Foi
escrita no Monte Alverne, em 1259, na mesma ocasião em que São
Boaventura redigiu o “Itinerarium mentis in Deum”. A alusão a
Frei Leão, faz pensar que o então novo Geral da Ordem tenha
recebido não só um testemunho sobre o valor de Clara e suas Irmãs
na formação do espírito da fraternidade franciscana, mas também a
sugestão de escrever a carta.
O
Santo Doutor não chegou a conhecer pessoalmente Santa Clara, mas se
interessou por sua obra, a que fez referência, depois, na Legenda
Maior. Além disso, teve bom contato com as Clarissas e escreveu para
elas o seu tratado “De perfectione vitae”. O texto a seguir foi
traduzido da “Opera Omnia”, VIII, p. 473-474. Ed. Quaracchi.
1.
Às queridas filhas em Cristo, à abadessa das Senhoras Pobres de
Assis do mosteiro de Santa Clara e a todas as suas irmãs: Frei
Boaventura, ministro geral e servidor da Ordem dos Frades Menores,
saúda e deseja que sigam o Cordeiro onde Ele for, na companhia das
felicíssimas virgens preparadas.
2.
Informado há pouco, filhas queridas no Senhor, pelo
nosso caríssimo Frei Leão, companheiro do Santo Pai em outros
tempos, sobre o vosso esforço para seguir o pobre Cristo crucificado
com toda a pureza, alegrei-me enormemente no Senhor. Por esta carta,
quero exortar e animar vossa devoção para que sigais com solicitude
os vestígios de virtude de vossa mãe santíssima, instruída pelo
Espírito Santo através de São Francisco pobrezinho.
E “nada mais queirais ter
debaixo do Céu” a não ser o que vossa mãe vos ensinou, isto é,
Cristo, e Ele mesmo crucificado, e a exemplo da mãe, filhas diletas,
corrais atrás do perfume de Seu Sangue, abraçando virilmente o
espelho de pobreza, o exemplo de humildade, o escudo de paciência.
Abrasadas no fogo do amor divino, dai todo o vosso coração por
Aquele que por nós deu na Cruz o Seu ao Pai, para que, vestidas com
a luz do exemplo de vossa mãe e suavemente inflamadas pelos ardores
eternos, trescalando o perfume de todas as virtudes, sejais o bom
odor de Cristo, Filho da Virgem e Esposo das virgens prudentes, tanto
para os que se salvam como para os que se perdem.
3.
Vigiai de tal maneira, com afetos incessantes, fervorosas no espírito
da devoção, que, quando se ouvir o clamor e chegar o Esposo,
possais ir fielmente ao Seu encontro com as lâmpadas cheias do óleo
do amor e da alegria, prontas para entrar com Ele nas bodas da
felicidade eterna, com exclusão das virgens loucas. Lá,
Cristo vai acomodar Suas esposas com os Anjos e os Eleitos e passará
para servir-lhes o Pão da Vida, a Carne do Cordeiro imolado, o Peixe
assado na Cruz, cozido no fogo do amor em que Vos amou
fervorosamente.
Dar-Vos-á a beber o vinho
mesclado de Sua humanidade e divindade, de que bebem os amigos e se
inebriam os mais queridos com admirável sobriedade. Desfrutarão de
vez em quando da transbordante doçura reservada aos que O temem,
enxergando sempre Aquele que é o mais formoso não só entre os
filhos dos homens, mas também entre os milhares de Anjos, Aquele a
quem os Anjos desejam contemplar, porque é o candor da luz eterna e
o espelho sem mancha da Majestade de Deus, esplendor da glória do
Paraíso.
4.
Filhas caríssimas, uni-vos para sempre a Ele que é o nosso Bem perpétuo
e, quando vos for oportuno, recomendai à Sua inefável clemência a
mim, que sou pecador, rezando assiduamente para que possa dirigir
misericordiosamente os meus passos para a glória e a honra de Seu
nome admirável, para salvação do rebanho pobrezinho que a mim foi
confiado.
_____________________
Fonte:
“Fontes Clarianas”,
4ª Parte, Documentos Antigos – Carta de S. Boaventura às Senhoras
Pobres (a.d. 1259), pp.
219-220. Traduções, Introduções, Notas e Índices por Frei José
Carlos Corrêa Pedroso, O.F.M.Cap., 3ª Edição, Centro Franciscano
de Espiritualidade, Piracicaba/SP, 1994.
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