noite, que não há de ter fim dos condenados! Ama-se tanta coisa na terra, apegam-se a tudo neste mundo, exceto a Aquele que unicamente deveria merecer nossa afeição e ao qual recusamos nosso amor! Jesus nos tabernáculos espera os corações que O amam, e não os encontra…
— No Purgatório, se ama?
Resposta: — Sim, mas é um amor de reparação, e se na terra nós tivéssemos amado a Deus como deveríamos, não seríamos tão numerosas e não haveria tantas almas no lugar da expiação!
— No Céu, Jesus é bem amado?
Resposta: — No céu se ama muito a Deus. Lá, Deus é desagravado, mas não como na terra. Jesus deseja o amor na terra, na terra onde veio para se aniquilar em cada Tabernáculo, a fim de que fosse mais fácil chegarem-se a Ele. E no entanto, não fazem isto, não O procuram nem amam!…
Eu vos disse que há almas que fazem o seu Purgatório ao pé dos altares. Elas ficam ali pelas faltas que cometeram nas igrejas. Estas faltas que foram diretamente a Jesus presente nos Tabernáculos, são punidas com muita severidade no Purgatório. As almas que ficam diante do Tabernáculo em adoração, lá estão em recompensa da devoção ao Santo Lugar. Elas sofrem menos do que se estivessem no Purgatório mesmo, e Jesus, que elas contemplam com os olhos da alma e da fé ao mesmo tempo, lhes alivia com Sua Presença Real, o que elas padecem.
1880
(Janeiro) — Noite de Natal — Milhares de almas deixam o lugar da expiação para o céu. Muitas ficaram, e eu sou do número das que ficaram. Dizeis que a perfeição de uma alma é bem longa. É verdade. Estais admirada de que não obstante tantas orações eu ainda fique tanto tempo sem gozar da presença de Deus. Ai! a perfeição de uma alma no purgatório não vai mais depressa do que na terra. Há algumas almas que só têm alguns pecados veniais a expiar. É um número pequeno o delas. Estas não ficam muito tempo no purgatório.
Algumas orações bem feitas, alguns sacrifícios, as livram em pouco tempo. Porém, quando são almas como eu, e é o caso de quase todas, que passaram a vida quase nula e que se ocupam pouco ou quase nada da sua salvação, é preciso neste caso recomeçar a vida no lugar da expiação, aperfeiçoar a alma de novo, amar, desejar Aquele que na terra não amamos bastante. Eis porque a libertação destas almas, muitas vezes se prolonga por muito tempo. Deus ainda me concedeu uma grande graça: a de vir pedir orações. Eu não a merecia e sem isto eu ficaria aqui anos e anos, como a maior parte.
– As religiosas e as outras da mesma Congregação, têm relações entre si?
Resposta: – No Purgatório como no Céu, as religiosas da mesma família não estão sempre juntas. As almas não merecem todas a mesma penitência nem a mesma recompensa. Entretanto, elas se reconhecem no Purgatório. Podem também com permissão de Deus, se comunicarem entre elas.
– Pode-se receber uma oração, um pensamento de um amigo defunto e lhe dar a conhecer a saudade que se tem dele?
Resposta: – No Purgatório como no Céu, pode-se fazer chegar até aqui a lembrança e as saudades da terra, mas como vos disse, não são úteis às almas do Purgatório, porque elas sabem e conhecem as pessoas que se interessam por elas na terra. Deus permite algumas vezes, que delas se possa receber algum conselho, alguma advertência. Assim, o que eu vos disse diversas vezes a respeito de São Miguel, foi da parte de Deus, e também o que vos disse do vosso Padre espiritual. Todas as comissões que me destes, algumas vezes, para o outro mundo, eu as fiz sempre, mas tudo isto está subordinado à vontade de Deus.
– As faltas são conhecidas no Purgatório por todos, como serão no Dia do Juízo?
Resposta: – Nós não conhecemos no Purgatório, as faltas dos outros, exceto quando Deus o permite, para certas almas, mas segundo seus desígnios, e isto para muito poucas almas…
– Tendes de Deus um conhecimento mais perfeito do que o nosso?
Resposta: — Ó, que pergunta! Sim, nós O conhecemos muito melhor, e O amamos muito melhor, e também muito mais! Ai! E é isto o que causa nosso maior tormento! Na terra não se sabe o que é o Bom Deus! Fazem d’Ele uma ideia muito estreita; mas nós, ao deixarmos nosso invólucro de carne, de barro, então, nada entrava mais a liberdade de nossa alma. É então, e só então, que conhecemos a Deus, Sua bondade e Suas misericórdias e Seu amor! Depois desta visão tão clara, esta necessidade tão grande de se unir a Deus, a alma tende a se voltar para Ele, e é repelida porque não é bastante pura. Eis o sofrimento!… É o mais duro e mais amargo dos sofrimentos. Ó, se nos fosse permitido voltar à terra depois que conhecemos assim ao bom Deus, que vida não haveríamos de levar! Mas… inúteis arrependimentos!… E no entanto, na terra não se pensa nisto e se vive na cegueira!. . . Não se dá importância para a eternidade! A terra é uma passagem onde só se recebe um corpo, que por sua vez há de voltar à terra. E só pensam e desejam a terra e não pensam no Céu! E Jesus e o amor de Jesus, sempre esquecidos!
— No Purgatório, as almas se consolam mutuamente no amor de Deus, ou cada uma delas é, completamente, isolada em cada sofrimento?
Resposta: — No purgatório nossa única consolação, nossa única esperança é só Deus. Na terra, Deus permite que a gente seja consolada, às vezes, nas penas do corpo e do espírito por um coração amigo. Se neste coração não encontra ainda o amor de Jesus, as consolações são vãs e perdidas, mas aqui, as almas estão abismadas em Deus na vontade divina, e só Deus pode aliviar a dor que padecem… Todas as almas são torturadas, cada uma segundo a culpa que têm, mas todas têm uma dor comum que ultrapassa as demais: a ausência de Jesus que é nosso alimento, nossa vida, nosso tudo. E estamos separadas d’Ele por nossa culpa!
Depois de uma ação, não é preciso voltar atrás e andar perdendo tempo em examinar se a fez bem ou mal. É certo que é preciso examinar as ações de cada dia, a fim de as fazer sempre melhor, mas que isto não seja à custa da tranquilidade da alma. Deus ama muito as almas simples. É preciso ir a Ele com grande simplicidade, boa vontade, sempre pronta a se sacrificar por Ele, e Lhe dar prazer. Deveis proceder para com Jesus, como uma criancinha com sua mãe, confiando na bondade d’Ele, entregando-Lhe nas mãos divinas, todos os vossos interesses espirituais e corporais, e depois, procurá-lO sempre em tudo, agradar em tudo, sem vos preocupardes com outra coisa.
Deus não olha tanto as grandes ações, os atos heroicos, como uma ação simples, um pequeno sacrifício, contanto que estas ações sejam feitas por amor. Quantas vezes um pequeno sacrifício, conhecido só de Deus e da alma que o praticou, não se torna mais meritório, que um outro muito maior que foi aplaudido! É necessário sermos bem interiores, para não tomarmos para nós, os elogios que se nos fazem.
Deus procura almas vazias de si mesmas, para enchê-las de Seu divino amor. Encontra muito poucas. O amor de si não deixa lugar para Jesus. Não deixeis passar nenhuma ocasião de vos mortificar, principalmente no interior. Jesus tem muitas graças para vos conceder na quaresma, preparai-vos por grande fervor e um grande amor. Amai a Jesus, principalmente. Ele é tão pouco amado pelo mundo e é tão ultrajado!
A Santíssima Virgem vos ama muito. Da vossa parte, amai-A também, de todo coração e procurai glorificá-lA o mais que vos for possível.
Nunca chegareis a compreender bem a bondade de Deus. Se alguém refletisse bem algumas vezes, seria suficiente para ficar Santo; mas neste mundo não se conhecem bem a misericórdia e a bondade do Coração de Jesus! Cada um as mede segundo o seu modo de ver, e esta maneira é defeituosa. Daí vem que, se reza tão mal!
Sim, poucas pessoas sabem rezar como Jesus o gostaria. Falta-se à confiança, e no entanto, Jesus só nos ouve, depois do ardor dos nossos desejos e na medida do nosso amor. Eis porque muitas vezes, as graças que se pedem ficam sem efeito.
É preciso ver tudo como provindo da bondade de Jesus: o que aflige como o que consola. É o amor que tudo faz para nosso bem, o bem dos seus amigos, Deus quer de nós principalmente amor e que luteis assim contra vós mesma, contra vossas más inclinações, e procedeis com espírito de fé. Pois bem, a fé cederá à realidade. É necessário proceder, como se Jesus estivesse sempre presente. E que isto vos seja uma coisa natural, apesar de ser tão sobrenatural!
— As promessas feitas em favor daqueles que rezam o terço de São Miguel, são verdadeiras?
Resposta: — As promessas são reais, mas não se deve acreditar que as pessoas que rezam o terço por rotina e sem procurar fazê-lo com perfeição, sejam logo tiradas do Purgatório. Seria um erro. São Miguel faz muito mais ainda do que promete, mas os que estão condenados a um longo Purgatório, ele não os retira assim tão depressa! É verdade que a lembrança da devoção ao Santo Arcanjo alivia muito as almas, mas que sejam de todo libertadas do Purgatório, não. Eu que o diga, eu posso bem servir de exemplo!… A libertação imediata só a terão as pessoas que trabalharam corajosamente para a sua perfeição, e que tiveram pouca coisa a expiar no Purgatório.
A França é bem culpada, e infelizmente ela não está só! Neste momento, não há um reino cristão, que não procure aberta ou surdamente expulsar Deus do seu seio. As Sociedades Secretas e o diabo, fomentam estas revoltas. É agora a hora do príncipe das trevas. Deus há de mostrar, que só Ele é o Senhor único! Talvez não seja feito isto com doçura, e fará sentir o Seu poder, mas nos próprios castigos, Jesus é misericordioso. São Miguel há de intervir na luta pessoal da Igreja. Ele é o Chefe desta Igreja tão perseguida, mas que não será aniquilada como pensam os maus. Quando há de intervir São Miguel, eu não o sei. É preciso rezar muito nesta intenção, invocar o Arcanjo lembrando-lhe os títulos que tem, pedir-lhe a intercessão junto d’Aquele sobre o qual tem tanto poder!
Que não se esqueçam da Santíssima Virgem! A França, é o seu reino privilegiado. Ela o salvará. Fazem muito bem em pedir, por toda parte, rosários e terços. E esta oração é a mais eficaz nas necessidades presentes!
No Purgatório, nós não recebemos as indulgências que nos são aplicadas, senão à maneira de sufrágio e como Deus o permite, e segundo as suas divinas disposições. É verdade que não temos apego ao pecado, mas não estamos sob o reino da misericórdia, mas sob o império da Justiça, e desta Justiça, recebemos o que Deus quer que nos seja aplicado.
(Maio) — Trabalhai sem descanso e com todas as vossas forças, para a vossa perfeição. Tendes bastante firmeza de caráter, para vencer todas as dificuldades que se opõe à vossa união com Jesus, até que chegueis lá onde Ele quer.
Vossa vida será um martírio perpétuo. Custa muito renunciar–se a cada instante. É um martírio contínuo, mas neste martírio se experimentam as mais doces alegrias. A alma sofre, mas Aquele por quem ela sofre, Lhe concede a cada sacrifício, a cada renúncia, uma graça que a anima e encoraja a caminhar sempre avante, e a se entregar sempre mais. Nada agrada tanto a Nosso Senhor, como ver uma alma que se esforça, não obstante todos os obstáculos que se encontram no caminho, para poder se entregar cada vez mais para a glória e pelo amor de Deus.
Estais aflita por ver que Deus é insultado em Paris, mas estas pessoas não sabem o que fazem, e Jesus se sente mais insultado e ofendido com os pecados que cometem as almas que Lhe são consagradas e não são o que deveriam ser, do que com as injúrias daqueles que não são seus amigos.
Jesus gostaria que O amásseis com um amor de criança, isto é, com a ternura de uma criança, que só quer agradar aos seus paizinhos queridos, e, no entanto, sois tão fria para com Jesus! Não é isto que Ele espera de vós, a quem tanto ama!
Não dirigis vossa pureza de intenção como Deus o quer. Assim, ao invés de oferecer de um modo vago as intenções, podeis fazer com mais fruto tendo as intenções bem determinadas. Por exemplo: quando tomais a refeição dizei: “Meu Jesus, alimentai a minha alma com a vossa Santa graça, assim como eu alimento agora meu corpo”. Quando lavais vosso rosto ou vossas mãos: “Meu Jesus purificai a minha alma como eu o faço com meu corpo”. E assim em cada uma das ações. Habituai–vos a falar sempre a Jesus com o coração. Que Ele seja tudo no que fazeis ou dizeis.
É preciso nunca se desculpar. Que vos adianta que vos julguem culpada, quando não o sois? E se reconheceis uma falta, humilhai-vos e… silêncio! Não vos desculpeis nem em pensamento.
Só as ações feitas com grande amor, sob o olhar de Deus, para cumprir a Sua Santa Vontade, só elas terão a recompensa imediata, ao passar pelo Purgatório. Que cegueira há no mundo a este respeito!
(Novembro) — Eis que para todas acabou–se o retiro, mas, para vós ele continua. Continuai o vosso retiro sempre, durante todo o ano em vosso coração. Ainda mesmo em meio das maiores ocupações, tende sempre um lugarzinho reservado onde vos recolhereis no coração, e com o Coração de Jesus, e lá não O perdereis nunca de vista.
O retiro foi muito agradável a Deus, e muito proveitoso às almas. Jesus vê com prazer as almas religiosas que se voltam para Ele e O procuram como único fim. Para isto é que Ele as chamou para O seu serviço, mas como é fácil na terra esquecer-se, a gente mesmo, do que é mais sagrado! Um bom retiro ajuda as almas a retomarem o fervor primitivo. É o que se fez no retiro que acabais de ouvir. Este retiro consolou muito o Coração de Jesus.
Que são estes poucos instantes que passamos na terra, comparados com a eternidade?
Na morte vereis que nunca se fez demais. Sede generosa e não vos escuseis. Vede o fim para o qual vos chama Jesus: a santidade, o puro amor, e depois, caminhai sempre sem olhar para trás.
A cruz, as grandes cruzes, as que trituram o coração, são a herança dos amigos de Deus. Vós queixastes nestes dias a Jesus, porque Ele vos enviou muito sofrimento durante este ano? É verdade, mas por que achais tão pesadas as cruzes? É que não O amais ainda bastante. As cruzes ainda não se acabaram. As que tivestes até aqui são apenas o prelúdio do que vos espera. Não vos disse que teríeis sofrimentos do corpo e do espírito, e às vezes os dois juntos? Não há santidade sem sofrimento. Entretanto, quando deixardes que a graça possa agir livremente e que Jesus possua vossa vontade, e seja o Mestre absoluto de tudo em vós, então as cruzes por mais pesadas que o sejam, não hão de pesar mais. O amor absorverá tudo. Até lá, porém, sofrereis muito, porque não é num instante que a alma chega assim a se desapegar de todas as coisas, para não agir senão por amor. Jesus vê com muito prazer os vossos esforços. Ó, se Jesus fosse mais conhecido na terra! Mas é tão esquecido! Pelo menos vós, amai-O, crescei sempre neste amor para agradá-lO. Trabalhai sem descanso, para chegardes até lá, onde Ele vos quer ver.
(16 de setembro) — Como se compreende muito pouco na terra o desapego, que Jesus quer de uma alma, que deve ser toda d’Ele! Algumas se julgam santas porque experimentam um amor mais sensível do que ordinariamente; mas, todas estas sensibilidades naturais nada são. É necessário que a alma se eleve, se desapegue pouco a pouco, de tudo que a cerca, e sobretudo de si mesma, de seu amor-próprio, das suas paixões, a fim de chegar à União Divina e só Jesus sabe quanto custa à natureza chegar até lá! O coração há de ser triturado, a fim de sair dele todo o amor humano, e é difícil! Poucas almas compreendem estas coisas! Vós que compreendeis um pouco de tudo isto, por misericórdia de Jesus, vós a quem Ele tanto ama, entrai corajosamente neste caminho da abnegação e da morte de vós mesma. Voai por cima da terra, e de tudo que vos cerca, para vos abismardes na Santíssima Vontade de Deus. Não perder de vista, esta santa vontade de Deus, nem um minuto! Não penseis que com isto não podereis cumprir as vossas obrigações, absorta neste pensamento. Haveis de ver que acontece justamente o contrário. A alma quanto mais unida a Jesus, tanto mais será exata no cumprimento dos seus deveres. Aquele a quem ama fará tudo por ela. Será um com ela. E então, não estará bem dirigida e ajudada no que faz? Quanto bem pode fazer uma alma interior! Aliás, tudo o que se fizer fora disto, é inútil. A alma unida a Jesus tem direito sobre o Seu Coração, é senhora deste Coração e Ele, nada lhe recusa.
Refleti bem nisto que vos estou dizendo! Uma só das vossas ações, oferecidas para meu alívio, com pureza de intenção, quando estais bem unida a Jesus, me alivia mais do que diversas orações vocais. Quanto mais depressa vos aperfeiçoardes, tanto mais depressa chegareis a me livrar do Purgatório.
É verdade que a Madre Superiora sofreu muito nestes últimos dias, mas um dia de grande sofrimento como ela o experimenta algumas vezes, é mais proveitoso para a alma dela e para a Comunidade, do que dez dias ou mais de boa saúde, em que pode trabalhar e fazer tudo o que é de seu cargo.
(2 de outubro) — Dizei muitas vezes no dia: “Meu Deus, realizai em mim os vossos desígnios, e dai–me a graça de não pôr obstáculo a vossa vontade! Meu Jesus, eu quero o que vós quereis, como quereis, e tanto tempo quanto quiserdes!”
(3 de outubro — Domingo) — Ó, se vos fosse dado compreender na terra, como Jesus é tratado com indiferença e desprezo neste mundo! E não só pelo mundo. Ele é insultado, ridicularizado, mesmo por aqueles que O deveriam amar. É assim que se encontra indiferença nas Comunidades, entre religiosos e religiosas, Sua gente escolhida! Lá, onde deveria ser tratado como Amigo, como Pai, como Esposo, O consideram e O tratam mais como um estranho. Esta indiferença se encontra também no Clero. Jesus é tratado como de igual para igual. Os que deveriam tremer pensando na augusta missão que receberam, a desempenham com indiferença e aborrecimento!
Quantos possuem o espírito interior? Um número muito pequeno. São numerosos no Purgatório, os Padres que expiam a sua vida sem amor e sua indiferença.
É preciso que eles expiem pelo fogo e em torturas de todas as formas, as suas negligências. Eis o grande sofrimento do Coração de Jesus: a ingratidão dos Seus. E no entanto, o divino Coração está todo transbordando de amor e só quer difundi–lO.
Jesus quer encontrar algumas almas mortas para si mesmas. Jesus derramará nelas ondas de amor, mais do que já o fez com ninguém neste mundo. Ó, como Jesus, como a Sua misericórdia, como Seu amor, são pouco conhecidos neste mundo!
Procura–se conhecer tudo, aprofundar–se em tudo, exceto no que traz a verdadeira felicidade, a única coisa verdadeira… Que tristeza!
(14 de outubro — Durante minha ação de graças) – A menor infidelidade da vossa parte, o menor esquecimento, e menor indiferença para com Jesus, Lhe é mais sensível e mais Lhe fere o Coração tão bom, tão amoroso, do que uma injúria de um inimigo. Vigiai–vos com grande cuidado, não deixeis passar coisa alguma. Que Jesus possa vir e se achar feliz em vosso coração, para que O consoleis das amarguras e desgostos que recebe no mundo. Procedei com Ele como para com um pai, e o melhor dos pais e o mais dedicado dos Esposos. Consolai-O, reparai as injúrias que recebe cada dia. Tomai os interesses da Sua glória e do Seu Sagrado Coração. Esquecei-vos diante d’Ele, e fazendo assim, vossos interesses se tornarão os Seus, e Ele fará mais por vós do que vós com vossas ocupações.
Olhai tranquilamente todas as coisas que vão passando em torno de vós. Que nada vos detenha. Vossa única alegria, vosso único repouso só se encontram em Jesus. Trabalhai só para Ele, e Seu amor vos dará coragem. Nunca haveis de fazer demais por um Deus tão bom!
Amai tanto a Deus a ponto de nunca adquirir neste mundo o Seu amor sem sofrimento e sem mérito. Os sofrimentos da terra são meritórios, não os deveis perder.
Muitas Almas do Purgatório contam convosco, para as tirar do lugar dos seus sofrimentos. Pensai bem nisto e rezai muito por elas de todo coração.
1881
Os sofrimentos do corpo e do coração, são a herança dos amigos de Jesus, enquanto estão neste mundo. Quanto mais Jesus tem amor a uma alma, tanto mais a faz participante das dores, que Ele sofreu aqui por nosso amor. Feliz a alma assim privilegiada! Quantos méritos não pode adquirir! E’ o caminho mais curto para chegar ao Céu. Não tenhais medo do sofrimento, ao invés, amai-o porque ele nos aproxima mais perto d’Aquele que amamos.
Já não vos disse um dia, que o amor tornará doce o que vos parece agora tão amargo, porque não amais bastante? O meio mais infalível para chegar depressa à união com Jesus, é o amor, mas o amor unido ao sofrimento. Se soubésseis como o sofrimento é bom para a alma! São as mais doces carícias que o Divino Esposo faz àquela que ama e com quem quer se unir intimamente. Jesus envia à alma que ama, sofrimento sobre sofrimento, penas sobre penas, a fim de desapegá–la de tudo que a cerca… Então pode lhe falar ao coração.
(Abril) — Jesus não vos deixará em paz, enquanto não tiverdes chegado à perfeição que Ele quer de vós. Voltai–vos para todos os lados; enquanto a vossa vontade não for uma só vontade com a vontade de Deus, enquanto não fizerdes todas as ações sob o olhar de Deus, não tereis paz nem a calma interior.
1882
(Setembro) — Jesus faz muito por vós e fará ainda muito mais no futuro, mas é necessário que correspondais às Suas graças e sejais sempre bem generosa. As almas que chegam à perfeição que Jesus delas pede, são senhoras do Seu Divino Coração. Ele nada lhes recusa. Quando chegardes lá, Jesus e vós sereis um só. Tereis os mesmos sentimentos, os mesmos desejos.
Ó, amai muito a Jesus, uni-vos a Ele do modo mais forte que seja possível, com todas as potências de vosso coração. Não vivais nem respireis mais do que o amor de Jesus.
1883
Um ano a mais que se foi para a eternidade! Assim passam todos, todos, uns após outros. Sucedem-se os dias até aquele que põe termo à vida da terra, e começa a vida da eternidade! Empregai bem todos os instantes. Cada um deles pode ganhar o Céu e vos evitar o Purgatório. Cada uma das vossas ações feitas sob o olhar de Jesus, vos dará um grau de glória a mais no Céu, e ao mesmo tempo um grau de amor para Jesus também.
O sofrimento precede sempre o amor e há um grau de amor que só atingem os que sofreram e sofreram muito. Eu vos falo, principalmente, dos sofrimentos do coração.
O maior sofrimento que possa ter uma alma que ama verdadeiramente a Jesus, é não amá-lO quanto ela o deseja.
(Retiro de Maio) – Deus tem muitos meios para chegar aos seus fins, quando Ele quer alguma coisa de especial de uma alma. Este retiro deve ser o começo da grande perfeição, a que Jesus vos chama desde há muito.
Com Jesus, o que podereis temer? Ele é vosso Pai, vosso Amigo, vosso Esposo, vosso tudo. Não tem Ele o direito de exigir de sua alma o que Ele queira, sem dizer por quê? É o grande Senhor, é o Senhor de todos. Adorai os Seus desígnios e obedecei-lhe cegamente. É o que Ele quer de vós. Procurai, pois, trabalhar generosamente para a vossa santificação. Redobrai vossa ternura, vosso amor por Jesus. Amai pelos que O não amam, reparai pelos que O ultrajam, pedi perdão pelos que nunca pensam nisto. Jesus espera tudo isto de vós.
(20 de Maio) — Na terra nos arrumamos ao nosso modo, mas no outro mundo, é Deus quem nos arruma ao Seu modo.
(Retiro de 29 de Agosto) – Sete horas da noite. Habituai-vos a falar a Nosso Senhor como a um amigo, O mais devotado e sincero. Não fazer e não dizer nada sem O consultar. Há vários anos que eu estou vos dizendo isto. Eu falei disto muitas vezes, e hoje torno a repetir. Deus quer que presteis muita atenção nisto e o pratiqueis. Este olhar da alma, sempre fixo em Jesus, para perceber as suas menores vontades, esta conversação divina que Ele quer ter convosco, não vos impedirão de vos entregardes aos trabalhos exteriores. Ao contrário, é impossível conservar–se calma no exterior, se o interior não o está. As paixões interiores se refletem sempre no exterior, e a alma que vigia cuidadosamente o seu interior é também senhora do exterior! Eis o que Jesus pede de vós. Uma vida de fé e de união contínua com Ele, uma vida humilde, oculta, conhecida só d’Ele. Seja Ele tudo para vós. Olhai tudo que vos acontece, como outros tantos meios de que Ele se serve para vos unir a Ele e realizar os Seus desígnios. Sede generosa, que não vos falte energia… Começai então esta vida de renúncia e de sacrifício, e sobretudo de amor. Achareis a calma e a paz que Ele há muitos anos vos oferece.
Que a Santa Vontade de Deus, seja a base de tudo quanto tiverdes de fazer ou sofrer. Jesus espera muito de vós, muitos sofrimentos do corpo e do espírito, mas também muito amor. Não se pode amar sem que a natureza sofra, já o sabeis muito bem. Já o experimentastes no passado e preparai-vos para o futuro. Deus vos deu tudo que é preciso, para sentir o sofrimento mais do que os outros. É uma misericórdia e uma graça a mais. Onde há grandes sacrifícios a fazer, há grandes méritos. Sede bem generosa. Pôr de lado o “eu”, a Jesus adianta! Pensai muitas vezes nisto: se quereis que vossas ações agradem a Jesus, é preciso que em cada uma delas, haja sempre um pequeno sacrifício, alguma coisa que custe.
1886
(Maio) – Para a alma religiosa é preciso o espírito de sacrifício, o espírito interior, a pureza de intenção. Eis a síntese da vida religiosa.
Uma religiosa pode aliviar as almas de seus parentes defuntos, com as ações todas praticadas com grande pureza de intenção e muito mais do que pelas orações.
A alma mais querida de Jesus, é sempre a mais crucificada na terra, mas a cruz enviada por Jesus tem doçuras misturadas com as amarguras. Há cruzes que vêm por nossa culpa, e nestas ficam só as amarguras.
1887
(Fevereiro) — Jesus não mostra à alma tudo quanto exige dela, assim de uma vez. Ela se assustaria. Porém, pouco a pouco a torna mais forte e lhe descobre Seus segredos e a torna participante da Cruz.
(24 de Junho) — Ficai bem unida a Jesus. Antes de qualquer ação, consultai-O. Sempre de coração a coração, como a um amigo que se tem sempre perto.
Jesus quer vossa alma toda inteira, com todas as suas faculdades, todas as potências; vosso coração com todas as ternuras, todo o vosso amor. Tudo haveis de buscar na fonte daquele Divino Coração, que nunca se esgota. Eis como deveis proceder como esposas dedicadas.
Durante o dia, várias vezes deixai-vos penetrar bem da presença de Deus, recolhei–vos diante de Sua divina Majestade, reconhecei vossa miséria, mas também a Sua bondade infinita, agradecei-Lhe afetuosamente. Podeis falar com Jesus o dia inteiro. É o que Ele espera de vós já há muito tempo.
Se fordes fiel a tudo quanto vos disse, Jesus vos guardará Suas comunicações mais íntimas, Suas carícias divinas, Seu amor de Pai e Esposo amante, e alcançareis tudo quanto Lhe pedirdes. Jesus não vos há de recusar nada. Haveis de vos dar toda a Ele e Ele se dará todo a vós.
Deus deseja que este retiro, vos ponha no estado que Ele espera de vós, há muito tempo. Deus chega aos Seus fins, por meios a nós desconhecidos. Pois bem, coragem, mãos à obra! Jesus vos concederá graças novas. Correspondei a elas generosamente, para vós e para a Comunidade. Que vossa vontade, seja uma só vontade com a de Jesus.
Pela permissão de Deus, nós conhecemos no Purgatório o que se passa na terra, neste momento, a fim de que rezemos pelas grandes necessidades, mas nossa oração não basta. Se Jesus encontrasse algumas almas de boa vontade, que quisessem reparar e desagravar a Majestade Divina ultrajada, seria uma grande alegria para o Seu Coração tão amargurado. Estas almas poderiam obter misericórdia, esta misericórdia que para dá-la só quer que o pecador se humilhe. Dizei isto à Madre Superiora.
Todas estas provas, Deus as permitiu para vos dar força de alma e fazer triunfar a Sua glória, Sua justiça e Seu amor.
Quando puderdes, fazei uma visita a Jesus e dizei–Lhe vossos sofrimentos, alegrias, tudo enfim. Falai–Lhe como a um Amigo, a um Pai, a um Esposo.
Não perder de vista a Divina Presença. Deus vos quer santa e só para Ele. Não vos prejudiqueis. O comum, eis o que Jesus quer de vós!
Últimos Ensinamentos
Que a fé prática anime todas as vossas ações. Que vossa confiança e amor, vos faça empreender tudo quanto Ele exige de vós. Dizei cada manhã ao levantar: “Meu Jesus, eis-me aqui para cumprir a vossa Santa Vontade; que quereis que eu faça hoje para vos agradar?”
Fazei todos os exercícios de piedade sob o olhar de Jesus, e com muito amor. Só se pode fazer bem às almas, na medida da união com Deus.
Deus procura almas que reparem os ultrajes que Ele recebe, que O amem, e que O façam amar. Ele vos quer neste número.
Jesus, antes de conceder a uma alma, uma união íntima com Ele, a purifica pela provação, e quanto maiores desígnios têm sobre esta alma, tanto mais a prova é maior.
Fixai vossa morada habitual no Coração de Jesus. Que o amor seja a cadeia que una, vosso coração Àquele Coração adorável. Vosso coração tão miserável se purificará, se há de desapegar ao contato com um Coração tão puro!
Ide buscar no Coração de Jesus o que necessitais, para vós e para os outros. Ele nada vos há de recusar.
Os sofrimentos do coração, são bem mais penosos que os do corpo. Para uma alma que ama a Jesus, a dor maior é magoar a Jesus, por suas ingratidões e pecados.
Pedi ao Coração de Jesus força de alma necessária, para que Ele cumpra em vós Seus desígnios.
Para fixar o espírito na presença de Deus, tomai cada dia uma das catorze estações de Nosso Senhor na Paixão e pensai bastante nela. Jesus gosta que nos lembremos do que Ele sofreu por nós. Nos dias de festa tomai um dos Mistérios gloriosos, a Ressurreição, a Ascensão. Pensai também muitas vezes na Eucaristia, e na vida oculta de Jesus no Tabernáculo. Lá, sobretudo, é que haveis de ver o Seu amor. Ficar sozinho sem adoradores, na maior parte das igrejas do mundo! Esperar em vão, que alguém venha Lhe dizer: eu vos amo!
Tudo passa, e passa depressa! Não tenhamos tanta preocupação, pelas coisas que um dia hão de se acabar! Olhemos sempre, o que nunca mais se há de acabar. Por nossas ações santas e unidas a Jesus, embelezemos nosso trono no Céu. Façamos o nosso trono mais alto, alguns degraus mais próximo d’Aquele que havemos de contemplar e amar por toda a eternidade. Eis qual deve ser a vossa ocupação na terra.
LEMBRANÇA
(2 de Novembro de 1890 – Última bênção do mês do Rosário)
Vou procurar fazer com que entendais quanto possível o que é o Céu. Festas e sempre novas, que se sucedem sem interrupção, uma felicidade sempre nova e que a gente nunca sentiu. É uma torrente de alegria que transborda sem cessar sobre os eleitos. O Céu é principalmente Deus, Deus amado, sentido, provado; é uma saciedade de Deus, sem se poder saciar nunca!
Quanto mais a alma amou a Deus na terra, tanto mais atinge o cume da perfeição, tanto mais compreende o Céu!
Jesus é a verdadeira alegria da terra, e a eterna alegria dos Céus!
_________________________
1. Mons. Ascânio Brandão, “Tenhamos Compaixão das Pobres Almas!”, Cap. “O Manuscrito do Purgatório”, pp. 249-290. 2ª Edição, Editora “Ave Maria” Ltda, São Paulo/SP, 1956. Cfr. também:
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