8ª Parte
Consequências
da
Impureza1
“Aquele que semeia na carne,
colhe a corrupção” (Gál. 6, 8)
“Multa flagela peccatoris”
(Ps. XXXI, 10)
"Eternamente o guardará a minha
misericórdia: e a minha aliança
será estável com ele.
Mas se os seus filhos abandonarem
a minha Lei e não andarem nos
meus preceitos: e não guardarem
os meus mandamentos, fustigarei
as suas maldades e castigarei
os seus pecados".
(Salmo LXXXVIII – 29, 31, 32 e 33)
A voz da ciência patenteia, a amargura dos frutos da impureza e confirma a Lei de Deus. Creio que ficou suficientemente comprovada, com sentenças e opiniões de sábios e artistas consagrados e com votos plenários de Faculdades de Medicina, a afirmativa de que é possível e conveniente praticar a virtude da Castidade, que o Senhor impõe no Sexto Mandamento do Decálogo.
São totalmente apreciabilíssimos os seus bens.
E as consequências da impureza são “mais amargas do que o fel, mais cruéis do que a espada”, exclama São Jerônimo, – incisivo e claro.
“O pecado… consumado gera a morte”, diz São Tiago, na sua admirável Epístola.
Viu São João uma mulher tão ornada nos vestidos como desordenada na vida, a qual tinha na mão um cálice de ouro, cheio de todas as abominações e torpezas, diz o Padre Antônio Vieira, comentando uma passagem do livro profético do Novo Testamento.2
E explica o notabilíssimo, e incomparável pregador:
“Com este cálice convidou e provocou a todos os habitantes da terra a que bebessem. Beberam e, pela eficácia da bebida, perderam todos o juízo.
Chamava-se aquela mulher Babilônia, e foi tal a embriaguez dos que beberam o seu cálice, como verte com discreta propriedade o texto arábico, que todos ficaram babiloniados.
Biberunt omnes populi, et Babyloniati sunt: As cidades babiloniadas: e ficou Jerusalém uma Babilônia, Roma outra Babilônia, Lisboa outra Babilônia, e em cada cidade tantas Babilônias, quantos eram os habitantes delas, trocada toda a ordem em confusão, que isso quer dizer, Babilônia: trocado todo o juízo em insânia, toda a paz em discórdia, toda a quietação em tumulto, toda a urbanidade em descortesias e afrontas”.3
Continuo a aproveitar o testemunho humano para pregar a Lei Divina, embora o testemunho de Deus seja incomparavelmente, infinitamente maior do que o testemunho dos homens.
A voz da ciência, patenteando a amargura do fruto das iniquidades, evidencia o amor contido na Lei: o interesse que Deus tem pelo homem.
A voz da ciência é a voz de Deus.
Initium sapientiae timor Domini.4 O princípio da sabedoria é o temor do Senhor. Bem sei que “os insensatos desprezam a sabedoria e a doutrina”.5 Sempre assim foi, já vem no livro dos Provérbios. É uma das três mil parábolas6 de Salomão.
Mas ouço como ditas a mim as palavras que o Apóstolo dirigiu ao discípulo Timóteo: “Eu te conjuro diante de Deus e de Jesus Cristo, que há de julgar os vivos e os mortos, na Sua vinda e no Seu reino, prega (com ânimo e força)…, insta a tempo e fora de tempo, repreende, roga, admoesta (sem cansar-te) sem nunca perder a paciência e deixar de instruir”.7
Incumbe-me admoestar, porque, segundo o livro do Deuteronômio,8 os formidáveis males da luxúria perseguem as suas vítimas até perecerem (e mesmo os temperamentos mais robustos com eles definham), porque não ouviram a voz de Deus, clamando, solicitamente, nos Mandamentos que prescreve.
Bem sei que “na alma maligna não estará a sabedoria, nem habitará no corpo sujeito ao pecado”.9
Será inútil o meu esforço aos obstinados e aos rebeldes.
Mas será um preservativo em favor dos incontaminados.
Espero que a graça de Deus fará que esta doutrina se desentranhe para eles, ao menos, em “riquezas inexauríveis”.10
As flores do vício tem apenas aroma ilusório e brilho efêmero, e deixam espinhos acerados e implacáveis.
Os frutos do vício são podres e venenosos.
Prejudicam e inutilizam a vida, porque:
a) arruínam a saúde e a beleza,
b) insensibilizam o coração e roubam o senso moral,
c) amortecem e apagam mesmo a inteligência,
d) causam perturbações e injustiças alarmantes,
e) e, animalizando o homem na vida presente, destroem a radiosa florescência cristã das suas esperanças de glória imortal, após castigos temporais horríveis.
É o que vamos considerar hoje.
Um abalizado médico, apaixonado apóstolo da ciência escreve:
“Suprimi os vícios vergonhosos que desonram a humanidade e desaparecerá a maior parte das doenças que a arruínam e a dizimam”.11
Rafael disse ao velho Tobias que são inimigos da sua alma, os que praticam o pecado e a iniquidade.
O livro do Eclesiástico fraternalmente previne contra a impureza para que, diz o Senhor, “não te deites a perder a ti e aos teus”.12
“Não vos enganeis”, diz S. Paulo, na sua linguagem de fogo: “nem os impudicos, nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os sodomitas possuirão o reino de Deus”.13
É preciso convencermo-nos ainda, se somos cristãos, de que o nosso corpo é santificado pelos Sacramentos e destinado à eterna ventura do Céu. Somos a “planta mística da ressurreição”.
Por isso, devemos tratar sempre o nosso corpo com respeito, santamente. Porque fostes comprados por alto preço, glorificai, pois, e trazei a Deus no vosso corpo: Glorificate et portate Deus in corpore vestro.15
É tão íntima a união do corpo com a alma, que ela ressente-se profundamente com as avarias orgânicas.
Esta solicitude deve ser constante, desde a primeira idade. E não como diz o prolóquio: “Dando a carne ao Diabo e os ossos a Deus”, o que o nosso Frei Tomé de Jesus, em uma das suas adoráveis páginas dos Trabalhos de Jesus, docemente, piedosamente refere assim: “Ora vejam onde ficam os que servem tanto como a senhores seus corpos, que, quando veem a tratar da alma, lhe dão tanto por medida, e tão tarde, e frio, e imperfeito o seu, que fica ela necessitada e faminta; e, na casa – onde, por natureza, é senhora – cativa, presa, e esquecida; e o corpo, – nascido para servo –, farto, cheio, senhor e malicioso”.16
– Farto, cheio e … senhor da alma, enervando-a, perdendo-a. Perdendo-a e perdendo-se também, numa vida fatigante, – a mais vazia e mais tola que é possível imaginar-se.
Desde que, diz um higienista e psicólogo distinto, mal despertado o sentido genésico, que é estimulado pela sensualidade, o jovem se exalta, recusa todos os conselhos, não escuta a razão nem a consciência e se entrega ao vício com ardor irresistível, – ao mesmo tempo que transgride a Lei de Deus, prepara-se males irreparáveis.
O esgotamento precoce tem este efeito rápido e certo: debilita e altera o temperamento. Chega, muitas vezes, a causar as doenças mais graves e a estancar as fontes da vida.
Proporcionalmente à renovação dos prazeres, o organismo, cada vez mais excitado, mais irritado, mais fome de gozo tem.
Por isso, a juventude, a beleza, a saúde fenecem, precisamente como a flor aberta à luz da manhã, cheia de aroma e brilho, murcha, aos primeiros raios do sol, pendida na haste ou calcada aos pés dos transeuntes.
A natureza vinga-se do réu da impureza; e vinga-se horrorosamente, às vezes.
O Dr. Hufeland confirma, por estas palavras:
“De todas as causas próprias para encurtar a vida, não conheço nenhuma cuja ação seja mais destrutiva e que reúna em si, em mais alto grau, as propriedades antivitais, do que os excessos venéreos: podem considerar-se como a quinta-essência de tudo quanto pode abreviar a vida”.
E o próprio Rousseau deixou, nas famosas páginas do Emílio, esta advertência: “Esgotados os jovens quando o corpo está a desenvolver-se, ficam raquíticos, anêmicos, defeituosos na estrutura; em lugar de crescer envelhecem: são como as vinhas obrigadas a dar fruto na primavera, porque definham logo e morrem antes do outono”.17
Por isso, Mons. Gibier, em uma das suas magistrais Conferências aos homens, afirmara que “vinte e cinco por cento das pessoas, que morrem na flor da idade, são mais ou menos, indiretamente, vítimas da impureza”.18
Enfim, se a justiça das coisas não vem imediatamente, nunca perde nada por se fazer esperar, e existe na idade adulta uma doença da espinal medula, tanto mais terrível quanto é incurável, chamada ataxia locomotriz, que as mais das vezes é causada quer pelas relações sexuais prematuras, quer pelo seu abuso numa idade mais avançada, quer, enfim, por uma das doenças que podem ser consequência dessas relações.19
Está provado cientificamente, que os acidentes de ordem sexual, que, na juventude, se consideram insignificantes, são causa de um encadeamento interminável de males quase irreparáveis: esterilidade, neurastenia e tantas nevroses, que assediam as gerações de hoje, e cuja marcha é cada vez mais rápida; a miopia, a anemia cerebral, a irritabilidade genésica que se observam, de um modo particular, nas classes abastadas, são muitas vezes o legado fatal das desordens a que se entregaram os pais, na juventude, e que, segundo o pensar destes, haviam de ficar impunes.20
Ainda no ano passado, o então aluno distinto da Universidade de Coimbra, sr. Dr. Antônio de Azevedo Meireles do Souto, em conferência no C. A. D. C., perante acadêmicos e professores, falou assim:
“Pode afirmar-se que um desgraçado carregado desses males é um miserável…
Sífilis e blenorragia, cancros moles, pediculoses, (sarna, etc,), com outras doenças aliás graves, que estas últimas veiculam, eis, meus amigos, as grandes misérias a que vos expondes, se não guardais a castidade.
O Sistema nervoso ressente-se também: sereis sempre uns fracos… Requerem todas (essas doenças) um tratamento muito intenso, caro e longo, que muitos dos que me ouvem, talvez não possam fazer.
Por causa do medo, da vergonha, do pudor, do “vamos a ver se passa”, quando se chega à clínica, já os estragos são quase irreparáveis, e, por vezes, física e socialmente irreparáveis”.
E indicava ainda, como consequência do vício libidinoso – loucuras, paralisias, cegueiras, etc.
O sr. Dr. Luís Antunes Serra, também quando aluno de Medicina em Coimbra, em outra memorável conferência na mesma agremiação acadêmica, em 1920, dizia:
“A saúde do concupiscente não tem firmeza como tem a daquele que é casto. Este suporta facilmente as fadigas, a ‘surmenage’, as doenças intercorrentes: aquele tem meio caminho andado para a morte. Prova-o a clínica. Podia citar-vos o que eu vi e se passou pela África, quando por lá passei durante a expedição de 1916 à 1917.
Afirmo: Se não guardasse castidade,… com sezões encima dos ossos, devia ter lá ficado. A Deus e ao meu médico agradeço a minha vida, mas muito principalmente ao meu comportamento moral, à força que dei ao espírito sobre a carne, à vontade que cultivei, numa palavra. Vi por lá muita miséria, vi morrer muitos irmãos nossos, chorei com eles, a alguns lhes falei de Deus, de mistura com o tratamento médico que lhes ministrava.
… Como soldado que fui e vim, tive ocasião de ver de perto o que ainda hoje me enche de dó e piedade. E lá ficaram assim muitos portugueses, pelos areais africanos, muitos irmãos nossos nas ondas do oceano. E sabeis porquê? Porque beberam do cálice da peçonha, do vírus sexual africano. Crede que isto é uma verdade, não duvideis”.
O ilustre médico sr. Dr. Cardia Pires, na revista portuense – A Medicina Moderna, em uma longa série de artigos científicos, provou que “as doenças venéreas podem envenenar e destruir a vida”.
Concluiu da observação de muitos escravos do vício solitário, – adultos e até crianças – que eles “são os epiléticos, os cretinos, os idiotas, os neurastênicos; são, enfim, os degenerados, os filhos de libertinos, os que possuem uma hiperexcitabilidade mórbida, – frequentemente hereditária – da função sexual”, e caem no hábito do vício solitário, “como poderiam resvalar para outra perversão”.
Mostrou como “aquele que não educa a vontade para governar os instintos, se prepara para uma vida, que pode ser uma cadeia de desastres, em que por completo naufragam todos os sonhos, todas as esperanças”.
No livro – A Moral nas suas Relações com a Medicina e a Higiene, o Dr. Surbled, fazendo ver as funestíssimas consequências do vício solitário em ambos os sexos, diz que no sexo feminino são ainda mais graves, por causa da constituição fisiológica, delicada e nervosa da mulher.
O enervamento seguido de fraqueza, impotência, anemia, perturbações mentais, nevroses, histerismos, até a loucura – são consequências das aberrações genitais, – não falando na perversão do coração, tanto no homem como na mulher.
E registra ainda “a palidez no semblante, os olhos enterrados nas órbitas, com um círculo azulado; o aspecto sombrio, taciturno; a falta de gosto pelos prazeres simples e pelos divertimentos honestos.
Mas esclarece que, o histerismo nem sempre é uma disposição erótica, caracterizada pelas piores desordens lúbricas; mas é uma doença nervosa comum, sem relação direta com a impudicícia; e afirma que até virgens bem castas são vítimas do histerismo.21
O Dr. Caufeynou, na sua obra “Folie Erotique”, diz, falando sobre a satiríase22 e:
“É muitas vezes hereditária esta funestíssima anormalidade e, se a educação não consegue dominar os instintos naturais, qualquer insignificância pode precipitar o período das crises.
… habitar as grandes cidades que regurgitam de mil coisas excitantes, onde se come e bebe demais, onde pululam os prazeres venéreos, … as uniões pouco airosas, os espetáculos, as pinturas e leituras lascivas, são causas que produzem a ninfomania ou dispõe para ela”.
Caufeynou, está de acordo com a opinião que sustenta que a vida sexual depende imediatamente e invariavelmente dos sentimentos que dominam o indivíduo, da direção que tiver dado ao espírito e à inteligência, do uso que tiver feito da razão e do modo como tiver exercitado a vontade.23
Quanto à loucura, – uma das consequências terríveis da incontinência, embora nem todas as loucuras tenham por causa a incontinência, olhai que sudário pavoroso:
O Pe. Sebastião Kneipp, no seu Codicilo, informou de que o manicômio de Irsce era, não havia muito tempo, mais que suficiente para os círculos de Suábia e Nemburgo; que nos seus dias, porém, foi preciso edificar outro mais vasto, em Kautbeureu. Mas que vieram a ser muito acanhados os dois asilos para receber a todos os infelizes.
No “Congresso das Misericórdias”, em Lisboa, realizado há pouco, – na sessão de 18 de Março24, o sr. Dr. João Luís Ricardo declarou esta assombrosa miséria:
“Há catorze mil loucos em Portugal, e apenas mil estão hospitalizados”.
No livro Higiene e Moral do Dr. Paulo Good, encontramos esta explicação:
“Quantos moços não tenho visto pálidos, anemiados, candidatos a curto prazo à tuberculose, sem que nada nos seus antecedentes ou nos de sua família pudesse explicar-me as causas da sua decadência!
Não vos admireis de que nós, os Médicos, sejamos forçados a reconhecer que nessa idade é que nas nossas estatísticas apuramos maior número de doenças nervosas incipientes”.
Há mesmo uma loucura muito especial chamada hebefrenia, que reconhece como causa principal o enfraquecimento geral, produzido pela excitação prematura de certos órgãos.
O Dr. Perchappe, diretor do Manicômio do Sena-Inferior, em um tratado de loucura, em que registra 337 casos, apenas atribui um ao celibato, numa mulher de 56 anos.
Os que não adquirem essa abominável mentalidade no ambiente da libertinagem, contaminam-se com uma literatura glorificadora da paixão amorosa e estimulante dos instintos inferiores. Por ela, como diz, nos já referidos artigos, o sr. Dr. Cardia Pires, principiam alimentando uma “sentimentalidade vaga”, que desvia do trabalho sério e deriva para a sensualidade; e, em consequência do prazer satisfeito, cai-se na apatia, a memória embota-se, o espírito fica num entorpecimento, a alegria dos prazeres calmos desaparece, desaparecem as emoções mais doces e duradouras, cedendo lugar às emoções grosseiras.
Com razão pergunta, com funda tristeza, Monsenhor Gibier, assinalando as consequências físicas da impureza: se o vício faz assim estiolar, deformar, arruinar o corpo, o que não fará ele à alma?
Os prazeres sensíveis, como disse Santo Tomás de Aquino, dividem, abalam, e, finalmente, subjugam as energias da alma.
Por isso, as paixões, sem governo, se desencadeiam furiosamente, – todas as paixões más. As belas qualidades que distinguem a personalidade do indivíduo e eram promessa ridente de um brilhante futuro, desaparecem ou diminuem.
É flagrante a comparação que Henri Morice exprime assim: “As pessoas que se deixam hipnotizar submetem-se completamente ao operador. Uma vez adormecidas, o hipnotizador fará delas quanto queira.
São manejadas por ele como bonecos.
Sucede o mesmo com quem se entrega à devassidão e à orgia: torna-se escravo do Demônio, que o leva por onde quer, com um simples gesto, com um olhar, com um nada...”.
Depois de arruinar o corpo, apaga a inteligência, escraviza a razão, esteriliza o coração, destrói as faculdades mais nobres da alma. Perde elevação de pensamento, nobreza de sentimentos, aspirações dignificadoras, generosidade e bondade. É duro, cruel, insensível às mais tocantes delicadezas da ternura alheia.
Como impiedosa língua de fogo, o vício passou na sua alma e crestou a flor das mais santas afeições, até.
Nada detém ao miserável: – nem o prazer do trabalho, nem os encantos, nem os enlevos do lar.
É casado? Nem a esposa, nem os filhos o prendem.
O Futuro é um horizonte de nuvens negras, um Céu tempestuoso: O presente é já um inferno… Lembra um náufrago perdido…
Degradou-se e aviltou-se tanto, anda em uma desorientação tão grande, que não há farol que o ilumine ou voz poderosa e vibrante que o guie.
As más companhias levaram-no a viver luxuriosamente!… Que vergonhosa, aviltante e rápida foi a transformação! Não há defeito que o não contamine.
A um transviado em tal obstinação nem temos ânimo de o lamentar com palavras. E, mesmo, aos avisos mais ternos, aos conselhos mais prudentes e mais doces, inspirados pelo nosso amor, responderia com desabridos impropérios e insolências.
Traz sobressaltos à alma de quantos o estimam.
Desencadeia tempestades e catástrofes, alastrando de ruínas desoladoras o seu caminho e a vida dos que mais lhe querem.
No abandono em que nos deixa, desafogamos em lágrimas de fogo, num silêncio de espanto horrível, muitas vezes. E é este o nosso único alívio, como disse Bossuet.
No ambiente do lar doméstico, considera-se num cárcere.
Vê na autoridade paterna um jugo intolerável; nos sorrisos e lágrimas da mãe, impertinências e nervosismos de mulher, que é preciso desprezar.
… Revolta-se contra tudo e contra todos, porque em tudo e todos vê embaraços à satisfação do seu prazer.
Vive em um pandemônio de calúnias, discórdias, injustiças, vinganças, ódios irreconciliáveis, perfídias, roubos, traições de toda a espécie, abusos de confiança e poder, opressões, ferocidades, infanticídios, homicídios, assassinatos, divórcios, uniões criminosas.25
Se o infeliz soubesse dominar-se, não se deixaria prender na armadilha da carnal paixão, que o lançará no desespero de haver introduzido a desordem em sua casa.26
Ao citar estas palavras de Guibert, o sublime educador, que dirigiu com êxito invulgar o Seminário do Instituto Católico de Paris, eu estremeço de horror, considerando a transformação profunda que a luxúria opera em um homem honesto.
Entra em casa embriagado, muitas vezes irrompendo em palavrões obscenos, bordalengos, profanando o santuário do lar doméstico, ameaçando e agredindo mesmo a esposa inocente e mártir, diante dos filhos pequeninos, amedrontados como pombas na hora negra de um escarcéu, refugiando-se sob as asas do amor maternal, … e contaminando-se moralmente.
A consciência do lascivo é perfeitamente como a bússola avariada pela tempestade, diz Morice. O desgraçado pode repetir as palavras que Ovídio, nas Metamorfoses, põe na boca de Medea: Video meliora, proboque; deteriora sequor.
A inteligência aponta-lhe o caminho reto do dever e da verdade; mas a fraqueza e o artifício sedutor do prazer arrastam-no para o mal.
Santo Agostinho, em uma dolorosa página das Confissões, dá-nos a fiel imagem dessa horrível miséria, em que se debatera, antes de se haver convertido:
“Assalta-me um sentimento estranho; uma doçura desconhecida penetra-me. Se esta doçura se tornasse perfeita, seria uma coisa indizível, que não seria a vida.
Mas recaio oprimido pela minha opressora miséria – o meu tirano. Sou absorvido novamente pelas minhas fatais e ordinárias paixões.
Sinto-me preso. Choro copiosamente. Mas a abundância das minhas lágrimas não dissolve, não quebra os grilhões que me escravizam. O hábito impele-me para o abismo”.27
Que tremenda, pavorosa infelicidade!
O pródigo partiu da casa paterna, rebelde a conselhos, a súplicas, a ameaças. Levou tudo que lhe pertencia. Partiu para um país estranho, longínquo; e, por lá, dissipou quanto tinha, vivendo luxuriosamente.28
Que mais distante, que afastar-se de si mesmo, … andar em trevas… habitar na região das sombras da morte… – in regione umbrae mortis29 e nunca ver nascer o dia!… exclama o Santo Penitente de Hipona.
De precipício em precipício, a impureza afunda as suas vítimas em um mar de ignomínias e desgraças.
É uma tempestade que revolve o fundo, trazendo à superfície o lodo, a escória.
“Ó cidadela da Pureza,
quando um vício te faz brecha,
sem tardança,
prestes os mais acodem galopando”,
escreveu Guerra Junqueiro na Pátria, – Guerra Junqueiro que, “na fome de Deus que na sua alma pressentia no fim da vida, percebeu que só podem ver a Deus os que têm o coração puro”, como diz o autor d’A Igreja e o pensamento contemporâneo.
A impureza produz na alma um desvario constante, uma alucinação às vezes mesmo inverossímil! O libidinoso chega a vangloriar-se dos vícios como se fossem virtudes.
Mulheres houve, ufanando-se, com o mais cínico impudor, dos seus desatinos, que mandaram abrir epitáfios para o próprio túmulo, proclamando as loucuras que provocaram e os contubérnios em que viveram.30
E que influências nefastas, calamitosas, por vezes alastrando, em ondas revoltas de sangue e lama, sobre o povo, sobre as nações!
Alexandre Magno, soberano egrégio, conquistador famoso, foi levado aos maiores crimes, assassinando os amigos mais íntimos e os vassalos mais fiéis, por causa do… vinho e das mulheres desvergonhadas.31
Por inspiração da famosa Messalina Thaís, incendiou a cidade de Persépolis.
Arrastou pela asquerosa lama da luxúria a sua esplêndida glória.
Júlio César, valente e ousado, fraquejou diante de Cleópatra, a meretriz coroada.
Se “chegou, viu e venceu”, foi por se ter afastado das voluptuosidades de Alexandria.32
Quando a mesma rainha devassa e fratricida aportou a Tarso ao encontro de Marco Antônio, o povo cantava: “É Vênus que vem visitar Baco”, tão escandalosamente lúbricos eram os dois amantes.
Não houve injustiça que Antônio não recusasse cometer para lhe ser agradável.33
E, através da nossa história pátria, vemos qual o motivo porque
“um fraco rei… faz fraca a forte gente”;
vemos que
“… um baixo amor os fortes enfraquece”;
que
“Por sua incontinência desonesta,
Leonor…………………………………….
Faz contra Lusitânia vir Castela”;
que, em
“… castigo do pecado
de tirar Leonor a seu marido
e casar-se com ela...”,
e por causa do
“… coração sujeito e dado
ao vício vil...”,
“… o esforço antigo se converte
em desusada e má deslealdade”;
vemos que
“Negam… a Pátria; e, se convém,
negarão, como Pedro, o Deus que tem”.34
Só por esta página tão sombria da história de Portugal, podíamos concluir com o famigerado Padre Félix, – o notabilíssimo pregador de Notre-Dame:
Quantos lares em desordem, quantos crimes, quantas convulsões sociais, quantas amarguras de inferno, por causa da lascívia?!
Ás heresias sucederam sempre ondas lamacentas de libertinagens. São as práticas infames dos gnósticos e dos maniqueus, é o desenfreamento da reforma de Lutero; é a tirania e imoralidade de Henrique VIII e de Isabel; é a orgia crapulosa do filosofismo do século XVIII, recapitulado na adoração oficial do vício, no templo de Notre-Dame de Paris, – vício elevado às honras sacrílegas de divindade, incarnado, como disse Lacordaire incisivamente, “no mármore vivo de uma carne pública”.
E hoje ainda, só a iníqua lei do Divórcio, quantas imoralidades não provoca!
Há pouco, no 86º aniversário da Associação dos Advogados, em Lisboa, o sr. Dr. Cunha Monteiro, analisando a legislação influenciada pela Revolução Francesa, falou da instituição da família e teve esta passagem:
“Não será o divórcio o corolário fatal da secularização do Casamento, mas é a estrada larga que a ela conduz”.
Justamente Leroy intima do alto do púlpito, com uma grande isenção apostólica:
“Nenhuma mão limpa deve estender-se para o homem ou para a mulher divorciada, que contraiu uma nova união; nenhuma sala cristã deve abrir-lhes as suas portas; nenhuma pessoa que se respeite deve atravessar a soleira da casa deles. Está ali o crime...”.35
É uma esqualidez36 moral.
É retroceder, pelo aviltamento dos costumes, aos tempos ominosos do servilismo degradante do mais ignóbil paganismo.
É distanciarmo-nos da civilização, é irmanarmo-nos com aqueles povos, onde o homem, ainda agora, neste esplendor alto do progresso, considera a mulher apenas uma escrava fornecida pela natureza.
Por exemplo, os selvagens que vivem da caça, estabelecem novos lares por onde passam, abandonando os lares antigos, deixando assim a mulher entregue a horríveis contingências de suprema desgraça, de misérrimo aviltamento.
E há sociedades mais adiantadas, por exemplo a China, – país fantástico e imenso, cuja população abrange a quarta parte da humanidade espalhada à superfície da terra, – onde a mulher é um objeto de desprezo, um ente abominável.
As criancinhas do sexo feminino são as preferentemente abandonadas pelos pais, porque o nascimento de uma mulher é considerado como desgraça funesta.
O chinês compra a mulher para casar, precisamente como um contratador de gado compraria uma rês.
Escolhe a esposa, com o mesmo sentimento com que obtêm um animal, para uso doméstico.
É determinado apenas em seu consórcio pelo utilitarismo cego e estúpido do rendimento material que possa haver da mulher.
É a situação a que retrocedem as sociedades que abandonam a Deus.
É por isso que “a sociologia, fundando-se somente em considerações de interesse social, condena, como a teologia, o divórcio...” em que “o amor, mudando sempre de pessoa, já não é amor, é corrupção”, como escreveu Jules Michelet, bem insuspeito.
Sim! A Igreja combate o divórcio, para salvar a sociedade. E nisto é secundada por todos os homens de bem, embora não católicos, observa Pedro Sinzig.37
“O Sacramento do Matrimônio não pode ser atingido pelas leis civis, está encerrado no reduto inexpugnável das nossas consciências. Estabeleça o legislador as disposições que quiser, aos ouvidos católicos hão de ressoar sempre as palavras do Evangelho de São Mateus: Quod Deus conjunxit, homo non separet.38 A Igreja combate o divórcio pelos seus funestíssimos efeitos sociais, porque ele produz a dissolução da família, – pedra angular do Estado…
O divórcio… viria escravizar a mulher.
Casando-se com um homem que soubera captar a ingênua confiança da sua alma cândida, e que talvez seja indigno do seu afeto, tendo procurado no Casamento apenas o meio de satisfazer um desejo, a mulher terá sempre suspensa sobre a cabeça, como terrível espada de Dâmocles, a perspectiva de um divórcio.
Difíceis, senão impossíveis, se tornarão as relações sociais; a mulher, sentindo diminuída a estima do seu marido, e sabendo que a lei lhe permite constituir um novo lar, não poderá gozar dos encantos da amizade: os ciúmes envenenarão as suas mais santas alegrias; nas amigas mais íntimas, nas mais próximas parentas, até nas próprias irmãs, enxergará rivais prontas a disputarem a posse do ente amado…
O homem terá sempre a maior facilidade em contrair novas núpcias; mas a mulher não poderá mais oferecer ao eleito da sua alma os encantos da inocência e da pureza, tão poeticamente simbolizados na flor da laranjeira…
Seria uma infantilidade afirmar que a mulher divorciada encontra facilmente um segundo marido, principalmente, se ela tiver filhos.
Esta dificuldade constitui justamente um dos efeitos anti-sociais do divórcio. Sabendo que os filhos constituirão um obstáculo a novas núpcias, a mulher procurará não tê-los, dando lugar a mais uma manifestação do neo-maltusianismo…39
Sejam quais forem as divergências que separem os cônjuges, enquanto existir o vínculo, enquanto a lei não vier tornar possível um novo Casamento, haverá a esperança de uma reconciliação…
Tudo no lar fala dos primeiros tempos da vida conjugal… Um laço de fita, uma flor, uma simples folha esquecida entre as páginas de um livro, entre os papéis da secretária, é um poema de amor e de ternura. E se vem a moléstia de um filho, se para o berço da criança que sofre convergem as ternuras dos pais, o ressentimento vai aos poucos esvaindo-se e surge dignificador e reconfortante o amor conjugal...40
Em verdade: Deus não criou senão um homem para uma mulher e uma mulher para um homem, condenando a poligamia: e ordenou que fossem uma mesma carne, para reprovar o divórcio.
Ouçamos o Profeta Malaquias, por intermédio de quem o Senhor repreende os filhos de Judá, por se desquitarem das suas legítimas mulheres. Perguntam-lhe a causa das ameaças tremendas e Malaquias responde:
“Porque o Senhor deu testemunho entre ti e a mulher da tua puberdade, a qual tu desprezaste, sendo ela a tua companheira, a mulher da tua aliança”,41 a quem voluntariamente desposaste, obrigando-te a viver com ela em virtude do estreito laço e nó indissolúvel.
“Acaso não na fez o que é um, e não é ela uma como partícula do seu sopro com que ficou animada? E que pede este único autor, senão que saia de vós uma linhagem de Deus?… não desprezes a mulher que recebeste na tua mocidade”.42
Numa palavra: abandona-se a pessoa a quem se devia dedicação inquebrantável até ao sacrifício, preferindo carícias fementidas43 e fatais, com que levianamente se julga brilhar…
E muitos brilham por infelicidade sua…
Brilham, num fulgor sinistro.
Brilham, descendo à baixa condição dos brutos: – Comparatus est jumentis insipientibus: tornando-se semelhante a eles: et similis factus est illis.44
Brilham, miseravelmente escravizados e proclamando-se livres – descendo e tornando-se ainda mais vis do que o irracional, porque os seus apetites grosseiros não são contidos pelo freio, que ao ser privado da razão impõe os limites insuperáveis do instinto, como disse Leroy.
Brilham, tornando-se indignos do nome de homens, como Diógenes considerava os desonestos.
Brilham, como brilha a madeira podre na escuridão, segundo Júlio Payot.
Enfim: todos os sábios dignos deste nome, todos os filósofos e moralistas, alguns insuspeitíssimos de preocupações religiosas, seguem o critério católico quanto às causas intrínsecas de todas as aberrações da sensualidade e sobre as desordens físicas, intelectuais, morais e sociais, que são fatal e inexorável consequência de tais aberrações.
Incomparavelmente mais funestas que todas as consequências físicas, intelectuais, morais e sociais, – incomparavelmente mais terríveis são os desastres sobrenaturais. Quem perde o domínio de si mesmo, abandonando-se aos mórbidos estímulos da concupiscência, não prepara apenas uma cadeia de desastres no tempo. Prepara a condenação eterna da sua alma. É o ludíbrio de si próprio e torna-se o infame despertador das paixões alheias, o corruptor miserável da infância, o despudorado homicida monstruoso, que rouba à inocência a vida sobrenatural.
É um autêntico Satanás, cujo merecido castigo, indicado pelo nosso amabilíssimo Jesus, patenteia iniludivelmente a hediondez e gravidade do crime: – “Ai do que ensina o pecado aos inocentes! Melhor lhe fora não ter nascido! Melhor é que se lhe pendure ao pescoço a mó de uma atafona e seja lançado ao fundo do mar”.45
A sensualidade é um mal contagioso, perniciosíssimo. Por obras, por palavras, pensamentos, gestos, afeições e desejos, o libidinoso separa-se de Deus e separa de Deus os seus cúmplices, nas suas vítimas.
Ainda que seja um benemérito, espalhando ouro a mãos largas, a mãos cheias, mitigando muita sede, apagando muita fome, cobrindo muita nudez, aliviando muita miséria, enxugando muita lágrima, consolando muita tristeza, dando tudo, – manchada a alma pela sombra horrível do pecado mortal, prejudica todo o bem praticado; inutiliza-o mesmo.
É uma riqueza perdida para a eternidade.
Inutiliza até o bem que anteriormente fizera em estado de graça. A impureza, depois de lhe fazer perder o vigor e a utilidade da vida física, o fulgor da vida intelectual, o encanto total da vida moral, a influência nobilitante da vida social, apaga o fogo e a luz da vida sobrenatural. E o miserável vai arrastando os pesados grilhões do seu martírio, chegando a ser um verdadeiro, um infeliz “abandonado de Deus”, de quem o Padre Antônio Vieira nos deixou esta clara fotografia: “Cego para não ver o que lhe convém, surdo para não ouvir os ditames da verdade; pródigo no pedir, insensível no dever e insaciável no gastar sem conta, sem peso, nem medida; com tanta publicidade nos vícios como se fossem virtudes; sem reverência de Deus, nem respeito do mundo, nem vergonha de si mesmo, nos anos mais que da mocidade desbaratou a fazenda, a saúde, a honra e a vida”.
O Padre Antônio Vieira esclarece ainda que “quando Deus assim deixa estas miseráveis almas, então ficam elas mais contentes e satisfeitas, porque como não tratam mais que do presente, sem memória do passado nem temor do futuro, deixadas à natureza, vivem à sua vontade”.46
São aqueles de quem falava o salmista dizendo: “abandonei-os segundo os desejos do seu coração; eles irão caminhando atrás das invenções da sua fantasia”.47
Ah! Com razão sobre aquele episódio sublime do encontro da famosa pecadora com Jesus, na casa de um fariseu rico, à hora de um banquete memorável, São Gregório Papa sentia mais vontade de chorar que de pregar.48
E ao ouvir ler, atentos, a parábola do Filho Pródigo, sentimos os olhos umedecidos de lágrimas, que sobem do coração, porque recordamos um amigo ou uma querida pessoa de família, que se extraviou no convívio de más companhias, – amigos de perdição, amigos de morte!
Quantas vezes lhe mostramos o caminho honroso do dever, em advertências amáveis, desveladas, enternecidas!
O infeliz, porém, obstinava-se e, desvairadamente, seguiu embrenhando-se em um labirinto. Perdeu-se de tal modo que já não se vê nem conhece a si próprio.
Não tem consciência da sua situação. Não sabe onde está nem para onde vai. E, todavia, avança sempre, arrastado por uma espécie de desgraçado fatalismo e subjugado pelas paixões que ele próprio tornou indomáveis. “Perdeu a fé!” dizemos, num lamento consternado. E, em verdade! Era tão crente e, agora, desdenha de tudo quanto é sagrado, com a mais sacrílega irreverência! Não compreendemos! E a realidade sinistra confunde-nos, esmaga-nos.
É como se nos apertassem o coração em uma prensa de ferro. O doce poeta François Coppée, à hora da sua conversão, em uma dolorosa página cintilante, disse-nos como isso acontece. O vício apaga o sentimento da Presença de Deus, depois de ter abafado a Sua voz interior, na consciência: e leva à dúvida e logo à descrença. Perde-se a fé na desmoralização dos costumes.
O jovem, caído assim no ceticismo, procura talvez justificar-se com argumentos intelectuais. Mas é a paixão que lhos inspira.
Maria Egipcíaca, desejando entrar no templo, sente-se repelida por estranha força irresistível. Reconsidera, olha para si atenta, refletidamente. Sente a ignomínia da sua conduta. As suas torpezas abomináveis confundem-na.
E reabilita-se com penitência austera por longos 47 anos.
Foi lama… e é Santa.
Mas quando alguém, depois de ter, como o Pródigo, desprezado advertências carinhosas de pai extremoso, lágrimas enternecidas de mãe torturada, irmã comovida, esposa martirizada e amigos apreensivos pela sua sorte, desbarata a saúde e o patrimônio e perde também a fé – uma das consequências da libertinagem é a incredulidade, acentuei já – pobrezinho! Não encontra mais a paz, ainda que a procure num desespero. O ímpio não tem paz, disse a Verdade que não mente nunca.
Supliciado pelos funestos efeitos dos seus desvarios, quantas vezes o cercam “dores de morte”, “perigos de inferno”,49 porque as “torrentes da iniquidade o conturbam”.50
Os infortúnios que o perseguem são castigos, cuja ameaça paternalmente fizera Deus, ao promulgar os Mandamentos: “Se meus filhos desprezarem a minha justiça e não guardarem os meus Preceitos, castigá-los-ei nas suas iniquidades e nos seus pecados”.51 Por isso, é muito verdadeira esta sentença de Vauvenargues: “Aqueles que se queixam da fortuna, não deviam se queixar, muitas vezes, senão de si próprios”.
Se às vítimas das próprias loucuras, no horrendo naufrágio, lhes restasse ao menos a ventura da fé a iluminar-lhes a consciência, em relâmpagos, – numa hora de reflexão, concentrados, repetiriam o brado angustioso de Israel, quando sentia a mão de Deus, em calamidades formidáveis:
– “Ai de nós porque pecamos! – Vae nobis quia peccavimus”.52
Os pecadores que vergam a fronte, fixam os olhos humildemente no chão e, confundidos, confessam o crime e pedem perdão como o publicano, ficam justificados.
Mas há muitos fariseus, arrogantemente erguendo e meneando a cabeça altiva, desdenhosos de todos os meios que sobrenaturalizam a vida. – Animalis antem homo non percipit ea quae sunt Spiritus Dei. O homem animal não entende aquelas coisas que são do Espírito de Deus, porque lhe parecem uma loucura.53 Para esses o testemunho dos homens vale mais do que o testemunho dos Livros Santos.
“Se a voz da moral não basta para convencer o homem que pensa, a voz da ciência o fará, porque ela ensina que a desonestidade é a causa dos males físicos mais graves”, diz com autoridade de verdadeiro sábio o Dr. Surbled.
Alguns médicos enumeram 71 doenças causadas pelos crimes da luxúria.
Mas não é só a voz da ciência, que nos patenteia a gravidade do mal.
Sansão era o terror dos Filisteus, enquanto observou os Preceitos do Senhor. Espostejava leões; desbaratava inimigos aos milhares, apenas com um gesto; levava às costas as portas da cidade de Gaza; fazia desabar o templo de Dragom. Mas desde que se entregou às seduções de Dalila, perdeu a força prodigiosa, caiu nas mãos dos inimigos, que lhe arrancaram os olhos e o ataram a uma atafona, obrigando-o a fazer-se de jumento.54
A legislação de Moisés prescrevia a lapidação para os crimes de incontinência, cometidos pela noiva entre os esponsais e o casamento.55
Para os crimes da mulher casada, estabelecia a pena de morte.56
Mas já antes de Moisés, muito antes, no tempo dos Patriarcas, a pena de morte infligida aos adúlteros executava-se apedrejando os criminosos. Numa página do Gênesis57, vemos que Tamar, por suas desonestidades, foi condenada pelo chefe da família a ser queimada. O costume era a morte por lapidação. Queimava-se apenas o cadáver.
O condenado era conduzido para um lugar onde houvesse abundância de pedras. Cavava-se um fosso com muitos metros de profundidade. O criminoso era precipitado ali pelo primeiro acusador. O segundo arremessava sobre ele uma grande pedra, e todos os espectadores, por sua vez, apedrejavam o desgraçado, procurando atingi-lo na cabeça e no peito, para abreviar os sofrimentos e apressar a morte.58 Inquestionavelmente, a lei era severa.
Mas um comentador observou que era preciso assim um jugo de ferro sobre o pescoço deste povo, que tinha cabeça de granito e coração de bronze. Mas, – ai de nós! – um orador moderno atreveu-se a dizer isto: “se a lei mosaica fosse posta em vigor em nossos dias, haveria muita dificuldade em achar pedras em número suficiente para castigar tantos desonestos”.59
E mesmo entre os pagãos, os crimes de impureza eram castigados com inaudita crueldade.
Rômulo, fundador de Roma, estabeleceu duas penas de morte para as mulheres: para as que bebiam vinho e para as adúlteras. Quando se provasse que uma Vestal perdera a virgindade, era enterrada viva.
Os Índios do antigo Peru, tinham um grande número de mosteiros onde criavam e educavam muitíssimas donzelas, que eram obrigadas a guardar castidade perfeita. A que prevaricasse era enterrada viva, como a Vestal criminosa em Roma.
Augusto César desterrou sua filha Júlia, por causa da incontinência dela.
Fábio Eburno, sabendo que seu filho frequentava mulheres perdidas, degolou-o por sua própria mão, considerando-o um malfeitor público.
Parece que Heliogábalo excedeu a todos os imperadores em crimes de devassidão, em loucuras e crueldades.
Criou um senado de mulheres;… mudou de esposa todos os anos. De todos os monstros foi, porventura, o mais horrendo e o mais infame. E, como “tal vida tal morte”, acabou como viveu.
Os romanos, fartos das suas torpezas, entraram no palácio, cortaram-lhe a cabeça, percorrendo com ela toda a cidade, ao som de gritos delirantes, de insultos obscenos e imprecações violentas. Depois, atiraram a cabeça ao Tibre. E o corpo, como toda a vida chafurdou no lamaçal, no esterquilínio da impudicícia, arremeçaram-no a uma cloaca pública.
Heródoto refere que Sezostris, rei do Egito, mandava queimar vivas as mulheres que se provasse terem perdido a virgindade.
Túlio conta que, entre os Egípcios, o homem luxurioso apanhava mil açoites com varas verdes; e à mulher cortavam-lhe o nariz.
Platão, nas suas leis, determinou que, em cada família, tivessem os homens a jurisdição para castigar aqueles que atentassem contra a virtude das suas mulheres.
Testemunha Heraclides que os primitivos habitantes de Tenedos tinham uma lei que concedia a cada chefe de família “vara de família”, para castigar os criminosos que perturbassem a castidade da sua mulher, podendo matar o adúltero em qualquer parte, como se fosse um executor público.
Um próprio filho do rei fundador, foi decapitado, por ter transgredido essa lei. Os antigos alemães empregavam três espécies de castigo para a mulher desonesta: rapavam-lhe a cabeça, açoitavam-na em presença dos parentes, completamente nua, passeando-a nesse estado pela povoação inteira, no meio de chufas e chicotadas. E o terceiro castigo, era não poder casar nunca.
Zeleuco, rei da Lócrida, mandou arrancar os olhos aos adúlteros e não poupou da execução a um filho seu.60
Os Egípcios, quando queriam significar um homem torpe, pintavam um cão. E nos jazigos dos luxuriosos esculpiam a figura de um porco.
Platão chamou cães a todos os homens licenciosos. E os Fenícios chamavam cadelas às mulheres desonestas.
Ovídio compara Apolo a um cão, por ter perseguido a casta Daphni. A dissoluta Jezabel foi comida pelos cães. E o Venerável Beda diz que Jezabel, em hebreu, significa esterco. São João, quando diz no Apocalipse, que os cães estão desterrados do Céu, refere-se aos luxuriosos.
Orígenes diz, que o cerdo é absolutamente a figura dos que transgridem o 6º Mandamento. E nós vemos, em verdade, que o cerdo chafurda sempre no lodo e nos próprios excrementos: e só está bem nessa ignóbil faina.
O luxurioso só tem delícias também em chafurdar no lodaçal, na podridão e no vício, enlameando-se, apodrecendo, convertendo-se em um miserável, nojento leproso.
O ocidente da Europa foi entregue à formidável devastação das torpezas de Mafoma (Maomé), por causa das lascívias de Rodrigo, último rei dos Visigodos.61
Os habitantes de Sodoma eram de perversíssimos costumes. A cidade não seria destruída, se nela fossem encontrados 10 justos. Mas como não havia nem ao menos este reduzido número de almas castas, em toda aquela região, – Sodoma, Gomorra, Adama, Segor, Seboim e arredores infames, – as cidades da Pentápole – ficaram reduzidas a cinzas inflamadas, como fumo que sai de um braseiro.
O espaço que ocupavam foi convertido em um grande lago, denominado Lago Asfaltite ou Mar Morto.
As suas águas são negras e paradas, exalando vapores venenosos. Uma esterilidade de morte nos arredores, em um lúgubre silêncio terrível, nos plainos cobertos de cinza.
Com acentuada tristeza, um historiador comenta:
“Passou por ali a maldição de Deus”.
Desta horrível catástrofe dão notícia, além dos Livros Santos, Solimo, Estrabão e Tácito.
Aos que se admiram de que hoje não caia fogo do Céu, responde São João Crisóstomo: “é porque um fogo mais terrível espera os voluptuosos, em um suplício que jamais terá fim”.
Mas a Grande Guerra última, pareceu um dilúvio de pólvora, dinamite, gases asfixiantes, – um dilúvio de fogo e lágrimas, queimando, afogando milhões de vidas.
Produziu-se uma inquietação infernal, que perdura e alastra pelo mundo todo. E não podemos calcular ainda a amplitude máxima das suas consequências.
Foram os homens que se trucidaram reciprocamente. São os homens que se combatem ainda com furor, à mercê de um egoísmo brutal e desmedido. Identidade de castigos, por … identidade de crimes.
Não esquecer jamais que foi a desenfreada licença que levou à desonra e à morte o glorioso, o grande povo romano.
Nunca se ultraja impunemente a Lei de Deus…
Todas essas espantosas calamidades, todas essas catástrofes horríveis estavam contidas na palavra do Profeta:
“Por isso, o leão dos bosques os feriu, o lobo da noite os destruiu, o leopardo andou vigilante sobre as suas cidades: todo aquele, que delas sair, será preso: porque se tem multiplicado as suas prevaricações, tem-se endurecido as suas apostasias”.62
Que a juventude – especialmente ela, a esperança de amanhã, advertida por tantas vozes autorizadas, fuja do vício horroroso da impureza, que pode levá-la a essa prematura e completa decrepitude a que Lamenais chamou repugnante.
Que a juventude conserve garbosamente a flor da sua inocência ilibada e alta, fresca e perfumada, para manter uma dignidade encantadora e imponente, que seja garantia do futuro, – um futuro cheio de força, beleza e vida, – vida cheia de honra e honestidade na terra, para ser vida cheia de glória no Céu.
____________________________
1. Rev. Pe. Silva Gonçalves, ob. cit., Cap. II, pp. 83-129.
2. Apocalipse XVII, 4.
3. P. Antônio Vieira – Sermões.
4. Ps. 110, 10; Prov. 1, 7.
5. Prov. 1, 7.
6. III Reg. IV, 32.
7. II Tim. IV, 1-2.
8. Deut. XXV, 15-45.
9. Sab. 1, 4.
10. Sab. 8, 18.
11. George Subled – La Moral dans ses raports avec la Medicine et l’Higiene.
12. Eclesiástico - III, 13-19.
13. I Cor. VI, 9-10.
14. Salmo VIII, 6.
15. I Cor. VI, 20.
16. Frei Tomé de Jesus, Trabalhos de Jesus, Série 2ª, 2ª Parte, p. 149.
17. Emílio, VI, p. 366.
18. Mgr. Gibier, Les objections contemporaines contra la Religion. Deuxieme série, – p. 41.
19. Dr. Paulo Good – Higiene e Moral – p. 69.
20. Pe. Ramon Ruiz Amado, S.J., La Educacion de la Castidad.
21. O Dr. Pedro Filipe Neri Pinto, no “Casamento e Celibato”, combate o aforismo de Hipócrates: nubat ila, et morbum efugiat.
Briguet, por meio de cifras, comprovou a mesma afirmação.
Bertillon confirma, dizendo até que, se tivesse de aconselhar os jovens, recomendaria que fugissem, como de peste, do casamento com raparigas histéricas. Isto, quando ensina que é perigosa a pretensão de curar a histeria pelo casamento.
E o mesmo ensina Dujardin Beaumetz.
22. Satiríase: Patologia sexual que se caracteriza por uma excitação exagerada do homem; insaciabilidade sexual masculina; exacerbada excitação sexual masculina.
Mitologia Grega: Satyros era considerado um semideus sensual, libertino, com metade do corpo humano e metade de bode, com chifres, habitante das florestas, era representado com órgãos sexuais de dimensões acima da média e em ereção.
23. Caufeynou – “Folie Erotique”.
24. 1924.
25. Pe. Assunção Rolim, O.F.M.
26. Guibert – O Carácter.
27. Confessions – X, 49.
28. Luc., XV, 13.
29. Is., IX, 12.
30. “Assim, Ximena Nunes, manceba de D. Afonso VI de Leão, fizera gravar, na pedra que cobriria a sua sepultura, em Santo André de Espinareda, um epitáfio, em latim, em que declarava que tinha sido amiga do rei (regis amica fui), e que a ele voluntariamente se entregou”. – Antero de Figueiredo, – Leonor Teles – Notas – p. 344.
31. César Cantú, tom. I – p. 426.
32. César Cantú, tomo III, p. 352.
33. César Cantú, tomo III, p. 389.
34. Lusíadas, Canto III.
35. Jesus Cristo, sua vida e seu tempo, Vol. III, p. 180.
36. Sujeira, imundície.
37. Em plena guerra, p. 214, por Fr. Pedro Sinzig, OFM.
38. Mat., XIX, 6.
39. No caso da população humana, segundo Malthus, a peste, a fome, e a guerra atuariam como dispositivos de controle da explosão demográfica.
Na falta desses 3 elementos, haveria fatalmente uma explosão demográfica, que, sempre segundo Malthus, estava em curso desde a Revolução Gloriosa, na Inglaterra (1688 -1689). Assim, a solução defendida por Malthus seria:
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Teoria_populacional_malthusiana
40. Dr. Viveiros de Castro, em uma Conferência no Círculo Católico do Rio de Janeiro, em 12 de setembro de 1912.
41. Malaquias II, 14.
42. Malaquias II, 15.
43. Fementida, é o mesmo que: enganosa, fingida, pérfida. Cfr. https://www.dicio.com.br/fementida/
44. Salmo XLVIII, 13.
45. Mat., XVIII, 6.
46. Pe. Antônio Vieira, Sermões, vol. II.
47. Salmo LXXX, 13.
48. Cogitanti mihi Mariae Magdalénae poeniténtia, flere magis libet, quam áliquid dicere.
49. Salmo 114, 3.
50. Salmo 17, 5.
51. Salmo 83. Cfr. Deut., 28, 15-46.
52. Trenos V, 16.
53. I Cor., II, 14.
54. Juízes XVI, 21.
55. Deuteronômio XXII, 23.
56. Levítico XX, 10; Deuteronômio XXII, 22.
57. Gênesis XXXVIII, 24.
58. Jesus Cristo, Sua Vida e Seu Tempo, Pe. Hipólito Leroy, S.J.
59. Cursi – Lezioni sopra i quatro Evangeli, t. III, p. 363.
60Informações interessantes; gentilmente me forneceu o querido Amigo, ilustrado Missionário Rev. Sr. Pe. Alberto Teixeira de Carvalho que, durante 29 longos anos, exerceu na África um apostolado fecundo.
À evidência patenteiam elas a aversão, a instintiva repugnância que têm os pretos pelos vícios que mais degradam a espécie humana.
Os pretos de quem se fala, às vezes, tão desdenhosamente! Se alguém, entre eles, praticou o crime de bestialidade (o que é raríssimo), é morto, e bem assim o animal que foi instrumento do crime.
Se alguém praticar o crime de Sodomia, qualquer pessoa da família da vítima tem obrigação de matar o criminoso.
O irmão da rapariga ou mulher violada, mata o sedutor em qualquer parte onde o encontrar.
O código indígena, que foi visto e apreciado pelo referido Missionário, e que tinha a data de 1856, determina que o adúltero seja marcado na testa com um ferro em brasa. Tudo isto é ainda hoje legislação vigente.
Mas já, entre os pretos, a lei não é letra morta como é entre nós, para quase todas as baixezas e ignomínias.
Naquela região da África Ocidental, percorrida e apostolizada pelo Rev. Sr. Pe. Teixeira de Carvalho, se um galanteador esboça um gesto ou tem uma palavra irreverente, provocadora, de manifesto desejo libidinoso, a rapariga foge, num receio apavorante, cheio de tristeza.
Garante-me o Rev. Sr. D. Leão Dias Pereira, da Congregação Beneditina Fluminense, que, aos Padres da sua Ordem, que têm missionado no interior do Brasil, tem ouvido referir impressões semelhantes às que de algumas regiões da África Ocidental arquivei.
E o Rev. Arcipreste de Mondim de Basto, Sr. Pe. José F. Gonçalves Fraga, teve a gentileza de me fornecer o seguinte depoimento que é também interessante e autorizado: “… Estive no Brasil nove anos e conheci de perto os costumes e a moral daquele povo tão heterogêneo. Não há dúvida alguma que o Brasil pode dar lições aos brancos da Europa e que o povo tem um verdadeiro amor à pureza.
Eu, que conheço Portugal, sinto repugnância quando penso nas misérias da minha terra. Nas grandes cidades do Brasil, há imoralidade; mas os piores são elementos europeus e da América do Norte.
No interior do Brasil, aonde sempre vivi, há um grande respeito entre os casados; e se há algum adultério, o que é raríssimo – é sempre filho da situação de dependência de alguns colonos para com o fazendeiro, quase sempre europeu ou dele descendente.
O Brasileiro tem um edificante respeito pela sua noiva.
E entre o povo daquela nação irmã, as noivas ostentam garbosamente as flores de laranjeira no dia do Casamento, por não darem motivo ultrajante para o encantador simbolismo.
É raríssimo alguma tornar-se indigna do ramalhete nupcial”. Um caso por mil, esclarece aquele meu ilustre Amigo, ex-Vigário no Brasil.
E informa ainda: “Há, é certo, alguns abusos”. E explica-os por uma disposição da lei que obriga ao Casamento o deflorador da rapariga menor.
Os abusos consistem nesta ignomínia descrita assim pelo Senhor Padre Fraga: “Algumas vezes, os pais aconselham as filhas a provocarem aqueles que não têm intenção de casar com elas”. Isto, para os constrangerem ao Casamento ou os explorarem por meio de um processo, que a legislação Brasileira faculta.
Da Carta do Sr. Arcipreste de Mondim, transcrevo ainda, textualmente: “rapaz que namore para casar não é capaz de um abuso”. “Na minha Paróquia havia, em média, 500 batizados anualmente. E os filhos naturais eram 8 a 10, o máximo”.
E afirma ainda aquele meu Colega, – em harmonia com o Sr. Pe. Alberto de Carvalho, quando fala da África: – “Crimes contra a natureza é coisa que em muitas regiões não se conhece. Lá aparece um ou outro caso isolado, mas nunca o hábito”.
O que é comprovadamente certo, é que aqueles povos têm horror aos crimes contra a natureza.
Respeitam os ditames da lei natural que muitos, muitíssimos civilizados, transgridem abominavelmente, caindo em hediondas abjeções monstruosas.
O sr. Comissário de Polícia Tenente-Coronel Ferreira do Amaral, entrevistado por um jornalista acerca das misérias de Lisboa, sobre a maneira de reprimir o vício e a libertinagem, recordando a sua demora entre selvagens, nas possessões do ultramar, afirmou: “Essa miséria, entre os selvagens, não tem condições de viabilidade, mas onde há um sinal de civilização, – influência do europeu, logo o selvagem se prostitui e é nos grandes centros do litoral que o flagelo começa a ser regulamentado”.
A Época, de 20 de Janeiro de 1924.
Nota final: Na descrição do Castelo de Anciães, feita por Argote, lê-se que, no Floral que El-Rei D. Fernando concedeu aos moradores de Anciães, estes “por homicídio e adultério eram obrigados a pagar sessenta soldos”.
61. César Cantú – T. V, pág. 122.
62. Jeremias V, 6. Segundo Teodoreto, o leão designa a Nabucodonosor; o lobo a Nabuzardan, o leopardo a Antíoco Epífanes. São Jerônimo entende que o leão é figura dos Babilônios, o lobo a figura dos Medos e Persas, o leopardo figura dos Macedônios.
A história repete-se… Há sinais, presentemente...
Nenhum comentário:
Postar um comentário