A Vida Exterior de Jesus
e o seu Plano
1. A Vida
exterior de Jesus –
Divide-se em duas partes: a) na primeira foi operário até à idade
de 30 anos; b) na segunda foi mestre cerca de 3 anos. Em ambas
estas fases, excetuando as manifestações milagrosas dos últimos anos, foi a sua
vida exterior, semelhantíssima à vida humana ordinária, sujeito como este a
todos os acontecimentos ordinários, ora alegres, ora adversos, como costuma
acontecer na vida dos homens.
Nasceu em Belém,
na Judeia, onde, casualmente se achou sua Mãe, por motivo do recenseamento da
população, ordenado por César Augusto.
Ainda menino,
foi perseguido por Herodes o Grande, fugindo seus pais com Ele para o
Egito, por alguns anos. Voltando e tornando-se adulto, trabalhou na oficina de
seu pai putativo, em Nazaré na Galileia, pátria de sua Mãe. Todos os anos, como
se presume, ia com seus pais a Jerusalém.
Começando a vida
do Magistério aos 30 anos, ia de vila em vila ensinar nas sinagogas, como
costumava fazer também os outros mestres hebreus. No início de sua pregação
assistiu a um banquete nupcial, em companhia de sua Mãe e de alguns de seus
Discípulos e amigos. A princípio dirigiu-se a Jerusalém, centro religioso dos
hebreus; mas, perseguido pela inveja da escola farisaica, voltou atrás e
escolheu para centro das suas excursões Cafarnaum, junto do lago da Galileia,
lugar oportuno para Judeus e Gentios. Não deixou, porém, de fazer frequentes
viagens a Jerusalém. Aceitava hospedagem dos bons e às vezes mesmo dos
Fariseus, seus inimigos, para ter ocasião de os instruir. Ensinava por toda a
parte, mesmo fora das sinagogas: nas praças, nos campos, na margem do lago e
até dentro de um barco, onde certa ocasião foi surpreendido pelo sono durante
uma tempestade.
Foi amigo íntimo
da família de Lázaro, em cuja casa de bom grado descansava dos seus trabalhos e
onde Marta era solicita em preparar-lhe algum alimento, ao passo que Maria
sentava-se perto d'Ele, desejosa de Lhe ouvir os ensinamentos. Numa viagem pela
Samaria, cansado e cheio de sede, descansou junto de um poço e pediu de beber a
uma Samaritana, aproveitando a ocasião para a instruir. Finalmente, crescendo a
perseguição dos seus inimigos, Pilatos, governador romano, instigado pelos
chefes dos Judeus, embora tivesse por muitas vezes reconhecido a Sua inocência,
por fraqueza, condenou-O à morte.
2. O Plano de
Sua obra – Jesus Cristo
nos seus ensinamentos repetia com frequência que havia sido mandado por Deus
para fazer uma Nova Aliança com os homens, reconciliá-los com Ele, torná-los
seus filhos adotivos (João 1, 18) e reuni-los numa grande e única Família,
obediente a Ele. Dizia em suma, que viera fundar uma nova Sociedade
Religiosa, universal e extensa como o gênero humano. Escolheu para isso
Doze homens, aos quais instruiu de modo especial e revelou os seus segredos.
Eles, porém, estavam ao princípio, cheios de prevenções e não compreendiam bem
de que se tratava. Quantas vezes lhes falou Jesus do Novo Reino, ora manifestamente,
ora de modo velado! Disse-lhes (pois que os mais deles eram pescadores) que
queria fazê-los pescadores de homens, que seriam a luz do mundo e
suas testemunhas até aos confins da terra.
Vida Interior de Jesus
Preâmbulo – Na história narra-se a vida de alguns
homens que foram chamados grandes; mas infelizmente a sua grandeza
consistia muitas vezes em algum vício favorecido pela fortuna, como a ambição
ou a vingança, ou mesmo em algum dote natural, como a força, o talento. A
verdadeira grandeza, porém, não está nas qualidades exteriores, nem no bom
êxito das empresas, mas sim: – 1º nas qualidades da mente e do
coração; 2º nestas qualidades bem equilibradas entre si; – 3º nestas
qualidades atuadas por meios que a natureza dá a todos.
Jesus Cristo é
verdadeiramente grande, com esta soberana grandeza: é para todos, ou
sejam grandes, ou sejam pequenos; é um protótipo único no mundo. E posto que
exteriormente tenha tomado a condição dos humildes e dos operários,
contudo a Sua vida interior resplandece de uma beleza maravilhosa. Basta
examinar as Suas relações com Deus, com os homens e consigo mesmo: três pontos
de que depende a verdadeira grandeza.
Para com Deus
– Sumo
respeito. Por
exemplo no jardim das oliveiras…; nas respostas ao Tentador…; na resposta que
deu a São Pedro: “Retira-te Satanás…”; nas respostas que deu a Seus pais: “Não
sabíeis…?” Obediência. “O meu alimento...” “Não se faça a minha
vontade” – Amor ao Pai. “Meu Deus, por que me abandonaste?” “Pai,
nas tuas mãos...” Honra ao Pai. “A minha doutrina não é minha...”
“O Pai dá testemunho de mim”. – Oração. Retirava-se a rezar sobre
os outeiros… Orou antes do Batismo…, antes da escolha dos Apóstolos, etc.
Para com o próximo
– Amor e beneficência.
Corria de aldeia em aldeia para instruir… curava os enfermos… Uma vez
descobriram um telhado, porque a multidão… A hemorroísa… A cananeia. – E
principalmente para com os pecadores. Exemplo da adúltera… de Maria
Madalena… de Zaqueu. – Para com os inimigos. Aceitava-lhes a
hospitalidade…; curou a orelha de Malco… censurou os Apóstolos: “Filhos do
trovão”. - Para com as crianças. Acariciava-as e abençoava-as…;
repreendeu os Apóstolos que as repeliam. – O povo ficava encantado com as
Suas palavras. Uma vez ficou este três dias sem comer; os próprios
beleguins, mandados para prendê-lo, ficaram cativos da Sua bondade.– Preceito
da caridade. A parábola do Samaritano.
Para consigo mesmo
– Jesus
Cristo não se fez centro e objeto das Suas ações, mas atribuiu-as a Deus. Ora, como a vida tem prazeres e dores,
Ele dos prazeres só gozou, quando redundavam em glória de Deus, só logrou
pouquíssimos. Quanto às dores: primeiro, sofreu-as com paciência, e
tantas quantas aprouve ao Pai enviar-lhe; segundo, aos prazeres preferiu
as dores, porque estas nos aproximam de Deus. Assim é que não havia n'Ele
ambições de honras nem de riquezas; antes fugiu, quando o povo O quis proclamar
Rei.
Outras Insignes Qualidades de Jesus
Cristo
1. Paciência
e Mansidão (diziam-lhe
que não havia estudado… chamaram-no endemoniado… sedutor…; muitas vezes devia
alterar as Suas viagens, pelas insídias que lhe armavam…; perdoava aos inimigos
e os desculpava).
2. Não se
queixava de Deus (a
alçada da Sua missão era restrita, o efeito muito reduzido – ficar na oficina
até os 30 anos).
3. Não usou
do poder em Seu favor.
Repreendeu a Pedro que à força se opunha à Sua prisão.
4. Sentia
todos os afetos humanos.
Por exemplo na morte de Lázaro… A amargura por ser atraiçoado por Judas…; a
tristeza no jardim das oliveiras…; a terna amizade que dedicava à família de
Lázaro.
5. Fidelidade
na Sua missão. Resposta
à Sua Mãe e à Cananeia.
6. Coração
magnânimo. Repreendeu os
Apóstolos por quererem que um tal não fizesse milagres.
7. Inteligência
perspicaz. No caso da
adúltera… da moeda de César…; da mulher curvada…; dos Fariseus que lhe
perguntavam com que poder expulsava os profanadores…; do tributo ao templo.
8. Franqueza. No jantar em casa do Fariseu…; com
Marta…; quando alguns queriam abandoná-lO… perante o Sinédrio.
9. Ódio a
hipocrisia. “Sepulcros
branqueados...”.
10. Prezava a
virtude, a fé.
Centurião…; A Cananeia…; as moedas da viúva.
11. Modo de
ensinar. Simples, mas
com autoridade, afirmando e não argumentando ou deduzindo. Ensinava com
majestade e decisão, com facilidade e naturalidade, os mais profundos
mistérios. Doutrinava por toda a parte: nas ruas, nos campos, nas margens do
lago, nos outeiros, servindo-se das semelhanças mais óbvias, como da vida
doméstica, dos rebanhos, da vermelhidão do ocaso, da pesca, da mulher que perde
uma moeda, dos obreiros que vão à vinha.
12.
Equilíbrio de todas as virtudes.
As Suas virtudes estavam todas equilibradas de forma, que uma não sobrepujava a
outra. Era grave, sem altivez nem dureza (Mat. 9, 15; 19, 21; Jo. 17, 15);
modesto, sem afetação (Luc. 7, 38; Jo. 1, 42); resignado, sem abatimento (Mat.
26, 46; Jo. 16, 32); indignava-se, quando convinha, sem cólera (Mat. 23, 2; 9,
37; Luc. 4, 27; 19, 41; Jo. 6, 27); firme, sem obstinação (Mat. 12, 15);
afetuoso, sem fraqueza (Mat. 16, 23; 17, 19; 20, 22); inspirava veneração e
confiança (Luc. 10, 28; Jo. 4, 27; 21, 22); a Sua linguagem e a Sua fisionomia,
tinham uma nobreza e um encanto que atraiam os povos (Mat. 7, 28; Luc. 2, 47;
4, 22; 7, 16; 10, 26; Jo. 7, 46; 8, 23; 13, 13; 18, 21).
Conclusão
Depois de tudo
isto, já se sente no espírito um forte pressentimento de que Jesus Cristo deva
ser o verdadeiro Enviado de Deus.
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Fonte: Pe. Eugênio Polidori, S.J., “Curso de Religião”, 2ª Edição
brasileira, 1ª Parte, Cap. III, Questão XI e XII, pp. 80-86; Livraria Salesiana
Editora, S. Paulo/SP, 1915.
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