(Sonho de São João Bosco)
No dia 19 de maio de 1879, Dom Bosco contou ter assistido em sonho a duas grandes batalhas: a primeira, dos jovens contra guerreiros de variados aspectos e com armas esquisitas: no fim, sobraram poucos sobreviventes.1 A segunda batalha, “mais feroz e horrível”, se deu entre monstros gigantescos e homens de grande estatura, bem armados e treinados. Esses homens alçavam um estandarte sobre o qual estava escrito em ouro este letreiro: MARIA AUXILIUM CHRISTIANORUM. A batalha foi longa e sangrenta, mas os que seguiam o estandarte ficaram vencedores e ficaram donos de uma vastíssima planície. A esses se ajuntaram os jovens sobreviventes da batalha anterior e formaram uma espécie de exército, tendo cada um como armas, na mão direita o Santíssimo Crucifixo e na esquerda uma pequena flâmula de Maria Auxiliadora.
Os novos soldados executaram muitas manobras naquela vasta planície, depois se separaram, alguns para o Oriente, uns poucos para o Norte, muitos para o Sul.
Desaparecidos esses, renovaram-se análogas batalhas e por fim as partidas para as mesmas direções. Dom Bosco reconheceu alguns nas primeiras batalhas; os das seguintes lhe eram desconhecidos, mas eles mesmos davam a entender que o conheciam e lhe faziam muitas perguntas.
Caiu logo depois uma chuva de chamazinhas resplandecentes, que pareciam de fogo, de variadas cores. Trovejou mas, em seguida, o céu serenou e Dom Bosco encontrou-se em um ameníssimo jardim. Lá lhe apareceu um senhor que tinha a fisionomia de São Francisco de Sales e lhe ofereceu um pequeno livro sem nada falar. Dom Bosco lhe perguntou quem era ele.
– Lei no livro – respondeu.
Dom Bosco abriu o livro e leu:
“Aos noviços: Obediência em todas as coisas. Com a obediência merecerão as bênçãos dos homens.
Aos Salesianos: Conservar ciosamente a virtude da castidade. Amar o bom nome dos irmãos e promover o decoro da Congregação.
Aos Diretores: Todo o cuidado, toda e qualquer fadiga para observar e fazer observar as Regras com as quais cada um se consagrou a Deus.
Ao Superior: Holocausto absoluto para conquistar-se a si mesmo e aos seus súditos para Deus.
– Quem é o sr.? – perguntou de novo Dom Bosco àquele senhor que o contemplava serenamente.
– Meu nome é conhecido por todos os bons e fui mandado para comunicar a você algumas coisas futuras.
– Quais?
– As que você perguntar.
– Que devo fazer para promover as vocações?
– Os salesianos terão muitas vocações com sua conduta exemplar, tratando com suma caridade os alunos e insistindo sobre a Comunhão frequente.
– O que é que se deve observar na aceitação dos noviços?
– Excluir os preguiçosos e os gulosos.
– E quando se tratar de admiti-los aos votos?
– Vigiar para se ver se há garantia a respeito da castidade.
– Como é que se pode conservar o bom espírito em nossas casas?
– Da parte dos Superiores escrever, visitar, tratar com benevolência, e isso com muita frequência.
– Como é que nos devemos regular nas Missões?
– Mandar indivíduos seguros quanto à moralidade; chamar de volta os que deixassem transparecer alguma suspeita; estudar e cultivar as vocações autóctones.2
– A nossa Congregação vai indo bem?
– Qui justus est justificetur adhuc. Non progredi regredi est. Qui perseveraverit salvus erit. (Quem é santo, que se torne mais santo ainda. Não progredir é regredir. Quem houver perseverado será salvo).
– Ela vai se espalhar muito?
– Até quando os Superiores cumprirem sua parte, ela crescerá e ninguém conseguirá impedir sua difusão.
– Vai durar muito tempo?
– Vossa Congregação vai durar até quando os sócios amarem o trabalho e a temperança. Faltando uma dessas duas colunas vosso edifício desabará, esmagando Superiores e súditos com seus seguidores.
Nesse momento apareceram quatro indivíduos que transportavam um caixão de defunto. Dirigiam-se em direção a Dom Bosco.
– Tão depressa assim?
– Não o pergunte; pense somente que você é mortal.
– Que é que os senhores querem indicar com esse caixão?
– Que você deve fazer praticar durante sua vida tudo aquilo que você deseja que seus filhos pratiquem após sua morte. Essa é a herança, o testamento que você deve deixar a seus filhos; mas você o deve preparar e deixá-lo bem terminado e bem praticado.
– Esperam-nos flores ou espinhos?
– Esperam-vos muitas rosas, muitas consolações; mas estão à espera pungentíssimos espinhos, que causarão em todos profundíssima amargura e tribulação. É preciso rezar muito.
– Devemos ir para Roma?
– Sim, mas com calma, com a máxima prudência e refinadas precauções.
Dom Bosco diz que queria fazer ainda outras perguntas; mas, nesse momento ribombou o trovão com relâmpagos e raios e ele acordou (MB XIV, 123).
***
Dom Bosco havia escolhido como Mestre e Patrono a São Francisco de Sales. E eis que, neste sonho, o Santo Doutor lhe transmite sábias normas, para fazer florescer a Congregação Salesiana. Na primeira parte do sonho, Dom Bosco havia assistido às lutas que teriam devido afrontar os que eram chamados a fazer parte de sua nova Família Religiosa.
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Fonte: Pe. Pietro Zerbino, “Os Sonhos de Dom Bosco”, Cap. 53, pp. 219-222. Traduzido pelo Pe. Júlio Bersano. Editora Salesiana Dom Bosco, São Paulo, 1988.
1. Supérstites.
2. Vocações naturais (da região, do país, indígenas… etc.).
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