BLOG CATÓLICO PARA OS CATÓLICOS.

BLOG CATÓLICO, PARA OS CATÓLICOS.

"Uma vez que, como todos os fiéis, são encarregados por Deus do apostolado em virtude do Batismo e da Confirmação, os leigos têm a OBRIGAÇÃO e o DIREITO, individualmente ou agrupados em associações, de trabalhar para que a mensagem divina da salvação seja conhecida e recebida por todos os homens e por toda a terra; esta obrigação é ainda mais presente se levarmos em conta que é somente através deles que os homens podem ouvir o Evangelho e conhecer a Cristo. Nas comunidades eclesiais, a ação deles é tão necessária que, sem ela, o apostolado dos pastores não pode, o mais das vezes, obter seu pleno efeito" (S.S. o Papa Pio XII, Discurso de 20 de fevereiro de 1946: citado por João Paulo II, CL 9; cfr. Catecismo da Igreja Católica, n. 900).

terça-feira, 18 de novembro de 2025

TENHAMOS CUIDADO COM AS MODAS.

O que é a Moda?

É um uso novo, que não chegou a ser geral. O principal objeto do que segue sempre a moda, é o chamar à atenção, distinguir-se no gosto, na novidade, na variedade. As mulheres variam tanto, e tão a miúdos seus adornos, que estes conservam quase sempre o nome de modas; rara vez se lhes chega a dar o nome de usos.

Moda é um uso passageiro, introduzido na sociedade pelo gosto ou pelo capricho. É trazerem as senhoras vestidos curtos ou compridos, afogados ou decotados" (Dicionário da Língua Portuguesa e Dicionário de Sinônimos seguido do Dicionário Poético e de Epítetos).

Mesmo quando não é indecente, a moda procede sempre de um espírito contrário àquele da humildade evangélica. Porque tem como finalidade atrair a atenção, a moda terá sempre que mudar. Desde que todos se acostumem com uma moda, a mudança será necessária para que permaneça sempre alerta a atenção centralizada no homem, atenção maligna, já que o homem, por natureza, deveria ser centralizado em Deus, já que foi criado somente para a sua glória” (R. Pe. Marie Joseph).


As Folhas de Figueira e as Modas

"Tem-se feito muito humorismo sobre as mulheres e o seu apego às modas. Não julguem os homens, porém, levianamente, que estão isentos desta mesma doença. Há duas espécies de moda: a das ideias e a do vestuário. Os homens correm atrás da primeira e as mulheres da segunda.

Nos fins do século passado a moda da filosofia fora lançada por Herbert Spencer. Mas quem há hoje que o leia? Ao dobrar do mesmo século os americanos andavam doidos com a filosofia de William James. Hoje, esta, como outra, está fora de moda. Há uns dez anos a voga coube a Freud, quase a passar ao báratro. Dentro duns vinte anos a sorte dele será a de Herbert Spencer. Recordo-me de ter feito uma pergunta a um filósofo inglês, condecorado com uma medalha de ouro pelo falecido Rei Jorge, mercê da sua notável contribuição para o pensamento britânico, graças a dois volumes que escrevera sobre uma noção sem fundamento de que 'o espaço é o Corpo de Deus e o tempo a sua Alma'. Eis a sua resposta: 'Como as criaturas não gostam da Verdade, gostam da novidade; e ninguém ainda tinha ouvido falar no Espaço-Tempo, sem alguém que tivesse no Espaço-Tempo para o sustentar'. Lembrei-me então de lhe contar a história dos dois marinheiros que encalharam numa ilha e que davam banho um ao outro. A moral a extrair é essa: − Nunca devemos casar com o espírito duma época. Se o fizermos, ficaremos viúvos na seguinte. Mas não é agora das modas do pensamento que nos vamos ocupar: é das modas do vestuário, que consideraremos sob dois aspectos:


A filosofia do vestuário. A teologia do vestuário.

Nada de novo há nas modas. O que chamamos moderno não passa muitas vezes dum desconhecimento do antigo.

Vestígios das Modas Antigas − As casacas dos homens têm dois botões nas costas que não servem hoje para nada. Mas, quando os homens montavam, estes botões serviam para apertar atrás as abas da casaca. Os longos trajes dos Monsenhores, dos Bispos e dos Cardeais, serviam para cobrir os animais enquanto cavalgassem. E tudo isto porque nos primeiros tempos o único meio de transporte era o cavalo. As dobras no cimo das botas serviam para ser puxadas se houvesse necessidade de maior proteção. As dobras das calças, por sua vez, tinham como objetivo defendê-las da lama. Esta moda se enraizou. Por outras palavras: o que a princípio era útil tornou-se mais tarde um simples ornamento. Os galões no vestuário da noite remontam ao tempo em que as calças eram tão justas que tinham de ter botões, na parte de cima, que se pudessem desapertar ou apertar quando se despiam ou vestiam. Mais tarde, para os cobrir, empregou-se a carcela, que havia de continuar, mesmo depois de terem desaparecido os botões. Os botões nos punhos dos casacos serviam para abrir as mangas quando debaixo delas se usavam rendas. Os pequenos recortes nas bandas dos casacos são uma sobrevivência dos tempos em que aquelas se podiam levantar sem estragar as lapelas. Hoje, estas já não se voltam, mas os recortes ficaram. Os enfeites nas meias dos homens serviam para encobrir as costuras, muito malfeitas outrora. Os homens apertam os botões para a direita e as mulheres para a esquerda. Isto servia aos homens para poderem puxar mais prontamente pela espada. As mulheres teriam de levar os seus filhos do lado direito. Deste modo podiam, com a mão esquerda, desabotoar os casacos a fim de os aleitarem.

Também na política existe o ritmo da moda. O pêndulo oscila dum extremo ao outro. O que em política é hoje revolucionário, se amanhã for aceito, torna-se um hábito. Toma-se o liberalismo por muito progressivo e avançado. Mas todo ele é uma forma de reação contra a última forma de liberalismo. No século XVIII identificaram-no com o capitalismo. Hoje identificaram-no com o anti-capitalismo. Também as modas, como se vê, oscilam aqui de extremo a extremo. O que hoje se reputa como moderno não passa do reaparecimento do antigo. Os chumaços de crina, do século XIX, por exemplo, serviam para realçar o peito. Este foi também o estilo do século II. De fato, um grande da igreja oriental, Clemente de Alexandria, escreveu um poema acerca da vaidade de realçar o busto. Durante o Império a moda não passou duma reencarnação do estilo da Antiguidade clássica. Nos tempos em que a maturidade, a sagacidade e o mérito eram respeitados, também se respeitava a tradição e se reverenciavam os mais idosos. A juventude imita os mais velhos no seu vestuário, como as meninas de há pouco entrançavam o cabelo e usavam grandes ganchos. Os rapazes, por sua vez, fazem à barba antes de a terem. Hoje, não se respeitam os mais velhos, e as modas são ditadas pela juventude. Deste modo os anciãos vestem como os jovens, procurando, até, estampar num rosto de oitenta anos uma frescura de vinte. Julga-se que a moda dos cabelos curtos, nas senhoras, é moderna. As mulheres deste século têm tanto que fazer, segundo se diz que não têm tempo para cuidar do cabelo. A afirmação é dúbia, visto que elas gastam mais tempo nos salões dos cabeleireiros à espera da sua vez, do que gastariam se o usassem comprido. O cabelo curto era quase tão comum nos tempos da civilização greco-romana, como o é hoje. São Paulo censurava as mulheres de Corinto por terem o cabelo como o dos homens: 'A natureza não nos ensina isso. Sendo feio a um homem usar cabelo comprido, à moda das mulheres, a estas fica-lhes bem; mas torna-se ridícula aquela que os corta'.

O envernizamento e a pintura das unhas eram coisas tão comuns, na luxuosa civilização egípcia, como hoje. Contudo, naquele tempo, não existia uma Dorothy Parker para lhas comparar a 'ferros que acabassem de farpear um touro'.

Moda e Imitação − A sociedade compõe-se de duas classes: uma alta e outra baixa; a invejável e a invejosa; a que faz a moda e a que a imita. Os que pertencem à alta esforçam-se por conservar a sua superioridade e, daqui, a última moda. Os que pertencem à baixa querem parecer-se com os da alta. Ora, como a classe superior aspira à distinção, tem de criar as modas. A inferior, que quer parecer da alta, tenta logo imitá-la. Mesmo no que diz respeito aos automóveis, os Cadillacs parece serem os carros da moda e os Chevrolets imitam-nos como se fossem seus filhos.

Cada idade tem os seus ideais: às vezes o dos heróis e dos santos, outras o dos capitalistas, como Morgan, Vanderbilt e Carnegie. Por vezes os próprios artistas de cinema são apresentados como ídolos e idolatrados. O 'macaquismo' destes ideais é um fenômeno à tona de todas as civilizações. A classe de baixo aspira sempre à posição da de cima. Por isso adota os seus símbolos e os seus trajes. Se aqueles conservassem o mesmo corte, os de baixo, com a facilidade que têm de copiar, depressa os imitariam. Mas as classes superiores não querem abdicar dos seus símbolos de superioridade. Daqui a velocidade das modas.

Verifica-se, pois, um duplo movimento: o da classe superior pretendendo fugir à inferior, e o da inferior esforçando-se por alcançar a superior. É a perpétua variação entre ambas que constitui a moda. Ao mesmo tempo é um paradoxo que todos tentem ser semelhantes e diferentes dos outros. As classes superiores não precisam necessariamente de ser aristocráticas, nobres ou ricas: necessitam, porém, de criar novas modas. Quando a rapidez das comunicações não era como a de hoje, o ritmo da imitação fazia-se da cidade para os meios rurais e das grandes cidades para as pequenas. Há anos a moda demorava 12 meses a chegar de Paris à Nova Iorque e 8 à espalhar-se de Nova Iorque pelas pequenas cidades dos Estados Unidos. Tudo isto se faz agora em algumas semanas. Ora, este aumento da velocidade deve-se em parte ao grande alargamento das redes de comunicações, ao alto nível de vida e à rapidez dos transportes. Para combater a velocidade crescente da imitação exige-se uma criação contínua das modas.

Esta imitação tanto pode aplicar-se aos costumes como às modas. Na corte de Alexandre, o Grande, todos afetavam andar com a cabeça altiva e de lado, porque Alexandre tinha o pescoço torno, o que lhe dava certa graça, a graça da necessidade. O Imperador Dionísio era excessivamente míope. Os seus aduladores, quando na sua presença, andavam aos encontrões, pisando-se, só para demonstrarem que ainda eram mais cegos que o soberano. D. João de Áustria, filho de Carlos V, tinha uma porção de cabelos, num lado da cabeça, que pareciam cerdas. Para ocultar tal defeito costumava pentear-se da frente para trás. Nomeado governador dos Países Baixos, logo aquela moda de penteado ali veio a pegar. Diz-se também que das peculiaridades da fala espanhola se deve ao fato de a Espanha ter tido um rei que tartamudeava. E, daí, todos fazerem como ele. Platão, segundo consta, tinha os ombros tortos. Os seus discípulos admiravam-no tanto, que tentavam assemelhar-se-lhe pondo chumaços num ombro para, como ele, ficarem tortos também. Deste modo teve muitos seguidores que lhe imitaram os ombros, mas não a filosofia.

Esta lei da imitação funciona às avessas nos períodos de declínio. As classes superiores imitam as inferiores, em parte com receio ao seu poder, tentando aparentar-se com elas. Na sociedade moderna depara-se por vezes com ricos que se fazem comunistas, mas apenas com o fito de justificarem a posse de bens mal adquiridos. Quando tentam passar por pobres, mas não adquirindo a pobreza real da caridade, surge para as nações um grave perigo social. Nas épocas de decadência as chamadas classes superiores aceitam os modos e os valores econômicos, políticos ou sociais das inferiores. Quando as culturas orientais, tanto a árabe como a chinesa, chegaram à Europa, esta aproveitou delas os chás e as porcelanas. Na sua agonia, Roma imitava os povos subjugados. O Imperador Heliogábalo, no século III, atreveu-se a aparecer vestido em público à moda da Dalmácia. Os romanos não usavam punhos no vestuário. Consideravam-nos como coisa 'estranha' até à altura em que o Imperador os mostrou. E foi deste modo que eles tiveram voga entre a nobreza.

Foi por volta do século IX que as dalmáticas, como hoje são conhecidas, passaram a ser usadas no traje oficial da Igreja. Nos estertores de Roma a corrente da luxúria era tal, que as pessoas distintas tinham o prazer banal da taberna e dos banhos. A boemia tornou-se a moda. O rico trocava o luxo da sua mesa pelo prazer do esterquilínio. Este rebaixamento não se fazia com o objetivo de aliviar os pobres, mas pelo prazer dos contrastes. Observa-se o mesmo fenômeno no alinhamento dos intelectuais pelas massas comunistas, não com o fim de combaterem a ignorância, dando-lhes a verdade, mas com o intuito de experimentarem o choque das sensações das massas sem direção moral ou intelectual. No fim de algumas revoluções foi costume as classes superiores adotarem muitos dos costumes das baixas. Como testemunho, podemos invocar o da nobreza da França, que durante a revolução se entregou ao naturalismo, ao pastoralismo e aos hábitos campônios.


A filosofia de Rousseau inculcava um regresso ao primitivo.

Tal foi a sua influência, que muitos nobres franceses imitaram os costumes das pessoas rústicas. Foi essa a mesma razão que levou alguns dos intelectuais modernos a tornarem-se caixeiros viajantes do comunismo. A difusão do primitivismo e do exotismo pode observar-se na aristocracia russa e no rasputianismo anterior à Revolução. Também na arte moderna, em certos edifícios públicos de Washington, nas grandes salas de jantar de alguns hotéis de Nova Iorque, e noutros salões, se nota o mesmo primitivismo. Pinta-se o homem com todos os seus músculos, mas sem cérebro, com roldanas, correntes, cordas e outros instrumentos do poder físico, mas sem uma sugestão, sequer, de que ele foi feito à imagem e semelhança de Deus. Quanto ao cinema vêmo-lo ocupar-se de tipos sub-sociais, de criminosos, de gangsteres, de prostitutas e de adúlteras. É difícil encontrar neles outros heróis, além dos homens do 'Oeste'; e, nestes, o herói só aparece depois de uma dúzia de tiros e de ter morto uma dúzia de pessoas.

A Teologia do Vestuário − Para compreendermos a teologia do vestuário teremos de remontar à história de Adão e Eva, em que nos é revelado um tremendo mistério da dignidade do homem. Com a queda dos nossos primeiros pais, diz a Escritura, 'abriram-se os olhos de ambos e repararam na sua nudez. Foi por isso que se cobriram com folhas de figueira'.

Evidentemente que antes da queda não havia vestuários, nem havia nudez. Depois da queda também não os havia; mas foi com ela que surgiu tal sentimento. Estas coisas não eram idênticas no estado original do homem. A nudez implica ausência de vestuário; mas, antes do pecado, a falta de vestuário não implicava nudez. O que antes era velado desvendou-se depois. Aquilo que andava encoberto descobriu-se agora. O corpo, depois da queda, não deixou de ser o mesmo que andava nu. Mas, antes da queda, existia num estado diferente do que se seguiu ao pecado. Um exemplo desta espécie de desnudamento é o de alguns atores. Andam alguns anos em voga recebendo a adulação dos seus espectadores. Chega, porém, uma altura em que os seus talentos já não encontram saída. E daí resulta uma espécie de queda. Conta-se que um ator, durante anos, representou muito bem o papel de Abraão Lincoln, no seu período de glória. Quando saía do teatro, vestia-se como os outros. Mas, ao perder o prestígio, quando se viu 'expulso do seu paraíso', principiou publicamente a vestir-se à Abraão. Outros atores diziam que a sua felicidade não seria completa enquanto o não assassinassem. Era, como se vê, um modo de encobrir a vergonha que sofrera. Quando algum ator é apeado do seu pedestal costuma vestir-se como nos tempos de glória. Mas o corpo, quando perdeu a sua dignidade, em resultado da queda, passou a cobrir-se. Tanto antes, como depois daquela, continuou a existir um homem interior e um homem exterior. Este tem um corpo e uma alma. Antes do pecado a alma tinha o fulgor interno, a Graça, a Glória, o brilho, o esplendor, uma beleza que irradiava de todo o corpo, cobrindo-o de luz, qualquer coisa parecida com o Corpo do Senhor, na altura da Transfiguração. 'Uma fulgência como a do Sol rodeou-O', tornando impossível aos Apóstolos a sua contemplação. As roupagens do corpo, antes da queda, eram constituídas por esta irradiação da Graça resplandecente interior.

Onde há inocência, sob o ponto de vista moral, não há o sentimento da nudez. A virtude era o habitus, o hábito, ou vestuário; mas, perdida a Graça e a Glória interna, desapareceu com elas a sua beleza irradiante. A consciência da nudez surgiu com a perda da inocência. Daí proveio a necessidade imediata da cobertura. A dignidade do corpo perdeu-se com a glória; e a indignidade ficou despida. O corpo desnudado e desprovido de Graça tornou-se uma coisa pudica. Houve por isso necessidade pronta de encobri-lo. A roupa, como se depreende, é uma expressão de respeitabilidade e não de Inocência. A verdade acerca da relação entre a beleza interior e a exterior tem um alcance mais profundo do que o nosso vestuário. Nota-se, por isso, que quanto maior for a nudez interior de alguém, menor é a virtude, a bondade e a humildade na sua alma e maior a sua preocupação com as coisas externas. Quanto maior for a glória e a graça interior, menor é o cuidado com as coisas de fora. Como escreveu Shakespeare: 'Adquire uma virtude se a não possuis'. Aqueles a quem falta alguma qualidade devem fazer por adquiri-la. Um homem sem educação, mas, que tenta aparentá-la deve empregar um vocabulário pretensioso e livresco. Um rapaz pobre que deseje parecer rico deverá trajar o melhor possível. Um rico, por sua vez, de nada disso precisa.

Aqueles que possuem muitos enfeites externos caem depressa no erro de acreditar que ter é ser e que por isso são alguém. Foi Carlyle quem primeiro empregou a palavra 'albardas' para dizer que o corpo não é mais do que um apêndice coberto de ornamentos. Sobrepõem-se às vezes, ao mesmo tempo, luxuosas peças de roupa com o fim de realçarem o esplendor de quem as usa. Pode verificar-se isto nos trajes espaventosos de Luís XIV e de Luís XVI. O vestuário é tudo; o homem nada mais é do que um cabide. Por detrás de tudo isto se esconde a filosofia de que o homem interior não tem nenhum valimento, nenhuma grandeza, devendo por isso aparentá-la exteriormente. A carência do ser procura compensação na abundância do ter.

Quando Adão e Eva se viram nus, perdendo a irradiação intrínseca da Graça, cobriram-se prontamente com folhas de figueira; e, mais tarde, com peles de animais. Em qualquer caso a vergonha era coberta com matérias inferiores às da criatura humana e retiradas, quer ao reino animal, quer ao reino vegetal. Mas estas coisas apenas podiam adaptar-se ao corpo e não à alma. Um casaco de peles custa uma vida para encobrir a vergonha do homem. Daqui o pensar-se que seria também necessário sacrificar uma vida humana para tapar a vergonha da nossa raça. Os animais abatidos não tinham culpa do pecado. Ora, Aquele que morreu para que se saldassem as faltas da humanidade, também a não tinha. Foi como se Deus dissesse aos homens: 'Tendes razão em vos vestirdes. Em tempos foi a vossa alma quem vos vestiu. Agora colocastes o corpo sobre a alma e deveis por isso tapar a sua vergonha'. Na balança Divina não pesa nada a vergonha do tempo em que a alma vestia o corpo; mas pesa muito a daquele em que o corpo vestiu a alma. É por isso que o corpo tem que andar oculto e encoberto. Como os assassinos, tentando esconder as suas vítimas, tentamos nós, também, esconder o nosso crime. Mas onde há Graça intrínseca, onde se compartilha da Natureza Divina, duma semelhança Divina quanto à alma, não há qualquer necessidade imperiosa de a compensar com atavios. Isto explica a bela cerimônia da tomada do hábito pelas freiras. Toda a jovem que se apresenta e se oferece a Deus, perante o altar, veste os trajes mais ricos que possui. Consente-se-lhe também que ostente as jóias que lhe foram mais caras e às vezes, mesmo, que se vista de noiva. Permitem-se-lhe, enfim, todos os enfeites. Todavia, mal se ofereceu a Deus e se comprometeu a serví-Lo, durante toda a vida, como Sua esposa, retira-se para o claustro e veste o humilde hábito da sua Ordem. Depreende-se, desta cerimônia, que enquanto era do mundo tinha de exagerar a sua falta de mérito interno com a pompa e o esplendor. Porém, quando a sua alma foi coroada pela Graça, a bondade e a virtude, deixaram de ser precisas as coisas exteriores. É como se se desse um Regresso ao Paraíso, onde a ostentação não e necessária, porque o mérito real fulgura ali perenemente. A teologia do vestuário pode ser ilustrada pela cerimônia do Batismo. Quando se batiza uma criança, a Graça que se perdeu na Queda volta a ser-lhe concedida. Um pano branco, ou um vestido, é colocado sobre ela, com as palavras: 'Recebe este traje branco para que possas conservar-te imaculada até ao dia em que tenhas de comparecer perante o Tribunal de Nosso Senhor e Salvador, Jesus Cristo'. A brancura e a simplicidade do vestuário representam a Graça perdida; recordam a irradiação interna que foi abafada pelo corpo. Quando o Filho Pródigo regressou a casa, seu pai ofereceu-lhe um fato. Era o regresso à Graça interior. Os nossos vestuários deviam destinar-se à Graça, à Virtude e à Inocência celeste. As coberturas terrenas são um sinal indicativo da falta do verdadeiro vestuário. Eis como o vestuário nos conta a história do mérito exterior e do interno. É um símbolo da inocência que se perdeu, um memento duma glória primitiva. Há, portanto, duas modas: a moda passageira do mundanismo e a moda permanente da espiritualidade. No Juízo Final não se tomará em conta como andávamos vestidos por fora, pois que se pode entrar no Reino do Céu mesmo em frangalhos; mas há uma infinita diferença quanto ao modo como vestíamos por dentro.

A importância desta moda interior revelou-a o Senhor na parábola nupcial. Vieram milhares de pessoas das alturas, de toda a parte. Quando o Rei as observou notou que um homem não trazia roupa de cerimônia. O traje nupcial substitui a interna irradiação da Graça, da Caridade e da Inocência perdida na Queda. Nesta terra há ocasiões em que são obrigatórios os atavios brancos. Contudo, não é com eles que se entra no Céu. Para isso nos é preciso o alvinitente vestuário da Graça" (Mons. Fulton J. Sheen, "Entre o Céu e o Inferno", Cap. XIX, pp. 251-263, Ed. Educação Nacional, Porto, 1958).

"Ao encetar a fala desta noite, principalmente me dirijo às senhoras, a fim de lhes lembrar umas quantas verdades e obrigações.

Faço-o na presença dos homens, e isto para mostrar a todos que o chamado sexo fraco também é capaz de ouvir verdades fortes…

Ouvi-las, talvez pestanejar um pouco e se emendar quanto seja necessário. Pelo menos, assim espero.

Proponho-me tratar de assunto que costuma ser gratíssimo a todo o auditório feminino. Vou falar da moda.

Nisto, como em tudo, procuremos ser equilibrados. Nem excessivas concessões nem rigorismos estreitos. Tendamos sempre para a justa medida. E entremos decididamente no assunto.

A moda, de si, nada tem de mal. Faça-se-lhe justiça.

A evolução da moda surge espontânea no convívio humano. Não há que pretender lhe fugir ou contrariá-la. Seria remar contra a corrente. E remar sem glória nem proveito.

A moda é absolutamente legítima. Reconheçamos-lhe direitos. E ao mesmo tempo lembremos alguns correlativos deveres.

A pretexto de moda, não vamos introduzir o que é imoral. E recordemos neste ponto que moda e modéstia sempre deviam caminhar juntas, pois ambas as palavras provém do latim modus, que vale semanticamente por justa medida, moderação, equilíbrio.

Nos nossos dias quebrou-se aquela essencial harmonia e assistimos à funesta aberração de a mulher se tornar escrava da moda exatamente porque pretendeu se emancipar da Moral. A dignidade e a graça femininas só perderam com isso. Forçoso é reconhecê-lo.

Nos tempos modernos, a moda governa com poderes absolutos. É rainha. SUA MAJESTADE A MODA!

Não se discute a sua ordem. Nem precisa de mandar, basta sugerir. Encontra logo multidão imensa a seguir-lhe docilmente qualquer desejo. E leva aos maiores exageros e às mais degradantes atitudes.

Algumas filhas de Eva, talvez por não serem capazes de apresentar dotes de alma e de coração, vingam-se com exibicionismos do corpo. Triste sinal! ... A ninguém iludem, porém. Apenas a si próprias se enganam.

Fingem-se mocidades que já começaram a fugir ou mesmo desapareceram há muito…

Inventam-se belezas que nunca chegaram a existir. E a angústia transforma-se em desespero, que aumenta na medida em que os anos passam e a velhice chega…

E o desespero, porque é cego, não vê o ridículo de certos excessos: encurtam-se as saias, suprimem-se as mangas, e para compensar... os decotes aumentam.

Tudo na ânsia de aparentar juventude e fazer impressão. Juventude não a aparentam. Impressão causam-na, isso sim. Mas não a que elas supõem…

Um homem comentava: se as mulheres que se apresentam com certos exibicionismos, soubessem a ideia que fazemos delas na sua presença e, sobretudo, o que dizemos na ausência, bem depressa mudariam de processos…

Quantas que vivem em ânsias de beleza, que já fugiu, se alguma vez chegou a existir, podem fazer seu o epigrama seguinte composto por um poeta de gênio:

'Diz um velho velho-relho

enfeitando-se ao espelho

e fazendo mil trejeitos:

os espelhos no meu tempo

eram muito mais perfeitos!'

(Bocage)

São Francisco de Sales, o bondoso Bispo de Genebra, deu em certa ocasião resposta muito cruel.

Uma senhora, com pretensões a bonita, procura aquele famoso diretor de almas e pergunta: − Diga-me, Excelência: será pecado olhar para o espelho e pensar que sou formosa?

E o Santo Bispo pacifica-lhe imediatamente os escrúpulos, respondendo em tom decidido e convicto: − Não, minha senhora. Um engano nunca foi um pecado…

Não há que duvidar! Sua Majestade a Moda impera soberanamente. Tudo se lhe sacrifica: dinheiro, tempo, saúde, moral, bom gosto…

Para muitas, a moda é sorvedouro de tudo: do que têm e do que não têm…

Gasta-lhes o tempo: a pensarem no que hão de mandar fazer para a próxima estação e a carpirem pelo que não podem comprar…

Arruína-lhes a saúde: há quem tire ao estômago para fazer frente as exigências da moda... E algumas levam a rigor a obrigação de não exceder o peso... Para tanto, impõem-se austeríssimo jejum. À procura de elegância... Em alguns casos, houve que recorrer ao Sanatório, e nem tão mal se o caso por aí ficou…

A moral sacrifica-se, não raro, ante o altar da moda.

O bom senso, ao tratar-se de tal matéria, logo deserta de tantos cérebros femininos!

O bom gosto sucumbidamente se esvai. Como disse Balzac, 'as modas não passam, às vezes, de forte ridículo sem objeção'.

Uma senhora escreveu: 'Certas mulheres morreriam de desespero, se a natureza as tivesse feito tais como a moda por vezes as apresenta'.

E Rochepèdre diz: 'As mulheres pedem à moda certos atrativos que seriam aleijões se a natureza lhos tivesse dado'.

Algumas modas, tão sem jeito e tão sem gosto, triunfam unicamente graças à universal tolice…

Razão tinha La Bruyère ao afirmar: 'Coisa estranha e reveladora da nossa fraqueza é a sujeição às modas quando estão em causa o bom gosto, o teor de vida, a saúde e a consciência'.

Há senhoras que dão sinais de bom senso e energia em muitas circunstâncias. Só a moda as faz capitular. Impõe-lhes rendição incondicional. E gostosamente a aceitam. E então: Adeus, bom senso! Adeus, bom gosto! Adeus, princípios morais!

Tenho para mim que a designação de sexo fraco aplicada às mulheres deve tirar a sua origem da atitude feminina diante da moda.

Por certo, alguém as observou e a designação nasceu... Sexo fraco e, às vezes, fraquíssimo…

Teste infalível: coloque-se a mulher diante dos excessos da moda. Veja-se a reação. Se porventura sabe resistir, dá a melhor prova de que é alguém. Não se lhe pode exigir garantia mais segura…

Lancemos rapidíssimo olhar por sobre o juízo crítico formulado através dos tempos a respeito das exigências caprichosas da moda.

Em 1717, Montesquieu já as deplorava ao dizer: 'algumas pessoas esqueceram o que vestiram no último verão e ignoram o que hão de vestir no próximo. Mas, sobretudo, o que não se pode avaliar é quanto custa a um marido ter a sua mulher na atualidade da moda'.

Chamfort refere-se às extravagâncias da moda e chama-lhes 'o imposto que a indústria do pobre lança à vaidade do rico'.

Uma senhora escreveu esta palavra forte: 'O luxo (de certas modas) deslumbra os parvos, e não nos dá um só prazer verdadeiro (Madame de Genlis)'.

E os antigos não falaram diferentemente a respeito dos excessos da moda e dos perigos que trazem.

O velho Plauto disse na sua linguagem pitoresca: 'A nau e a mulher nunca se dão por bastantemente equipadas'.

Salústio já lamentava que certos Romanos cuidassem mais dos ornatos do corpo que das qualidades do espírito.

E Tácito exortava os seus concidadãos: 'Roma não perecerá se não perecerem os Romanos'. Mas os Romanos pereceram, pela dissolução moral, e o Império caiu.

Aprendamos a lição da História: a loucura desenfreada do luxo e a corrupção dos costumes anunciam a próxima derrocada de um povo.

Urge em nossos dias iniciar-se a cruzada da honestidade nas modas.

As pessoas constituídas em mais alta posição social têm maiores responsabilidades, porque o seu exemplo arrasta as de mais humilde condição. As de cima fazem à lei; as de baixo copiam o figurino, que em breve tem numerosas edições: incorretas e muito aumentadas. E lá vão correndo mundo. E recrutando fiéis servidoras. Quantas virtudes sucumbem diante das exigências feitas!

Recordo nesta altura o pensamento de Labouisse: 'As mulheres virtuosas, ao copiarem as modas, as maneiras e os ademanes de outras sem virtude, fazem por vezes suspeitar que levam mais longe a imitação...'.

Algumas terão moralidade. A maneira, porém, como se apresentam mostra quererem fingir que a não possuem. E fingem com tal perfeição que absolutamente nos convencem…

Digamo-lo com energia: entre os direitos da moda não se conta o de corromper os costumes.

Há que reagir contra o impudor que, não raro, se ostenta a pretexto de elegância e de último figurino.

Não se pretende, certo, que a mulher do século XX ande vestida como andavam as nossas avós, mas reclama-se a dignificação da mulher pela decência no trajar e pelo repúdio de certas escandalosas exibições.

A elegância e o bom gosto são perfeitamente compatíveis com a melhor decência.

Condenemos os espíritos acanhados que se comprazem no mau gosto, julgando prestar homenagem à moral.

Condenemos também os espíritos desvairados que, a pretexto de elegância, rejeitam os princípios morais.

Enganam-se os primeiros, ao pensarem que a moral traz consigo deselegância. Enganam-se os segundo, ao pretenderem chegar à elegância física por meio de deselegância moral.

Saibam as raparigas do nosso tempo distinguir entre moda e seus exageros, entre bom gosto e impudor.

E todas as que prezam a dignidade feminina não contemporizem com as tolas exigências, que apenas revertem em seu desprestígio. Saibam impor-se e ser fortes diante do paganismo de certas modas.

E vem a propósito referir um caso acontecido há anos no palácio real da Holanda.

Às melhores famílias havia sido feito convite para baile em traje à rigor. Chegou o dia da festa e apareceram muitos e grandiosos decotes.

No meio de tudo, as filhas de certo ministro de Estado apresentam-se bem vestidas e com toda a decência. No palácio real, à entrada da sala, houve reparo da parte do encarregado do protocolo, e as filhas do ministro preferiram não insistir e retiraram-se.

Dias depois o ministro contou à Rainha o sucedido. A soberana quis reparar o agravo feito ao ministro e às filhas e, ao mesmo tempo, dar proveitosa lição a todas quantas se haviam apresentado excessivamente despidas. Faz novo convite geral para outro baile, mas desta vez em traje ao rigor da decência.

As filhas do ministro apareceram com o mesmo vestido; as outras tiveram de trocar o rigor da moda pelo rigor da decência... o que representou inegável vantagem…

Aprendamos a lição: Quando surgir conflito entre estes dois rigores, o sacrificado não seja o da decência. Isto em nome da elegância moral e do bom senso…

Que a mulher cultive a graça, a beleza, as prendas femininas. Mas, pelo amor de Deus! Não pense consegui-lo, mediante o impudor e a imodéstia.

Pelo culto das nobres superioridades é que se chega à dignidade feminina. E das nobres superioridades não pode estar ausente à honestidade.

Gosto de exortar: Homem, respeita a mulher!

Mas é preciso dizer também: Mulher, respeita-te a ti mesma! (Programa transmitido a 3 de Maio de 1950)” (Dr. A. de Azevedo Pires, “O Problema da Castidade − Ao Microfone da Emissora Nacional”, Cap. 38, pp. 327-336, Lisboa, 1950).

► “A moda, nas suas formas patológicas que apresenta: o excesso e a indecência, não são causa, mas efeito do coquetismo. A moda existe e existirá sempre apesar das investidas e sarcasmos com que ela é perseguida, não obstante a condenação da opinião pública e da Religião. Existirá sempre enquanto a mulher acariciar o sonho de unir com ela o triunfo da sua beleza ao homem, incontestavelmente superior a ela em força e inteligência; ao passo que ele como um imbecil, em vez de impedir esse aparato pomposo de sedução que é o único que o pode e deve estorvar, deixa que ela o maneje impunemente” ("Decênio Crítico", por um assistente da Ação Católica, Cap. IV, Art. II, b).

"A Moda - Entramos de novo no campo feminino, ou melhor, no reino absoluto da mulher... Pena que o frenesi de parecer sempre a primeira e de querer sobressair sobre suas rivais a induza frequentemente a abandonar as linhas clássicas do vestuário majestoso de Roma, para amesquinhar-se com os figurinos de Paris que a deformam, tornam-na ridículo e... até desonesta.

O sentimento nacional, volvido a vida nova e difundido por toda a parte, juntamente com o cuidadoso intento de se fazerem recordar os usos e costumes das romanas, nos deveria levar a uma santa reação contra tudo o que tem sabor exótico. E um dos primeiros artigos a se suprimir sem desculpas nem atenuantes é a moda desenfreada que deprava os costumes e a alma de nossas mulheres" ("O Decênio Crítico", Cap. I, Art. IV, Ponto II).

► “Para nos convencermos de que é ridículo tomar a moda como norma de conduta, basta olhar para alguns retratos antigos” (São Josemaría Escrivá de Balaguer, "Sulco", Cap. "Respeitos Humanos", nº 48).


Escravidão das Modas

"Um outro enigma é a atitude da mulher em questões de Moda e Toilette.

É geral a queixa de que o homem está perdendo o respeito à mulher, e que seu tradicional cavalheirismo desapareceu. A degeneração dos costumes leva naturalmente ao desrespeito da mulher, que é relegada e rebaixada a vil instrumento da sensualidade. Assim sendo, era de se esperar que as senhoras tudo fariam para readquirir de novo essa estima, mostrando o seu verdadeiro valor, as preferências da alma e as riquezas do coração, evitando tudo que pudesse atrair a atenção para o corpo e despertar os desejos sexuais do homem.

Na realidade, o que se vê é justamente o contrário!

Se quisermos compreender a contínua mudança da Moda, com todas as suas consequências, devemos observar que seus dirigentes têm o maior interesse em poder variá-la ao infinito. É preciso, aliás, lembrar esta inclinação da mulher de atrair sobre si a atenção do homem, ao qual deseja agradar. Por isso, para muitas moças o pensamento de não seguir a Moda é insuportável. Quanto mais este desejo de agradar se apodera dela, tanto maior é a importância que atribui à rigorosa observância da Moda, e desta forma o comércio faz negócios muito lucrativos.

Mas os exageros são introduzidos ordinariamente pelas mulheres de vida fácil. Prova-o o Dr. Liepman, dizendo: 'que as saias curtas e as meias de seda transparentes foram usadas em primeiro lugar pelas demi-mondaines em Paris, muito antes que chegassem a qualquer outra parte da Europa. A princípio todo o mundo ficou indignado com estas indecências, mas pouco a pouco toleraram-nas e acabaram por imitá-las'. Em vista destes estudos, continua o Dr. Liepman: 'É sempre a mesma coisa; Modas extravagantes são introduzidas por prostitutas, a princípio, rejeitadas pela sociedade como muito vulgares e sensuais, e pouco a pouco adotadas por essa mesma sociedade, que as havia condenado... Esta atitude é apoiada, principalmente, pelas mães, que não conseguem um genro assaz depressa. Como poderia tal educação produzir outros resultados, se tem em vista unicamente a caça ao marido, e tornar a moça apta à realização deste intento?' Até aqui o nosso autor.

Atenção

Os Srs. Bispos alemães publicaram uma Pastoral acerca deste mesmo assunto; alegam como causa desta desordem o alvo a atingir, isto é, de incitar a sensualidade do homem pelo modo tendencioso de se desnudar e salientar certas partes do corpo.

Depois destas reflexões, podemos distinguir três classes escravas da Moda.

À primeira, pertencem as que seguem simplesmente a tendência do demi-monde, procurando alcançar o mesmo resultado. Parece, felizmente, que é a menor parte (n.c: infelizmente os tempos são outros). A segunda classe receia ser considerada como atrasada, se não seguir em tudo a última Moda. Vendo que as outras já usam essas toilettes, tal Moda perde para elas o seu caráter obscuro e vulgar. Elas, aliás, não procedem assim por malícia, mas, o que é pior, por respeito humano, vaidade e falta de caráter. À terceira classe, pertencem as comodistas, que obedecem à lei do menor esforço. Entram na primeira loja que encontram, onde elas compram sem pensar na figura que irão fazer com semelhante toilette.

Em si dever-se-ia ter somente um sorriso desdenhoso para esta tola vaidade, se o efeito deste traje não fosse tantas vezes lamentável.

Entre nós, ainda há moças que não aprovam esta disposição da mulher, pelo contrário, a condenam, pois as relações com tais criaturas são causa de muitas tentações. O jovem já tem as suas dificuldades em refrear o instinto natural. Se, além disso, a Moda lasciva aumenta esta luta com a natureza, pode-se compreender então o direito que o moço realmente cavalheiro tem de condenar uma tal moça, posto que ela julgue a sua atitude perfeitamente correta e inocente, visto que nada sabe das tendências do outro sexo, e que ela pode ser causa da perdição de tantas almas... Não aprendemos nós que é pecado mortal provocar deliberadamente graves tentações no coração do próximo?

Esta atitude é absolutamente incompreensível, se refletirmos que tais pessoas, soteiras ou casadas, perdem a sua dignidade e expõem sua inocência, acompanhando semelhante Moda, pois elas são a involuntária confissão da sua disposição interior a tão petulantes quão presunçosos homens. Os que se deixam atrair já sabem que tais criaturas são mais acessíveis à tentação, do que a moça que revela sua personalidade pelo modo de trajar, e que não a quer perder.

As primeiras não devem estranhar que eles não procurem nelas outra coisa, senão o que elas tão ostensivamente apresentam.

É certo, aliás, que os homens são muitas vezes os culpados das excentricidades da Moda, pois a sua petulância as anima a acompanhar estas leviandades, e a este respeito os bailes e outras reuniões mostram que as que não se trajam no rigor da Moda estão expostas ao seu pouco caso. Não se pode, naturalmente, assaz condenar esta disposição imoral, que revela a baixeza no modo de apreciar a mulher, que nada vale para eles, se não sabe despertar a sua sensualidade. Qualidades e nobreza da alma não encontram mais apreciação, porque no seu materialismo não têm mais noção da distinção e nobreza do verdadeiro encanto da mulher. E quanto mais se deixam impressionar por essa baixeza e essa inferioridade dos homens, tanto mais contribuem para que eles se confirmem nesta apreciação e se sintam encorajados na sua insolência. Como sempre, quem perde é a mulher!…

Mas quando encontram moças que com sua atitude correta provam: 'Olhe, rapaz, ainda existem moças que não são assim como está pensando!' - eles veem-se obrigados a emendar pouco a pouco o seu modo de pensar, e desta maneira a se corrigir, e a distinguir entre as que merecem respeito, e as que não o merecem.

Eis uma ocasião propicia para dizer uma palavra contra a leviandade das nossas Modistas, que julgam que seu dever é de adular a vaidade das suas clientes e favorecê-las em todos os seus caprichos e excentricidades. A Modista deve ter a coragem de prevenir o mau gosto destas levianas, e mostrar que uma toilette, quanto mais simples, maior fineza e bom gosto revela de quem a usa.

Se a jovem quiser que os homens a respeitem, que não vejam nela apenas o objeto sexual, mas, sim, a verdadeira mulher, com todas as suas preferências e belas qualidades interiores, então procure cobrir o seu corpo com os vestidos, de tal forma que não excite a sensualidade do homem, e que pelo modo de se trajar e comportar resplandeça em todo o seu ser a nobreza da sua alma. Devemos reconhecer indubitavelmente que a Moda de hoje corresponde mais à saúde que antigamente; e com alguma boa vontade e bom senso para aquilo que convém e o que corresponde ao físico da pessoa e ao seu temperamento, achará a jovem facilmente um caminho, pelo qual satisfaça de um modo lícito à tendência da Moda moderna, e que, contudo, vista o corpo de uma maneira decente e agradável" (R. Pe. Hardy Schilgen, S. J., "Tu e Ele", Cap. "Moda", pp. 142-147, Ed. Vozes, 1940).

► “Pecam contra a Modéstia e contra a Castidade e são dignas de severa repreensão, as pessoas mundanas escravas dos exageros a que chamam Moda, incentivo e frequente ocasião de pecado” (R. Pe. Tomás Pègue, O. P., “Suma Teológica de S. Tomás em forma de Catecismo, para uso de todos os fiéis”, 2ª Part., 2ª Secç., Cap. LVI).


Falsa Noção da Existência

"Um dia, enquanto Jesus falava às turbas, aproximou-se Dele um chefe da Sinagoga, dizendo-lhe que a única filha, com 12 anos de idade, acabava de morrer naquele instante, e O suplicava que fosse depressa à sua casa, a fim de lhe impor as mãos para que ela revivesse. Jesus de boa vontade acolheu o pedido desse chefe e, chegado à casa do mesmo, mandou que se retirassem todos: e depois tomou pela mão a menina, chamando-a pelo nome, e esta logo ressuscitou, sentou-se, levantou-se, andou, e, a mando de Jesus, comeu também para demonstrar que de fato ficara curada de todo o mal.

Esta menina é figura de muitas outras que morrem, na flor da idade, senão à vida do corpo, (ao menos) à vida da Graça.

Empolgadas pelo espírito da época, deixam-se dominar pelas tentações do século, perdendo pouco a pouco o candor da sua inocência, o encanto que lhes proporciona o pudor e o recato, rolando paulatinamente pela descida da degradação, onde se afundam e se extinguem para Deus, para a vida de uma eternidade feliz e para o bem da sociedade.

O quadro que nos apresenta a sociedade atual é simplesmente desolador. Os sentimentos que enobrecem a alma da juventude feminina e a tornam querida e respeitada, quase Anjos do Céu, pouco a pouco foram se obliterando até desaparecerem levados pelo vício e pelo pecado, e uma alma que se deixa levar pelo vício e pelo pecado, é, espiritualmente, morta.

Boa parte da mocidade feminina jaz morta, como a filha de Jairo, no leito da sua vaidade, imóvel e fria, no caminho da virtude, que, única e exclusivamente, lhe pode conferir aquele tesouro de sentimentos e de Graça que a tornam flor mimosa a perfumar os ambientes cristãos de poesia e de encantamento.

Como efeito de um feminismo que falseou a educação da mulher, hoje em dia nos achamos diante de uma inumerável quantidade de moças que vivem sonhando um futuro irrealizável, consideradas como objeto de luxo e ornamento de festas, por uns, e como concorrentes temíveis dos homens por outros, que veem nelas um competidor a avançar continuamente na luta, cada vez mais cruel e funesta, para a sua emancipação.

Emancipa-se a jovem de todos os bons hábitos cristãos, apascenta-se de vaidade e de sonhos, preocupa-se exclusivamente em embelezar seu corpo e comparecer em público no rigor da última moda.


Moças sem Alma e sem Juízo

Com os sistemas educativos de muitas famílias, consegue-se ter moças sem alma e sem juízo: bonecas sem vida, atordoadas, senão mortas pelos rumores das diversões e vertigens do mundo vão e sedutor.

Que formação para a vida real poderá ter uma moça que só lê romances, que nada valem e só servem para narcotizar a alma, corrompendo-a e desviando-a; uma moça que somente vai ao teatro ou ao cinema, escola da imoralidade mais vergonhosa; que só passeia, dança e vive ansiosa pelos serões de festas, prolongadas até o alvorecer do dia seguinte?

Urge que Jesus cumpra não um, mas milhares de milagres, para ressuscitar tantas mortas, despertar tantos corações adormecidos à beira do precipício.

Como poderá conseguir-se, pois, que se retirem os tocadores de flauta que estão ao redor da menina, no seu leito fatal, e a turba do povo que carpi muito em torno dela, quando a vê morta para o mundo, e viva para Deus?

Ouvindo a palavra do Santo Padre Pio XI, que muitas vezes nos têm apontado os perigos, os males provenientes do abuso da moda e os remédios para neutralizar seus desastrosos efeitos.

Escrevendo ao Arcebispo de Colônia o Santo Padre diz: 'Com grande alívio de nossa alma, soubemos que a Associação das Mulheres Católicas Alemãs se esforça, por todos os meios, para, e com conferências públicas e livros oportunos, tutelar extremamente a integridade dos costumes que, infelizmente, por obra dos maus, vemos, hoje, de dia para dia, sempre mais decaírem; e estes, para melhor conseguirem seu fim, tem por alvo especialmente a péssima moda de vestir das mulheres, que já invadiu todos os lugares.

É deveras deplorável que as vestes introduzidas, para cobrir convenientemente o corpo, nestes nossos tempos, ao contrário − havendo as mulheres esquecido a sua grande dignidade − frequentemente se confeccionam de maneira que ofendem, com impudência, a Modéstia, oferecendo a todos, e, especialmente aos moços e aos meninos, grande e grave incentivo para as paixões mais abjetas' (Carta ao Arcebispo de Colônia, de 26-10-1926).

'Não há coisa que interesse tanto o Santo Padre quanto a obra que se desenvolve para a reforma dos costumes. É necessário opor modos práticos, uma escola cristã contra uma escola vergonhosa que domina a moda e a dança.

É questão não só de Modéstia, senão de dignidade' (Às Congressistas da U. I. L. J., de 22-5-1922).



Moda Imoral, Verdadeira Vergonha.

É necessário, pois, manter acesa a luta contra a moda imoral 'que é uma verdadeira vergonha para tão grande número de mulheres, que se dizem cristãs e que desonram o nome cristão.

Nós nos alegramos convosco por estardes de acordo conosco, numa das nossas maiores preocupações', diz o Santo Padre às Sócias da União Internacional das Ligas Femininas Católicas. 'E isto não nos causa surpresa nenhuma; é sempre uma consolação achar os vossos sentimentos em harmonia com um dos mais ardorosos desejos do nosso coração, no tocante a um assunto sobre o qual Nos agrada voltar todas as vezes que se nos oferece a ocasião.

A profundidade, a clarividência da vida cristã, são proporcionadas pelo conhecimento sólido da mesma vida cristã. Vós fizestes experiência disto, diariamente, em vossos trabalhos. Não há nada como o gosto das coisas belas, grandes, generosas, para instalar nas almas resoluções elevadas e dignas.

Por este motivo Nós queremos lembrar a vós, exclusivamente, um pormenor, a propósito da campanha que vos propusestes fazer contra a Moda imoral.

Pois que notamos, por vezes, que o sentimento de repulsão contra a Moda menos digna falta mesmo lá onde menos se pensa, mesmo em casas de educação que, todavia, são cristãs e pretendem que assim venham chamadas, Nós nunca nos esquecemos de perguntar às Religiosas si têm Casas de Educação. E à resposta delas, quase sempre afirmativa, nunca deixamos de lhes recomendar para que insistam sobre a Modéstia Cristã no vestir de suas alunas: 'a qualquer custo'.

Por vezes ouvimos Nos responder que a insistência demasiada acaba por ser causa de as mães retirarem suas filhas do colégio. Isso pouco importa; a Modéstia no vestir deve ser ensinada “com insistência” e “a qualquer custo”. E, Nós queremos que o exemplo proceda das Casas de Educação, Religiosas, Católicas. É necessário começar pelas mais moças, para enraizar nos corações o espírito da virtude, o sentimento indizível da dignidade da alma humana.

Na realidade, é mesmo em nome da humanidade que se torna necessário pugnar pela decência da Moda; e, sobretudo, pela dignidade do nome cristão, visto que todos nós trazemos os traços do Sangue do Redentor, testemunho esplêndido dos destinos eternos que nos esperam' (Alocução à União Internacional das Ligas Femininas Católicas, de 27-10-1925).

'Abençoava de coração e animava as boas jovens e damas católicas que se empenham na cruzada, na campanha santa para a decência do vestido, que constitui tão grande parte da vida cristã; visto que si podemos dizer, quanto ao vestido religioso, que o hábito não faz o monge, tem, porém, grande parte na vida do monge. Como o uniforme do soldado não faz o soldado, mas distingue o soldado, assim também na vida cristã, embora o hábito não faça o cristão, é o hábito que deve distinguir o cristão de quem é pouco cristão, ou, infelizmente, é de todo pagão' (Alocução ao Convênio das Juntas Direc. da A. C. J., de 16-5-1926).


O Soberano Modelo

'O Santo Padre, portanto, está certo de que as Moças Católicas, perseverarão na sua santa campanha em defesa da Modéstia Feminina; campanha em que está de permeio a fidelidade a Jesus Cristo, e também a mesma honra e dignidade delas. Quando, à mulher, falta o sentimento da pureza, da Modéstia, da pudicícia, é porque ela perdeu o sentimento de sua própria dignidade. E é fácil convencer-se da excelência dos sentimentos da Igreja a este respeito, em comparação dos do mundo. A Igreja, apontando o exemplo glorioso das Virgens, das Santas, das Mães e Mártires Cristãs, e, sobretudo, realizando este ideal na figura sublime de Maria Santíssima (a criança, a menina, a mocinha, a mulher cristã, por excelência) propõe algo de tão elevado, de tão belo, de tão digno, de tão sublime, que faz experimentar toda a beleza de um convite dirigido a preservar da ofensa não só a consciência cristã, mas também a dignidade humana da mulher. Ao contrário, o mundo, aquele mundo de sentimentos terrenos, pelo qual Jesus Cristo, que por todos orou, que orou mesmo por seus crucificadores, que chamou Judas seu amigo no momento que o atraiçoava, não quis orar, (e é esta talvez a palavra mais terrível do Evangelho) outra coisa não faz senão impelir a mulher a abandonar todo o sentimento de sua dignidade, multiplicando os estímulos, para a impudicícia, para a imoralidade, para a imodéstia em todas as formas e especialmente nas do vestido feminino. Basta esta reflexão para compreender o que se deve pensar diante de certos costumes modernos, em que todas as más atrações, as más tendências do mundo se revelam. De uma parte, a Igreja convida a imitar o exemplo de grandes Santas, fortes, gloriosas mulheres, e sobretudo o de Maria, a maior e mais gloriosa entre todas, exemplo para o qual os olhos não podem se dirigir sem ver nele os ideais mais santos e mais puros. De outro lado o mundo convida a mulher para lugares onde não achará senão falsos, mentirosos carinhos e atenções, que, na realidade, não são senão verdadeiros insultos e ofensas à sua dignidade. As Moças Católicas, pois, não devem hesitar e resolutamente continuar a travar seu combate para a honra de Deus e de Sua Igreja, e juntamente para sua própria honra, para a sua própria dignidade, para tudo o que elas têm de mais belo, de mais glorioso, de mais precioso' (Alocução aos Círculos da M. F. I. de Roma, de 02-06-1926).

É imprescindível que elas, ao se abrir o botão de sua adolescência, sejam entregues a Jesus, ao Mestre Divino que ensina a pureza, a simplicidade, o amor ao sacrifício, a nobreza e a força.

Quem não conhecer Jesus, como a filha de Jairo, morre à vida da alma. Só Ele pode restituir esta vida. Vivam, pois, de Jesus as nossas donzelas. Alimentem-se com Cristo Eucarístico, e com as verdades que Ele ensina; teremos destarte infundido nelas os sentimentos da mais humilde e pura entre as virgens e as mães, Maria Santíssima, modelo insuperável das boas e piedosas meninas, a qual, na Fé, na piedade, no trabalho e no silêncio se preparou para a mais elevada missão de mãe que o mundo contemplou.

Imitem Maria as donzelas cristãs, cuidando sobremaneira em reproduzir em si os traços Dela, na união íntima com Jesus, que foi toda a razão de ser, a força e a glória de sua incomparável progenitora" (R. Pe. Dr. Felicio Magaldi, "A Ação Católica segundo Pio XI", 23º Domingo depois de Pentecostes).



A moda é feita para provocar o desejo”,

defendia Mary Quant.

(Inventora da Mini-saia)


Nenhum comentário:

Redes Sociais

Continue Acessando

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...