11
dezembro, 2014
Por
Andrea
Grego de Álvarez | Tradução: Airton Vieira de Souza –
Fratres in
Unum.com:
Li faz uns dias um belo artigo chamado “O véu, uma honra para a
mulher”[1], que enumerava ali três razões, tomadas entre outras,
para explicar por que o véu nas mulheres:
1ª. Porque é bela. O véu
lhe recorda que não deve deixar-se levar pela concupiscência da
beleza, nem arrastar a outros. É signo de pudor e recato, da
modéstia no ornato com que sempre há de viver e apresentar-se ante
Deus.
2ª. Porque é mãe. De uma
forma especial, a mulher foi unida à obra criadora de Deus por sua
própria maternidade. O véu lhe recorda que sua maternidade é
sagrada e por isso ela se cobre, para indicar que ao estar coberta o
mundo não pode feri-la nem ela se deixar sê-lo.
3ª. Por sua maternidade
espiritual. Este é um aspecto importantíssimo e desconhecido pela
mulher. A mulher pudorosamente vestida, coberta com seu véu em
silêncio orante, é fiel reflexo da imagem da Santíssima Virgem,
que com seu silêncio e seu véu orava incessantemente por seu Filho
e meditava sobre Sua obra redentora. O recolhimento dentro da igreja
da mulher com o signo distintivo de seu véu tem um fruto riquíssimo
para a Igreja, para a santidade sacerdotal, à sustentação moral e
espiritual do clero e para o fomento das vocações. A maternidade
espiritual é uma grandíssima e formosíssima vocação feminina,
muito desconhecida, desgraçadamente, mas de um valor que me
atreveria a dizer “estratégico” dentro da Igreja.
Os
três pontos mencionados deixou-me pensando… Porque nossos
tempos fazem a renúncia explícita desses três valores. Renuncia à
beleza, substituída pelo feio, pelo carente de harmonia, pelo
provocador, dissonante, obscuro, agressivo.
A
maternidade física é afastada e desprezada, relegada pelo êxito
material, profissional, temporal, acadêmico, econômico. A
maternidade é suplantada pelo conforto, pela imagem, pela
comodidade, pelo bem-estar, pelos caprichos.
A
maternidade espiritual é ignorada e em seu lugar fica uma profunda e
insondável esterilidade e frigidez espiritual que se encobre de
ativismo oco que não deixa marca na alma de ninguém.
Assistimos
hoje ao processo de destruição da família, da sociedade e da
cultura. Um tempo que desafia a Deus e repete e grita em cada gesto e
em cada ação: “Não
queremos que Ele reine sobre nós”. Todos
sabemos até que ponto o ataque à mulher, a seu verdadeiro ser e
condição é a causa desta destruição a que assistimos. Toda
tarefa de restauração da família, da sociedade e da cultura deverá
passar pela recuperação do verdadeiro rol e dignidade da mulher.
Pensei
naquela tremenda e magnífica profecia de Santa Hildegarda de Bingen,
forte em sua plasticidade e sentido, quando escreve:
“Vi uma mulher de uma tal
beleza que a mente humana não é capaz de compreender. Sua figura se
erguia da terra até o céu. Seu rosto brilhava com um esplendor
sublime. Seus olhos miravam ao céu. Levava um vestido luminoso e
radiante de seda branca e com um manto crivado de pedras preciosas
(…). Mas seu rosto estava coberto de pó, seu vestido estava
rasgado na parte direita. Também o manto havia perdido sua beleza
singular e seus sapatos estavam sujos por cima. Com grande voz e
lastimosa, a mulher alçou seu grito ao céu: ‘Escuta, céu: meu
rosto está manchado. Aflige-te, terra: meu vestido está rasgado.
Trema, abismo: meus sapatos estão sujos (…). As chagas de meu
esposo permanecem frescas e abertas enquanto estiverem abertas as
feridas dos pecados dos homens. Que permaneçam abertas as feridas de
Cristo é precisamente culpa dos sacerdotes. Eles rasgam meu vestido
porque são transgressores da Lei, do Evangelho e de seu dever
sacerdotal. Retiram o esplendor de meu manto, porque descuidam
totalmente os preceitos que impõem. Sujam meus sapatos, porque não
caminham pelo caminho reto, isto é, pelo duro e severo caminho da
justiça, e também porque não dão um bom exemplo a seus súditos.
No entanto, encontro em alguns o esplendor da verdade’. E
escutei uma voz do céu que dizia: ‘Esta imagem representa a
Igreja. Por isso, ó ser humano que vês tudo isso e que
escutas os lamentos, anuncia-o aos sacerdotes que hão de guiar
e instruir ao povo de Deus e aos que, como aos apóstolos,
foi fito: ‘Ide ao mundo inteiro e proclamai o Evangelho a toda
a criação”[2].
Seu
rosto, que devia estar coberto por um véu, está coberto de pó.
Perdeu-se o pudor que a reservava, a sacralidade que a preservava? A
imagem, como diz Santa Hildegarda, é representação da Igreja; mas
poderia ser também representação da mulher caída da dignidade que
lhe outorgava o cumprimento fiel da vontade de Deus?
Pensei
também em tantas “desveladas” conhecidas e desconhecidas, cujo
maior esforço é precisamente a ruptura da ordem, a ruptura da
fidelidade, a ruptura da missão. Desveladas para não velar por nada
que valha a pena, desveladas para impedir que outras tantas mulheres
sejam altar do Criador e levem em seu seio o fruto do verdadeiro
amor.
Desde
os anos 60, estenderam-se pelo mundo, tanto no campo liberal como no
socialista, as ideias da “libertação” feminina. Libertação de
quê? Do rol principalíssimo da mulher como esposa e mãe (não é
casual que os anos 60 foram os da explosão da pílula). Libertação
da maternidade, libertação da ternura, libertação de seu lugar e
seu papel exclusivo, que ninguém poderia substituir. Essa ideia
afetou também a Igreja e nela a libertação teve seu signo na
abolição do véu. Só as religiosas o mantiveram como signo da
maternidade espiritual (hoje também assistimos ao “desvelamento”
das religiosas e o tempo nos vai dizendo de sua infecundidade
espiritual).
Pensei
no significado de estar velada, coberta, solene, sublinhando o
mistério que se oculta debaixo do véu. Pensei no desprezo de nossos
tempos pelo mistério profundo, elevado. Tudo deve ser explícito,
tudo deve ser mostrado. Mas a ânsia infantil de mistério, o afã do
assombro existe e então é suplantado por uma caricatura: a
literatura e o cinema de mistério, suspense, terror.
O
mistério verdadeiro que oculta o véu, é o dessa mulher velada que
submete livremente sua vontade, entrega-se como a noiva ante o altar
e ali, no segredo, oferece seus muitos e variados desvelos pelo
filho, por cada filho, pelo esposo, pela vida que ainda não pulsa,
pela vida que vai crescendo e toma seu rumo, pelos filhos
espirituais, pelos amigos.
O
véu, igual ao que cobre o altar para o santo sacrifício, cobre o
altar do coração da mulher, onde oferecerá o sacrifício diário
de sua virgindade ou de sua Paternidade, o sacrifício diário de sua
fecundidade espiritual.
[1] Publicado
por: Padre Juan Manuel Rodríguez da Rosa, 9 novembro, 2014
em: www.adelantelafe.com
[2] Hildegarda
de Bingen, Carta a Werner von Kirchheim, ano 1170.
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