Blog Católico, para os Católicos

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"Uma vez que, como todos os fiéis, são encarregados por Deus do apostolado em virtude do Batismo e da Confirmação, os leigos têm a OBRIGAÇÃO e o DIREITO, individualmente ou agrupados em associações, de trabalhar para que a mensagem divina da salvação seja conhecida e recebida por todos os homens e por toda a terra; esta obrigação é ainda mais presente se levarmos em conta que é somente através deles que os homens podem ouvir o Evangelho e conhecer a Cristo. Nas comunidades eclesiais, a ação deles é tão necessária que, sem ela, o apostolado dos pastores não pode, o mais das vezes, obter seu pleno efeito" (S.S. o Papa Pio XII, Discurso de 20 de fevereiro de 1946: citado por João Paulo II, CL 9; cfr. Catecismo da Igreja Católica, n. 900).

quinta-feira, 3 de novembro de 2022

O PURGATÓRIO SE REVELA. 1


Que são as aparições?1


Contam-se fatos prodigiosos e muitas aparições de almas do purgatório. Isto poderia talvez impressionar a alguns e julgarem que podemos desejar ou procurar, com certa curiosidade, indagar a sorte dos mortos ou facilmente ter comunicação com as almas do Purgatório. Quanta ilusão perigosa e quanta superstição e crendice em torno disto! É mister discernirmos bem as verdadeiras das falsas aparições, e mostrarmos o pensamento da Igreja e dos Santos Doutores para que se evitem confusões e ilusões numa matéria tão grave e delicada, porque tão sujeita a enganos e erros.


Que é uma aparição? É uma manifestação do outro mundo, de alguém que nos vem dizer o que lá se passa. Podemos acreditar nas aparições?


Há dois extremos igualmente prejudiciais. Um dos que facilmente aceitam toda sorte de aparições sem exame e não têm a prudência de estudar e esperar a opinião de pessoas criteriosas, teólogos ou autoridades eclesiásticas e superiores, que possam discernir com segurança a verdade de tais aparições. É uma leviandade. Assim o diz a Escritura: “Qui cito credit, levis est corde”,2 quem facilmente em tudo crê, é leviano de coração, é um espírito leviano. Todavia, rejeitar sistematicamente e obstinadamente toda aparição, todos os fatos sobrenaturais, mesmo que tenham os sinais de verdadeiros, é prova de muito ceticismo, de orgulho, e pode levar à infidelidade a graça, como insinua a Escritura: “Qui incredulus est infideliter agit”,3 quem é duro em acreditar, procede contra a piedade.


É mister um equilíbrio neste caso entre os dois extremos. Uma alma verdadeiramente humilde e obediente nunca poderá se enganar. Outra questão é se as almas do outro mundo podem se comunicar com os vivos. Podem voltar à terra quando queiram ou quando desejem os vivos? Respondemos sem hesitar, com a boa doutrina da Igreja e dos teólogos: — não e não! Isto só se dá por uma especialíssima permissão de Deus, raras vezes, e por milagre, para ensinamento e confirmação da imortalidade da alma, para lição dos vivos ou para pedir socorro e sufrágios.


Desde que nossa alma se separou do corpo pela morte, não tem mais órgãos para se comunicar com os homens, é puro espírito, e só por milagre se pode tornar sensível. E demais, quando a alma deixou o corpo, já foi entregue à Divina Justiça, e está no lugar que mereceu: o céu, o inferno ou o purgatório. Não pode, sem milagre, entrar em comunicação com os homens. Este milagre das aparições nós os encontramos na Sagrada Escritura. Samuel apareceu à Pitonisa de Endor e repreendeu a Saul porque havia perturbado o repouso dos mortos. Mostrou o castigo que lhe estava reservado por esta curiosidade vã. Na morte de Nosso Senhor, conta São Mateus que os túmulos se abriram e muitos mortos apareceram e foram vistos em Jerusalém. Nas vidas dos Santos encontramos inúmeras aparições, e a Santa Igreja, ao elevar à honra dos altares os servos de Deus, submete a um rigoroso processo todos os fatos e prodígios que deles narraram, embora não se pronuncie sobre eles. Portanto, há verdadeiras aparições.



Verdadeiras e falsas Aparições


Há verdadeiras e falsas aparições. Estas muito mais frequentes do que aquelas. Como distingui-las? Há sinais pelos quais facilmente podemos nos livrar de enganos e afastarmos o perigo da ilusão diabólica. Devemos imitar sempre a reserva prudente da Santa Igreja nesta matéria. A Igreja não admite revelação alguma se não for devidamente comprovada, e ainda assim, não obriga os fiéis a nela acreditar. Ninguém é obrigado a acreditar numa revelação particular por mais provada que tenha sido. Não obstante, depois de bem provadas, seria temerário abusar com uma sistemática atitude de ceticismo, diante do que Santos e homens doutos e equilibrados aceitaram e provaram não haver ilusões.


Diz Bento XIV que podem os fiéis acreditar e podem ser publicadas as revelações particulares para edificação dos fiéis, contanto que sejam aprovadas pela autoridade eclesiástica. O Papa Urbano VIII manda que ao serem publicadas, declare o autor em nada querer se adiantar aos juízos da Igreja, e que tais fatos merecem apenas uma fé humana e não importam em definição da Santa Madre Igreja.


Eis as cautelas com que a Igreja cerca as aparições.


Há também regras seguras para discernimento das revelações segundo os bons autores de espiritualidade e os melhores teólogos. Umas se referem às pessoas que recebem as revelações, e outras à matéria das revelações e aos efeitos das mesmas. Quanto às pessoas é mister indagar dos dotes naturais. É um temperamento equilibrado? Não se trata de uma psico-neurose ou de histerismo? Nestes casos, quantas alucinações perigosas e difíceis de serem discernidas logo de começo! Quanto ao estado mental, é pessoa discreta, de juízo reto, ou de imaginação exaltada e de sensibilidade excessiva? É instruída ou ignorante? Onde aprendeu o que sabe? Não estaria com o espírito debilitado por jejuns ou por alguma enfermidade? Quanto a moral, é saber se trata-se de pessoa sincera ou acostumada a exagerar e a mentir. É um temperamento calmo, ou apaixonado e sem equilíbrio? A resposta a estas perguntas não dará, certamente, uma solução para a prova da existência ou não de uma revelação verdadeira, mas ajudará muito a julgar do valor do testemunho dos videntes.


Quanto à matéria das aparições é mister muita atenção para julgá-las. Segundo a doutrina unânime dos Doutores, nenhuma revelação pode contradizer o dogma e o que foi ensinado pelo Evangelho. Diz São Paulo: Ainda que um Anjo do céu vos pregue um evangelho diferente do que anunciamos, seja anátema”.4 Deus não se contradiz. Nas falsas aparições há mentiras, erros teológicos graves, contradições, e muitas vezes coisas contrárias às leis da moral e da decência.


Muitas pessoas de imaginação muito viva tomam seus próprios pensamentos por visões e locuções interiores. Dizia Santa Teresa:Acontece com certas pessoas de tão fraca imaginação que se embebem de tal maneira na imaginação, que tudo o que pensam claramente lhes parece que estão vendo”.5



Aparições das Almas do Purgatório


Depois de 
termos mostrado a verdadeira doutrina da Igreja sobre as revelações ou aparições, tratemos das aparições das santas almas. Podem elas aparecer aos homens? Sim, raramente e por permissão de Deus. É uma graça para quem recebeu a aparição e uma graça para a pobre alma, sobretudo quando Deus permite que ela obtenha socorros para se livrar das chamas expiadoras. Deus o permite para excitar a nossa fé na imortalidade da alma e para que compreendamos melhor a sorte das pobres almas e procuraremos sufragá-las com mais zelo e caridade. Como distinguir as verdadeiras das falsas aparições de almas do purgatório? Já demos as principais regras deste discernimento segundo a doutrina da Igreja e a teologia. Acrescentemos mais algumas. No século XVII o sábio Cardeal Bona criticou severamente a facilidade e leviandade com que acreditavam muitos em revelações sobrenaturais e deu algumas regras que podem nos esclarecer muitos na matéria. Vamos comentá-las:


1.º — ‘Toda aparição desejada ou provocada é suspeita’. Ninguém deve desejar ver nem conversar com os mortos, indagar a sorte dos defuntos, mesmo que o faça por motivo de caridade e para rezar por eles. Não se deve desejar aparição alguma de alma do purgatório. Seria temeridade e presunção.


2.º — Se a aparição revela coisas ocultas que seria melhor silenciar sobre elas, faltas alheias, ensina coisas contrárias ao dogma e ao Evangelho, tem horror à água benta, ao crucifixo etc., está provado que se trata do Demônio.


3.º — As almas do purgatório aparecem geralmente para solicitar orações, recomendar restituições, etc. E feito isto, não voltam mais, a não ser para agradecerem. Se uma aparição se torna importuna dia e noite, ameaça, perturba a paz de um homem ou de uma família ou comunidade, é sinal certo de Demônio.


4.º — Ninguém deve aceitar serviços prestados pelas almas do purgatório que se vem colocar à nossa disposição, morar conosco, etc. É pura ilusão isto ou coisa diabólica.


5.º — Todos os bons teólogos místicos ensinam que as aparições verdadeiras logo de princípio perturbam e assustam, mas depois lançam a alma numa doce paz, aumenta a humildade, excita o amor de Deus e do próximo e produzem um grande desejo de perfeição. Quando alguém começa a se gabar das aparições, mostrar-se digno delas, perturbar-se em vão e encher-se de presunção, irritar quando os superiores não fazem caso das suas visões e desobedecerem, eis um sinal bem certo de engano.


6.º — É mister que as aparições sejam expostas singelamente a um bom diretor, sem exageros nem reticências, nem diminuição da verdade. E depois ficar pelo que ele decidir e obedecê-lo cegamente”.


Com estas regras seguras dos bons teólogos e autores místicos, não haverá perigo de ilusão. Deus Nosso Senhor na sua misericórdia tem permitido muitas revelações das almas do purgatório. Parece mesmo que são mais numerosas do que qualquer outras. Quanta luz sobre o purgatório não nos deram, por exemplo, as revelações de uma Santa Catarina de Gênova! Nesta matéria sejamos muito prudentes e criteriosos e não nos afastemos do pensamento da Santa Igreja e das normas que acima vão expostas.


EXEMPLOS



Soror Josefa Menendez,

e os Ensinamentos do Purgatório.6


Josefa nunca desceu ao Purgatório, mas viu e ouviu numerosas almas vindo pedir-lhe orações e algumas dizendo que, graças aos seus sofrimentos, haviam escapado ao Inferno. Essas almas, em geral, acusavam-se humildemente das causas de sua estada no Purgatório.7

Acrescentamos aqui alguns pormenores:

Eu tinha vocação e perdi-a com uma leitura má. Tinha também desprezado e arrancado meu escapulário”.8

Estava eu mergulhada em grande vaidade e prestes a me casar. Nosso Senhor se serviu de um meio muito duro para me fechar as portas do Inferno”.9

Minha vida religiosa careceu de fervor!…

Minha vida religiosa foi longa, mas passei os meus últimos anos a cuidar de mim e a me satisfazer, mais do que a amar a Nosso Senhor. Graças aos méritos de um sacrifício que tu fizeste, pude morrer com fervor e é ainda por causa de ti que não estou no Purgatório por longos anos como o merecia. O importante não é a entrada na religião, mas, a entrada na eternidade”.10

Estou no Purgatório há um ano e três meses. Sem teus pequenos atos, eu ainda lá ficaria durante longos anos. As pessoas do mundo têm menos responsabilidades do que as almas religiosas. Quantas graças recebem estas, e que responsabilidade se não as aproveitarem!… As religiosas mal sabem como as suas faltas são aqui expiadas!… A língua horrivelmente atormentada expia faltas ao silêncio; a garganta ressecada expia faltas contra a caridade; e a sujeição desta prisão, as repugnâncias em obedecer… Na minha Ordem, há pouco gozo e pouca comodidade, mas a gente pode sempre chegar a arranjar alguma suavização… e como é preciso expiar, aqui, a menor falta de mortificação!… Reter os olhos para evitar uma pequena curiosidade, custa às vezes grande esforço… e aqui… os olhos são atormentados com a impossibilidade de ver a Deus!”11

Uma outra alma religiosa se acusa de faltas de caridade e de murmurações por ocasião da eleição de uma de suas Superioras”.12

Estive no Purgatório até agora… porque durante a minha vida religiosa falei muito e com pouca discrição. Comunicava a miúdo minhas impressões e minhas queixas e essas comunicações foram, para várias de minhas Irmãs de hábito, causa de muitas faltas de caridade.

Aproveite-se bem desta lição – acrescentava a Santíssima Virgem, presente à aparição – porque há muitas almas que caem nesse perigo”.

E, Nosso Senhor sublinhava ainda esse grave aviso com as seguintes palavras: “Esta alma está no Purgatório por causa de faltas de silêncio, pois este gênero de faltas arrasta muitas outras: primeiramente, falta-se à Regra; em segundo lugar, há frequentemente, nessas faltas, pecados contra a caridade ou o espírito religioso, procura de satisfação pessoal, desabafos de coração que não convêm às almas religiosas, e isto tudo sem contar que, não somente a própria pessoa é culpada, mas arrasta consigo uma, ou várias outras. Eis porque está essa alma no Purgatório e se consome em desejos de se aproximar de Mim”.13

Estou no Purgatório, porque não tive bastante cuidado com as almas que Deus me havia confiado, não sabia bastante o que valem as almas e que dedicação exige tão precioso depósito”.14

Estive no Purgatório um pouco menos de hora e meia, para expiar algumas faltas de confiança em Deus. É verdade que sempre O amei muito, mas com certo temor. É verdade também que o julgamento de uma alma religiosa é rigoroso, porque não é nosso Esposo, mas nosso Deus que nos julga. Entretanto, é preciso, durante a vida, imensa confiança em sua Misericórdia e crer que Ele é bom para nós… quantas graças perdem as almas religiosas que não têm bastante confiança n’Ele”.15

Estou no Purgatório, porque não soube tratar as almas que Jesus me confiou com o cuidado que merecem… Deixei-me levar por sentimentos humanos e naturais, sem ver Deus nas almas que me eram confiadas, como o devem sempre os Superiores; pois, se é verdade que toda religiosa deve ver, em sua Superiora, Deus Nosso Senhor, a Superiora também, deve vê-lO em suas filhas…”.

Obrigada a vós que contribuístes para me livrar das penas do Purgatório…”.

Ah! Se as religiosas soubessem até onde pode conduzir um movimento desregrado… como trabalhariam para dominar sua natureza e domar suas paixões”.16

Meu Purgatório será longo, pois não aceitei a Vontade de Deus, nem fiz o sacrifício da minha vida com resignação bastante, durante a doença.

A doença é uma grande graça de purificação, é verdade, mas se não nos acautelarmos, pode também ser ocasião de nos afastarmos do espírito religioso… de esquecermos que fizemos Votos de Pobreza, Castidade e Obediência, e que fomos consagradas a Deus como vítimas. Nosso Senhor, é todo Amor, sim, mas também é todo Justiça!”.17



São Pio de Pietralcina


Um jovem havia se suicidado, porque zombavam muito dele no exército, por causa da sua piedade. À pergunta dos seus familiares se ele tinha se salvado, respondeu o Padre Pio com tristeza: “Por causa das orações de seus pais e da grande misericórdia de Deus, ele se salvou, mas está bem no fundo do Purgatório e precisa do nosso auxílio”.18


______________________

1.  Mons. Ascânio Brandão, “Tenhamos Compaixão das Pobres Almas!”, 27 de Novembro, pp. 209-215. 2ª Edição, Editora “Ave Maria” Ltda, São Paulo/SP, 1956.

2.  Eclo. 14, 4.

3.  Is. 21, 2.

4.  Gál. 1, 8.

5.  Castillo, Moradas sextas, Cap. IX, 9.

6.  “Apelo ao Amor – Mensagem do Coração de Jesus ao Mundo”, Soror Josefa Menendez, Apêndice, pp. 527-528. 2ª Edição, Editora Santa Maria, Rio de Janeiro/RJ, 1952.

7.  Ver biografia, Cap. V – “Entrada nas trevas de Além-Túmulo”.

8.  27 de julho de 1921.

9.  10 de abril de 1921.

10.  7 de abril de 1922.

11.  10 de abril de 1922.

12.  12 de abril de 1922.

13.  22 de fevereiro de 1922.

14.  9 de agosto de 1922.

15.  Setembro de 1922.

16.  Abril de 1923.

17.  Novembro de 1923.

18.  “São Pio de Pietralcina - O Maior Taumaturgo do Século”, Karl Wagner; Cap. 7 – Pe. Pio Olha para o Além, p. 38. 1968. Traduzido do Alemão pelo Prof. João Carlos Cabral de Mendonça.


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