Na
véspera do dia 4 de Outubro de 1226, São Francisco, condecorado com
os sinais da nossa Redenção, as Chagas de Nosso Senhor Jesus
Cristo, a proclamarem bem alto a eminente santidade da sua vida, a
íntima semelhança com o seu divino Modelo e, de um modo todo
singular, o seu amor seráfico, São Francisco, o Patriarca da
pobreza, o ínclito Fundador da Ordem dos Frades Menores, passou
desta vida, a fim de trocá-la pela glória eterna.
A
numerosa família Franciscana perdeu, com ele, o seu pai espiritual,
o mundo um homem digno de sua admiração e veneração, a humanidade
um dos seus maiores benfeitores, a Santa Igreja uma das suas colunas
mais firmes, destinadas a sustentar o seu edifício grandioso; os
Anjos, porém, celebraram a sua entrada triunfal nos vastos e
magníficos recintos da eternidade.
A
direção da Ordem passou provisoriamente para o célebre Frei Elias,
já havia muito tempo, Vigário-Geral de São Francisco.
Decorrido
algum tempo, depois do feliz trânsito de São Francisco, Frei Elias
convidou oficialmente os Superiores da Ordem a reunirem-se, a fim de
elegerem quem devia suceder ao Fundador.
Em
virtude deste convite, Santo Antônio despediu-se da sua querida
França, para ir tomar parte neste Capítulo-Geral, convocado para a
festa de Pentecostes do ano de 1227.
Depois
de ter atravessado, não sem perigo o proceloso mar, o nosso Santo
pôs o pé, pela segunda vez, na ilha da Sicília.
Os
habitantes o recebem, agora, não como há quase seis anos, peregrino
desconhecido, mas consideram-no como um Anjo do Senhor, que o Céu
lhes enviara.
Atravessou
o servo de Deus esta região que o hospedou tão carinhosamente,
espalhando o bem por toda a parte, quer pela pregação quer pelo
exemplo, deixando o seu caminho semeado de numerosos e estupendos
milagres.
As
Crônicas Antonianas fazem menção de um operário esmagado debaixo
de um pedra enorme e ressuscitado pelos méritos de Santo Antônio.
Motivos
importantíssimos dirigem pouco depois os seus passos apostólicos
para a cidade eterna de Roma.
Que
sentimentos não se apoderam do seu coração! Como deviam ser
profundas as impressões produzidas na sua alma, imensas as
consolações e indefiníveis as alegrias do seu espírito, ao
entrar, pela primeira vez, nesta cidade, que se ufana de presidir aos
destinos espirituais do Orbe, que se gloria de ser a Capital do Mundo
Católico; ao penetrar os umbrais venerandos e venerados de Roma,
purpureada pelo sangue de milhares de Mártires, aureolada e
santificada pela vida, pelos labores e pela morte dos Príncipes dos
Apóstolos – São Pedro e São Paulo, que, com santa intrepidez,
ali fizeram tremular, em lugar das águias soberbas dos Romanos, o
estandarte da Santa Cruz, anunciando a todos a vitória do
Cristianismo sobre o paganismo.
Roma,
onde se erguem estes templos antigos, estas Basílicas magníficas,
primores de arte cristã, em que se contempla reunido e concentrado,
como no seu centro, quanto de belo, de admirável, de grandioso e de
sublime o gênio e o talento humano têm produzido no volver dos
séculos.
Roma,
com a série ininterrupta dos Sumos Pontífices, que dirigiram com
tanta prudência, energia e felicidade a Barca de São Pedro,
notabilidades de saber, culminâncias de santidade.
Roma
dilatava a alma do nosso Santo, elevava o seu espírito, abrasava o
seu coração e desdobrava admiravelmente o seu zelo e o fervor de
propagar a Santa Fé.
Quando
o exímio pregador Antônio pisou, pela primeira vez, o solo Romano,
ocupava a Cadeira de São Pedro o Papa Gregório IX, varão
venerável, distinguindo-se pela vastidão e profundeza de saber,
tanto quanto pela eminente santidade da sua vida.
Contemporâneo
de São Francisco, seu admirador e amigo íntimo, foi também sempre
poderoso protetor e generoso benfeitor da Ordem seráfica.
Bem
informado sobre os sucessos admiráveis, produzidos pelas pregações
de Santo Antônio, o Sumo Pontífice recebe-o com os mais vivos
transportes de alegria, anima-o a continuar a sua carreira embora
espinhosa, mas muito meritória e cheia de bênçãos.
Para
lhe dar um apreço especial de alta estima e confiança, digna-se de
convidá-lo, pessoalmente, a pregar durante o Tempo quaresmal daquele
ano a palavra de Deus às multidões, que afluíram nessa ocasião à
cidade eterna.
Cedeu
à voz da obediência do Vigário de Jesus Cristo. Aceitando o
convite honroso, começou, desde então, a repartir o pão espiritual
entre o povo faminto.
Os
Cardeais, até o Sumo Pontífice mesmo, assistiram à pregação do
humilde filho do Pobre de Assis e ficaram pessoalmente convencidos da
eficácia extraordinária da sua palavra inspirada e vibrante.
Na
solenidade da gloriosa Ressurreição do Senhor reuniu-se uma
multidão imensa, composta não só de Romanos de todas as classes
sociais, como também estrangeiros, vindos de diversas nações do
mundo católico, reunião abrilhantada pela presença venerável dos
Cardeais e do próprio Pontífice.
Inteiramente
abrasado do amor divino, Santo Antônio anunciou a palavra de Deus de
uma maneira tão eficaz, inteligente e miraculosas, que todos, embora
pertencentes a diversas nações, o compreenderam, como se houvesse
falado na língua de cada um.
A
admiração era geral; grande e indescritível o entusiasmo, que
reinava entre todos.
Renova-se
o milagre dos Santos Apóstolos no Cenáculo e do dia de Pentecostes.
O
Sumo Pontífice não pôde mais ocultar a íntima alegria, de que
ficou possuído, e, arrebatado de assombro, exclama: “Arca
utriusque testamenti est hic, et divinarum scripturarum armarium”.
Na verdade, este é a arca do testamento e o tesouro das
Sagradas Escrituras.
Desde
os tempos apostólicos, Santo Antônio foi o primeiro, ao qual o Céu
conferiu este privilégio singular – o dom das línguas.
Abençoado,
consolado e felicitado pelo próprio Vigário de Jesus Cristo, o
insigne pregador despede-se da cidade de Roma, para dirigir-se à de
Assis, a fim de tomar parte no Capítulo-Geral, pelo qual ficou
encarregado da administração da Província de Bolonha, que era uma
das mais vastas, mas não a mais florescente, e por este motivo
reclamava a prudente e sábia direção de um homem, como era o nosso
Santo.
Antes
de assumir essa missão ajoelhou-se perante o túmulo pranteado do
pai querido São Francisco, de cujo espírito seráfico cada vez mais
se embebia, cuja cara lembrança perdurava sempre viva e grata na
memória, cuja imagem cativante estava sempre presente à sua alma.
Ali suplicou, com muito fervor, as graças necessárias, por
intercessão deste íntimo amigo de Deus, para poder bem desempenhar
a tarefa, de que fora incumbido.
_______________________
Fonte:
Rev.
Pe. Frei
Luiz, O.F.M., “A Vida e o Culto de Santo Antônio”, 1ª
Parte,
Cap. 16º,
pp. 173-180.
3ª Edição. Butzon e Bercker – Editores Pontifícios,
Petrópolis/RJ, 1907.
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