Uma
das dores mais cruciantes que suporta Jesus em Sua ida ao Calvário
é, sem dúvida, o encontro com Sua Mãe Santíssima.
Impelida pelo amor e acossada pela dor, vencendo todo obstáculo que
lhe opõe a multidão de povo e os cordões dos legionários
romanos,
ei-la à porta da cidade, a
espera que por lá passe o Filho querido. Chega-lhe aos ouvidos o
clamor blasfemo do populacho embriagado de ódio; percebe o som baço
das pancadas com que apressam a marcha dos condenados,
até que O avista, curvo sob o peso da Cruz, cercado pelos ladrões,
coroado de espinhos e arrastado pelos
puxões e violentamente. Ah! Como, à tal vista Vossa Alma não
separou-se do Vosso Corpo, ó Virgem Dolorosa?
Encontram-se os olhos da Mãe e do Filho, mas não lhe sendo possível
proferir palavras, pela pressa diabólica que tem os judeus de
suprimir o Cordeiro inocente;
falam-se na mudez eloquente dos Corações.
Querido
Filho, meu único amor, diz Maria!
Minha boa e terna Mãe, única consolação Minha! Responde Jesus.
Neste
tácito e silencioso diálogo, estreitamente unem-se os dois
Corações, penetram-se mutuamente, formando Um, como único Coração
pela intensidade da dor e pela veemência do amor.
Um
veste o luto do outro, partilhando-se reciprocamente a onda amargosa
da aflição; e enquanto esforçam-se para se aliviarem mutuamente,
veem com isto, aumentar o Martírio e redobrarem os padecimentos.
Recebe
Maria todo o mar de dor, que ameaça afogar Jesus; experimenta Jesus
todas as agonias que lancinam a Alma de Sua Mãe querida. A vista de
Maria, é para Jesus uma nova Cruz; a vista de Jesus, é para Maria,
uma paixão adicionada às paixões do passado!
Assim
sofrem os dois Corações mais puros, mais Santos e mais amáveis do
Céu e da terra!
Sei,
ó Jesus, que o Vosso Coração tem a amplitude do mar, mas sabendo
ao mesmo tempo que ele está
repleto, a transbordar de tristezas, como é possível que acheis
lugar, para receber este novo caudal de amarguras?
Minha
pobre mente vagueia trescalam-te nesta região do Amor Divino,
impotente a solucionar este problema; por isto, humilho-me e
limito-me, embora mesquinhamente, a oferecer-Vos o tributo da minha
sincera compaixão; a Vós também recorro, ó Virgem das Dores, e
vendo-Vos toda absorvida na Paixão do Filho;
e sabendo ao mesmo tempo que ofereceis misericórdia e
compassivamente todos os sofrimentos que espicaçam Vossa Alma, para
regeneração dos pobres filhos de Eva,
humildemente Vos rogo, enterneçais o meu duro coração, para que
juntamente Convosco e ao Vosso lado, derrame ao menos uma lágrima de
compaixão.
Comunicai-me
alguns dos sentimentos piedosos de que está embebida toda Vossa
Alma; porquanto, homenagem mais agradável não poderia eu oferecer a
Jesus, do que a minha compaixão santificada e valorizada pela Vossa.
Por muito feliz me darei, se conseguir partilhar dos Vossos
sofrimentos, a fim de aliviar os de Jesus, valendo mais uma gota das
Vossas amarguras, do que todo o oceano espumejante das doçuras
mundanas.
Sim,
minha boa e terna Mãe, isto quereria eu fazer, se a isto não se
opusesse o pensamento dos meus pecados.
Pois
se Vós sofreis, se Jesus, Vosso Filho, sofre, é por minha causa;
é que minhas iniquidades concorreram para os Vossos martírios. Ah!
Mãe aflita, alcançai-me uma dor viva, uma contrição sincera, para
destarte consolar-Vos e ao Vosso querido Jesus.
Propósito:
Proponho ter devoção especial à Virgem das Dores;
sendo esta eficacíssima para alimentar a contrição dos pecados e o
amor de Deus.
Reminiscências
-
O lugar do encontro também é indicado aos peregrinos da Terra
Santa.
-
“Não podendo a Mãe bendita suportar aquela vista de Seu Filho
divino, em tal estado, desmaiou
nos braços das piedosas mulheres, enquanto Jesus, amargurado por
mais essa dor, teve de continuar o Seu caminho. À
multidão e aos carniceiros pouco lhes importava os sofrimentos de um
e de outro”.
-
“Quando
o cortejo se pôs em movimento, Maria seguiu uma rua paralela e veio
esperar Seu Filho na rua de Efraim.
O encontro foi para Ela de horrível agonia”.
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Fonte: Pe. Caetano Maria de Bergamo, O.F.M.Cap., “Pensamentos e Afetos sobre a Paixão de Jesus Cristo para cada dia do ano – Extraídos da Sagrada Escritura e dos Santos Padres”, Vol. 2, Caps. CCCVII, pp. 856-859; Tradução de Frei Marcellino de Milão, O.F.M.Cap.; Escola Typographica Salesiana, Bahia, 1933.
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