A ação de graças.
Cantar o cântico da Redenção.
Ao Cordeiro imolado, glória e bênção.
“E depois de dizer o hino, foram-se à montanha das Oliveiras”.1 Foram para ali na verdade; mas antes que Jesus Cristo partisse, passaram-se várias coisas, que veremos na continuação. Detenhamo-nos um momento sobre esse hino, sobre esse cântico de ação de graças e de alegria, pelo qual Jesus e Seus apóstolos findaram o santo mistério. Que podiam cantar aqueles que estavam saciados de Jesus Cristo e embriagados do vinho do Seu cálice, senão aquele de que estavam cheios? “O Cordeiro que foi imolado é verdadeiramente digno de receber a força, a divindade, a sabedoria, o poder, a honra, a gloria, a benção. E ouvi todas as criaturas que estarão no céu, na terra, debaixo da terra, no mar e dentro do mar, e tudo que está nesses lugares, que clamavam dizendo: Ao que está sentado no trono e ao Cordeiro, benção, honra, glória, e poder pelos séculos dos séculos!2
O mundo canta as alegrias do mundo; e nós, que é que cantaremos, depois de recebermos o dom celeste, senão as alegrias eternas?
O mundo canta as suas paixões, os loucos e criminosos amores; e nós, que é que cantaremos, senão Aquele a quem amamos?
O mundo faz ecoar de todos os lados as suas alegrias dissolutas; e que é que se ouvirá da nossa boca, depois de bebermos esse vinho que germina as virgens, senão cânticos de sobriedade e de continência? Cheios da morte de Jesus Cristo, que acaba de ser-nos resposta diante dos olhos, e da carne do Seu sacrifício, que cantaremos senão: “O mundo está crucificado para mim, e eu para o mundo”?
Não vos vejais sem dizer este hino, sem recitar o cântico da redenção do gênero humano. Como Moisés e o antigo povo cantaram com tanta alegria o cântico da sua libertação, depois de saírem do Egito e passarem o mar Vermelho! Cantai também, povo liberto, cantai o cântico de Moisés e o cântico do Cordeiro, dizendo: “Como as vossas obras são grandes e admiráveis, ó Senhor, Deus onipotente! Como os Vossos caminhos são justos e verdadeiros, ó Rei dos séculos! Senhor, quem não Vos temeria, e quem não glorificaria o Vosso nome? Porque só Vós sois santo: todas as nações virão, e adorarão ante a Vossa face, porque os Vossos juízos são manifestos. Destruístes por Vossa morte aquele que tinha o império da morte, isto é, o diabo; o príncipe deste mundo está expulso: e, prendendo à Vossa cruz e a célula da nossa condenação, desarmastes os principados e as potências, e os levastes em triunfo altamente, e à face de todo o universo, depois de os haverdes vencido pela Vossa cruz” (Livros santos, passim). E agora, em memória de tão bela vitória, oferecemos por Vós e em Vós, a Vosso Pai celeste, este sacrifício de louvores e de ações de graças, que no fundo outra coisa não é senão Vós mesmos, porque, não temos senão a Vós para oferecer por todas as graças que havemos recebido por Vosso meio.
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Fonte: Jacques-Bénigne Bossuet, Bispo de Meaux, “Meditações sobre o Evangelho” – Opúsculo “A Eucaristia”, Cap. XXVIII, pp. 124-126. Coleção Boa Imprensa, Livraria Boa Imprensa, Rio de Janeiro/RJ, 1942.
1. Mat. XXVI, 30.
2. Apoc. V, 12-13.
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