Assim
nos conta o ilustre Cardeal Autor:
“A
vida que escolhemos em primeiro lugar, é a da Virgem Mártir Santa
Prisca, nobre Romana, descendente da nobre família cujo nome herdou;
família não só senatorial, mas consular, tendo seu mesmo Pai duas
vezes desempenhado este sublimado cargo durante o império, ela
teve a fortuna de ser batizada pelo Príncipe dos Apóstolos e
primeiro Santo Pontífice, São Pedro. Sofreu o martírio, talvez
mais cruel do que nenhuma outra Virgem depois padecesse, e na tenra
idade de 13 anos.
Duas
causas decidiram esta escolha, ambas plausíveis. A primeira, que se
infere da história e monumentos que nos restam, é ser ela a
Protomártir
não só de Roma, mas da Igreja Romana. O
que dá lugar a descrever o princípio desta Igreja à universalidade
dos fiéis agora ignorantes, os costumes gentílicos de Roma, e o
contraste com os dos Cristãos primitivos; de que resulta sobressair
melhor o heroísmo desta Menina, que foi depois o exemplo das
ilustres virgens que floresceram nos três séculos seguintes, as
Bonosas, as Cecílias, as Martinhas, as Domitilas, as Inêz, e outras
semelhantes, e não teve Prisca antes de si exemplo que seguir.
A
segunda causa da escolha, é a mais importante; perdoem-nos os
Romanos, se nós, apaixonado amador da verdade, e leal e singelo
escritor, começamos por uma
repreensão, que embora eles a mereçam, os chamados para juízes de
si próprios. Percorrendo esta santa Cidade (Roma), não achamos quem
nos indicasse o lugar do Templo de sua excelsa Protomártir,
enfim, com muito custo tendo o achado, qual foi nosso espanto, e
mesmo nossa indignação, vendo deserto o caminho que para lá
conduz, o vestíbulo do Templo cheio de erva, este fechado,
desemparado, sem adornos! É esta pois, pensamos nós, a Igreja que é
uma das Estações de Roma, e tem um Título!
Maior foi nosso escândalo quando entramos nos subterrâneos do
Templo, que conserva tão nobres monumentos da nossa Fé, vimos e
soubemos que as preciosas Relíquias daquele virginal corpo, foram
barbaramente roubadas por mão estranha, sem que os Romanos que
reivindicam os monumentos profanos da arte, se tenham lembrado há
meio século de reaver tão santo tesouro! Não podendo atribuir
semelhante negligência a falta de Religião e de amor pátrio, visto
terem tantos outros Templos e magníficas Basílicas, e é muito
conhecida a
piedade romana, somos forçados a chegar a esta conclusão: que isto
aconteceu pelo esquecimento da grandeza da virtude, e da glória
desta Heroína. Com efeito, a vimos tão desconhecida, que não
podemos encontrar seu doce nome em nenhuma dama romana, o que não
acontece com as outras Santas. Manifesto sinal que a devoção a
Santa Prisca se desvaneceu.
Parece
pois conveniente recordar a Roma e à Itália, sua primeira glória,
afervorar a devoção dos Fiéis por esta Primogênita e Protomártir
de sua Igreja, para que as donzelas Nela tenham o mais nobre, e
glorioso exemplo de heroica e viril coragem na defesa da Fé, e
zelosa solicitude pela flor de sua virgindade; e Roma, a Itália e a
Igreja possam nestes calamitosos tempos recorrer a seu poderoso
patrocínio.
Conservaremos
a exatidão histórica; e referiremos os fatos como então se
passaram, e quando faltarem documentos individuais, nos cingiremos
aos gerais daquela época, sendo certo que a Protomártir,
podemos dizer a Primogênita da Igreja Romana, teria escrupulosamente
executado as leis eclesiásticas então em vigor”. Até aqui o
ilustre Cardeal.
*****
Obs: Santa Prisca não é Santa Priscila como alguns comentam, mas, Santa Priscila é a irmã mais velha de Santa Prisca, filhas do Senador Romano Vinício Prisco II. Sua mãe, Júlia, descendente de Augusto, filha de Germânico, irmã do imperador Calígula e da princesa Agripina, que foi mulher e mãe de imperadores e de Drusila (Muratori, An XIX). Sua mãe Júlia, era discípula de Sêneca, o grão filósofo moral de Roma (Rollin, Hist. dos Imp. Romanos, liv. III, 55, I).
Seu martírio deu-se no ano 54 d.c.
Em momento oportuno postarei o seu Martírio, como está descrito nesta raríssima obra.
Santa Prisca, Virgem e Protomártir da Igreja de Roma, rogai por nós.
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Fonte:
Cardeal Wiseman, “Prisca - Narração Histórica do Reinado de
Cláudio: Primeiro
Século da Era Cristã”, Advertência Preliminar, pp. VIII-XI;
Traduzido do Italiano, B.L. Garnier, Livreiro Editor, Rio de Janeiro,
1879.
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