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"Uma vez que, como todos os fiéis, são encarregados por Deus do apostolado em virtude do Batismo e da Confirmação, os leigos têm a OBRIGAÇÃO e o DIREITO, individualmente ou agrupados em associações, de trabalhar para que a mensagem divina da salvação seja conhecida e recebida por todos os homens e por toda a terra; esta obrigação é ainda mais presente se levarmos em conta que é somente através deles que os homens podem ouvir o Evangelho e conhecer a Cristo. Nas comunidades eclesiais, a ação deles é tão necessária que, sem ela, o apostolado dos pastores não pode, o mais das vezes, obter seu pleno efeito" (S.S. o Papa Pio XII, Discurso de 20 de fevereiro de 1946: citado por João Paulo II, CL 9; cfr. Catecismo da Igreja Católica, n. 900).

quarta-feira, 8 de março de 2023

ENCONTRO DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO, NO TEMPLO, POR SÃO JOSÉ E NOSSA SENHORA.


A vida humana encerra tantas surpresas, ora alegres, ora tristes, com muito mais frequência tristes que alegres. Em vão se é previdente, indaga-se a respeito do futuro e se está preparado contra os golpes adversos da fortuna, entesourando a experiência do passado. Quando menos se pensa, eis que um incidente inesperado e nem sempre agradável, muda com frequência a posição do indivíduo; são as surpresas que Deus reserva a cada um. Foi Deus que quis manter na obscuridade o futuro de nossa vida, do próprio amanhã, a fim de compreendermos que só Ele é o verdadeiro Senhor que dispõe de nós e de nossas coisas, e que só a Ele devemos confiar os nossos destinos.

A nossa vida é como uma carreira no desconhecido, que só se deixa adivinhar e compreender em face da cruel realidade. Foi o que sucedeu a São José com a perda de Jesus aos doze anos.

Os hebreus celebravam anualmente três grandes Solenidades: a Páscoa, que lhes recordava a libertação da escravidão do Egito; o Pentecostes, em memória da publicação da Lei de Deus ao pé do Monte Sinai; e festa dos Tabernáculos, em memória de sua entrada na Terra Prometida.

Tais festas duravam oito dias. Eram celebradas em Jerusalém, porque no grande Templo se conservava a Arca do Antigo Testamento. Dessas três festas, a principal e mais solene era a da Páscoa, e todos os hebreus, até os que habitavam nos mais longínquos países, tinham a obrigação de se dirigirem ao Templo, à exceção das mulheres e dos meninos com menos de doze anos.

Ora, aproximava-se a Páscoa; já resplandeciam em toda a parte, nos cimos das montanhas, os fogos noturnos, para anunciar o novilúnio do mês de Nisan; e, enquanto se aplanavam os caminhos, todo o povo se dispunha à peregrinação para a grande festa em Jerusalém.

Nas povoações e cidades, reuniam-se as caravanas, dirigindo-se para a Capital, e os peregrinos, em tais viagens de devoção, caminhavam, para maior modéstia, separadamente os homens das mulheres, fazendo ressoar por toda a parte o alegre cântico dos Salmos. Os meninos podiam ser acompanhados tanto pelo pai quanto pela mãe.

Jesus chegara aos doze anos e tornara-se, segundo a expressão hebraica, “filho da Lei”, isto é, achava-se obrigado aos jejuns prescritos e a presenciar a festa da Páscoa em Jerusalém.

São José, observador perfeito da Lei, jamais faltava a esse dever religioso e, decerto, quando o Divino Menino chegou à idade aprazada, julgou de seu dever conduzi-Lo consigo. Maria Santíssima não ia por dever, pois a Lei não obrigava as mulheres, mas por devoção, como aliás faziam muitas outras. E assim, os corações de Jesus, de José e de Maria, desde o momento em que se conheceram, estiveram sempre unidos pelo mais santo amor, no lar e fora dele, no trabalho e na solenidade.

Os peregrinos eram esperados na cidade pelos amigos e parentes, e os outros podiam encontrar o necessário com ínfima despesa.

A 14 de Nisan, comia-se o Cordeiro Pascal, a 15 todos os homens deviam assistir às funções solenes no Templo, e, à tarde do mesmo dia, ofereciam-se as primícias do trigo. Após esta oferta, com que se abria a colheita daquele ano, muitos encetavam a viagem de regresso e os outros permaneciam na cidade por toda a Oitava da Páscoa.

Durante a viagem e a permanência da Sagrada Família em Jerusalém, nada aconteceu de particular; mas, não foi assim ao partirem da Capital, de regresso a Nazaré. O Menino Jesus, por sua grande amabilidade e admirável formosura, era sempre procurado e desejado pelos amigos e parentes; por isso, ao regressar a caravana de que fazia parte a Sagrada Família, José e Maria caminhavam respectivamente no próprio grupo e não perceberam a falta de Jesus. José julgava que estivesse com Maria e Maria O julgava com José.

Chegados à primeira etapa, sem Jesus, pensando que haveria de chegar com os parentes ou com alguns conhecido, ao princípio não se preocuparam demasiadamente. Mas qual não foi a dor de São José e de Maria, depois de O haverem esperado tanto, procurado e pedido notícias aos peregrinos que chegavam, ao não poderem encontrá-Lo nem saber coisa alguma a Seu respeito! Que noite de penas e ansiedade! Piores ainda foram os dias seguintes, em que os Santos Esposos, alquebrados pela fadiga e pela dor, retomaram o caminho de Jerusalém.

A cada passo, José espera encontrar Jesus, a cada passo que vê, pede notícias suas, mas sempre uma nova desilusão. Jesus não aparece, não responde à voz do pai angustiado que O chama pelo Nome. Quisera ao menos consolar sua Esposa, que o acompanha, prostrada pela dor de haver perdido o Filho, mas a dor lhe mutila a palavra nos lábios. Esforça-se por pronunciar palavras de conforto, mas impendem-no as lágrimas copiosas que lhe descem pelas faces.

Que terá acontecido? Onde estará? Será chagada talvez a espada predita por Simeão? Ah, quem pode compreender a amargura daqueles suspiros e daquelas lágrimas! Entre tantas dores na fuga para o Egito, ao menos tinha consigo o Amado Menino, e com Ele diante dos olhos, resignado deve graças a Deus pela provação. Mas agora… quem sabe?

Diz Orígenes, que São José, nessa circunstância, experimentou no coração dor mais amarga e tormentosa que a padecida pelos Mártires na violenta separação da alma e do corpo, causada pelos suplícios. E não podia ser de outra maneira, pois São José colocara todo o seu amor em Jesus, e este amor era a vida da sua vida. Perdido Jesus, era como que extinta a luz de seu olhos, roubada a alegria de seu coração, desaparecido o único bem que constituía o objeto contínuo de seus pensamentos.

O Menino subtraíra-se à vista dos pais por vontade de Deus. Depois de haver escolhido, em presença do Sacerdote, a profissão que devia exercer na oficina de Nazaré ao lado do pai terrestre, quis dar aos homens uma primeira lição da Missão Divina que Lhe fora confiada pelo Pai Celeste.

Deteve-se pois no Templo onde se achavam os principais Sacerdotes e Doutores da Lei, reunidos no sinédrio, e, com a amabilidade de seus gestos, com as interrogações que fazia e as sábias respostas que dava, atraiu a admiração de todos. Ao terceiro dia, com Sua inaudita sabedoria e superioridade de espírito, pasmou os Doutores que, para melhor ouvi-Lo, fizeram-No sentar entre eles em lugar de honra.

Não é difícil adivinhar, observa Meschler, que a discussão se referisse à vinda do Messias, e com esse assunto o Divino Mestre realizou uma espécie de revolução, enquanto aquele Sinédrio, quase divinizado, de sábios anciãos, não se dedignou de honrar a um Menino e de se deixar instruir por Ele.

É próprio da Divina Providência para com as suas almas fiéis, deixar que cheguem, em suas aflições, até aos extremos, e, quando por tal forma as achou dignas de seus favores, socorrê-las com as consolações celestes, abundante compensação de quanto sofreram. Assim, uma alma atribulada, ao se ver imersa em um mar de desolação, parecendo-lhe não vir mais conforto algum nem de Deus nem das criaturas, pode estar certa de que Deus se acha então mais próximo que nunca e, após havê-la assistido na tribulação como testemunho de seu valor, dar-lhe-á a coroa da vitória.

Assim sucedeu a São José e a Maria. Quando seus Corações não mais podiam suportar a plenitude da dor, perdida toda esperança de encontrar o seu Jesus, súbita inspiração lhes ilumina o pensamento, uma voz interior lhes diz que O procurem no Templo.

Um clarão de esperança lhes ilumina os pálidos semblantes, desfeitos pela longa angústia.

Correm ao Templo, entram, olham em derredor, quando… oh, que espetáculo se apresenta a seus olhos! O seu adorado Jesus sentava-Se, cheio de Majestade, entre os Doutores da Lei que, num círculo, ouviam maravilhados a sapientíssima doutrina a brotar-Lhe dos lábios.

A tal quadro, o Coração de José abandonou toda angústia e se encheu de consolação, não só por rever o seu Jesus, mas por vê-Lo objeto de admiração dos próprios Doutores da Lei; perdera-O desconhecido do mundo e encontrava-O irradiando a própria Divindade.

Mas a Mãe, opressa ainda pela dor sofrida, não obstante a consolação de achar-Se diante de seu Jesus, exclamou: Ah, Filho, que nos fizeste! Teu Pai e Eu Te procurávamos com tanta aflição!

O Salvador se ergueu, respondendo com Majestosa serenidade: Por que procurar-me? Não sabíeis que devo ocupar-me com o que diz respeito a meu Pai? E foi tal o esplendor divino que Lhe transpareceu no semblante a essas palavras, que todos silenciaram por reverência. Depois disso, reuniu-se aos pais, e, passando por entre a multidão emudecida e admirada, tomaram o caminho de Nazaré.

Era natural que Maria, com o seu Coração Materno tão aflito, prorrompesse naquela dolorosa exclamação, enquanto São José se conservou, também ali, o homem do silêncio e reflexão. O tácito desaparecimento com que Jesus, sempre obediente, lhes causara tantas penas, a entrada no Templo, fazendo-Se admirar por todos em um período de vida tão humilde e escondida, era sem dúvida um Mistério de meditação profunda; Mistério que foi como o prelúdio de Sua vinda como Messias e da peregrinação através da Palestina, revelando a Sua Divindade.

Nesse acontecimento se manifesta, sob diversos aspectos, a posição de São José na vida de Jesus, e se faz referência à participação do Santo na missão redentora do Salvador no Calvário à vista de Jesus moribundo, ali feriu, com Ela, também o Seu virgem Esposo.

Aprendamos de São José a considerar a perda de Jesus a maior de todas as desgraças. Tudo é vaidade, diz Salomão; para tudo neste mundo se acha remédio, mas, perdida a graça de Deus com o pecado, e excluídos do Céu para toda a eternidade, onde encontraremos remédio para a nossa mísera sorte? De que vale ganhar o mundo inteiro se se perder a alma? E que importa perder tudo, quando se salva a alma?


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Fonte: Rev. Pe. Tarcísio M. Ravina, da Pia Sociedade de São Paulo, São José – na Vida de Jesus Cristo, na Vida da Igreja, no Antigo Testamento, no Ensino dos Papas, na Devoção dos Fiéis e nas Manifestações Milagrosas; 1ª Parte, pp. 84-90. Edições Paulinas, Recife, 1954.


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