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"Uma vez que, como todos os fiéis, são encarregados por Deus do apostolado em virtude do Batismo e da Confirmação, os leigos têm a OBRIGAÇÃO e o DIREITO, individualmente ou agrupados em associações, de trabalhar para que a mensagem divina da salvação seja conhecida e recebida por todos os homens e por toda a terra; esta obrigação é ainda mais presente se levarmos em conta que é somente através deles que os homens podem ouvir o Evangelho e conhecer a Cristo. Nas comunidades eclesiais, a ação deles é tão necessária que, sem ela, o apostolado dos pastores não pode, o mais das vezes, obter seu pleno efeito" (S.S. o Papa Pio XII, Discurso de 20 de fevereiro de 1946: citado por João Paulo II, CL 9; cfr. Catecismo da Igreja Católica, n. 900).

domingo, 23 de outubro de 2016

O SONHO DE SÃO JOÃO BOSCO SOBRE O INFERNO.



Viagem à Cidade de Fogo


Observação: No meio dos horrores desta visão, abre uma fresta de luz a afirmação de Dom Bosco: os jovens que ele vê precipitarem-se em direção à Cidade do Fogo, não haviam ainda ouvido a sentença do Divino Juiz: “Ide, malditos, para o fogo eterno” (Mat. 25, 41); mas haveriam de se condenar para sempre se tivessem morrido no estado de consciência em que se encontravam presentemente. A visão é muito comprida; nós dela apresentaremos um resumo fiel.

Na noite de 3 de maio de 1868, Dom Bosco retomou a narrativa de tudo o que havia nos sonhos daqueles dias.

Começou assim: “Tenho de contar para vocês um outro sonho, o qual se pode considerar como consequência dos precedentes. Esses sonhos me deixaram extenuado, a ponto de eu quase não me aguentar em pé. Eu lhes falei a respeito de um sapo horroroso que na noite de 17 de abril ameaçava me engolir e disse que quando ele desapareceu ouvi esta voz: ‘por que você não fala?’ Eu me virei para o lado de onde havia saído aquela voz e vi, ao lado da minha cama, um personagem de nobre aspecto (o Guia).

E o que é que devo falar? – Perguntei-lhe.

Aquilo que você viu e lhe foi dito nos últimos sonhos e aquilo que, além disso, lhe vai ser revelado na próxima noite”.

Dom Bosco continua dizendo que o enchia de terror a ideia de ter de ver mais outros espetáculos de horror e que se decidiu a ir para a cama, para se deitar, só mesmo depois da meia-noite. E eis que, apenas pegou no sono, o Guia de sempre se aproxima de sua cama e o intima:

Levante-se e venha comigo.

Conduzi-o a uma planície vastíssima e árida, um verdadeiro deserto sem um fio de água. Foi uma viagem longa e triste, mesmo que a estrada pela qual se encaminham fosse bela, larga, espaçosa e bem calçada. Era ladeada por magníficas cercas vivas e verdes, recobertas por belíssimas flores. À primeira vista, parecia uma estrada plana, mas, na realidade, era inclinada, em declive; Dom Bosco e o Guia caminhavam com uma rapidez tão grande que lhes pareciam estarem voando.


Atrás de nós – conta Dom Bosco – vi todos os jovens do Oratório com muitíssimos companheiros, que jamais eu tinha visto. Enquanto iam para a frente, vi que, um ou outro, de repente, caía e era imediatamente arrastado por uma força invisível em direção a uma descida horrenda, que se podia entrever ao longe. Perguntei ao meu Guia:

O que é que faz aqueles jovens caírem?

Aproximem-se um pouco mais.

Vi, então, que os jovens passavam por entre muitos laços, alguns estendidos rasteiramente junto ao chão, outros suspensos no ar à altura da cabeça. Eram quase invisíveis, por isso, muitos jovens ficavam presos àqueles laços: uns pela cabeça, outros pelo pescoço, esse por um braço, aquele por uma perna, aquele outro pelos flancos. Tão logo o laço se apertava, eles eram imediatamente arrastados para baixo.

Quis examinar a um em particular e o puxei para junto de mim; mas não podendo eu arrastá-lo, decidi acompanhar o fio até o seu extremo, preso a alguma coisa ou segurado por alguém. Cheguei, assim, à boca de uma horrível caverna e, tendo dado ainda mais um puxão ao fio, vi sair um horrível e grande monstro que causava horror. Com suas enormes garras segurava a ponta de uma corda, à qual estavam amarrados todos aqueles laços. Impressionado por essa visão, voltei logo em seguida para perto de meu Guia, que me disse:

Agora você sabe quem é que arrasta seus jovens para o abismo.

Oh! Sim, que sei! É o Demônio que prepara esses laços para fazer cair no Inferno os meus jovens.

Percebi, então, que cada laço tinha algo escrito: soberba, desobediência, inveja, impureza, furto, gula, preguiça, ira, etc. Notei também que os laços que faziam o maior número de vítimas eram os da impureza, da desobediência e da soberba. A este último estavam acoplados os outros dois.

Muitos jovens, porém, sabiam felizmente evitar a queda no laço; outros, ademais, se livravam deles passando pertinho de facões enterrados no chão, que cortavam ou destroçavam os laços. Eram o símbolo da Confissão, da oração e de outras virtudes ou devoções. Duas grandes espadas representavam a devoção a Jesus Sacramentado e a Maria Santíssima”.

Neste ponto Dom Bosco conta que continuou a caminhada, cada vez mais acidentada, por uma estrada que ia descendo sempre mais íngreme e escarpada, cheia de buracos, de cascalhos e grandes pedras. E eis que, lá no fundo, aparece um imenso e tenebroso edifício.


Por cima de uma porta altíssima havia um letreiro espantoso: “Aqui não há Redenção”. Haviam chegado às portas do Inferno.

Olhe! – Gritou-lhe de repente o Guia, agarrando-o por um braço.

Trêmuloafirma o Santo – dirigi os olhares para cima e vi, a uma grande distância, um tal que descia a toda velocidade. À medida que ia descendo, eu ia conseguindo distinguir a fisionomia dele; era um dos meus jovens. Os cabelos desalinhados, em parte eriçados sobre a cabeça, em parte esticados para trás, esvoaçando; os braços estendidos para diante de si, como para se proteger contra uma queda. Queria parar e não podia. Eu queria correr para ajudá-lo, para lhe estender uma mão salvadora, mas o Guia não me o permitiu:

Você crê – disse-me ele – que pode fazer parar um que está fugindo da ira de Deus?

Entretanto, aquele jovem olhando para trás, com os olhos enlouquecidos pelo terror, foi se chocar de encontro à porta de bronze, que se escancarou. Após essa, abriram-se contemporaneamente, com um prolongado troar ensurdecedor, duas, dez, cem, mil outras, forçadas pelo impacto do jovem, transportado como que por um turbilhão invisível, irresistível, velocíssimo. Todas essas portas de bronze ficaram escancaradas por uns instantes e eu vi, lá no fundo, muito ao longe, como se fosse a abertura de uma fornalha, e daquele abismo, no momento em que o jovem aí mergulhava, elevavam-se globos de fogo. As portas novamente se fecharam com a mesma rapidez com que se haviam aberto. Eis que despencam outros três jovens de nossas Casas, que rolavam com muita rapidez, como enormes pedras, um depois do outro. Tinham os braços abertos e urravam por causa do terror. Chegaram ao fundo e foram se chocar de encontro à primeira porta, que se escancarou, e, com ela, as outras mil.

Caíram muitos outros. Um desventurado veio rolando tocado pelos empurrões de um pérfido companheiro. Eu os chamava com afã, mas eles não ouviam.

Eis uma causa de tantas condenações! – exclamou meu Guia. Os maus companheiros, os maus livros, os maus hábitos.

Vendo que caíam tantos, exclamei com acento de desespero:

Mas, então, é inútil que nós trabalhemos nos nossos colégios, se tantos jovens vão acabar desse jeito!

O Guia respondeu:

Esse é seu estado atual e se morressem assim viriam, sem mais, parar aqui”.

Naquele momento Dom Bosco viu precipitar-se um outro grupo de jovens e aquelas portas permaneceram abertas por uns instantes.

Venha cá para dentro você também – disse o Guia; você vai aprender muitas coisas.

Entraram naquele estreito e horrível corredor e chegaram a um tétrico e horrível portãozinho acima do qual estava escrito: “Ibunt impii in ignem aeternum” (Os ímpios irão para o fogo eterno).


O Guia pegou Dom Bosco pela mão, abriu a portinhola e o fez entrar. “O espetáculo que se me apresentou – conta Dom Bosco – me fez mergulhar em um terror indescritível. Uma espécie de caverna imensa ia serpeando pelas anfractuosidades escavadas nas vísceras de uma montanha, repletas de fogo, não assim como nós o vemos aqui na terra, com as chamas em forma de chispas, mas sim um fogo que fazia com que tudo lá dentro se tornasse incandescente e branco pelo enorme calor. Paredes, arcadas, pavimentos, ferro, pedras, madeira, carvão, tudo estava branco e mui resplandecente. Certamente, aquele fogo tinha mais de mil e mil graus de calor, e esse fogo não calcinava, não consumia nada. Faltam-me as palavras para descrever para vocês aquela caverna em toda a sua espantosa realidade.

Enquanto estava olhando aterrorizado, eis que, saindo de uma abertura, aparece um jovem que, soltando um urro agudíssimo, se precipita para dentro da caverna, torna-se branco como toda a caverna e para imóvel, enquanto que, ainda por um instante, ressoa o eco de seu grito de moribundo. Cheio de horror olhei para aquele jovem e me pareceu ser um do Oratório, um dos meus filhos.

Mas esse aí não é um dos meus jovens, não é o Fulano de Tal? – perguntei ao Guia.

Infelizmente sim – respondeu-me.

Depois desse chegaram outros e seu número aumentava sempre mais e todos soltavam o mesmo grito e ficavam imóveis, incandescentes, como aqueles que os haviam precedido.

Crescia em mim o espanto e perguntei ao meu Guia:

Mas, esses aí, não estão sabendo que estão vindo para cá?

Oh! Sim, que sabem que estão se dirigindo para o fogo eterno; mil vezes já foram avisados, mas caem aqui, e voluntariamente, por causa do pecado que não quiseram abandonar. Eles desprezaram e repeliram a misericórdia de Deus, que os chamava incessantemente ao arrependimento.

Qual não deve ser o desespero desses desventurados que não tem mais esperança de sair daí! – Exclamei.

Então o Guia me ordenou:

Agora é necessário que você também penetre em meio àquela região de fogo que você viu!

Não! Não! – respondi estarrecido. Para ir ao Inferno é necessário, antes de tudo, passar pelo Juízo de Deus; e eu não fui ainda julgado. Portanto, não quero ir até o Inferno!

Diga-me, observou o Guia: que lhe parece melhor: ir até o Inferno e de lá libertar os seus jovens, ou ficar fora dele e abandoná-los em meio a tantos sofrimentos?

Estupefato perante essa proposta, respondi:

Oh! Aos meus jovens eu os amo por demais e os quero a todos salvos. Mas não poderíamos dar um jeito, para que, nem eu nem os outros caíssemos lá dentro?

Eh… – respondeu-me o Guia –, você ainda está em tempo, como eles também, contanto que você faça tudo o que puder.

Senti um alívio no coração e disse em seguida:

Pouco me importa o ter de trabalhar, contanto, que eu possa libertar daqueles tormentos estes meus caros filhos.

Portanto, venha para dentro daqui – prosseguiu o Guia.


Tomou-me pela mão para me introduzir na caverna. Encontrei-me imediatamente em uma grande sala com portas de cristal. Ao longo delas pendiam largos véus, os quais cobriam outros tantos vãos, que se comunicavam com a caverna. O Guia me indicou um daqueles véus sobre o qual estava escrito: ‘Sexto Mandamento’, e exclamou:

A transgressão desse Mandamento: eis a causa da ruína eterna de tantos jovens.

Mas, não se confessaram?

Confessaram-se, sim, mas os pecados contra a pureza os confessaram mal ou os calaram por completo. Há alguns rapazes que cometeram um desses pecados na meninice e sempre tiveram vergonha de confessá-lo; outros não tiveram o arrependimento e o propósito. Até mesmo, pelo contrário, alguns, em vez de fazer o exame, procuravam o modo de enganar o Confessor. E agora, você quer ver porque a misericórdia de Deus te conduziu até aqui?

Levantou o véu e eu vi um grupo de jovens do Oratório, que eu bem conhecia, condenados por causa dessa culpa. Entre eles havia alguns que atualmente tem bom comportamento.

Que devo dizer-lhes para ajudá-los a salvar-se?

Por toda a parte prega contra a impureza.

Vimos, dessa forma, outros jovens condenados por causa de outros pecados. Em seguida, o Guia me fez sair daquela sala. Percorrido em um átimo aquele longo corredor de entrada, antes de deixar o limiar da última porta de bronze, voltou-se de novo para mim e exclamou:

Agora que você já viu o tormento dos outros, é necessário que você também experimente um pouco do Inferno. Experimente tocar nesta muralha.

Eu não sentia coragem e queria afastar-me dali, mas ele me segurou, dizendo:

Entretanto, é necessário que você experimente!

Agarrou-me resolutamente o braço e me arrastou até perto da muralha, continuando a dizer:

Toque nessa muralha uma vez tão somente, apenas para poder entender como será a última muralha, já que esta primeira aqui é tão terrível. É a milésima antes de chegar lá onde está o verdadeiro fogo do Inferno. São mil os muros que O circundam. Cada muro tem mil medidas de espessura e cada muro dista do outro mil milhas; este muro, portanto, dista um milhão de milhas do verdadeiro fogo do Inferno e, por isso, é um mínimo início do próprio Inferno.

Dito isso, agarrou minha mão, abriu-a com força e me a fez bater espalmada contra a pedra deste último milésimo muro. Naquele instante senti um ardor tão intenso e doloroso que, pulando para trás, e soltando um grito fortíssimo, acordei.

Encontrei-me sentado na cama e, parecendo-me que minha mão estava queimando esfregava-a contra a outra para fazer passar aquela sensação. Quando amanheceu, observei que a mão estava realmente inchada e mais tarde a pele da palma da mão se despregou e apareceu uma pele nova”.


Dom Bosco concluiu: “Vejam bem que eu não lhes disse essas coisas com todo o seu horror, do jeito que as vi e com a impressão que me causaram, para não espantar a vocês por demais. Por várias noites em seguida não pude pegar no sono por causa do espanto que experimentei” (MB IX, 166).

***

Existe alguns que, para não ferir a sensibilidade moderna, fazem do Evangelho uma antologia adocicada, escolhendo as passagens das quais se deduz a bondade infinita de Deus e eliminando as que falam de sua justiça, ela também infinita. Mas, “Cristo ontem, hoje e pelos séculos”. E Jesus não fez assim; Nossa Senhora em Fátima não fez assim; Dom Bosco não fez assim. O Espírito Santo apresenta os “Novíssimos” como eficaz antídoto contra o pecado: “Recorda tuas últimas realidades (Morte, Juízo, Inferno, Paraíso) e não pecarás eternamente” (Sirácides 7, 36).


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Fonte: “Os Sonhos de Dom Bosco”; Coletânea organizada por Pietro Zerbine, Traduzido por P. Júlio Bersano, pp. 124-132; Editora Salesiana Dom Bosco, São Paulo, 1988.

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