“Aquele
que semeia na carne, colhe a corrupção”
(S.
Paulo aos Gálatas 6, 8)
“Multa
flagela peccatoris”
(Ps.
XXXI, 10)
Eternamente
o guardará a minha
misericórdia:
e a minha aliança
será
estável com ele.
Mas
se os seus filhos abandonarem
a
minha Lei e não andarem nos
meus
preceitos: e não guardarem
os
meus mandamentos, fustigarei
as
suas maldades e castigarei
os
seus pecados.
(Salmo
LXXXVIII – 29, 31, 32 e 33)
Consequências
da Impureza
"Eis que venho depressa,
e a minha recompensa está comigo,
para retribuir a cada um segundo as suas obras.
Eu sou o Alfa e o Ômega,
o Primeiro e o Último,
o Princípio e o Fim.
Bem-aventurados aqueles
que lavam as suas vestes
no Sangue do Cordeiro
para terem parte na Árvore da Vida,
e entrarem pelas portas na Cidade (Santa).
(Ficam) fora os Cães (os impuros)..."
Apocalipse 22, 12-17.
A
voz da ciência patenteia, a amargura dos frutos da impureza e
confirma a Lei de Deu. Creio
que ficou suficientemente comprovada, com sentenças e opiniões se
sábios e artistas consagrados e com votos plenários de Faculdades
de Medicina, a afirmativa de que é possível e conveniente praticar
a virtude da Castidade, que o Senhor impõe no Sexto Mandamento do
Decálogo.
São
omnimodamente
apreciabilíssimos os seus bens.
E
as consequências da impureza são “mais amargas do que o fel, mais
cruéis do que a espada”, exclama São Jerônimo, – incisivo e
claro.
“O
pecado… consumado gera a morte”, diz São Tiago, na sua admirável
Epístola.
Viu
São João uma mulher tão ornada nos vestidos como desordenada na
vida, a qual tinha na mão um cálice de ouro, cheio de todas as
abominações e torpezas, diz o Padre Antônio Vieira, comentando uma
passagem do livro profético do Novo Testamento.
E
explica o notabilíssimo, e incomparável pregador:
“Com
este cálice convidou e provocou a todos os habitantes da terra a que
bebessem. Beberam e, pela eficácia da bebida, perderam todos o
juízo.
Chamava-se
aquela mulher Babilônia, e foi tal a embriaguez dos que beberam o
seu cálice, como verte com discreta propriedade o texto arábico,
que todos ficaram babiloniados.
Biberunt
omnes populi, et Babyloniati sunt:
As cidades babiloniadas: e ficou Jerusalém uma Babilônia, Roma
outra Babilônia, Lisboa outra Babilônia, e em cada cidade tantas
Babilônias, quantos eram os habitantes delas, trocada toda a ordem
em confusão, que isso quer dizer, Babilônia: trocado todo o juízo
em insânia, toda a paz em discórdia, toda a quietação em tumulto,
toda a urbanidade em descortesias
e afrontas”.
Continuo
a aproveitar o testemunho humano para pregar a Lei Divina, embora o
testemunho de Deus seja incomparavelmente, infinitamente maior do que
o testemunho dos homens.
A
voz da ciência, patenteando a amargura do fruto das iniquidades,
evidencia o amor contido na Lei: o interesse que Deus tem pelo homem.
A
voz da ciência é a voz de Deus.
Initium
sapientiae timor Domini.
O princípio da sabedoria é o temor do Senhor. Bem sei que “os
insensatos desprezam a sabedoria e a doutrina”.
Sempre assim foi, já vem no livro dos Provérbios.
É uma das três mil parábolas
de
Salomão.
Mas
ouço como ditas a mim as palavras que o Apóstolo dirigiu ao
discípulo Timóteo: “Eu te conjuro diante de Deus e de Jesus
Cristo, que há de julgar os vivos e os mortos, na Sua vinda e no Seu
reino, prega (com ânimo e força)…, insta a tempo e fora de tempo,
repreende, roga, admoesta (sem cansar-te) sem nunca perder a
paciência e deixar de instruir”.
Incumbe-me
admoestar, porque, segundo o livro do Deuteronômio,
os formidáveis males da luxúria perseguem as suas vítimas até
perecerem (e mesmo os temperamentos mais robustos com eles definham),
porque não ouviram
a voz de Deus, clamando, solicitamente, nos Mandamentos que
prescreve.
Bem
sei que “na alma maligna não estará a sabedoria, nem habitará no
corpo sujeito ao
pecado”.
Será
inútil o meu esforço aos obstinados e aos rebeldes.
Mas
será um preservativo em favor dos incontaminados.
Espero
que a graça de Deus fará que esta doutrina se desentranhe para
eles, ao menos, em “riquezas inexauríveis”.
As
flores do vício tem apenas aroma ilusório e brilho efêmero, e
deixam espinhos acerados e implacáveis.
Os
frutos do vício são podres e venenosos.
Prejudicam
e inutilizam a vida, porque:
a)
arruínam a saúde e a beleza,
b)
insensibilizam o coração e roubam o senso moral,
c)
amortecem e apagam mesmo a inteligência,
d)
causam perturbações e injustiças alarmantes,
e)
e, animalizando o homem na vida presente, destroem a radiosa
florescência cristã das suas esperanças de glória imortal, após
castigos temporais horríveis.
É
o que vamos considerar hoje.
Um
abalizado médico, apaixonado
apóstolo da ciência escreve:
“Suprimi
os vícios vergonhosos que desonram a humanidade e desaparecerá a
maior parte das doenças que a arruínam e a dizimam”.
Rafael
disse ao velho Tobias que são inimigos da sua alma, os que praticam
o pecado e a iniquidade.
O
livro do Eclesiástico fraternalmente previne contra a impureza para
que, diz o Senhor, “não te deites a perder a ti e aos teus”.
“Não
vos enganeis”, diz
S. Paulo, na sua linguagem
de fogo: “nem os
impudicos, nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os sodomitas
possuirão o reino de Deus”.
Consequências
físicas.
É preciso convencer-mo-nos de que, depois da nossa alma – pela
qual somos grandes, coroados de glória e honra, quase iguais aos
próprios Anjos – minuísti
eum paulo minis ab Angelis
o que nós possuímos de maior dignidade e merecimento, no mundo, é
o corpo, – obra admirabilíssima de Deus.
É
preciso convencer-mo-nos ainda, se somos cristãos, de que o nosso
corpo é santificado pelos Sacramentos e destinado à eterna ventura
do Céu. Somos a “planta mística da ressurreição”.
Por
isso, devemos tratar sempre o nosso corpo com respeito, santamente.
Porque fostes
comprados por alto preço, glorificai, pois, e trazei a Deus no vosso
corpo: Glorificate et portate Deus in corpore vestro.
É
tão íntima a união do corpo com a alma, que ela ressente-se
profundamente com as avarias orgânicas.
Esta
solicitude deve ser constante, desde a primeira idade. E não como
diz o prolóquio: “Dando
a carne ao Diabo e os ossos a Deus”, o que o nosso Frei Tomé de
Jesus, em uma das suas adoráveis páginas dos Trabalhos
de Jesus,
docemente, piedosamente refere assim: “Ora vejam onde ficam os que
servem tanto como a senhores seus corpos, que, quando veem a tratar
da alma, lhe dão tanto por medida, e tão tarde, e frio, e
imperfeito o seu, que fica ela necessitada e faminta; e, na casa –
onde, por natureza, é senhora – cativa, presa, e esquecida; e o
corpo, – nascido para servo –, farto, cheio, senhor e
malicioso”.
– Farto,
cheio e … senhor da alma, enervando-a, perdendo-a. Perdendo-a e
perdendo-se também, numa vida fatigante, – a mais vazia e mais
tola que é possível imaginar-se.
Desde
que, diz um higienista e psicólogo distinto, mal despertado o
sentido genésico, que é estimulado pela sensualidade, o jovem se
exalta, recusa todos os conselhos, não escuta a razão nem a
consciência e se entrega ao vício com ardor irresistível, – ao
mesmo tempo que transgride a Lei de Deus, prepara-se males
irreparáveis.
O
esgotamento precoce tem este efeito rápido e certo: debilita e
altera o temperamento. Chega, muitas vezes, a causar as doenças mais
graves e a estancar as fontes da vida.
Proporcionalmente
à renovação dos prazeres, o organismo, cada vez mais excitado,
mais irritado, mais fome de gozo tem.
Por
isso, a juventude, a beleza, a saúde fenecem, precisamente como a
flor aberta à luz da manhã, cheia de aroma e brilho, murcha, aos
primeiros raios do sol, pendida na haste ou calcada aos pés dos
transeuntes.
A
natureza vinga-se do réu da impureza; e vinga-se horrorosamente, às
vezes.
O
Dr. Hufeland confirma, por estas palavras:
“De
todas as causas próprias para encurtar a vida, não conheço nenhuma
cuja ação seja mais destrutiva e que reúna em si, em mais alto
grau, as propriedades antivitais, do que os excessos venéreos: podem
considerar-se como a quinta-essência de tudo quanto pode abreviar a
vida”.
E
o próprio Rousseau deixou, nas famosas páginas do Emílio,
esta advertência: “Esgotados
os jovens quando o corpo está a desenvolver-se, ficam raquíticos,
anêmicos, defeituosos na estrutura; em lugar de crescer envelhecem:
são como as vinhas obrigadas a dar fruto na primavera, porque
definham logo e morrem antes do outono”.
Por
isso, Mons. Gibier, em uma das suas magistrais Conferências
aos homens,
afirmara que “vinte e cinco por cento das pessoas, que morrem na
flor da idade, são mais ou menos, indiretamente, vítimas da
impureza”.
Enfim,
se a justiça das coisas não vem imediatamente, nunca perde nada por
se fazer esperar, e existe na idade adulta uma doença da espinal
medula, tanto mais terrível quanto é incurável, chamada ataxia
locomotriz, que as mais das vezes é causada quer pelas relações
sexuais prematuras, quer pelo seu abuso numa idade mais avançada,
quer, enfim, por uma das doenças que podem ser consequência dessas
relações.
Está
provado cientificamente, que os acidentes de ordem sexual, que, na
juventude, se consideram insignificantes, são causa de um
encadeamento interminável de males quase irreparáveis:
esterilidade,
neurastenia e
tantas nevroses, que assediam as gerações de hoje, e cuja marcha é
cada vez mais rápida; a miopia, a anemia cerebral, a irritabilidade
genésica que se observam, de um modo particular, nas classes
abastadas, são muitas vezes o legado fatal das desordens a que se
entregaram os pais, na juventude, e que, segundo o pensar destes,
haviam de ficar impunes.
Ainda
no ano passado, o então aluno distinto da Universidade de Coimbra,
sr. Dr. Antônio de Azevedo Meireles do Souto, em conferência no C.
A. D. C., perante acadêmicos e professores, falou assim:
“Pode
afirmar-se que um desgraçado carregado desses males é um miserável…
Sífilis
e blenorragia, cancros moles, pediculoses, (sarna, etc,), com outras
doenças aliás graves, que estas últimas veiculam, eis, meus
amigos, as grandes misérias a que vos expondes, se não guardais a
castidade.
O
Sistema nervoso ressente-se também: sereis sempre uns fracos…
Requerem todas (essas doenças) um tratamento muito intenso, caro e
longo, que muitos dos que me ouvem, talvez não possam fazer.
Por
causa do medo, da vergonha, do pudor, do “vamos a ver se passa”,
quando se chega à clínica, já os estragos são quase irreparáveis,
e, por vezes, física e socialmente irreparáveis”.
E
indicava ainda, como consequência do vício libidinoso – loucuras,
paralisias, cegueiras, etc.
O
sr. Dr. Luís Antunes Serra, também quando aluno de Medicina em
Coimbra, em outra memorável conferência na mesma agremiação
acadêmica, em 1920, dizia:
“A
saúde do concupiscente não tem firmeza como tem a daquele que é
casto. Este suporta facilmente as fadigas, a ‘surmenage’, as
doenças intercorrentes: aquele tem meio caminho andado para a morte.
Prova-o a clínica. Podia citar-vos o que eu vi e se passou pela
África, quando por lá passei durante a expedição de 1916 à 1917.
Afirmo:
Se não guardasse castidade,… com sezões encima dos ossos, devia
ter lá ficado. A Deus e ao meu médico agradeço a minha vida, mas
muito principalmente ao meu comportamento moral, à força que dei ao
espírito sobre a carne, à vontade que cultivei, numa palavra. Vi
por lá muita miséria, vi morrer muitos irmãos nossos, chorei com
eles, a alguns lhes falei de Deus, de mistura com o tratamento médico
que lhes ministrava.
… Como
soldado que fui e vim, tive ocasião de ver de perto o que ainda hoje
me enche de dó e piedade. E lá ficaram assim muitos portugueses,
pelos areais africanos, muitos irmãos nossos nas ondas do oceano. E
sabeis porquê? Porque beberam do cálice da peçonha, do vírus
sexual africano. Crede que isto é uma verdade, não duvideis”.
O
ilustre médico sr. Dr. Cardia Pires, na revista portuense – A
Medicina Moderna, em uma longa
série de artigos científicos, provou que “as doenças venéreas
podem envenenar e destruir a vida”.
Concluiu
da observação de muitos escravos do vício solitário, – adultos
e até crianças – que eles “são os epiléticos, os cretinos, os
idiotas, os neurastênicos; são, enfim, os degenerados, os filhos de
libertinos, os que possuem uma hiperexcitabilidade mórbida, –
frequentemente hereditária – da função sexual”, e
caem no hábito do vício solitário, “como poderiam resvalar para
outra perversão”.
Mostrou
como “aquele que não educa a vontade para governar os instintos,
se prepara para uma vida, que pode ser uma cadeia de desastres, em
que por completo naufragam todos os sonhos, todas as esperanças”.
No
livro – A Moral nas suas Relações com a Medicina e a
Higiene, o Dr. Surbled, fazendo
ver as funestíssimas consequências do vício solitário em ambos os
sexos, diz que no sexo feminino são ainda mais graves, por causa da
constituição fisiológica, delicada e nervosa da mulher.
O
enervamento seguido de fraqueza, impotência, anemia, perturbações
mentais, nevroses, histerismos, até a loucura – são consequências
das aberrações genitais, – não falando na perversão do coração,
tanto no homem como na mulher.
E
registra ainda “a palidez no semblante, os olhos enterrados nas
órbitas, com um círculo azulado; o aspecto sombrio, taciturno; a
falta de gosto pelos prazeres simples e pelos divertimentos honestos.
Mas
esclarece que, o histerismo nem sempre é uma disposição erótica,
caracterizada pelas piores desordens lúbricas; mas é uma doença
nervosa comum, sem relação direta com a impudicícia; e afirma que
até virgens bem castas são vítimas do histerismo.
O
Dr. Caufeynou, na sua obra “Folie Erotique”,
diz, falando sobre a satiríase
e:
“É
muitas vezes hereditária esta funestíssima anormalidade e, se a
educação não consegue dominar os instintos naturais, qualquer
insignificância pode precipitar o período das crises.
… habitar
as grandes cidades que regurgitam de mil coisas excitantes, onde se
come e bebe demais, onde pululam os prazeres venérios, … as uniões
pouco airosas, os espetáculos, as pinturas e leituras lascivas, são
causas que produzem a ninfomania ou dispõe para ela”.
Caufeynou,
está de acordo com a opinião que sustenta que a vida sexual depende
imediatamente e invariavelmente dos sentimentos que dominam o
indivíduo, da direção que tiver dado ao espírito e à
inteligência, do uso que tiver feito da razão e do modo como tiver
exercitado a vontade.
Quanto
à loucura, – uma das consequências terríveis da incontinência,
embora nem todas as loucuras tenham por causa a incontinência, olhai
que sudário pavoroso:
O
Pe. Sebastião Kneipp, no seu Codicilo, informou de que o
manicômio de Irsce era, não havia muito tempo, mais que suficiente
para os círculos de Suábia e Nemburgo; que nos seus dias, porém,
foi preciso edificar outro mais vasto, em Kautbeureu. Mas que vieram
a ser muito acanhados os dois asilos para receber a todos os
infelizes.
No
“Congresso das Misericórdias”, em Lisboa, realizado há
pouco, – na sessão de 18 de Março,
o sr. Dr. João Luís Ricardo declarou esta assombrosa miséria:
“Há
catorze mil loucos em Portugal,
e apenas mil estão hospitalizados”.
No
livro Higiene e Moral
do Dr. Paulo Good, encontramos esta explicação:
“Quantos
moços não tenho visto pálidos, anemiados, candidatos a curto prazo
à tuberculose, sem que nada nos seus antecedentes ou nos de sua
família pudesse explicar-me as causas da sua decadência!
Não
vos admireis de que nós, os Médicos, sejamos forçados a reconhecer
que nessa idade é que nas nossas estatísticas apuramos maior número
de doenças nervosas incipientes”.
Há
mesmo uma loucura muito especial chamada hebefrenia, que reconhece
como causa principal o enfraquecimento geral, produzido pela
excitação prematura de certos órgãos.
O
Dr. Perchappe, diretor do Manicômio do Sena-Inferior, em um tratado
de loucura, em que registra 337 casos, apenas atribui um ao celibato,
numa mulher de 56 anos.
Consequências
morais, intelectuais e sociais.
No livro de H. Wegener – Nous
les Feunes,
lemos que todo o desacordo na nossa vida nos paralisa as forças. E
que no frequentador do mundo libertino predomina sempre a mentalidade
adquirida em tal convívio hediondo: imaginação, pensamentos,
sentimentos, ficam impregnados sempre dessa imundície asquerosa,
mesmo em presença das pessoas mais honestas e mais puras.
Os
que não adquirem essa abominável mentalidade no ambiente da
libertinagem, contaminam-se com uma literatura glorificadora
da paixão amorosa e estimulante dos instintos inferiores. Por ela,
como diz, nos já referidos artigos, o sr. Dr. Cardia Pires,
principiam alimentando uma “sentimentalidade
vaga”,
que desvia do trabalho sério e deriva para a sensualidade; e, em
consequência do prazer satisfeito, cai-se na apatia, a memória
embota-se, o espírito fica num entorpecimento, a alegria dos
prazeres calmos desaparece, desaparecem as emoções mais doces e
duradouras, cedendo lugar às emoções grosseiras.
Com
razão pergunta, com funda tristeza, Monsenhor Gibier, assinalando as
consequências físicas da impureza: se
o vício faz assim estiolar, deformar, arruinar o corpo, o que não
fará ele à alma?
Os
prazeres sensíveis,
como disse Santo Tomás de Aquino, dividem,
abalam, e, finalmente, subjugam as energias da alma.
Por
isso, as paixões, sem governo, se desencadeiam furiosamente, –
todas as paixões más.
As belas qualidades que distinguem a personalidade do indivíduo e
eram promessa ridente de um brilhante futuro, desaparecem ou
diminuem.
É
flagrante a comparação que Henri Morice exprime assim: “As
pessoas que se deixam hipnotizar submetem-se completamente ao
operador. Uma vez adormecidas, o hipnotizador fará delas quanto
queira.
São
manejadas por ele como bonecos.
Sucede
o mesmo com quem se entrega à devassidão e à orgia: torna-se
escravo do Demônio, que o leva por onde quer, com um simples gesto,
com um olhar, com um nada...”.
Depois
de arruinar o corpo, apaga a inteligência, escraviza a razão,
esteriliza o coração, destrói
as faculdades mais nobres da alma. Perde
elevação de pensamento, nobreza de sentimentos, aspirações
dignificadoras, generosidade e bondade. É duro, cruel, insensível
às mais tocantes delicadezas da ternura alheia.
Como
impiedosa língua de fogo, o vício passou na sua alma e crestou a
flor das mais santas afeições, até.
Nada
detém ao miserável: – nem o prazer do trabalho, nem os encantos,
nem os enlevos do lar.
É
casado? Nem a esposa, nem os filhos o prendem.
O
Futuro é um horizonte de nuvens negras, um Céu tempestuoso: O
presente é já um inferno… Lembra um náufrago perdido…
Degradou-se
e aviltou-se tanto, anda em uma desorientação tão grande, que não
há farol que o ilumine ou voz poderosa e vibrante que o guie.
As
más companhias levaram-no a viver luxuriosamente!… Que
vergonhosa, aviltante e rápida foi a transformação! Não há
defeito que o não contamine.
A
um transviado em tal obstinação nem temos ânimo de o lamentar com
palavras. E, mesmo, aos avisos mais ternos, aos conselhos mais
prudentes e mais doces, inspirados pelo nosso amor, responderia com
desabridos impropérios e insolências.
Traz
sobressaltos à alma de quantos o estimam.
Desencadeia
tempestades e catástrofes, alastrando de ruínas desolantes o seu
caminho e a vida dos que mais lhe querem.
No
abandono em que nos deixa, desafogamos em lágrimas de fogo, num
silêncio de espanto horrível, muitas vezes. E é este o nosso único
alívio, como disse Bossuet.
No
ambiente do lar doméstico, considera-se num cárcere.
Vê
na autoridade paterna um jugo intolerável; nos sorrisos e lágrimas
da mãe, impertinências e nervosismos de mulher, que é preciso
desprezar.
… Revolta-se
contra tudo e contra todos, porque em tudo e todos vê embaraços à
satisfação do seu prazer.
Vive
em um pandemônio de calúnias, discórdias, injustiças, vinganças,
ódios irreconciliáveis, perfídias, roubos, traições de toda a
espécie, abusos de confiança e poder, opressões, ferocidades,
infanticídios, homicídios, assassinatos, divórcios, uniões
criminosas.
Se
o infeliz soubesse dominar-se, não se deixaria prender na armadilha
da carnal paixão, que o lançará no desespero de haver introduzido
a desordem em sua casa.
Ao
citar estas palavras de Guibert, o sublime educador, que dirigiu com
êxito invulgar o Seminário do Instituto Católico de Paris, eu
estremeço de horror, considerando a transformação profunda que a
luxúria opera em um homem honesto.
Entra
em casa embriagado, muitas vezes irrompendo em palavões obscenos,
bordalengos, profanando o santuário do lar doméstico, ameaçando e
agredindo mesmo a esposa inocente e mártir, diante dos filhos
pequeninos, amedrontados como pombas na hora negra de um escarcéu,
refugiando-se sob as asas do amor maternal, … e contaminando-se
moralmente.
A
consciência do lascivo é perfeitamente como a bússola avariada
pela tempestade, diz Morice. O desgraçado pode repetir as palavras
que Ovídio, nas Metamorfoses, põe na boca de Medea: Video
meliora, proboque; deteriora sequor.
A
inteligência aponta-lhe o caminho reto do dever e da verdade; mas a
fraqueza e o artifício sedutor do prazer arrastam-no para o mal.
Santo
Agostinho, em uma dolorosa página das Confissões, dá-nos a
fiel imagem dessa horrível miséria, em que se debatera, antes de se
haver convertido:
“Assalta-me
um sentimento estranho; uma doçura desconhecida penetra-me. Se esta
doçura se tornasse perfeita, seria uma coisa indizível, que não
seria a vida.
Mas
recaio oprimido pela minha opressora miséria – o meu tirano. Sou
absorvido novamente pelas minhas fatais e ordinárias paixões.
Sinto-me
preso. Choro copiosamente. Mas a abundância das minhas lágrimas não
dissolve, não quebra os grilhões que me escravizam. O hábito
impele-me para o abismo”.
Que
tremenda, pavorosa infelicidade!
O
pródigo partiu da casa paterna, rebelde a conselhos, a súplicas, a
ameaças. Levou tudo que lhe pertencia. Partiu para um país
estranho, longínquo; e, por
lá, dissipou quanto tinha, vivendo luxuriosamente.
Que
mais distante, que afastar-se de si mesmo, … andar em trevas…
habitar na região das sombras da morte… – in regione
umbrae mortis
e nunca ver nascer o dia!…
exclama o Santo Penitente de Hipona.
De
precipício em precipício, a impureza afunda as suas vítimas em um
mar de ignomínias e desgraças.
É
uma tempestade que revolve o fundo, trazendo à superfície o lodo, a
escória.
“Ó
cidadela da Pureza,
quando
um vício te faz brecha,
sem
tardança,
prestes
os mais acodem galopando”,
escreveu
Guerra Junqueiro na Pátria,
– Guerra Junqueiro que, “na
fome de Deus que na sua alma pressentia no fim da vida, percebeu que
só podem ver a Deus os que têm o
coração puro”, como
diz o autor d’A Igreja
e o pensamento contemporâneo.
A
impureza produz na alma um desvario constante, uma alucinação
às vezes mesmo inverossímil! O libidinoso chega a vangloriar-se dos
vícios como se fossem virtudes.
Mulheres
houve, ufanando-se, com o mais cínico impudor, dos seus desatinos,
que mandaram abrir epitáfios para o próprio túmulo, proclamando as
loucuras que provocaram e os contubérnios em que viveram.
E
que influências nefastas, calamitosas, por vezes alastrando, em
ondas revoltas de sangue e lama, sobre o povo, sobre as nações!
Alexandre
Magno, soberano egrégio, conquistador famoso, foi levado aos maiores
crimes, assassinando os amigos mais íntimos e os vassalos mais
fiéis, por causa do… vinho e das mulheres desvergonhadas.
Por
inspiração da famosa Messalina Thaís, incendiou a cidade de
Persépolis.
Arrastou
pela asquerosa lama da luxúria a sua esplêndida glória.
Júlio
César, valente e ousado, fraquejou diante de Cleópatra, a meretriz
coroada.
Se
“chegou, viu e venceu”,
foi por se ter afastado das voluptuosidades de Alexandria.
Quando
a mesma rainha devassa e fratricida aportou a Tarso ao encontro de
Marco Antônio, o povo cantava: “É
Vênus que vem visitar
Baco”, tão
escandalosamente lúbricos eram os dois amantes.
Não
houve injustiça que Antônio não recusasse cometer para lhe ser
agradável.
E,
através da nossa história pátria, vemos qual o motivo porque
“um
fraco rei… faz fraca a forte gente”;
vemos
que
“… um
baixo amor os fortes enfraquece”;
que
“Por
sua incontinência desonesta,
Leonor…………………………………….
Faz
contra Lusitânia vir Castela”;
que,
em
“… castigo
do pecado
de
tirar Leonor a seu marido
e
casar-se com ela...”,
e
por causa do
“… coração
sujeito e dado
ao
vício vil...”,
“… o
esforço antigo se converte
em
desusada e má deslealdade”;
vemos
que
“Negam…
a Pátria; e, se convém,
negarão,
como Pedro, o Deus que tem”.
Só
por esta página tão sombria da história de Portugal, podíamos
concluir com o famigerado Padre Félix, – o notabilíssimo pregador
de Notre-Dame:
“O
sensualismo é um obstáculo ao progresso, – suprime o esforço,
produz a falência do gênio e do talento, a falência do carácter.
É a ruína”.
Quantos
lares em desordem, quantos crimes, quantas convulsões sociais,
quantas amarguras de inferno, por causa da lascívia?!
Ás
heresias sucederam sempre ondas lamacentas de libertinagens. São as
práticas infames dos gnósticos e dos maniqueus, é o desenfreamento
da reforma de Lutero; é a tirania e imoralidade de Henrique VIII e
de Isabel; é a orgia crapulosa do filosofismo do século XVIII,
recapitulado na adoração
oficial
do vício, no templo de Notre-Dame de Paris, – vício elevado
às honras sacrílegas de divindade, incarnado, como disse Lacordaire
incisivamente, “no
mármore vivo de uma carne pública”.
E
hoje ainda, só a
iníqua lei do Divórcio, quantas imoralidades não provoca!
Há
pouco, no 86º aniversário da Associação
dos Advogados,
em Lisboa, o sr. Dr. Cunha Monteiro, analisando a legislação
influenciada pela Revolução Francesa, falou
da instituição da família e teve esta passagem:
“Não
será o divórcio o corolário fatal da secularização do Casamento,
mas é a estrada larga que a ela conduz”.
Justamente
Leroy intima do alto do púlpito, com uma grande isenção
apostólica:
“Nenhuma
mão limpa deve estender-se para o homem ou para a mulher divorciada,
que contraiu uma nova união; nenhuma sala cristã deve abrir-lhes as
suas portas; nenhuma pessoa que se respeite deve atravessar a soleira
da casa deles. Está ali o crime...”.
É
uma esqualidez
moral.
É
retroceder, pelo aviltamento dos costumes, aos tempos ominosos do
servilismo degradante do mais ignóbil paganismo.
É
distanciarmo-nos da civilização, é irmanarmo-nos com aqueles
povos, onde o homem, ainda agora, neste esplendor alto do progresso,
considera a mulher apenas uma escrava fornecida pela natureza.
Por
exemplo, os selvagens que vivem da caça, estabelecem novos lares por
onde passam, abandonando os lares antigos, deixando assim a mulher
entregue a horríveis contingências de suprema desgraça, de
misérrimo aviltamento.
E
há sociedades mais adiantadas, por exemplo a China, – país
fantástico e imenso, cuja população abrange a quarta parte da
humanidade espalhada à superfície da terra, – onde a mulher é um
objeto de desprezo, um ente abominável.
As
criancinhas do sexo feminino são as preferentemente abandonadas
pelos pais, porque o nascimento de uma mulher é considerado como
desgraça funesta.
O
chinês compra a mulher para casar, precisamente como um contratador
de gado compraria uma rês.
Escolhe
a esposa, com o mesmo sentimento com que obtêm um animal, para uso
doméstico.
É
determinado apenas em seu consórcio pelo utilitarismo cego e
estúpido do rendimento material que possa haver da mulher.
É
a situação a que retrocedem as sociedades que abandonam a Deus.
É
por isso que “a
sociologia, fundando-se somente em considerações de interesse
social, condena, como a teologia, o divórcio...”
em que “o amor,
mudando sempre de pessoa, já não é amor, é corrupção”,
como escreveu Jules Michelet, bem insuspeito.
Sim!
A Igreja combate o divórcio, para salvar a sociedade. E nisto é
secundada por todos
os homens de bem, embora não católicos, observa Pedro Sinzig.
“O
Sacramento do Matrimônio não pode ser atingido pelas leis civis,
está encerrado no reduto inexpugnável das nossas consciências.
Estabeleça o legislador as disposições que quiser, aos ouvidos
católicos hão de ressoar sempre as palavras do Evangelho de São
Mateus: Quod Deus conjunxit, homo non separet.
A Igreja combate o
divórcio pelos seus funestíssimos efeitos sociais, porque ele
produz a dissolução da família, – pedra angular do Estado…
O
divórcio… viria escravizar a mulher.
Casando-se
com um homem que soubera captar a ingênua confiança da sua alma
cândida, e que talvez seja indigno do seu afeto, tendo procurado no
Casamento apenas o meio de satisfazer um desejo, a mulher terá
sempre suspensa sobre a cabeça, como terrível espada de Dâmocles,
a perspectiva de um divórcio.
Difíceis,
senão impossíveis, se
tornarão as relações sociais; a mulher, sentindo diminuída a
estima do seu marido, e sabendo que a lei lhe permite constituir um
novo lar, não poderá gozar dos encantos da amizade: os ciúmes
envenenarão as suas mais santas alegrias; nas amigas mais íntimas,
nas mais próximas parentas, até nas próprias irmãs, enxergará
rivais prontas a disputarem a posse do ente amado…
O
homem terá sempre a maior facilidade em contrair novas núpcias; mas
a mulher não poderá mais oferecer ao eleito da sua alma os encantos
da inocência e da pureza, tão poeticamente simbolizados na flor da
laranjeira…
Seria
uma infantilidade afirmar que a mulher divorciada encontra facilmente
um segundo marido, principalmente, se ela tiver filhos.
Esta
dificuldade constitui justamente um dos efeitos anti-sociais do
divórcio. Sabendo que os filhos constituirão um obstáculo a novas
núpcias, a mulher procurará não
tê-los, dando lugar a mais uma manifestação do neo-maltusianismo…
Sejam
quais forem as divergências que separem os cônjuges, enquanto
existir o vínculo, enquanto a lei não vier tornar possível um novo
Casamento, haverá a esperança de uma reconciliação…
Tudo
no lar fala dos primeiros tempos da vida conjugal… Um laço de
fita, uma flor, uma simples folha esquecida entre as páginas de um
livro, entre os papéis da secretária, é um poema de amor e de
ternura. E se vem a moléstia de um filho, se para o berço da
criança que sofre convergem as ternuras dos pais, o ressentimento
vai aos poucos esvaindo-se e surge dignificador e reconfortante o
amor conjugal...
Em
verdade: Deus não
criou senão um homem para uma mulher e uma mulher para um homem,
condenando a poligamia: e ordenou que fossem uma mesma carne, para
reprovar o divórcio.
Ouçamos
o Profeta Malaquias, por intermédio de quem o Senhor repreende os
filhos de Judá, por se desquitarem das suas legítimas mulheres.
Perguntam-lhe a causa das ameaças tremendas e Malaquias responde:
“Porque
o Senhor deu testemunho entre ti e a mulher da tua puberdade, a qual
tu desprezaste, sendo ela a tua companheira, a mulher da tua
aliança”,
a quem voluntariamente desposaste, obrigando-te a viver com ela em
virtude do estreito laço e nó indissolúvel.
“Acaso
não na fez o que é um, e não é ela uma como partícula do seu
sopro com que ficou animada? E que pede este único autor,
senão que saia de vós uma linhagem de Deus?… não desprezes a
mulher que recebeste na tua mocidade”.
Numa
palavra: abandona-se a pessoa a quem se devia dedicação
inquebrantável até ao sacrifício, preferindo carícias fementidas
e fatais, com que levianamente se julga brilhar…
E
muitos brilham por infelicidade sua…
Brilham,
num fulgor sinistro.
Brilham,
descendo à baixa condição dos brutos: – Comparatus
est jumentis insipientibus:
tornando-se semelhante a eles: et
similis factus est illis.
Brilham,
miseravelmente escravizados e proclamando-se livres – descendo e
tornando-se ainda mais vis do que o irracional, porque os seus
apetites grosseiros não são contidos pelo freio, que ao ser privado
da razão impõe os limites insuperáveis do instinto, como disse
Leroy.
Brilham,
tornando-se indignos do nome de homens, como Diógenes considerava os
desonestos.
Brilham,
como brilha a madeira podre na escuridão, segundo Júlio Payot.
Enfim:
todos os sábios dignos deste nome, todos os filósofos e moralistas,
alguns insuspeitíssimos de preocupações religiosas, seguem o
critério católico quanto às causas intrínsecas de todas as
aberrações da sensualidade e sobre as desordens físicas,
intelectuais, morais e sociais, que são fatal e inexorável
consequência de tais aberrações.
Mais
uma vez a ciência imparcial e austera ensina o que a Igreja
Católica, Apostólica, Romana ensina há 20 séculos e ensinará
sempre.
Incomparavelmente
mais funestas que todas as consequências físicas, intelectuais,
morais e sociais, – incomparavelmente mais terríveis são os
desastres sobrenaturais.
Quem perde o domínio de si mesmo, abandonando-se aos mórbidos
estímulos da concupiscência, não prepara apenas uma cadeia de
desastres no tempo. Prepara a condenação eterna da sua alma. É o
ludíbrio de si próprio e torna-se o infame despertador das paixões
alheias, o corruptor miserável da infância, o despudorado homicida
monstruoso, que rouba à inocência a vida sobrenatural.
É
um autêntico Satanás, cujo merecido castigo, indicado pelo nosso
amabilíssimo Jesus, patenteia iniludivelmente a hediondez e
gravidade do crime: –
“Ai do que
ensina o pecado aos inocentes! Melhor lhe fora não ter nascido!
Melhor é que se lhe pendure ao pescoço a mó de uma atafona e seja
lançado ao fundo do mar”.
A
sensualidade é um mal contagioso, perniciosíssimo. Por obras, por
palavras, pensamentos, gestos, afeições e desejos, o libidinoso
separa-se de Deus e separa de Deus os seus cúmplices, nas suas
vítimas.
Ainda
que
seja um benemérito, espalhando ouro a mãos largas, a mãos cheias,
mitigando muita sede, apagando muita fome, cobrindo muita nudez,
aliviando muita miséria, enxugando muita lágrima, consolando muita
tristeza, dando tudo, – manchada a alma pela sombra horrível do
pecado mortal, prejudica todo o bem praticado; inutiliza-o mesmo.
É
uma riqueza perdida para a eternidade.
Inutiliza
até o bem que anteriormente fizera em estado de graça. A impureza,
depois de lhe fazer perder o vigor e a utilidade da vida física, o
fulgor da vida intelectual, o encanto total da vida moral, a
influência nobilitante da vida social, apaga o fogo e a luz da vida
sobrenatural. E o miserável vai arrastando os pesados grilhões do
seu martírio, chegando a ser um verdadeiro, um infeliz “abandonado
de Deus”,
de quem o Padre Antônio Vieira nos deixou esta clara fotografia:
“Cego para não
ver o que lhe convém, surdo para não ouvir os ditames da verdade;
pródigo no pedir, insensível no dever e insaciável no gastar sem
conta, sem peso, nem medida; com tanta publicidade nos vícios como
se fossem virtudes; sem reverência de Deus, nem respeito do mundo,
nem vergonha de si mesmo, nos anos mais que da
mocidade desbaratou a fazenda, a saúde, a honra e a vida”.
O
Padre Antônio Vieira esclarece ainda que “quando
Deus assim deixa estas miseráveis almas, então ficam elas mais
contentes e satisfeitas, porque como não tratam mais que do
presente, sem memória do passado nem temor do futuro, deixadas à
natureza, vivem à sua vontade”.
São
aqueles de quem falava o salmista dizendo: “abandonei-os
segundo os desejos do seu coração; eles irão caminhando atrás das
invenções da sua fantasia”.
Ah!
Com razão sobre aquele episódio sublime do encontro da famosa
pecadora com Jesus, na casa de um fariseu rico, à hora de um
banquete memorável, São Gregório Papa sentia mais vontade de
chorar que de pregar.
E
ao ouvir ler, atentos, a parábola do Filho Pródigo, sentimos os
olhos umedecidos de lágrimas, que sobem do coração, porque
recordamos um amigo ou uma querida pessoa de família, que se
extraviou no convívio de más companhias, – amigos de perdição,
amigos de morte!
Quantas
vezes lhe mostramos o caminho honroso do dever, em advertências
amáveis, desveladas, enternecidas!
O
infeliz, porém, obstinava-se e, desvairadamente, seguiu
embrenhando-se em um labirinto. Perdeu-se de tal modo que já não se
vê nem conhece a si próprio.
Não
tem consciência da sua situação. Não sabe onde está nem para
onde vai. E, todavia, avança sempre, arrastado por uma espécie de
desgraçado fatalismo e subjugado pelas paixões que ele próprio
tornou indomáveis. “Perdeu
a fé!”
dizemos, num lamento consternado. E, em verdade! Era tão crente e,
agora, desdenha de tudo quanto é sagrado, com a mais sacrílega
irreverência! Não compreendemos! E a realidade sinistra
confunde-nos, esmaga-nos.
É
como se nos apertassem o
coração em uma prensa de ferro. O doce poeta François Coppée, à
hora da sua conversão, em uma dolorosa página cintilante, disse-nos
como isso acontece. O vício apaga o sentimento da Presença de Deus,
depois de ter abafado a Sua voz interior, na consciência: e leva à
dúvida e logo à descrença. Perde-se a fé na desmoralização dos
costumes.
O
jovem, caído assim no ceticismo, procura talvez justificar-se com
argumentos intelectuais. Mas
é a paixão que lhos inspira.
Maria
Egipcíaca, desejando entrar no templo, sente-se repelida por
estranha força irresistível. Reconsidera, olha para si atenta,
refletidamente. Sente a ignomínia da sua conduta. As suas torpezas
abomináveis confundem-na.
E
reabilita-se com penitência austera por longos 47 anos.
Foi
lama… e é Santa.
Mas
quando alguém, depois de ter, como o Pródigo, desprezado
advertências carinhosas de pai extremoso, lágrimas enternecidas de
mãe torturada, irmã comovida, esposa martirizada e amigos
apreensivos pela sua sorte, desbarata a saúde e o patrimônio e
perde também a fé – uma das consequências da libertinagem é a
incredulidade, acentuei já – pobrezinho! Não
encontra mais a paz, ainda que a procure num desespero. O
ímpio não tem paz,
disse a Verdade que não mente nunca.
Supliciado
pelos funestos efeitos dos seus desvarios, quantas vezes o cercam
“dores de
morte”,
“perigos de
inferno”,
porque as “torrentes
da iniquidade o conturbam”.
Os
infortúnios que o perseguem são castigos, cuja ameaça
paternalmente fizera Deus, ao promulgar os Mandamentos: “Se
meus filhos desprezarem a minha justiça e não guardarem os meus
Preceitos, castiga-los-ei nas suas iniquidades e nos seus pecados”.
Por
isso, é
muito verdadeira esta sentença de Vauvenargues: “Aqueles
que se queixam da fortuna, não deviam se queixar, muitas vezes,
senão de si próprios”.
Se
às vítimas das próprias loucuras, no horrendo naufrágio, lhes
restasse ao menos a ventura da fé a iluminar-lhes a consciência, em
relâmpagos, – numa hora de reflexão, concentrados, repetiriam o
brado angustioso de Israel, quando sentia a mão de Deus, em
calamidades formidáveis:
– “Ai
de nós porque pecamos! – Vae nobis quia peccavimus”.
Os
pecadores que vergam a fronte, fixam os olhos humildemente no chão
e, confundidos, confessam o crime e pedem perdão como o publicano,
ficam justificados.
Mas
há muitos fariseus, arrogantemente erguendo e meneando a cabeça
altiva, desdenhosos de todos os meios que sobrenaturalizam a vida. –
Animalis antem
homo non percipit ea quae sunt Spiritus Dei. O
homem animal não entende aquelas coisas que são do Espírito de
Deus, porque lhe parecem uma loucura.
Para esses o testemunho dos homens vale mais do que o testemunho dos
Livros Santos.
“Se
a voz da moral não basta para convencer o homem que pensa, a voz da
ciência o fará, porque ela ensina que a desonestidade é a causa
dos males físicos mais graves”,
diz com autoridade de verdadeiro sábio o Dr. Surbled.
Alguns
médicos enumeram 71 doenças causadas pelos crimes da luxúria.
Mas
não é só a voz da ciência, que nos patenteia a gravidade do mal.
História
e Etnografia.
Também a história ensina o mesmo, pelos castigos aplicados.
Sansão
era o terror dos Filisteus, enquanto observou os Preceitos do Senhor.
Espotejava leões; desbaratava inimigos aos milhares, apenas com um
gesto; levava às costas as portas da cidade de Gaza; fazia desabar o
templo de Dragom. Mas desde que se entregou às seduções de Dalila,
perdeu a força prodigiosa, caiu nas mãos dos inimigos, que lhe
arrancaram os olhos e o ataram a uma atafona, obrigando-o a fazer-se
de jumento.
A
legislação de Moisés prescrevia a lapidação para os crimes de
incontinência, cometidos pela noiva entre os esponsais e o
casamento.
Para
os crimes da mulher casada, estabelecia a pena de morte.
Mas
já antes de Moisés, muito antes, no tempo dos Patriarcas, a pena de
morte infligida aos adúlteros executava-se apedrejando os
criminosos. Numa
página do Gênesis,
vemos que Tamar, por suas desonestidades, foi condenada pelo chefe da
família a ser queimada. O costume era a morte por lapidação.
Queimava-se apenas o cadáver.
O
condenado era conduzido para um lugar onde houvesse abundância de
pedras. Cavava-se um fosso com muitos metros de profundidade. O
criminoso era precipitado ali pelo primeiro acusador. O segundo
arremessava sobre ele uma grande pedra, e todos os espectadores, por
sua vez, apedrejavam o desgraçado, procurando atingi-lo na cabeça e
no peito, para abreviar os sofrimentos e apressar a morte.
Inquestionavelmente, a lei era severa.
Mas
um comentador observou que era preciso assim um jugo de ferro sobre o
pescoço deste povo, que tinha cabeça de granito e coração de
bronze. Mas, – ai de nós! – um orador moderno atreveu-se a dizer
isto: “se a lei
mosaica fosse posta em vigor em nossos dias, haveria muita
dificuldade em achar pedras em número suficiente para castigar
tantos desonestos”.
E
mesmo entre os pagãos, os crimes de impureza eram castigados com
inaudita crueldade.
Rômulo,
fundador de Roma, estabeleceu duas penas de morte para as mulheres:
para as que bebiam vinho e para as adúlteras. Quando se provasse que
uma Vestal perdera a virgindade, era enterrada viva.
Os
Índios do antigo Peru, tinham um grande número de mosteiros onde
criavam e educavam muitíssimas donzelas, que eram obrigadas a
guardar castidade perfeita. A que prevaricasse era enterrada viva,
como a Vestal criminosa em Roma.
Augusto
César desterrou sua filha Júlia, por causa da incontinência dela.
Fábio
Eburno, sabendo que seu filho frequentava mulheres perdidas,
degolou-o por sua própria mão, considerando-o um malfeitor público.
Parece
que Heliogábalo excedeu
a todos os imperadores em crimes de devassidão, em loucuras e
crueldades.
Criou
um senado de mulheres;… mudou de esposa todos os anos. De todos os
monstros foi, porventura, o mais horrendo e o mais infame. E, como
“tal vida tal
morte”,
acabou como viveu.
Os
romanos, fartos das suas torpezas, entraram no palácio, cortaram-lhe
a cabeça, percorrendo com ela toda a cidade, ao som de gritos
delirantes, de insultos obscenos e imprecações violentas. Depois,
atiraram a cabeça ao Tibre. E o corpo, como toda a vida chafurdou no
lamaçal, no esterquilínio da impudicícia, arremeçaram-no a uma
cloaca pública.
Heródoto
refere que Sezostris, rei do Egito, mandava queimar vivas as mulheres
que se provasse terem perdido a virgindade.
Túlio
conta que, entre os Egípcios, o homem luxurioso apanhava mil açoites
com varas verdes; e à mulher cortavam-lhe o nariz.
Platão,
nas suas leis, determinou que, em cada família, tivessem os homens a
jurisdição para castigar aqueles que atentassem contra a virtude
das suas mulheres.
Testemunha
Heraclides que os primitivos habitantes de Tenedos tinham uma lei que
concedia a cada chefe de família “vara de família”, para
castigar os criminosos que perturbassem a castidade da sua mulher,
podendo matar o adúltero em qualquer parte, como se fosse um
executor público.
Um
próprio filho do rei fundador, foi decapitado, por ter transgredido
essa lei. Os antigos alemães empregavam três espécies de castigo
para a mulher desonesta: rapavam-lhe a cabeça, açoitavam-na em
presença dos parentes, completamente nua, passeando-a nesse estado
pela povoação inteira, no meio de chufas e chicotadas. E o terceiro
castigo, era não poder casar nunca.
Zeleuco,
rei da Lócrida, mandou arrancar os olhos aos adúlteros e não
poupou da execução a um filho seu.
Os
Egípcios, quando queriam significar um homem torpe, pintavam um cão.
E nos jazigos dos luxuriosos esculpiam a figura de um porco.
Platão
chamou cães a todos os homens licenciosos. E os Fenícios chamavam
cadelas às mulheres desonestas.
Ovídio
compara Apolo a um cão, por ter perseguido a casta Daphni. A
dissoluta Jezabel foi comida pelos cães. E o Venerável Beda diz que
Jezabel, em hebreu, significa esterco. São João, quando diz no
Apocalipse, que os cães estão desterrados do Céu, refere-se aos
luxuriosos.
Orígenes
diz, que o cerdo é absolutamente a figura dos que transgridem o 6º
Mandamento. E nós vemos, em verdade, que o cerdo chafurda sempre no
lodo e nos próprios excrementos: e só está bem nessa ignóbil
faina.
O
luxurioso só tem delícias também em chafurdar no lodaçal, na
podridão e no vício, enlameando-se, apodrecendo, convertendo-se em
um miserável, nojento leproso.
O
ocidente da Europa foi entregue à formidável devastação das
torpezas de Mafoma (Maomé), por causa das lascívias de Rodrigo,
último rei dos Visigodos.
Os
habitantes de Sodoma eram de perversíssimos costumes. A cidade não
seria destruída, se nela fossem encontrados 10 justos. Mas como não
havia nem ao menos este reduzido número de almas castas, em toda
aquela região, – Sodoma, Gomorra, Adama, Segor, Seboim e arredores
infames, – as cidades da Pentápole – ficaram reduzidas a cinzas
inflamadas, como fumo que sai de um braseiro.
O
espaço que ocupavam foi convertido em um grande lago, denominado
Lago Asfaltite ou Mar Morto.
As
suas águas são negras e paradas, exalando vapores venenosos. Uma
esterilidade de morte nos arredores, em um lúgubre silêncio
terrível, nos plainos cobertos de cinza.
Com
acentuada tristeza, um historiador comenta:
“Passou
por ali a maldição de Deus”.
Desta
horrível catástrofe dão notícia, além dos Livros Santos, Solimo,
Estrabão e Tácito.
Aos
que se admiram de que hoje não caia fogo do Céu, responde São João
Crisóstomo: “é porque um fogo mais terrível espera os
voluptuosos, em um suplício que jamais terá fim”.
Mas
a Grande Guerra última, pareceu um dilúvio de pólvora, dinamite,
gases asfixiantes, – um dilúvio
de fogo e lágrimas, queimando, afogando milhões de vidas.
Produziu-se
uma inquietação infernal, que perdura e alastra pelo mundo todo. E
não podemos calcular ainda a amplitude máxima das suas
consequências.
Foram
os homens que se trucidaram reciprocamente. São os homens que se
combatem ainda com furor, à mercê de um egoísmo brutal e
desmedido. Identidade de castigos, por … identidade de crimes.
Não
esquecer jamais que foi a desenfreada licença que levou à desonra e
à morte o glorioso, o grande povo romano.
Nunca
se ultraja impunemente a Lei de Deus…
Todas
essas espantosas calamidades, todas essas catástrofes horríveis
estavam contidas na palavra do Profeta:
“Por
isso, o leão dos bosques os feriu, o lobo da noite os destruiu, o
leopardo andou vigilante sobre as suas cidades: todo aquele, que
delas sair, será preso: porque se tem multiplicado as suas
prevaricações, tem-se endurecido as suas apostasias”.
Que
a juventude – especialmente ela, a esperança de amanhã, advertida
por tantas vozes autorizadas, fuja do vício horroroso da impureza,
que pode levá-la a essa prematura e completa decrepitude a que
Lamenais chamou repugnante.
Que
a juventude conserve garbosamente a flor da sua inocência ilibada e
alta, fresca e perfumada, para manter uma dignidade encantadora e
imponente, que seja garantia do futuro, – um futuro cheio de força,
beleza e vida, – vida cheia de honra e honestidade na terra, para
ser vida cheia de glória no Céu.
Fonte: Ensaio intitulado "Sodomia - Pederastia - Homossexualismo", neste endereço: https://onedrive.live.com/?id=8278C2ED5B87800A%21206&cid=8278C2ED5B87800A
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