Blog Católico, para os Católicos

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"Uma vez que, como todos os fiéis, são encarregados por Deus do apostolado em virtude do Batismo e da Confirmação, os leigos têm a OBRIGAÇÃO e o DIREITO, individualmente ou agrupados em associações, de trabalhar para que a mensagem divina da salvação seja conhecida e recebida por todos os homens e por toda a terra; esta obrigação é ainda mais presente se levarmos em conta que é somente através deles que os homens podem ouvir o Evangelho e conhecer a Cristo. Nas comunidades eclesiais, a ação deles é tão necessária que, sem ela, o apostolado dos pastores não pode, o mais das vezes, obter seu pleno efeito" (S.S. o Papa Pio XII, Discurso de 20 de fevereiro de 1946: citado por João Paulo II, CL 9; cfr. Catecismo da Igreja Católica, n. 900).

sexta-feira, 9 de agosto de 2019

DA CARÊNCIA DE TODA CONSOLAÇÃO.


1. Não é difícil desprezar as consolações humanas quando temos as divinas.1

Grande coisa, porém, e bem grande, é poder passar as consolações dos homens e sem as consolações de Deus, suportar de boa vontade, para a Sua glória, o exílio do coração, não buscar a si mesmo em coisa alguma nem atender ao próprio mérito.

Que maravilha estares alegre e fervoroso quando te assiste a graça! Por esta hora suspiram todos. Mui suavemente caminha quem é levado pela graça de Deus. E como sentiria o peso quem é ajudado pelo Onipotente e conduzido pelo supremo Guia?

2. De bom grado procuramos as consolações e só com dificuldade se despe o homem de si mesmo.

Venceu ao mundo o Mártir São Lourenço em união com o seu Bispo, porque desprezou todos os atrativos do século e sofreu tranquilamente por amor de Cristo, que o separassem do Sumo Sacerdote de Deus, São Xisto, a quem muito amava.

Assim, com o amor de Deus venceu o afeto às criaturas, e às consolações humanas preferiu o beneplácito divino.

Aprende também tu a deixar por amor de Deus um amigo íntimo e querido. Nem te aflijas demasiadamente se te abandona algum amigo, lembrando-te que um dia nos havemos todos de separar uns dos outros.

3. Muito e por muito tempo deverá o homem lutar consigo antes que aprenda a vencer-se completamente e a orientar todos os seus afetos para Deus.

O homem que confia em si, facilmente desliza para as consolações humanas.

Mas o que ama verdadeiramente a Jesus Cristo e se dá seriamente à virtude, não procura consolações nem doçuras sensíveis, antes, prefere fortes pelejas e duros sofrimentos por Cristo.

4. Quando Deus te der alguma consolação espiritual, recebe-a com gratidão; lembra-te, porém, que é dom de Deus e não merecimento teu.

Não te desvaneças, não te regozijes em excesso nem presumas vãmente de ti; pelo contrário, que o dom de Deus te torne mais humilde, mais vigilante e timorato em todas as tuas ações, porque passará aquela hora e voltará a tentação.

Quando te for tirada a consolação não desanimes logo; aguarda com humildade e paciência que Deus de novo te visite, por que bem pode Ele dar-te consolação ainda maior.

Isto não é coisa nova nem estranha aos que têm experiência nos caminhos do Senhor; por estas alternativas passaram os grandes Santos e os antigos Profetas.

5. Por isso, na presença da graça, exclamara um deles: Em minha abundância disse: não vacilarei nunca;2 em se ausentando, porém, a graça, acrescenta o que em si experimentou: Apartastes de mim o Vosso rosto e fiquei conturbado.3

Nesta perturbação, porém, não se entrega ao desespero mas com insistência roga ao Senhor e diz: A Vós, Senhor, bradei; ao meu Deus dirigirei as minhas súplicas.4

Colhe, por fim, o fruto de sua oração e atesta que foi atendido dizendo: Ouviu-me o Senhor e teve compaixão de mim; o Senhor veio em meu auxílio.5 De que modo? Trocastes, continua, o meu pranto em gozo e inundastes-me de alegria.6

Se assim foram tratados os grandes Santos, não devemos desanimar, nós, fracos e pobres, se ora nos sentimos fervorosos, ora tíbios; o Espírito de Deus vem e vai como Lhe apraz.

Lá disse o Santo Jó: Visitais o homem pela manhã e logo o provais.7

6. Em que posso eu, pois, esperar, e em que devo pôr a minha confiança senão unicamente na misericórdia de Deus e na esperança da graça celeste?

Homens de virtude, religiosos devotos ou amigos fiéis, livros santos ou tratados eloquentes, hinos e cânticos suaves, tudo isto de pouco me serve e pouco me agrada, quando me sinto desamparado pela graça e entregue à minha própria miséria.

Não há então remédio que a paciência e a renúncia de mim mesmo na vontade de Deus.

7. Nunca encontrei homem tão perfeito e piedoso que, de quando em quando, não experimentasse esta subtração da graça e diminuição de fervor.

Nenhum Santo houve, tão altamente arrebatado e iluminado, que, cedo ou tarde, não fosse tentado.

Não é digno de ser elevado à sublime contemplação de Deus quem por amor de Deus não sofreu alguma tribulação. A tentação é, de ordinário, sinal da consolação que se lhe há de seguir.

Aos provados pelas tentações é prometida a consolação celeste; ao que vencer, diz o Senhor, darei a comer da árvore da vida.8

8. Deus dá a consolação a fim de que o homem tenha mais força para suportar a adversidade.

Segue-se-lhe também a tentação para que não se desvaneça do que tem de bom.

O Demônio não dorme nem a carne está morta. Não cesses, por isso, de preparar-te para a luta; à direita e à esquerda há inimigos que nunca descansam.


1ª Reflexão9

Até para os Anjos decretou Deus um tempo de provação, em que pudessem merecer ou desmerecer. Os que permaneceram fiéis mereceram a glória; os que se revoltaram converteram-se em Demônios e para eles foi criado o Inferno. Os dias de vida que Deus nos dá neste mundo são dias de provação, em que devemos alcançar merecimentos da vida eterna: para merecer é necessário sofrer. A que vieste ao mundo se não queres trabalhar na salvação? Agora é tempo de semear e sofrer; depois virá uma eternidade para colher e gozar. É verdade que Deus muitas vezes adoça as nossas amarguras com algumas gotas de consolação, porque conhece a nossa fraqueza e quer despertar a nossa coragem; mas nem por isso devemos perder de vista, que o lugar das verdadeiras consolações é o Céu. Quando chegar um dia ou uma hora em que te sintas mais acabrunhado pela tristeza, dize contigo: eis uma bela ocasião que Deus me oferece para me enriquecer de merecimentos. Ainda o mundo não tinha sido criado, ainda eu não existia e já o meu Deus tinha escolhido este dia e marcado esta hora para me santificar: terei pois coração para recusar o que Deus me oferece?

Quem busca com ânsia a consolação das criaturas torna-se indigno das consolações de Deus.

A Deus pertence sempre e em tudo o primeiro lugar; se lhe dás o segundo no teu coração, Ele não o aceita.

Qual é o negociante diligente que não se enche de alegria, quando se lhe oferece ocasião de auferir grandes lucros? Também tu és negociante, tens um negócio de suprema importância a tratar neste mundo de misérias – é a tua salvação.

Os Mártires, sacrificaram a vida do corpo em benefício da alma, e fizeram bom negócio: deram o menos pelo mais, o temporal pelo eterno, o corporal pelo espiritual.

Quão iludido tenho andado, meu Deus, gastando em brincadeiras de crianças o tempo que me haveis dado para cuidar da minha alma!


2ª Reflexão10

Posto que a humildade santa do Salvador gozasse por sua íntima união com o Verbo divino, de inalterável paz e constante alegria, não deixava Ele todavia, de ressentir muitas vezes, na parte inferior da alma, as aflições e dores que são a triste herança de nossos primeiros pais. Quem não se lembra daquelas palavras do Salvador: “Minha alma está triste até à morte! Meu Pai! Meu Pai! Porque me abandonaste?”11

Assim a alma cristã, sem perder a paz é também provada pela tristeza e pelas tribulações interiores. Se ela gozasse sempre de consolação, seria para recear caísse pouco a pouco no relaxamento; e que teria ela então a oferecer a seu divino Esposo? “A virtude aperfeiçoa-se na enfermidade”, nos ensina o Apóstolo, e acrescenta: “Gloriar-me-ei, pois, em minhas enfermidades, para que habite em mim a virtude de Jesus Cristo”.12

Esta espécie de desamparo, este desterro do coração nos recorda vivamente nossa miséria, que mui facilmente esquecemos, exerce nossa fé, estimula nosso amor e nos mantém na humildade.

Nessas horas minguadas, em que Deus parece retirar-se de ti, guarda-te de fraquejar sob o peso da provação, e não te abandones ao desalento. Se queres levar com ânimo a tua cruz, não te inquietes de seu peso; ele se tornará leve pela total conformidade com a vontade de Deus. Em vez de gemer, e de te perturbares, consola-te e alegra-te; porque está escrito: “Os que semeiam nas lágrimas, colhem na alegria. Iam chorando quando deitavam a semente na terra, virão cheios de alegria quando trouxerem em suas mãos dourados feixes”.13

Alma minha, quando por todos os lados te sentires atraiçoada na terra, eleva-te ao Céu, porque Deus não está longe dos aflitos; a verdadeira doutrina lança raízes em nossas lágrimas e dá frutos de virtude para a vida eterna.


3ª Reflexão14

O viajante que tem medo de errar o caminho, andando em dúvida, vai olhando ali e acolá a paragem onde está, e diverte-se, quase em cada extremidade do campo, a considerar se leva bom rumo; mas o que está certo no caminho vai alegre, animoso e apressado. Assim, o amor querendo ir à vontade de Deus entre as consolações, anda sempre tímido, com receio de enganar-se e, em vez de amar o beneplácito de Deus, amar o prazer próprio que está na consolação; mas o amor que na aflição vai direito para a vontade de Deus, esse caminha com segurança; pois não sendo a aflição amável em si mesma, bem fácil é ser amada somente pelo respeito da mão que a dá. Os cães na primavera quase não têm faro, porque as ervas e flores exalam seu cheiro, que excede o do veado e da lebre: entre a primavera das consolações, o amor não atina bem com o beneplácito de Deus, porque o prazer sensível da consolação tantos atrativos lança no coração, que o distraem da atenção que ele deveria ter à vontade de Deus. À Santa Catarina de Sena deu Nosso Senhor a escolha entre uma coroa de ouro e uma de espinhos; a de espinhos escolheu ela, com o amor mais condizente. Um sinal seguro do amor, diz Santa Ângela de Foligno, é o querer padecer, e o grande Apóstolo exclama que só na Cruz, se gloria, na enfermidade, na perseguição.15

Ai! Minha filha, nós sempre somos afeiçoados à doçura, suavidade e deliciosa consolação, mas, todavia, a aspereza da secura é mais frutuosa; e ainda que São Pedro gostasse do Monte Tabor, e fugisse do Monte Calvário, este, contudo, não deixa de ser mais útil que o Tabor; e o Sangue que é derramado em um é mais desejável que a claridade que no outro se expandiu.

Nosso Senhor vos trata já como excelente filha, fazei por viver um pouco como tal. Mas vale comer o pão sem açúcar, do que o açúcar sem o pão.


Oração

Meu Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus vivo, que quisestes ser, transido de temor e de tristeza no instante de vossa Paixão, dai-me a graça de Vos consagrar todos os meus desgostos. Ó Deus de meu coração, ajudai-me a aturá-los em união de vossos tormentos e tristezas, a fim de que, pelo merecimento de vossa Paixão, eles me sejam salutares. Amém.


________________________

1.  Imitação de Cristo, nova tradução portuguesa pelo Pe. Leonel Franca, S.J., Livro II, Cap. IX, pp. 73-76. 4ª Edição, Livraria José Olympio Editora, Rio de Janeiro/São Paulo, 1948.

2.  Ps. XXIX, 7.

3.  Ibid. 8.

4.  Ibid. 9.

5.  Ibid. 11.

6.  Ibid. 12.

7.  Job. VII, 18.

8.  Apoc. II, 7.

9.  Imitação de Cristo, novíssima edição, confrontada com o texto latino e anotada por Monsenhor Manuel Marinho, Livro II, Cap. IX pp. 106-107. Editora Viúva de José Frutuoso da Fonseca, Porto, 1925.

10.  Imitação de Cristo, Presbítero J. I. Roquette, Livro II, Cap. IX, pp. 125-126. Editora Aillaud & Cia., Paris/Lisboa.

11.  Mat. XXXVI, 38; XXVII, 46.

12.  II Cor. XII, 9.

13.  Ps. CXXV, 5-6.

14.  Imitação de Cristo, Versão portuguesa por um Padre da Missão, Livro II, Cap. IX, p. 113-115. Imprenta Desclée, Lefebvre y Cia., Tornai/Bélgica, 1904.

15.  S. Francisco de Sales, Amor de Deus, l. IX, c. II.


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