O grande benefício de Deus:
Meditação. É a Encarnação estendida
a cada um de nós tantas vezes quantas
comungamos. O fruto da Eucaristia:
viver da vida de Jesus Cristo.
Minha alma, estabeleceste o fundamento; creste com simplicidade, por um simples ato. Expande-te agora na meditação de tamanho benefício; desenvolve-te a ti mesma tudo o que ele contém, tudo o que Jesus te deu por essas poucas palavras.
Sois, pois, a minha vítima, ó meu Salvador! Mas se eu só fizesse ver-Vos no altar e na Cruz, não saberia bastante que é a mim, que é por mim que Vos ofereceis. Mas hoje, que eu Vos como, sei, sinto, por assim falar, que foi por mim que Vos oferecestes. Sou participante do vosso altar, da vossa Cruz, do Sangue que aí purifica o Céu e a terra, da vitória que alcançastes nela sobre o vosso Inimigo, sobre o Demônio, sobre o mundo, vitória que Vos faz dizer: “O mundo Vos afligirá, mas tende ânimo, eu venci o mundo”.
Se Vos oferecestes por mim, logo me amáveis: pois por quem é que se dá a vida, senão pelos próprios amigos? Como-Vos em união com o vosso Sacrifício, por conseguinte com o vosso amor; gozo do vosso amor todo, de toda a sua imensidade; sinto-o tal qual é, sou penetrado dele.
Vós mesmo vindes pôr-me esse fogo nas entranhas, a fim de que eu Vos ame com um amor semelhante ao vosso. Ah! Vejo agora e conheço que tomastes por mim essa carne humana, que por mim lhe carregastes as enfermidades, que foi por mim que a oferecestes, que ela é minha. Tenho só que tomá-la, comê-la, possuí-la, unir-se a ela. Encarnando-Vos no seio da Santíssima Virgem, tomastes apenas uma Carne individual; agora, tomais a carne de todos nós, a minha em particular; aproveitai-Vos dela, ela é vossa; torna-la-eis como a vossa pelo contato, pela aplicação da vossa, primeiramente pura, santa, sem mácula; segundo, imortal, gloriosa; receberei o caráter da vossa Ressurreição, contanto que tenha a coragem de receber o da vossa morte.
Vinde, vinde, Carne do meu Salvador; carvão ardente, purificai-me os lábios, abrasai-me do amor que Vos entrega à morte! Vinde, Sangue que o amor fez derramar; correi no meu seio, torrente de chama! Ó Salvador! Está, pois, aqui o vosso Corpo, esse mesmo Corpo perfurado de Chagas. Uno-me a todas; foi por elas que todo o vosso Sangue escorreu por mim. Penais, morreis, passais; é aqui a vossa passagem: passo, expiro convosco. Que me é o mundo? Nada absolutamente. Estou crucificado para o mundo e o mundo para mim. Ele não me aprecia: tanto melhor para mim, contanto que eu também não o aprecie. A ruptura está feita de parte a parte; não é como quando um ama e o outro odeia; não posso sofrer o mundo, que, por seu lado, não pode sofrer-me; tal como é um morto para com outro morto, tal é o mundo para mim, e eu para o mundo.
Porém, o mundo dirá isto, dirá aquilo; o mundo dirá que eu ainda lhe quero agradar na minha separação: que importa que ele diga? “Estou pregado à Cruz de Jesus Cristo: vivo, não mais eu, mas Jesus Cristo em mim, e o que tenho de vida na carne, tenho-o na Fé do Filho de Deus que me amou e se entregou por mim”.
Se ainda sou tocado por um amor humano, vivo ainda; se odeio aquele que me odeia, vivo ainda; se sinto as injúrias, vivo ainda; se a dor me penetra, vivo ainda. Adeus, adeus; vou-me embora; não sou de nada; não sou mais de mim; “é para Jesus Cristo que vivo; é Jesus Cristo que vive em mim”.
É assim que cumpriria ser; é o fruto da Eucaristia. Oh! Como estou longe disso! Mas só por ela chegarei a isso.
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Fonte: Jacques-Bénigne Bossuet, Bispo de Meaux, “Meditações sobre o Evangelho” – Opúsculo “A Eucaristia”, Cap. XI, pp. 55-58. Coleção Boa Imprensa, Livraria Boa Imprensa, Rio de Janeiro/RJ, 1942.
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