ROMA, 24 Out. 12 / 11:42 am (
ACI/EWTN Noticias).-
O Beato Papa Juan XXIII, que convocou o Concílio Vaticano II, queria que
os teólogos e sacerdotes falassem mais sobre o inferno aos fiéis,
conforme assinala o jornal do agora Cardeal Roberto Tucci que nos anos
prévios a esse grande evento eclesial se reuniu em várias oportunidades
com o Pontífice em sua condição de diretor da revista La Civiltà
Cattolica.
O vaticanista italiano Sandro Magister conta este relato que foi
publicado em 22 de outubro na mencionada revista, apresentando um resumo
dos diálogos do "Papa bom" com o então Padre Tucci. Na "LaCiviltá
Cattolica", revista dos jesuítas de Roma, os artigos são previamente
aprovados pelas autoridades do Vaticano.
Na segunda reunião do sacerdote com João XXIII, em 1 de fevereiro de
1960, dois anos antes do início do Concílio, o Papa falou da necessidade
de atualizar a linguagem da teologia e a doutrina católica. O Santo
Padre disse também que "terei que falar do inferno aos fiéis,
ressaltando, entretanto ‘que o Senhor vai ser bom com muitos’".
Também fez um comentário de brincadeira sobre o inferno: "certamente,
todos podemos ir, mas me digo a mim mesmo: ‘O Senhor não vai permitir
que o seu Vigário vá, não?’".
Em 7 de junho de 1960, o Papa João XXIII comentava que se sentia como
um "prisioneiro de luxo" no Vaticano e se referia à pompa que o rodeava
e que lhe incomodava.
"Não tenho nada contra estas boas guardas nobres – confiou o
Pontífice –, mas tantas reverências, tanta formalidade, tanta pompa,
tanta procissão me fazem sofrer. Quando desço (à Basílica de São Pedro) e
me vejo precedido por tantos guardas, sinto-me como um prisioneiro, um
malfeitor; em troca, desejaria ser o 'bonus pastor' para todos, próximo
às pessoas. (…) O Papa não é um soberano deste mundo. Conta como lhe
incomodava ao princípio ser levado na cadeira gestatória através das
salas, precedido por
cardeais
frequentemente mais velhos e decrépitos que ele (acrescentando também
que nem sequer era muito seguro para ele, porque no fundo sempre se
estava instável sobre ela)".
A "Guarda Nobre" a que se refere João XXIII foi suprimida pelo seu
sucessor, o Papa Paulo VI, assim como a cadeira gestatória na qual o
Pontífice era transladado. Além disso, a coroação com uma tiara papal
foi suprimida logo depois por João Paulo I, o "Papa do sorriso".
O Beato conversou também com o Padre Tucci sobre a preparação do
Concílio, quando as comissões encarregadas de redigir os esquemas que
deviam levar-se ao evento já estavam nomeadas.
"O Papa tem a intenção – escrevia o Padre Tucci – de implicar no
esforço de preparação não somente à cúria romana, mas também um pouco a
toda a
Igreja.
Observa que frequentemente no exterior a identificam somente com a
cúria romana, como se a Igreja estivesse toda ela em mãos dos 'romanos';
há tantas belas energias também em outros lugares, por que então não
tentar envolve-las?".
O artigo assinala que na audiência de 30 de dezembro de 1961, o Papa
falou "sobre a situação política e sobre a necessidade de que a Igreja
abandonasse os velhos esquemas de contraposição ideológica, e
trabalhasse para a reconciliação dos homens".
Naquela oportunidade o Santo Padre se lamentou das críticas que lhe
dirigiam em alguns ambientes eclesiais por ter respondido à mensagem de
felicitação que lhe tinha enviado o presidente da União Soviética,
Nikita Kruschev.
Sobre isto o Padre Tucci escreve: "o Papa não é um ingênuo, sabia
muito bem que o gesto de Kruschev estava ditado por fins políticos de
propaganda; mas não responder teria sido um ato de descortesia
injustificada. A resposta, entretanto, estava calibrada. O Santo Padre
se deixa guiar pelo sentido comum e o sentido pastoral".
Nos últimos meses antes do final da longa fase preparatória, João
XXIII esteve ocupado lendo com grande atenção os esquemas redigidos
pelas comissões, antes que estes fossem enviados aos padres conciliares.
O Papa não estava muito satisfeito com ditos esquemas e falou disso
com o diretor do Civiltà Cattolica na audiência de 27 de julho de 1962.
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