Deveres
dos cristãos em geral:
“Para
todos os bons cristãos vale afinal o Preceito
divino de sempre falarem sinceramente a verdade, em suas reuniões e
conversas; de não dizerem nada que possa lesar a fama de outrem, nem
sequer daqueles que, como é de seu conhecimento, os ofendem e
perseguem. Não devem esquecer que entre eles e os outros se interpõe
a mais íntima ligação, por serem membros do mesmo Corpo”.
Pode-se,
contudo, ocultar a verdade oportunamente:
“As
palavras têm
sido instituídas, diz S. Agostinho, para os homens comunicarem por
elas os seus pensamentos. Servir-se, pois, das palavras para
comunicar pensamentos que não se tem, é sempre uma coisa má.
Fundado S. Tomás no mesmo princípio, diz: ‘que sendo as palavras
pela sua natureza sinais dos pensamentos, é contra a natureza das
palavras significar com elas pensamentos que não há’. Segue-se
daqui, que se o mundo inteiro tivesse que se salvar por uma só
mentira, esta mentira não deixaria de ser pecado, ainda que o mundo
se salvasse por ela.
Apesar
desta verdade incontestável, multiplicam-se as desculpas
da mentira. Diz-se que, não pode ser mau mentir em alguns casos,
como para conservar a paz de uma família, a fama de uma pessoa ou
coisa semelhante; porém, nem a paz das famílias, nem a fama das
pessoas, nem outro qualquer bem, pode fazer que seja bom o que por
natureza é mau, como o é a mentira. O
que pode fazer-se quando há inconveniente em dizer a verdade, é
procurar ocultá-la, porque, como ensina o mesmo Santo Agostinho, uma
coisa é dizer a mentira e outra é ocultar a verdade. Pode-se evitar
a resposta, variando a conversação, chamando a atenção de quem
pergunta para outras coisas, respondendo um despropósito, ou não
respondendo, e desta maneira ficará oculta a verdade e mortificada a
curiosidade”.
O
Ensino Catequético:
Segundo
o Catecismo
Maior de São Pio X,
“nem sempre
é necessário dizer tudo conforme se pensa
(ou
seja, toda
a
verdade),
especialmente quando quem pergunta não tem o direito de saber o que
pergunta”.
Explicação
do Catecismo Maior:
“O
8º Mandamento proíbe-nos toda a espécie de mentira e, por isso
mesmo, ordena-nos que digamos a verdade, pois a palavra deve ser a
manifestação do pensamento. Mas
a verdade,
como nos ensina o catecismo, deve-se
dizer oportunamente, ou por outra:
a mentira nunca se deve dizer; porém,
a verdade não se diz sempre, mas na devida oportunidade. Há
circunstâncias em que a verdade pode não se dizer e outras em que
não se deve dizer.
Por exemplo, se me perguntam uma coisa; sei que, dizendo a verdade,
aquele
que me interroga faria mau uso dela. Que devo fazer? Não devo dizer
a verdade, mas também não devo dizer a mentira; o meu dever é
calar-me, ou falar de outro assunto, ou usar daquelas palavras que
não dizem coisa alguma”.
A
Moral nos ensina que:
“Deus
nos deu o dom de podermos comunicar nossos pensamentos para
que manifestemos sempre a verdade. De cada vez que, por palavras ou
obras, divulgamos uma falsidade, abusamos de um dom divino e pecamos.
Daí
se segue que, não existem as ‘mentirinhas brancas’ nem as
mentiras inócuas. Um mal moral, mesmo o mal moral de um pecado
venial, é maior que qualquer mal físico. Não é lícito cometer um
pecado venial, nem mesmo para salvar da destruição o mundo inteiro.
No entanto, deve-se
também mencionar que posso não dizer a verdade sem pecar, quando
injustamente procuram
averiguar por meu intermédio alguma coisa sobre mim. O que venha a
dizer neste caso poderá ser falso, mas não é uma mentira: é um
meio lícito de autodefesa
quando não resta alternativa.
Também
não há obrigação de dizer sempre toda a verdade. Infelizmente, há
muitos xeretas neste mundo, que perguntam o que não têm o direito
de saber. É perfeitamente legítimo dar a tais pessoas uma resposta
evasiva. Se alguém
me pergunta quanto dinheiro trago comigo (e suspeito de que se trata
de uma “facada”), e eu lhe respondo que trago mil cruzeiros,
quando na realidade tenho dez mil, não minto. Tenho mil cruzeiros,
mas não menciono os outros nove mil que também tenho. Mas seria uma
mentira, é claro, afirmar que tenho dez mil cruzeiros quando só
tenho mil.
Há
frases convencionais que aparentemente são mentiras, mas não o são
na realidade,
porque toda pessoa inteligente sabe o que significam. “Não sei”
é um exemplo dessas frases. Qualquer pessoa de inteligência média
sabe que dizer “não sei” pode significar duas coisas: que
realmente desconheço aquilo que me perguntam, ou que não estou em
condições de revelá-lo. É a resposta do Sacerdote – do médico,
do advogado ou do parente –, quando alguém procura tirar-lhe uma
informação confidencial. Outra frase similar é: “não está em
casa”. “Não estar em casa” pode significar que a pessoa saiu
efetivamente, ou que não recebe visitas. Se a menina, ao abrir a
porta, diz ao visitante que mamãe não está em casa, não mente;
não há por que dizer que mamãe está no banho ou corando a roupa.
Quem se engana com
frases como esta
(ou outras parecidas de uso corrente) não
é enganado:
engana-se a si mesmo”.
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