Oração a Nosso Senhor e
Ato de Fé na Sua Presença Eucarística
Cumpre confessar, ó Jesus meu Salvador, que quisestes testemunhar-nos vosso Amor por efeitos incompreensíveis. Esse Amor foi à causa dessa União Real pela qual Vos fizestes homem. Esse Amor levou-Vos a imolar por nós esse mesmo Corpo, tão realmente quanto o tomastes; e querendo Vós, ó Jesus, fazer sentir a cada um de vossos filhos, dando-Vos a ele em particular, a caridade que testemunhastes a todos em geral, instituístes o admirável Sacramento da Eucaristia, essa Obra-prima da vossa Onipotência, esse raro efeito da vossa bondade, pelo qual nos tornais a todos participantes do vosso Corpo Divino, a fim de persuadir-nos por esse modo de que foi por nós que o tomastes e que o oferecestes em sacrifício. Portanto, se os Judeus, na Antiga Aliança, comiam a carne das hóstias pacíficas oferecidas por eles, como um sinal da parte que tinham nessa imolação, assim também, ó Jesus, quisestes, depois de Vos fazerdes Vós mesmo a nossa Vítima, que comêssemos efetivamente essa Carne do nosso sacrifício, a fim de que, a manducação atual dessa Carne adorável fosse um testemunho perpétuo, para cada um de nós em particular, de que foi por nós que a tomastes e imolastes.
Ó prodígio de bondade! Ó abismo de caridade, ó ternura do amor de nosso Salvador! Que excesso de misericórdia! Ó Jesus, que invenção da vossa sabedoria! Mas que confiança nos inspira a manducação dessa Carne sacrificada pelos nossos pecados! Que segurança da nossa reconciliação conVosco! Era proibido ao antigo povo comer da hóstia oferecida pelos seus crimes, para lhe fazer compreender que a verdadeira expiação não se fazia naquela Lei pelo sangue dos animais. Todos estavam como que interditos por essa proibição, sem poder atualmente participar da remissão dos pecados.
Não é assim que tratais vossos filhos, divino Salvador; mandai-nos comer o vosso Corpo, que é a verdadeira Hóstia imolada pelas nossas culpas, para nos persuadir de que a remissão dos pecados é efetuada no Novo Testamento. Também não quereis, ó meu Deus, que esse mesmo povo comesse sangue, e uma das razões dessa proibição era que o sangue nos é dado para a expiação das nossas almas. Mas, ao contrário, dais-nos vosso Sangue, e nos ordenais bebê-lo, porque ele é derramado pela remissão dos pecados, assinalando-nos por essa forma, ao mesmo tempo, que a manducação do vosso Corpo e do vosso Sangue é tão real na Santa Mesa, quanto à graça e a expiação dos pecados é atual e efetiva na Nova Aliança.
Assim é, meu Deus, creio-o; é a Fé da Vossa Igreja; é o que Ela sempre creu, apoiada na vossa Palavra; porquanto Vós mesmo o dissestes por vossa Boca Sagrada: “Tomai, é meu Corpo; bebei, é meu Sangue”. Creio-o; a vossa Autoridade domina sobre toda a natureza. Sem me incomodar, pois, de como executais o que dizeis, apego-me, com a vossa Igreja, precisamente às vossas Palavras. Aquele que faz o que quer, opera o que diz falando; e Vos foi mais fácil, ó Salvador, forçar as leis da natureza, para verificar a vossa Palavra, do que nos é fácil acomodar à nossa mente a interpretação violenta, que subverte todas as leis do discurso. Essa Palavra Onipotente tirou todas as coisas do nada: ser-lhe-ia, pois, difícil converter noutras substâncias aquilo que já existiu?
Creio Senhor; mas aumentai a minha fé: tornai-a vitoriosa no combate que lhe dão os sentidos. Este Mistério é um Mistério de Fé, não escute eu, pois, senão o que ela me ensina d'Ele, creia eu, sem nenhuma dúvida, que o que está no Altar é o vosso próprio Corpo, que o que está no Cálice é o vosso próprio Sangue, derramado pela remissão dos pecados. Amém.
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Fonte: Jacques-Bénigne Bossuet, Bispo de Meaux, “Meditações sobre o Evangelho” – Opúsculo “A Eucaristia”, Cap. XXIX, pp. 127-130. Coleção Boa Imprensa, Livraria Boa Imprensa, Rio de Janeiro/RJ, 1942.
FIM
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