“Ora, se alguém não tem cuidado dos seus,
e principalmente dos de sua casa, negou a fé,
e é pior do que um infiel”.1
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"Contudo, (a mulher)
salvar-se-á pela educação dos filhos,
se permanecer na Fé e na Caridade e na Santidade,
unidas à Modéstia".2
Meditação sobre a
Fugida de Maria para o Egito.
Para sujeitar-nos a vontade (divina), dá-nos quase sempre a Providência um modo de viver diferente daquele que desejamos. Alegra-se Maria com a vida retirada, e pela terceira vez a vemos apartar-se de seu modesto domicílio.
A primeira vez, porque instava-lhe a amizade, que fosse visitar sua prima Isabel; a segunda por obedecer às ordens do soberano (Imperador Augusto), e a terceira, porque o amor materno lhe põe diante dos olhos o perigo a que estava exposto seu inocente Filho: um tirano O ameaça de morte; os céus lhe revelaram, e Maria foge para o Egito, deixando a pátria, a família, e a modesta morada; mas acha-se rica, porque leva consigo o seu tesouro; Jesus repousa em seu regaço.
Quem se ocupa presentemente de consultar a sua vocação, não segundo o instinto por vezes falível da natureza, mas sim em conformidade com as ordens imutáveis da Divindade? Maria continuamente submissa, não se opôs nunca à vontade da Providência com desejos contrários a seus decretos, ou por um mero espírito de independência. Ama a solidão por gosto e inclinação, mas Deus lhe destina uma vida agitada; obedece, parte, e não vacila nunca entre a sua obrigação, e suas inclinações: salvar seu divino Filho, é o seu único pensamento, e seu voto, o mais ardente, o não afastar Dele nunca os olhos.
Vós que sois mães, inteirai-vos agora do grande, do nobre ministério de que sois encarregadas. Os prazeres frívolos, a vida independente deve cessar, desde que Deus vos ilumina com um filho. Desde este momento cessais de ser senhoras de vós mesmas, e a vossa salvação dependerá, do modo com que educardes esta criança que a Providência vos confiou. Deus vos há de pedir conta de sua alma, e a vossa há de responder por ela, se por ventura por vossa culpa se perder. Uma mãe deve à imitação de Maria não arredar-se nunca do filho, e dar-lhe com suas virtudes um bom exemplo. Se ela lhe ensina a ser devoto, e o não é; se lhe recomenda de ser assíduo em seus deveres, e falta ao mais sagrado de todos, desamparando a casa e os filhos, para se entregar a vãos prazeres, destrói com suas ações os bons efeitos de suas palavras. Deste dever não estão desobrigados os pais, e aquele que desdenha de cumpri-lo, pagá-lo-á bem cruamente.
Sim, dizem as ações mais que as palavras, e nas famílias que vivem bem e religiosamente não por ostentação, mas por zelo e fidelidade, o amor da virtude penetra sem custo na alma dos filhos, e nela se grava docemente, e se fortifica com o hábito de bem realizar.
Grande é por certo a recompensa, e superior a quantas honras confere o mundo, porém, para merecê-la cumpre, à imitação de Maria, peregrinarmos pelo deserto, lutar com mil obstáculos, e pelejar com a gente mundana que não cessará de bradar: “Quereis converter vossa vida em um contínuo tormento, e fazer vosso filho santo?…”. Si, responderá a mãe verdadeiramente cristã: quero fazer uma vida sisuda e ocupada com austeros deveres, e por mais árdua que ela vos pareça, eu a prefiro às festas estrondosas; por isso, que assim desfrutarei da alegria e paz de alma, e da aprovação de minha consciência; e quando meus dias forem cheios, serei respeitada em minha velhice, e venerada por meus filhos: vê-los-ei crescerem à minha sombra como arbustos vigorosos, cujas flores odoríferas se derramarão sobre minha velhice.
E vós, mundanos, que entregais ao capricho do acaso a vossa salvação, e a de vossos filhos, qual será o vosso interior doméstico em vossa velhice? Um inferno antecipado; mal com vossos filhos destituídos de virtude e de ternura, e ainda mais mal com vossa própria consciência, amaldiçoareis uma vida que não vos causa senão amarguras, e tereis medo da morte, terrível precursora do castigo dos maus.
Na ordem moral tudo se enfraquece, quando a religião se apaga nos corações: desta verdade vemos uma triste prova no pouco respeito, e por conseguinte no pouco amor que os filhos tem aos que lhes deram o ser. Uma educação efeminada, carinhos demasiados da parte dos pais fazem que os filhos se acostumem a fazerem todas as suas vontades, e a não conhecerem o freio da obediência, e de um temor acompanhado de amor e de respeito. Sim, o amor é sempre acompanhado de certo temor; porque aquele que ama teme de ofender, ou de afligir o objeto de seu amor, e receia de não fazer por ele quanto o dever e o amor que lhe tem, requerem.
Vós que tendes a dita de ter pais virtuosos, amai-os com toda a ternura, e obedecei-lhes como a Deus. Que podeis vós fazer que seja mais conforme com a razão? Eles vos desejam ver felizes, mais do que vós mesmos o podeis desejar; e sua experiência vos aponta a estrada por onde o podeis conseguir. Amai-os pois, tende cuidado deles na velhice; não vos esqueçais de que eles gastaram quantas forças tinham em ter cuidado de vossa infância, de vigiar e tremer sobre vossa mocidade; que viveram 20 e 30 anos somente para vós; vivei pois para eles alguns dias.
Práticas
Para que se possa bem julgar do quanto cada um deve à sua mãe, pondere-se nos desvelos que Maria prodigaliza a Jesus, em seu amor constante, em seus temores extremos, e na inteira abnegação que de Si mesma faz. Por Ele afronta Ela todos os perigos, e é insensível a todas as fadigas: assim é que ama uma mãe cristã. Ela não vê, tirando o que deve a Deus, outra coisa mais que o que deve a seus filhos: seu amor se eleva acima da terra, e não são as delícias dela que deseja, mas sim a felicidade eterna: por isso, sente-se com forças para resistir a suas fogosas paixões, e para ensinar-lhes a amar a vida grave e retirada, a qual faz que conservemos sempre a persuasão de que Deus nos está vendo, o que não tolhe o desfrutarmos dos prazeres inocentes, que são próprios de nossa idade.
Glória ao Pai… Ave Maria…
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Fonte: Madame Tarblé des Sablons, Mês de Maria ou Nova Imitação da Santíssima Virgem, Undécimo Dia, pp. 195-206. Traduzido do Francês por Caetano Lopes de Moura, Publicado por J. P. Aillaud, Editor, Paris, 1845.
1. I Tim., 5, 8.
2. I Tim., 2, 15.
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