Essa preparação, semelhante ao que se disse a respeito do noivo, devemos considerá-la em 3 graus: preparação remota, próxima e imediata.
Vejamos em que consiste cada uma delas.
Para fazer convenientemente a sua preparação remota em ordem ao Casamento, é indispensável que a noiva eduque a sua castidade e estude a sua vocação. São importantíssimas estas duas condições, de cuja realização pode depender a sua felicidade futura.
Estudemo-las separadamente.
Por isso, à castidade deve a noiva votar o seu amor de predileção.
Mas esta flor de maravilha, esta virtude angélica está sujeita a mil riscos de perder-se. São inúmeros os seus inimigos e é preciso defendê-la dos seus ataques traiçoeiros.
Numa formosa Alocução dirigida há dois meses, em Dezembro do ano findo, aos novos casais que em grande número o foram cumprimentar, o atual Pontífice, o Papa Pio XII, apresenta em síntese os principais inimigos da castidade e insinua claramente o grande dever que nesta matéria aos pais incumbe.
Ouçamos a palavra luminosa e apostólica do grande Papa:
'Cabe às mães o cuidado de preservar na alma dos seus filhos e filhas o sentimento do pudor no seu vestuário, nas suas relações, nas suas leituras e nos espetáculos que lhes deixam presenciar. É aos pais que impele o dever de esclarecer certas perguntas que os filhos lhe fizerem.
É a uns e outros que cabe o dever de ajudar os filhos e filhas a levantar com cuidado e delicadeza o véu da verdade, sobre as misteriosas e admiráveis leis da vida.
Tende como terrível crime da vossa preguiça ou do vosso desleixo o deixardes os perigos dessa iniciação à aventura ou à intervenção de companheiros duvidosos, de conversas ocultas, de livros que lhes incendeiam a imaginação e os sentidos com chamas verdadeiramente do Inferno'.
Estas palavras de Pio XII encerram um admirável programa de educação da castidade. Nelas se indicam não só os meios negativos, isto é, os perigos a evitar para que esta virtude não se perca, mas os processos a empregar para que a castidade seja uma virtude amada, uma virtude pela qual as raparigas se apaixonem.
Consideremos primeiramente os perigos a evitar.
O Sumo Pontífice enumera quatro: o vestuário, as companhias, as leituras, os espetáculos − e apresenta-os como os grandes inimigos da castidade.
Vejamos as razões que tem Pio XII para assim falar. Comecemos pelo primeiro inimigo apontado − o vestuário.
Um dos melhores guardas da modéstia e do pudor cristão na mulher, é o seu vestido.
Mas, em nossos tempos, é tão grande a falta de senso na confecção do vestuário feminino, que este, de amigo do pudor se torna seu inimigo, de defensor se converte em corruptor.
E isto nota-se já desde as primeiras idades. A cada passo assistimos a este espetáculo que é mesmo uma dor de alma contemplar: grande número de crianças, anjos de candura e inocência, que deviam ser tratadas com tanto cuidado, são muitas vezes sacrificadas à leviandade e à falta de senso das mães.
Veem-se para aí essas crianças vestidas duma maneira indecorosa, sem nenhum respeito pelas leis da decência e do pudor. As mães parece que andam a pôr em leilão a candura e a inocência das suas filhinhas, pois trazem-nas cá por fora quase nuas. E ficam todas envaidecidas se alguém repara nas crianças e elogia a sua forma esbelta, a sua graciosidade.
Oh! Que mães sem coração!
Nas filhas, só tratam de leiloar e expor ao público as graças do corpo, e não se importam de lhes fazerem perder a graça da alma, tirando-lhes o véu da modéstia!
Mais tarde, essas mães hão de pagar bem caro esta sua falta.
Aquelas inocentes crianças não sabem como andam nem o perigo que correm, habituam-se àqueles vestidos curtíssimos, que mais parecem verdadeiras tangas, e vão perdendo aquele sentimento de pudor que é inato na mulher. Quando crescidas, quando já donzelas, continuam a usar aquele vestuário, continuam a expor em público a sua nudez, acham aquilo muito natural, pela força do hábito.
E então as mães, alarmadas, começam em certa altura a notar nas suas filhas uma perversão de sentimentos, uma leviandade incorrigível, uma falta de recato e de dignidade, que as deixa muito expostas aos perigos de sedução.
E como não há de ser assim, se as mães as educaram desde pequeninas na escola da desonestidade e do impudor? Pobres crianças, anjos tão lindos que bem depressa perderam as suas asas brancas, aquelas asas de luz e de candura em que os seus corações inocentes se elevavam até Deus!
E quem teve a culpa disso?
Foram principalmente as mães, essas mães levianas e insensatas, que neste mundo hão de chorar lágrimas bem amargas e no outro hão de dar a Deus contas bem estreitas, pela inocência que tão cedo deixaram perder às suas filhas.
Talvez algumas das senhoras presentes me queiram perguntar:
− Mas, então, as crianças devem andar de vestidos compridos, como qualquer avozinha?
− Não, minhas senhoras − respondo eu − ninguém pretende semelhante coisa. As crianças podem e devem andar de vestidos curtos, mas não tão curtos que deixem a escorrer sangue as leis da decência, da honestidade e do pudor.
Perguntareis ainda:
− E que comprimento devem ter esses vestidos?
Esta pergunta, minhas senhoras, não deveis fazê-la a mim. Consultai neste ponto a vossa consciência cristã iluminada pelo resplendor do sacrário, perguntai isso à vossa piedade esclarecida e tereis a resposta condigna.
Só vos digo, minhas senhoras, só vos afirmo, mães cristãs, que o vestido é um dos melhores guardas, é talvez o melhor protetor de candura e inocência das vossas filhas, e é desde pequeninas que vós deveis ensiná-las, que vós deveis habituá-las a serem modestas, recatadas, pudicas.
Vai nisso a sua felicidade futura; portanto, deveis pôr nisso o vosso maior cuidado, o vosso melhor interesse.
► Neste mundo revolto em que vivemos − tão revolto que os tronos desabam, os reis seguem para o exílio, os povos digladiam-se ferozmente e todas as instituições veem abalados os seus fundamentos − no meio desta pavorosa convulsão social como outra igual jamais se viu, há uma rainha que governa com toda a segurança e na maior serenidade, tão certa está ela de que as suas ordens serão cumpridas.
Essa rainha tem muitos milhões de escravas que a seguem por toda a parte e lhe obedecem cegamente. As leis que promulga não são infringidas, as ordens que dá não se discutem.
Podemos dizer que ela domina no mundo com império absoluto.
E apesar de ser uma rainha despótica, que governa com verdadeira tirania, as suas escravas amam-na estremecidamente, chegando a fazer por ela, para lhe agradar, os maiores sacrifícios, mesmo o da própria vida.
Quem será essa rainha?
Vou dizer-vos o seu nome: chama-se sua majestade a Moda Feminina.
Posso afirmar que é rainha única no mundo. O seu império é tão grande, que muitas vezes se sobrepõe ao domínio do próprio Deus.
Sim, do próprio Deus.
Se o Senhor pedir a certas escravas da moda o sacrifício de alguns dias de jejum durante o ano por motivos superiores de ordem espiritual, recusam-se terminantemente alegando razões de saúde.
Mas exija delas a sua Soberana um jejum rigoroso, diário, prolongado, para poderem atingir a linha da elegância, e veremos que a lei tirânica será escrupulosamente cumprida, mesmo com prejuízo da saúde e até com sacrifício da própria vida. Quem não conhece casos lancinantes de raparigas robustas, sadias, que se tuberculizaram por beberem vinagre e fazerem rigorosa abstinência, para adquirir ou não perder a linha esguia da moda?
Se a certas raparigas Jesus Cristo pedir a assistência a um ato de culto na igreja em manhã fria de inverno ou qualquer donativo para alguma obra social católica, serão aduzidas, para recusa, as grandes dificuldades econômicas da época e a delicadeza da saúde que não pode apanhar o frio da manhã nem sacrificar o repouso da noite.
Mas convide-as alguém para uma festa mundana de requintada elegância, e todos os obstáculos alegados desaparecem como por encanto: arranja-se logo dinheiro para comprar um vestido caro, embora para isso seja preciso comprometer a consciência, e já se pode ir à festa, apesar do frio e até com risco de apanhar uma pneumonia com aquele vestido tão leve e decotadíssimo, e já não há perigo de sacrificar o repouso, mesmo que seja preciso usar por travesseiro uma forquilha ou passar a noite encostada a qualquer móvel, para não desmanchar nem prejudicar o penteado. Não pode negar-se que a moda é a grande rainha do mundo, sobretudo, do mundo feminino, rainha de poder soberano indiscutível em todos os climas e atitudes. Ao seu carro de triunfo vão presas voluntariamente milhões e milhões de mulheres que a aclamam com delírio e lhe sacrificam alegremente corpo e alma, se ela assim o exigir.
Mas, porque razão e a propósito venho hoje aqui falar da moda?
Parece-me ler no pensamento de muitas das minhas ouvintes este aviso caridoso que me querem fazer:
'Meu padre, não perca tempo a falar das nossas modas. Encontrará ouvidos e corações fechados a semelhante assunto e nada conseguirá, a não ser enfadar e indispor todo ou parte do auditório que o escuta'.
Talvez tenham razão as minhas ouvintes e quero agradecer-lhes a caridade do seu aviso. Devo confessar que este assunto não é nada da minha simpatia. Direi mais: é matéria da minha solene embirração.
Todavia, embora contrariado, tenho de falar nisso aqui, porque assim me o impõe um imperioso dever do meu cargo, indicado pelos dois grandes Pontífices Pio XI e Pio XII.
Já aqui vos disse, no domingo passado, que Pio XII considera certo vestuário feminino do nosso tempo como um dos grandes inimigos do pudor cristão na mulher. Ora, como estou a tratar da preparação da noiva para o casamento, e da educação da castidade como condição indispensável dessa preparação, tenho obrigação de acautelar a noiva daquele vestuário ofensivo do pudor, para que nela possa brilhar a honestidade, que é a mais linda flor da sua coroa nupcial.
E Pio XI, o imortal Pontífice há poucos anos falecido, falando aos pregadores da Quaresma em 1929, recomendou-lhes que nas suas pregações não deixassem de se ocupar da falta de modéstia das modas femininas. Ouvi atentamente as suas palavras tão apostólicas como enérgicas:
'Uma coisa penosa continua a afligir-nos sobremaneira, apesar de tanto sobre ela se haver pregado em toda a parte e escrito na imprensa católica; uma coisa nos faz envergonhar como Vigário de Jesus Cristo: é a imodéstia de tantas mulheres desgraçadas, de tantas infelizes donzelas que a cada passo se dizem e desejam ser tidas como cristãs.
Procurai vós, persuadir com paternal bondade, com paciência e com insistência, tantas pobrezinhas que se tornam escravas de uma moda tão indigna de países civilizados, e mais ainda de países cristãos; tantas pobres escravas que se sentem e envergonham da escravidão, mas não têm força para se revoltarem contra uma tirania que abusa da sua vergonha, como o negreiro abusa do sangue dos escravos, nesta verdadeira forma de tráfico das brancas. Depois, fustigai com o ardor da vossa palavra apostólica tantas desavergonhadas que não só não sentem a indignidade do seu trajar, mas disso ainda se gloriam e fazem motivo de orgulho'.
Muito enojado e indignado deve estar Jesus Cristo com os desmandos da moda feminina, para ordenar aos seus pregadores, como há pouco ouvistes, que fustiguem em palavras ardentes e com zelo apostólico a desvergonha daquelas mulheres que a essa moda sacrificam o seu pudor e a sua dignidade de cristãs.
Dize-me, senhoras minhas:
Hei de eu então ficar calado, num silêncio fácil e cômodo, quando a voz do Mestre Divino, na pessoa do seu representante, me manda falar às almas a mostrar-lhes o precipício moral que as espreita, para que dele se acautelem, para que nele não venham a cair?
Se algumas de vós têm razões de peso que justifiquem o meu silêncio neste ponto, por favor vos peço que me as apresenteis pessoalmente ou por escrito e eu não direi mais uma palavra sobre o assunto. Se, porém, vos faltam essas razões, não leveis a mal que eu aqui vos fale da inconsciência e do malefício de certos trajes femininos.
Pensareis e direis certamente que nada consigo com isso, mas quero mostrar-vos que inteiramente vos enganais.
Há uma coisa que conseguirei pela certa e me interessa acima de tudo: é que, falando, cumpro o meu dever de pároco, de pastor das vossas almas. O resto não é comigo: é convosco e com Deus.
A mim compete ensinar a doutrina, espalhar a semente. Fazê-la germinar e frutificar pertence ao Dono da seara, que é Deus. Aproveitar o fruto bendito da sementeira incube, sobretudo, à vossa boa vontade e à vossa consciência de católicas.
Continuarei, pois, no próximo domingo, se antes não receber de alguma de vós qualquer documentada dispensa, que me liberte do cumprimento desta tão difícil, como desagradável obrigação.
► Conforme anunciei no domingo passado, venho hoje falar dos desmandos e malefícios da moda feminina, ou melhor, de certa moda feminina.
Esperei que alguma das minhas ilustres e ilustradas ouvintes, com razões sólidas e argumentos convincentes, me viesse dispensar de tão inglória tarefa. Mas esperei em vão: ninguém apareceu a defender a causa do vestuário indecoroso de tantas mulheres, origem muitas vezes dos mais perniciosos efeitos.
Por isso, continua a impender sobre mim o grave e imperioso dever de vos falar em tal assunto: dever que me é imposto pelas responsabilidades do meu cargo, assunto que só poderei tratar com uma grande repugnância. Podeis crer, que se o cumprimento daquele dever pudesse ser satisfeito por dinheiro, eu sacrificar-me-ia de bom grado a dar uma quantia importante, só para não ter de falar aqui em modas femininas.
Mas, como isso não é possível, tomemos a cruz às costas e sigamos para o Calvário; sim, para o Calvário, onde sei que vou ser crucificado por muitas das minhas ouvintes.
Declaro-vos que não sei falar de outro modo. Não sei, nem quero, nem devo. Aqui não sou nem posso ser um lisonjeador de ninguém. Sou apenas o ministro da Igreja e por Ela encarregado de vos falar com clareza mostrando-vos a verdade sem sombras nem disfarces.
Notai senhoras minhas: linguagem artificiosa e postiça que mostra o sorriso somente para ocultar o veneno, linguagem que serve apenas para encobrir e dissimular o pensamento tendes vós ocasião de ouvi-la aí por fora, a cada passo.
É preciso que ao menos no templo, na Casa de Deus, chegue aos vossos ouvidos a palavra sem artifícios, entre na vossa alma a verdade sem reservas.
E vós, minhas senhoras, podeis encontrar − e encontrais facilmente − quem vos fale com mais eloquência, com maior brilho oratório, com mais beleza de frase, mas certamente não encontrareis quem vos fale com maior sinceridade.
Possa ao menos este pensamento conquistar para mim a vossa indulgência, e para o assunto que vou tratar o vosso melhor interesse.
Já aqui vos mostrei a forma como o Papa Pio XII se referia aos desmandos da moda feminina, em palavras candentes que deixavam transparecer uma grande dor de alma, uma santa indignação.
E quereis saber a razão daquela linguagem enérgica, cáustica, contundente, em que ele verberava os exageros da moda?
O imortal Pontífice falava assim por vós, minhas senhoras, para defender a vossa dignidade; e pelos outros, minhas senhoras, para os defender dos vossos malefícios.
Primeiramente, para defender a vossa dignidade.
Pio XI sabia muito bem quanto a mulher cristã deve ao Divino Fundador da Igreja, a Jesus Cristo, que livrou a mulher da abjeção do paganismo, e não queria que o seu vestuário a tornasse novamente pagã.
Pio XI sabia muito bem quanto a Igreja deve à mulher cristã, que através dos séculos tem defendido a doutrina e os direito de Cristo com desassombro e abnegação invulgares, e não queria ver esta criatura de graça e de amor, digna de um pedestal, onde possam resplandecer as suas virtudes, sujeita, pelo seu vestuário, a uma escravidão humilhante.
E muita razão tinha Pio XI em querer defender a vossa dignidade de mulheres cristãs, porque os vestidos da moda, de certa moda feminina, são puro paganismo e autêntica escravidão, como vou provar.
Puro paganismo, porque são uma imitação perfeita dos antigos costumes pagãos, são uma ressurreição completa daqueles vestuários obscenos que se usavam nos tempos de grande corrupção do império romano. E sabemos isso pelas descobertas arqueológicas que ultimamente se têm feito.
Quando foi da primeira erupção do Vesúvio que historicamente se conhece, as lavas daquele grande vulcão invadiram rapidamente as regiões circunvizinhas e a cidade de Pompéia, uma das mais corrompidas daquele tempo, ficou sepultada naquela onda de fogo.
Como a erupção foi inesperada, os habitantes não tiveram tempo de fugir e foram surpreendidos nas suas ocupações, nos seus bailes, nos seus divertimentos.
Ora, modernamente, fizeram-se em Pompéia escavações cuidadosas, que permitiram reconstruir em grande parte a vida dissoluta daquela cidade. E lá se encontraram os cadáveres dos seus habitantes, calcinados mas ainda inteiros: muitos soldados com as armas na mão, muitos salões de festim com numerosos convidados, jardins públicos com grande concorrência.
E naqueles cadáveres puderam estudar-se bem os costumes, os trajes daquela época. Lá se viam os mesmos vestidos decotados e curtos que hoje se veem, o mesmo impudor, a mesma imoralidade no vestuário feminino.
Portanto, certos vestidos da moda atual que muitas senhoras trazem, são puro paganismo. E são também autêntica escravidão.
Ah! Minhas senhoras, se vós soubésseis quem é que, por meio do vestuário, vos pretende escravizar, certamente não hesitaríeis um momento em revoltar-vos contra tão humilhante escravatura.
Pois eu vou dizer-vos-lo. Será para vós talvez uma novidade, mas ficareis a saber uma verdade proveitosa. Ora atendei:
O centro da moda, como não ignorais, é Paris. E as mais notáveis criações e invenções da moda sabeis onde são feitas? Em estabelecimentos pertencentes a judeus e a maçons ou por eles dirigidos.
Isto não é uma fantasia, é antes um fato autenticamente averiguado.
O Escritor francês Eduardo Drumont, no seu livro La France juive, e outro escritor Lannoy, numa conferência há anos realizada em Paris, demonstram com fatos e documentos irrefutáveis a influência decisiva das seitas judaico-maçônicas nas modas femininas.
E apontam também o fim que essas seitas têm em vista: é paganizar a sociedade e destruir o Cristianismo.
Para realizar esse plano verdadeiramente diabólico, as seitas escolheram como principal instrumento a mulher, por saberem a grande influência que ela exerce na sociedade e na família.
Mas não lhes servia qualquer mulher: precisavam da mulher sem pudor, da mulher pervertida nos sentimentos, da mulher corrompida no coração. E para isso, para melhor corromperem e perverterem a mulher, serviram-se do vestuário.
E foram inteligentes, não há dúvida. Porque, na mulher, há uma grande barreira que a separa do mal: é o sentimento do pudor. E quem melhor guarda esse pudor é o vestido.
Conhecendo isso, que fizeram as seitas judaicas e maçônicas?
Apoderaram-se dos grandes centros da criação da moda e começaram a cortar os vestidos da mulher. À medida que cortavam o vestido, ia desaparecendo o pudor, até que conseguiram o que desejavam: a mulher pervertida e corrompida.
Nem admira que assim sucedesse, pois quando perde o sentimento do pudor, a mulher desce muito depressa toda a escada que a separa da lama.
E agora, minhas senhoras, estamos assistindo a este espetáculo degradante: uma onda de paganismo alastrou por toda a sociedade, e neste século de feminismo em que a mulher procura libertar-se da influência do homem, neste século em que a mulher aspira a ocupar os lugares e empregos que ao homem são destinados, vemos afinal esta contradição flagrante e incompreensível − milhões e milhões de mulheres escravas de um homem!
E de que homem? Do modista judeu de Paris, do alfaiate maçom da capital da França!!!
Minhas senhoras: isto não repugnará à vossa dignidade, não será uma vergonha para a delicadeza dos vossos sentimentos?
Ser escrava de um alfaiate, ser escrava de um judeu, ser escrava de um maçom!
Haverá alguma senhora digna que hesite um só momento em soltar o grito de revolta contra esta escravidão tão humilhante?
Mas Pio XI, conhecendo que certo vestuário da moda feminina é puro paganismo e autêntica escravidão, sabia muito bem que esse vestuário é também uma vergonha e um aviltamento para as senhoras dignas que o usam.
E é aviltamento e vergonha, porque esse traje vai confundi-las, vai nivelá-las com a mulher aventureira, com a mulher perdida.
Quantas vezes tendes visto aí por fora, ao lado de uma donzela ingênua e cristã, uma mulher pública vestida com todo o requinte do luxo; ao lado de uma senhora fidalga, distinta, a mulher aventureira vestida no último rigor da moda?
Todavia, se as não conhecerdes pessoalmente, não podereis saber qual é a donzela e qual é a mulher perdida, qual é a senhora fidalga e qual é a descarada aventureira, porque elas pelos trajes não se distinguem.
Ora, para uma senhora séria e digna não será isto a mais afrontosa das vergonhas?
Já vedes, pois, minhas senhoras, que Pio XI, falando com tanta energia e indignação contra certas modas femininas, fê-lo por vós, para defender a vossa dignidade de mulheres cristãs, e fê-lo também pelos outros, para os defender dos vossos malefícios, ou melhor, dos malefícios de certos vestidos vossos.
Ah! Minhas senhoras, que se muitas mulheres pudessem avaliar, ou ao menos presumir, a grandeza do mal que tantas vezes causam às almas com o seu vestuário indecoroso, ficariam horrorizadas e morreriam talvez de pavor contemplando as tremendas responsabilidades morais em que incorrem perante Deus, ou pelo menos deitariam logo ao fogo essas parcelas de vestido que mal cobrem a sua nudez.
Mas este ponto tão importante não podemos hoje tratá-lo por falta de tempo. Fá-lo-emos no próximo domingo.
► Os trajes indecorosos da moda feminina, que para aí se ostentam arrogantemente, não só prejudicam as senhoras que os usam, pois são um aviltamento da sua dignidade, mas também causam prejuízo moral a muitas pessoas que os contemplam, expondo essas pessoas ao perigo mais ou menos grave, à ocasião mais ou menos próxima, de ofender a Deus.
E será realmente grande esse prejuízo moral provocado pelo impudor das modas femininas?
Melhor do que eu o pode saber quem frequenta a sociedade. Vou, por isso, dar a palavra a um estudante da nossa Universidade, que me escreveu sobre o assunto em questão.
Dai-me licença de vos ler a sua carta:
'Senhor Abade:
Com muito interesse tenho ouvido as práticas de V. Revª. nessa igreja e venho hoje consultá-lo como médico das almas, agradecendo muito que a resposta seja dada por V. Revª. nas suas interessantes palestras dominicais.
Como membro da Ação Católica, não posso concordar com o procedimento tão leviano, tão inconsciente, das minhas colegas de ideal, e lamento que o problema não tenha sido atacado diretamente.
Depois daquela tremenda e tempestuosa época − já há um bom par de anos − em que a miséria dos tecidos levou as senhoras ao arrojo inaudito de não temerem a queda de um quinto andar, veio, como seria natural, a fartura e a bonança.
Mas agora, fruto talvez da agitação dos últimos tempos, regressamos àquela época e, num desaforo sem nome, a mulher obriga-nos, queiramos ou não, a presenciar um mostruário pernil variadíssimo (que se calhar não passa de simples reclamo às meias transparentes), para que essa carne impura que se não sabe esconder, tente o homem.
Há quem, em nome da arte e da beleza, defenda a perna ao léu; mas, com franqueza, que arte, senão a diabólica arte de tentar as almas terão esses membros que por vezes são apenas autênticas deformidades físicas?
Não falando na mulher não católica, eu pergunto a V. Revª. se a que o é, e em especial a militante da Ação Católica, deve seguir os ditames da moda sem atender ao bom senso, à disciplina que a Igreja impõe, e subir a saia até ao joelho, acima dele mesmo. Ao sentar-se, traça a perna e, como não tem comprimento a saia, mostra num à vontade, umas vezes consciente outras inconscientemente, o joelho, aquilo que a meia já não cobre. Ao abaixar-se, então, fica por vezes inteiramente descomposta.
Com isto, sinto uma onda de revolta que V. Revª. não imagina.
Eu sei − a experiência me o tem mostrado − que muitas raparigas e senhoras são umas autênticas inconscientes nesta matéria. Seguem cegamente a moda mais despudorada porque é moda, sem que saibam o mal que fazem ao homem, e indiretamente a si próprias.
Passa uma rapariga bonita ou feia com os alicerces a descobertos até mais de um terço do edifício, e logo o bicho homem se volta para olhar e ver; e vê com olhos pecaminosos e tantas vezes lhe sai um gracejo de mau gosto, expressão de um desejo imundo que aquele panorama lhe sugeriu. É isto uma regra quase geral.
E eu pergunto a V. Revª.:
Não terá a mulher cristã responsabilidades tremendas nestes vulcões de lama que anda a atear, ainda que inconscientemente? Não representa ela de certo modo o Demônio tentando as almas, e assim não terá foros de verdade a frase do Apóstolo?
A natureza corrompida manifesta-se sempre, e a mulher pelo decote, pela saia curta, pelos vestidos transparentes e colados ao corpo revelando as depressões e altitudes, é muitas vezes a causa de quedas fatais do homem. É por vezes necessário um esforço titânico, para se poder sair incólume das tentações de um dia e de outro.
E que fazem os maridos, os pais, os irmãos que, mais conhecedores do mal, tinham o dever de o remediar? São também inconscientes, faltos de observação, cegos. Pensarão talvez que suas mulheres, suas filhas, suas irmãs, vestindo como as outras, não produzem as mesmas tentações que elas? É desculpa inadmissível.
Depois deste libelo acusatório, eu ficaria de mal com a minha consciência se não prestasse a mais sincera admiração e homenagem a muita rapariga e mulher cristã, medindo-as pela bitola dessa vulgaridade frívola, diabolicamente frívola. Há raparigas e senhoras que vestem modestamente não revelando ostensivamente as suas formas, não se decotando, não subindo a saia a mais de meia altura do joelho.
Contudo, não deixam de ser espíritos cultos, límpidos, mulheres agradavelmente encantadoras, distintas, inteiramente emancipadas da tutela escravizante dessa deusa que não consente discussões: a moda.
São essas que me dão alegria e me levam a confiar no futuro, pois vejo nelas aquele fermento do Evangelho que há de galvanizar todo o exército da Ação Católica. Têm consciência da sua missão, não se atrevem a abeirar-se da comunhão como tantas outras que, até ajoelhadas à Sagrada Mesa, podem ser, pela exiguidade dos seus vestidos, motivo de tentação.
Fere-me profundamente esta inconsciência cristã na vida pública e muito mais na Casa de Deus.
Creia V. Revª. que é com o máximo pesar, com a mais vincada tristeza, que aqui exponho o meu pensar.
E peço que nos responda, que nos ensine a verdade, pondo em relevo e causticando a leviandade feminina, para ver se assim muitas senhoras e raparigas cheguem a acordar, do sono letárgico em que vivem.
Solicitando de V. Revª. o seu perdão para o anonimato em que me escondo, não por covardia, mas porque, como não ataco ninguém em particular, o que sobretudo interessa é a doutrina e não o meu nome, peço também se digne acreditar na grande consideração e estima que por V. Revª. Tem um universitário e militante da Ação Católica'.
Esta carta, queridos ouvintes, não precisa de comentários, porque nos mostra com clareza o grande mal, o mal imenso que podem causar às almas os vestidos indecorosos da moda feminina.
Somente quero e devo lembrar às senhoras que me escutam que o prejuízo moral causado pelo seu vestuário fica sendo da sua responsabilidade e por ele hão de responder no Tribunal Divino. Deus há de pedir contas a essas senhoras não só das suas faltas pessoais, mas também das faltas alheias que foram cometidas por sua causa.
Esta lembrança, esta verdade deve ser, para uma senhora cristã, motivo de grande inquietação e até mesmo de justificado pavor, porque os pecados alheios de que ela for causa ficarão a pesar na sua consciência enquanto não forem perdoados por Deus, e só poderá ficar em paz tendo a certeza desse perdão.
Mas, como poderá ela saber se foram perdoados, se esse conhecimento é tão difícil, por vezes impossível?
Por via de regra, só a confissão pode perdoar esses pecados de impureza, visto que em geral são faltas graves contra o 9º. Mandamento da Lei de Deus.
Quando nós pecamos gravemente, podemos com facilidade obter o perdão de Deus recorrendo com as devidas disposições ao Tribunal da Penitência e ficar com a certeza de que o perdão foi concedido.
Porém, quando são outros que pecam por nossa causa, como poderemos saber se já foram perdoados?
Quantas vezes são descrentes, que desprezam e nunca recebem os Sacramentos! Quantas vezes são indiferentes ou desleixados, que há muito abandonaram a Confissão!
E deste modo, tantos pecados impuros provocados pela vista dos vestidos imodestos, ficam sem o perdão de Deus.
Mas a Justiça Divina é inexorável: exige a expiação de todo o pecado. Não expiaram o seu pecado aqueles que culposamente olharam para os vestidos indecorosos? Hão de necessariamente expiá-lo, em vez deles, aquelas que levianamente ostentaram esses vestidos provocadores.
Esta lembrança não será de molde a produzir nas almas crentes um arrepio de pavor?
Se qualquer senhora de consciência cristã pensasse bem nisto, nas contas tremendas que há de dar a Deus pelas desordens morais que os seus vestidos provocam, certamente nunca teria coragem de usar semelhantes vestidos.
Queridos ouvintes: Há ainda um outro mal que devo salientar aqui. Não é só no homem que certos vestidos das senhoras exercem uma influência nefasta, é também na mulher de condição humilde. O despotismo da moda não confina nas classes elevadas, chegou já às classes populares e começou a escravizar também a mulher do povo.
A cada passo se encontram por aí raparigas de condição modesta, costureiras, criadas de servir, que já usam os seus decotes, que já querem as suas saias curtas e as suas blusas transparentes. E ninguém pode avaliar o grande mal que isto representa.
É que a mulher do povo, a mulher de condição humilde, geralmente não tem um certo grau de educação, que até certo ponto é um preservativo do mal. Na mulher do povo, o sentimento do pudor, é o principal guarda da sua honestidade. É o pudor, a modéstia, que muitas vezes a livra de quedas fatais.
Ora, o vestuário, esse vestuário imodesto e desbragado, vai-lhe tirando a vergonha, vai-lhe tirando o pudor, e perdido este, a mulher fica abandonada, sem quem a defenda. É esta a razão porque tantas raparigas do povo, aliás dotadas de bons sentimentos, a cada passo caem na perdição moral.
O amor do luxo e a desonestidade do vestuário que elas procuram copiar das senhoras da alta sociedade, foram-nas arrastando de queda em queda até as precipitar no abismo.
E de quem é a culpa principal? É das classes elevadas, é dessas senhoras que lhes deram mau exemplo.
Muitas vezes, uma criada nunca se atreveria a usar um vestuário inconveniente, se o não visse usado pelas senhoras da casa, que são suas superioras e deviam ser o seu modelo.
Meditem, pois, as senhoras na grande responsabilidade que lhes traz a sua elevada posição social.
Há, porém, uma vítima da moda, que deve merecer uma referência especial, é a mulher cristã vestida inconvenientemente dentro da igreja. Estudá-la-emos no próximo domingo.
► Hoje mais algumas palavras − que serão as últimas − acerca de moda e de vestuário feminino.
Já aqui vos mostrei que a moda se impõe como um tirano à nossa sociedade e escraviza a mulher levando-a muitas vezes a sacrificar as leis da modéstia, da honestidade e do pudor.
Há, porém, uma vítima, uma escrava da moda, que lamento sobre todas as outras: é a mulher cristã, a mulher católica e piedosa.
Também ela se deixa prender pelas algemas ignominiosas da moda, também ela paga tributo − e não pequeno − a esta divindade ridícula.
Quantas vezes toma parte, a mulher católica que procura cumprir os seus deveres religiosos, quantas vezes ela se vê nessas reuniões e assembleias do grande mundo, nesses passatempos e bailes, nesses teatros e diversões, confundindo-se com a mulher leviana e indiferente que despreza a religião e escarnece a piedade, vestindo-se como ela, ostentando a mesma falta de recato, mostrando a todos o mesmo impudor no seu vestuário!
Que outra mulher fizesse isso, ainda vá. Que fizesse isso, que, sacrificasse a sua dignidade aos caprichos da moda, por exemplo, aquela mulher sem Fé, que não quer saber da igreja nem da crença religiosa, aquela mulher cujo Deus é o mundo e cuja religião são os seus divertimentos − ainda se explica, embora não se justifique.
Mas que faça isso, que proceda assim a mulher católica, aquela mulher que ama a Deus e a sua Fé, aquela mulher que se honra e enobrece de ser crente e piedosa − é absurdo que não se pode compreender.
Bem sei que a mulher católica que assim procede costuma apresentar razões que a justifiquem. Mas são tão pobrezinhas essas razões!
Ela diz às vezes:
− Eu visto-me assim por causa das conveniências sociais, sou convidada para certas certas reuniões que obrigam a vestir desta maneira.
Oh! Que pobreza de argumento!
Para essa mulher, para essa senhora, as tais conveniências sociais devem colocar-se acima de tudo. Para ela, essas conveniências valem mais do que a sua nobreza de senhora, valem mais do que os seus princípios de católica, valem mais do que os interesses superiores da sua alma, valem mais do que os direitos sagrados do seu Deus!
E calca tudo isto aos pés: dignidade, nobreza, crença, alma, Deus − calca tudo aos pés unicamente para não ferir, para não beliscar o tal ídolo das conveniências sociais!
Ora, isto será tudo o que quiserem, menos procedimento cristão.
Eu não ignoro que vós tendes de viver em sociedade, tendes de aceitar certos convites e assistir a certas reuniões, sabe Deus à vezes com que vontade, bem contrariadas, por sinal. Mas, enfim, é preciso condescender e assistir.
Nem eu quero, de modo algum, que vós falteis aos vossos deveres sociais de cortesia, de delicadeza, de amizade.
Se, porém, receberdes convite para alguma reunião, onde se queira exigir de vós um vestuário inconveniente e destoante dos vossos sentimentos de católicas, dois caminhos tendes unicamente a seguir: ou rejeitar esse convite, ou então − o que é preferível − apresentar-vos na reunião vestidas segundo a vossa posição social, com distinção, com elegância, mas sem ofender as leis da modéstia e da honestidade cristã.
Acima de tudo, minhas senhoras, deveis colocar a vossa dignidade de mulher, a vossa nobreza de sentimentos, a vossa tradição de família, o vosso amor de portuguesas, o vosso exemplo de católicas, os interesses superiores da vossa alma e os direitos sagrados do vosso Deus.
E lembrai-vos sempre de que não há nenhuma conveniência social, nenhuma, que tenha o direito de exigir a degradação de uma mulher ou o aviltamento de uma senhora.
Mas ainda não cheguei ao cimo do meu calvário. Porque, como já aqui vos disse, eu estou a subir um calvário onde conto ser crucificado. Não cheguei ainda ao cimo, mas vou agora subir o último degrau da encosta.
E quero falar-vos numa outra vítima da moda, que deploro com a mais profunda tristeza: é a mulher católica e piedosa, vestida indecorosamente dentro da igreja.
A moda, minhas senhoras, não se limita a impor as suas leis e a fazer as suas escravas lá fora, no meio social. A moda entra também arrogantemente dentro do Templo do Senhor e vai insultar a Deus na sua própria Casa.
Quantas vezes se vê a mulher católica entrar na igreja, assistir aos atos do culto e receber mesmo os Sacramentos, de braços nus na sua maior extensão, de vestido decotado, transparente e tão curto, que mal pode ajoelhar-se ou abaixar-se sem que fique descomposta!
E quereis saber o que significa e o mal que causa a mulher cristã que se apresenta na igreja assim inconvenientemente vestida?
A Razão e a Fé dizem-nos que ela vai ali cuspir a Deus um verdadeiro insulto.
Lê-se no Evangelho que o mundo é um inimigo irreconciliável de Deus. São João, no capítulo 17 de seu Evangelho, diz-nos que Jesus Cristo, na última Ceia, quando se despedia ternamente dos Apóstolos, lhes declarou que detestava o mundo, o mundo com a sua frivolidade, com a sua descrença, com a sua corrupção.
E disse mais Jesus: afirmou que não orava, que não pedia pelo mundo.
Ora, vê-de: dos lábios do Salvador Divino saíram palavras de perdão para todos, perdoou até aos próprios algozes que O mataram, rezou e pediu por eles. Só ao mundo não perdoou, só pelo mundo não rezou nem pediu.
Isto mostra-nos bem o horror e a aversão que Jesus Cristo tinha ao mundo, ao mundo frívolo, descrente e corrompido.
E o que faz a mulher piedosa, que se apresenta na igreja e recebe talvez a Comunhão com o seu vestido escandalosamente decotado e curto?
O que faz? Introduz na igreja o espírito do mundo. Num gesto de provocação a Deus, coloca ali diante do altar as divisas do mundo. Nos seus membros descobertos e despudorados, ela leva para o templo e ostenta triunfante a frivolidade, a desvergonha e a desfaçatez do mundo! E recebendo a Comunhão, essa mulher, essa senhora vai obrigar Jesus Cristo a dar o mais estreito dos abraços no mundo, que é o seu mais encarniçado inimigo!
Dizei-me, minhas senhoras: não será isto um insulto, uma afronta feita a Deus?
E quereis agora que vos mostre a grandeza desse insulto, quereis que vos faça sentir bem a gravidade dessa afronta? Então ouvi:
Os seus lábios Divinos apenas se abriram para implorar do Eterno Pai perdão para os seus algozes. Era um Cordeiro manso, pacífico, que foi imolado sem soltar um único balido.
Mas houve um dia em que o Divino Salvador perdeu a serenidade; foi a única vez em toda a sua vida.
Nesse dia, os seus olhos tão meigos despendiam relâmpagos de verdadeira ira, os seus lábios tão serenos tremiam e trovejavam palavras de violenta indignação. O Cordeiro manso transformou-se em Leão furioso.
Sabeis quando isso aconteceu? Foi quando Ele entrou no templo e o viu profanado pelos vendilhões. Encontrou ali uns homens que negociavam em pombas e cordeiros, como se o templo fosse uma praça pública.
E então, indignado e ardendo em ira, lançou mão de um azorrague e expulsou-os dali violentamente.
Custou-lhe mais aquela profanação do templo do que a própria morte, porque a morte suportou-a sem se queixar, a profanação não a pode sofrer sem se indignar.
Aqueles negociantes do templo ofenderam-no mais do que os grandes pecadores de que nos fala o Evangelho. Vede como Jesus tratou a Madalena, a mulher adúltera, o próprio Judas que O vendeu: procurava atraí-los a Si com palavras de carinho, de ternura, de perdão. Pois aos profanadores do templo nem sequer os pode tolerar na sua presença!
Isto mostra-nos bem claramente como é grande a ofensa feita a Deus com a falta de respeito dentro do templo.
E o que faz minhas senhoras, o que faz aquela mulher cristã que se apresenta na igreja a receber os Sacramentos com decote exagerado e com a saia pelo joelho?
Faz o mesmo que os vendilhões do templo: vai profanar a Casa de Deus. E procede ainda pior do que eles, porque os vendilhões negociavam em pombas e cordeiros, e aquela senhora decotada, de braços nus, de blusa transparente e de saia subida, faz um negócio bem mais indigno: vai pôr em leilão a sua modéstia, o seu recato, o seu pudor, vai talvez roubar a Deus, ali mesmo no seu templo, muitas almas e muitos corações acendendo neles o fogo impuro da sensualidade!
Aqueles seus membros decotados, descobertos, despudorados, quantos pensamentos ignóbeis vão despertar nas almas, quantos sentimentos indignos farão nascer nos corações?!
E o pior é que semelhante procedimento não tem razão nenhuma que o justifique. Para andar lá por fora decotada e de saia curta, a mulher cristã ainda pode apresentar o tal motivo das conveniências sociais: ter de assistir a certas reuniões onde se exigem vestidos daquele feitio. Mas para se apresentar na igreja assim vestida é que não pode alegar semelhante razão, porque não há ninguém, não há nenhuma conveniência social que a isso a obrigue. Vai assim, unicamente porque quer.
Compreendeis agora bem, minhas senhoras, a grandeza do insulto e da afronta feita a Deus pela mulher católica que se apresenta na igreja com um vestuário inconveniente?
E como é grande também o mal que essa senhora causa com o seu exemplo! Ela vai arrastar muitas outras senhoras a imitarem-na, porque dizem assim:
− Este vestido decotado e curto pode usar-se sem escrúpulo, pois Fulana, que é uma senhora piedosa, também o usa e vai até com ele receber a Comunhão.
E desta maneira vai engrossando a corrente da moda indecorosa, e muitas senhoras com certeza não se deixariam levar nessa torrente, se não fosse o mau exemplo dado por aquela senhora piedosa e leviana.
A essas especialmente eu quero lembrar em nome de Deus que dizem servir:
− A vossa responsabilidade é enorme, sobretudo se pertenceis aos quadros dirigentes, como tremendas são as contas que ao Senhor haveis de dar pelo vosso mau exemplo. Se não tendes coragem moral de resistir à tirania da moda para reformar em sentido cristão o vosso vestuário, sede coerentes e tomai a única atitude nobre e louvável, e que no dia do Julgamento vos pode valer algumas atenuantes diante de Deus: abandonai quanto antes os quadros da Ação Católica e não continueis a representar uma comédia indigna.
Senhoras que me escutais: Em tudo quanto aqui vos disse, procurei abrir-vos a minha alma de Sacerdote de Cristo e disse-vos o que sentia, com a maior franqueza, com toda a sinceridade.
Vou agora terminar. Mas antes, quero fazer-vos dois pedidos: O primeiro é que me perdoeis alguma palavra mais enérgica que saísse dos meus lábios. Garanto-vos que, se falei com energia, foi apenas em defesa dos vossos direitos, foi unicamente para nobilitar o vosso sexo, pois quero ver a mulher livre e não escrava, quero vê-la livre da tirania da moda, quero vê-la no pedestal da sua grandeza, no trono da sua realeza.
Sim, no trono da realeza, porque a mulher é e deve ser sempre uma rainha: rainha da formosura e da elegância, rainha do sentimento e da bondade e também rainha dos corações. Eu quero ver a mulher conquistar os corações prendendo-os pela sua modéstia, pela sua honestidade.
Foi somente esta − podeis crer − a razão porque talvez falasse com um pouco de energia.
Estou então desculpado e perdoado, não é verdade?
O segundo pedido é este: organizai minhas senhoras, quanto antes uma cruzada santa contra os excessos e loucuras da moda. Vós neste ponto podeis fazer muito, se quiserdes.
E fazendo isso, combatereis pela honra do vosso sexo, pela dignidade e libertação da mulher portuguesa.
Nunca sejais minhas senhoras, escravas da moda. A moda é que deve ser vossa escrava. À moda deveis ditar as leis da vossa inteligência e do vosso bom senso, deveis impor-lhe os preceitos do vosso bom gosto e da vossa honestidade.
E é aqui no santuário, em volta de Jesus Sacramentado, que mais deve realçar a modéstia e a compostura da vossa toilette. Aqui, à luz radiosa da Divina Eucaristia e sob o olhar de candura daquela Virgem Mãe, estudareis os modelos, os figurinos dos vossos vestidos. Levareis lá para fora esses modelos e vereis então a distinção e a elegância brilhar no vosso vestuário, vereis sobretudo a pureza e a Graça Divina aureolar a vossa fronte.
Dai a Jesus Cristo, em toda a parte, com o preito da vossa Fé a homenagem do vosso vestuário.
A esta Divina Mãe, que tanto vos quer, mostrai-lhe o vosso amor imitando a sua candura e a sua pureza.
E a candura e pureza da vossa alma, não a manifesteis somente no vosso lindo sorriso, mostrai-a também no recato do vosso elegante vestido.
Pregai com o exemplo e pregai com a palavra. Vós que sois crentes, vós que sois católicas, vós que sois piedosas, minhas senhoras, sede também apóstolas. Levai daqui bem gravadas no vosso coração as imagens radiosas de Jesus e de Maria e fazei ressuscitar essas imagens benditas lá fora no mundo, no vestuário feminino. Para que o mundo leviano e corrompido não volte novamente à igreja a insultar Jesus diante do seu sacrário, a insultar a Virgem diante do seu altar.
Trabalhai, senhoras minhas, trabalhai esforçadamente nesta grande obra de apostolado católico, fazendo brilhar no vestuário feminino a modéstia, o recato e o pudor cristão.
E Nossa Senhora que é a Rainha da modéstia e do pudor, Nossa Senhora que é o Modelo perfeito da mulher cristã, há de agradecer os vossos esforços, há de iluminar a vossa alma com o mais lindo dos seus sorrisos, há de fazer baixar lá do Céu, sobre todas vós, a melhor das suas bênçãos maternais.
► Falei-vos aqui do vestuário indecoroso da moda feminina, que o Papa Pio XII enumera em primeiro lugar na lista que apresenta dos principais inimigos da castidade − a virtude encantadora que deve brilhar na alma e no coração de uma noiva.
Mostrei-vos os malefícios dessa rainha tirana − a moda − que tantas escravas traz acorrentadas ao seu carro de triunfo. E não resisto ao desejo de citar aqui um caso, cujo conhecimento talvez seja proveitoso, que li num jornal de Paris − La Croix − e me causou funda impressão.
Uma rapariga francesa, das que se vestem ou despem à moderna, foi vítima de um resfriamento que apanhou num baile. No seu leito de morte, disse ela ao Confessor diante de outras pessoas:
− Meu Padre, sinto-me feliz por vê-lo nesta hora ao pé de mim... Tenho necessidade de perdão. Sou uma vítima da moda. Os bailes, as corridas de cavalos, o desejo de ser vista perderam-me.
Sinceramente me arrependo.
Arrependo-me de ter escandalizado... Tive uma educação cristã, fui piedosa, filha de Maria, mas depois tornei-me escrava da moda. Oh! Foi horrível o meu vestuário e careço de perdão!
Sou culpada, muito culpada. A princípio, foi por ingenuidade que me vesti assim. Mais tarde, não. Sabia que fazia mal, que provocava olhares apaixonados, que era objeto de curiosidades repreensíveis. Agora, quero expiar.
− Sossegue e tenha confiança, Germana − atalhou o Sacerdote. Está a expiar por meio do seu sofrimento. Aceite tudo com resignação, até a morte, se Deus lha quiser dar.
− Já fiz o sacrifício da minha vida ao Senhor − disse a doente − mas isso não basta. Pequei publicamente, quero arrepender-me e expiar publicamente também. Peço-lhe, meu Padre, que diga às minhas companheiras, que diga a todas as raparigas, e em toda a parte, que Germana Duverseau morre vítima da moda indecente, e que lhes pede, no momento supremo de aparecer diante de Deus, que nunca sejam causa de escândalo, pelos seus vestidos indecorosos.
No dia seguinte, era dado à terra o cadáver da pobre menina. As numerosas pessoas que o tinham acompanhado, transmitiam comovidamente umas às outras o impressionante testamento de Germana Duverseau.
Tinha pedido que a envolvessem no véu da sua Primeira Comunhão e que lhe pusessem a sua fita de filha de Maria, como protesto contra os seus loucos ornatos mundanos.
Quase a expirar, disse a sua mãe:
− Oxalá que Deus, ao ver a minha última toilette, esqueça as outras que me perderam, e faça que esta seja a minha toilette do paraíso.
Queridos ouvintes:
Veem-se por aí tantas Germanas Duverseau na fase da sua loucura mundana!
Apraza a Deus que a imitem também no seu arrependimento tão edificante"
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