Blog Católico, para os Católicos

BLOG CATÓLICO, PARA OS CATÓLICOS.

"Uma vez que, como todos os fiéis, são encarregados por Deus do apostolado em virtude do Batismo e da Confirmação, os leigos têm a OBRIGAÇÃO e o DIREITO, individualmente ou agrupados em associações, de trabalhar para que a mensagem divina da salvação seja conhecida e recebida por todos os homens e por toda a terra; esta obrigação é ainda mais presente se levarmos em conta que é somente através deles que os homens podem ouvir o Evangelho e conhecer a Cristo. Nas comunidades eclesiais, a ação deles é tão necessária que, sem ela, o apostolado dos pastores não pode, o mais das vezes, obter seu pleno efeito" (S.S. o Papa Pio XII, Discurso de 20 de fevereiro de 1946: citado por João Paulo II, CL 9; cfr. Catecismo da Igreja Católica, n. 900).

sexta-feira, 25 de outubro de 2019

DA PURA E INTEIRA RENÚNCIA DE SI MESMO PARA OBTER A LIBERDADE DO CORAÇÃO.



1. Jesus Cristo. Filho, deixa-te a ti e achar-me-ás a Mim. Nada possuas nem mesmo a tua vontade e aproveitarás sempre. Quando te renunciares a ti sem reserva, receberás graça mais abundante.

2. Alma Fiel. Em que, Senhor, hei de renunciar-me e quantas vezes?

3. Jesus Cristo. Sempre e a toda hora; nas coisas pequenas como nas grandes; nada excetuo, quero achar-te despido de tudo. Do contrário, como poderás ser Meu e como poderei ser teu, se interior e exteriormente não te despojares de toda a vontade própria?

Quanto mais prontamente fizeres esta renúncia, tanto melhor te sentirás, e quanto mais perfeita e sinceramente a fizeres, mais Me agradarás e maior será o teu proveito.

4. Alguns há que se entregam a Mim mas com alguma reserva; porque não confiam inteiramente em Deus, cuidam de prover a si.

Outros a princípio oferecem tudo, mas, sobrevindo a tentação, retomam o que haviam dado e por isso não progridem na virtude.

Uns e outros não alcançarão a verdadeira liberdade do coração puro nem a graça de Minha doce familiaridade, senão depois de uma entrega total e da imolação contínua de si mesmos; sem o que não há nem pode haver união fruitiva comigo.

5. Já te disse muitas vezes e agora repito: renuncia-te, entrega-te e gozarás de grande paz interior.

Dá tudo para ganhares tudo; nada busques, nada reclames: firma-te, resolutamente, só em Mim e ter-Me-ás. Teu coração será livre e sem trevas que o obscureçam.

Teus esforços, orações e desejos tendam a despojar-te de toda a propriedade, para seguir só a Jesus, morrer a ti a fim de viver para Mim eternamente.

Então serás livre das imaginações vãs, das inquietações penosas e dos cuidados supérfluos; então te libertarás também do temor excessivo e do amor desordenado.1


1ª Reflexão2

Muitas vezes, em horas de bom humor tens feito belos propósitos, que afinal nunca passaram de propósitos. És fácil em prometer e ainda mais fácil em faltar ao que prometes.

Donde nascerá esta contradição entre as tuas palavras e as tuas obras?

Da demasiada confiança que tens em ti mesmo e da pouca que pões em Deus: na prosperidade presumes demasiado, na adversidade desces a um desalento extremo. Um dia disse São Pedro a Jesus Cristo: eis que nós deixamos todas as coisas e Te seguimos; qual há de ser o nosso prêmio?3 Comentando estas palavras exclamou São Jerônimo: grande confiança: Pedro era pescador, não tinha sido rico, vivia do seu trabalho e indústria e apesar disso diz com desassombro: deixamos tudo. E, como não basta simplesmente deixar, acrescenta o que é perfeito: e seguimos-Te.

Parece que esta abnegação, em deixar tudo, era completa e que Pedro seguiria a Jesus Cristo com fidelidade, tanto nos triunfos como nas amarguras. Não aconteceu porém assim. Depois de ter comungado das mãos de Jesus Cristo na noite da Ceia, e de ter comungado santamente, Pedro caiu como um miserável. Tinha feito um propósito formal de não negar a Cristo: ainda que seja necessário morrer contigo não Te hei de negar;4 e pouco depois O negou, não uma vez só, mas três vezes, jurando que nem sequer conhecia tal homem! É que Pedro, animado de boas disposições e confortado com a Sagrada Comunhão, abandonara a oração, e, de mais a mais, havia-se lançado temerariamente em ocasião de delinquir. Terrível exemplo este! Oxalá, que o medites bem, para não vires a negar o teu Mestre, como Pedro. Serás forte se conheceres a fundo a tua fraqueza e fores diligente em recorrer a Deus. O que presume de suas próprias forças já está vencido antes de entrar em combate com seus inimigos.

2ª Reflexão5

Vós o dissestes, ó meu Jesus: “Se alguém quiser ser Meu discípulo renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-Me”; e ainda: “Aquele que não renuncia a tudo que possui, não pode ser Meu discípulo”. Não há que hesitar; é necessário escolher entre o mundo e Vós: “ninguém pode servir a dois senhores”, e Vós não admitis partilha.6

Quem se busca a si mesmo, afasta-se de Vós. Vós não reinais plenamente, Senhor, aonde existe ainda algum apego às coisas terrenas, alguma vontade própria, alguma secreta complacência nos dons já da natureza, já da graça, e vosso amor ali está penando. Ah! Quem poderá, depois de ter gozado da alegria de vossa união, recusar unir-se mais intimamente a Vós? Ó fraqueza e loucura incompreensível do coração humano! Tão dificultoso é pois, ó Deus meu, reconhecer o nada de tudo que não sois Vós, a inconstância da nossa vontade, de nossos projetos, a vaidade de nossos desejos? Quem não sabe que esses bens estéreis e miseráveis, porque tanto nos cansamos, os havemos de deixar ainda antes de morrer, que não levaremos para a sepultura senão um lençol, e que nós com ele seremos em breve tempo reduzidos a pó?! Quais serão nossos pensamentos nessa hora de supremo desengano em que todas as ilusões se desvanecem?! De que nos servirão então as coisas do tempo, quando não haverá mais tempo para nós?!

Feito é, Senhor, estou resoluto a consumar o sacrifício que exigis dos que Vos querem seguir. Ninguém me fale mais do mundo nem de mim: quebrei os últimos laços que a ele me prendiam. Morri a tudo que é temporal, só viverei de agora em diante da vida de Jesus Cristo, que vive em mim; este corpo é como o Sudário que me envolve; eis-me estendido na sepultura, amortalhado com Jesus Cristo em Deus. Amém, assim seja!7

3ª Reflexão8

Bem se deixa a terra e outras tais bagatelas; mas isso não basta para ser perfeito, deve-se passar mais além. Muitos, é certo, deixam as coisas exteriores, mas pouquíssimos há que deixem as suas pretensões: têm-se ainda tantas belas esperanças disto e daquilo, não se esvazia inteiramente o próprio interesse. Mas quanto aos laços da vaidade, oh! Certamente é muito mais difícil desfazer-se deles, e não sei se há alguém que não se prenda por esse laço; pois o mal é tão comum e universal entre os homens que quase não se acham os desvencilhados desse defeito.9

Sabeis um belo pensamento? Nosso Senhor diz ao seu querido São Pedro: Quando tu eras jovem, punhas teu cinto e andavas para onde querias; mas quando fores velho, estenderás tuas mãos, e outro te cingirá e te levará para onde não queres.10

Os jovens aprendizes no amor de Deus, cingem-se a si mesmos, e tomam as mortificações que bem lhes parece: escolhem sua penitência, resignação e devoção, e fazem sua própria vontade com a de Deus: mas os velhos mestres no ofício deixam-se amarrar e cingir por outro, submetendo-se ao jugo que se lhes impõe, e andam por caminhos que eles não quereriam segundo sua inclinação. Verdade é que estendem a mão; pois apesar da resistência de suas inclinações, deixam-se voluntariamente governar contra sua vontade e dizem que mais vale obedecer que fazer oferendas,11 e eis aí como eles glorificam a Deus, crucificando não só a sua carne, mas o seu espírito.12


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1. Imitação de Cristo, Livro III, Cap. XXXVII, pp. 156-157. Tradução do Pe. Leonel Franca, S.J., 4ª edição, Livraria José Olympio editora, Rio de Janeiro/São Paulo, 1948.

2. Imitação de Cristo, Livro III, Cap. XXXVII, pp. 232-233. Novíssima Edição, por Mons. Manuel Marinho, Editora Viúva de José Frutuoso da Fonseca, Porto, 1925.

3. Mat. 19, 27.

4. Mat. 26, 35.

5. Imitação de Cristo, Presbítero J. I. Roquette, Livro III, Cap. XXXVII, pp. 295-296. Editora Aillaud & Cia., Paris/Lisboa.

6. Mat. 16, 24; Luc. 14, 33; Mat. 6, 24.

7. Rom. 6, 4.

8. Imitação de Cristo, versão portuguesa por um Padre da Missão, Livro III, Cap. XXXVII, pp. 245-246. Imprenta Desclée, Lefebvre y Cia., Tornai/Bélgica, 1904.

9. São Francisco de Sales, “Sermão para o dia de Santo Agostinho”.

10. Jo. 21, 18.

11. I Rs. 15, 22.

12. São Francisco de Sales, Carta Espiritual, 138ª.

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