Ponho
aqui umas trovas em louvor da verdade. Perdoe-se o que a musa não
tem de florígera, pelo que tem de frutuosa.
A
VERDADE
Qual
é aquela formosura,
Que
vestir-se não procura
Por
maior honestidade?
A
verdade.
Que
tal coisa existe no mundo,
Tão
sincera, clara e igual,
Que
a Deus e aos homens agrade?
A
verdade.
O
que aprende o Sábio?
O
que esconde o peito traidor?
E
ao nobre, que o rende tão por vontade?
A
verdade.
Quem
fez amável e grato,
Ainda
que mesmo aos bárbaros,
O
trato da humana sociedade?
A
verdade.
O
que receia o delinquente,
Se
o seu crime não é patente
À
luz da publicidade?
A
verdade.
Quem
da oprimida inocência,
Com
dolo, ou com violência,
Haverá
de se apiedar?
A
verdade.
Qual
é a vítima abatida
Do
hipócrita e do perjuro,
Da
traição e da impiedade?
A
verdade.
Combatidos
da tormenta,
Que
âncora forte sustenta,
Os
corações em igualdade?
A
verdade.
E
que alma tem a história,
Que
a faz, nas asas da glória,
Passar
de idade em idade?
A
verdade.
E
de que ouro se lavra
Tão
fino a real palavra,
Que
prova na adversidade?
A
verdade.
Ambas
as tábuas da lei,
Que
eu mal cumpro, e bem sei,
Que
resumem com brevidade?
A
verdade.
Virgem
e Mãe! Deus e menino!
Deus
na Cruz! Deus Uno e Trino!
Quem
há de persuadir à crê-Lo?
A
verdade.
E
que lâmpada acesa,
Ilustra
para que se creia
Na
Cruz a gentilidade?
A
verdade.
Nos
corações que são seus,
O
que é que escreve o dedo de Deus
Com
suma velocidade?
A
verdade.
Quem
certifica ao Profeta,
Que
ameace ou prometa,
Com
infalível claridade?
A
verdade.
Com
que vence o Mártir as fúrias,
O
ferro, o fogo, a afronta e as injúrias,
Em
paz e serenidade?
A
verdade.
E
a que saiu do deserto
Voz
clamante, índice certo,
Que
demonstrou na cidade?
A
verdade.
Com
que armas somente num dia,
Três
mil corações rendia,
De
Cefas a atividade?
A
verdade.
Quem
poliu dentro de um instante,
De
Saulo o bruto diamante,
Para
ser sol da Cristandade?
A
verdade.
Sob
perguntas e desacatos,
De
Anás, Herodes e Pilatos,
Quem
foi que suportou com humildade?
AquEle
que é a Verdade.
Quem
é que pode na causa extrema,
Aparecer
sem que tema
De
Cristo a severidade?
Somente
a verdade.
E
quem é que no Céu Empíreo
Dá
a tantos milhões de Santos,
Eterna
saciedade?
A
verdade.
Oh!
Visão tão admirável!
Que
eu nunca me canse,
De
amar no teu alcance,
Por
graça e liberdade,
Adorando-te
sempre
Em
espírito e verdade.
____________________________
Fonte:
Ven. Pe. Manoel Bernardes, Oratoriano, “Nova
Floresta”,
Vol. III, Título IV: “Competência, Emulação”, Cap. XLVI, pp.
192-194. Livraria Lello & Irmão – Editores, Porto, 1949.
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