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"Uma vez que, como todos os fiéis, são encarregados por Deus do apostolado em virtude do Batismo e da Confirmação, os leigos têm a OBRIGAÇÃO e o DIREITO, individualmente ou agrupados em associações, de trabalhar para que a mensagem divina da salvação seja conhecida e recebida por todos os homens e por toda a terra; esta obrigação é ainda mais presente se levarmos em conta que é somente através deles que os homens podem ouvir o Evangelho e conhecer a Cristo. Nas comunidades eclesiais, a ação deles é tão necessária que, sem ela, o apostolado dos pastores não pode, o mais das vezes, obter seu pleno efeito" (S.S. o Papa Pio XII, Discurso de 20 de fevereiro de 1946: citado por João Paulo II, CL 9; cfr. Catecismo da Igreja Católica, n. 900).

domingo, 4 de junho de 2023

SÃO JOSÉ EM NAZARÉ.


Após a memorável Páscoa, a vida de São José em Nazaré* foi somente paz e felicidade contínua.

* A Santa Casa não era um suntuoso palácio, mas uma pobre casinha que ainda hoje se pode ver. No século IV, Santa Helena, mãe do grande Constantino, ordenou que fosse encerrada em um belo templo, com a seguinte inscrição: “Este é o Santuário onde se lançou o primeiro fundamento da salvação dos homens”.

Escreveu São Vilibrodo que, no século VIII, os cristãos tiveram de resgatá-lo por elevado preço, porque os infiéis queriam destruí-lo. Em 1291, Kalil (sultão do Egito), tendo-se apoderado de toda a Galileia com a matança de 25 mil cristãos, foi destruída a bela Igreja de Santa Helena que encerrava a Santa Casa, e estava esta para sofrer a mesma sorte, quando Deus ordenou aos Anjos que a transportassem para a Dalmácia, tendo saído muito cedo para os trabalhos do campo, viram estupefactos, à beira-mar, em um lugar chamado Rannizza, uma casa solitária de formato oriental e colocada sem alicerces no chão, em um local onde nunca se tinha visto nem casas nem cabanas. Fora de si com a maravilha, correram a anunciar o que tinham visto. Em breve se difundiu a fama do prodígio; o povo acorreu para examinar e admirar o misterioso edifício, construído de pedras vermelhas quadradas e unidas com cimento. Todos ficaram admirados com a singular estrutura, com a antiguidade, e especialmente não sabiam explicar como se mantinha ereta sem alicerce algum.

Mas a surpresa aumentou ao entrarem pela única porta, aberta a um lado. À direita da porta, abria-se uma única e estreita janela. Interiormente, as paredes achavam-se cobertas de pinturas representando os Mistérios de Nazaré. De um lado, um altar de pedra, encimado por uma Cruz grega. À direita do altar, uma imagem da Santíssima Virgem com o Menino Jesus no braço; à esquerda, perto do altar, um pequeno armário escavado na parede, contendo alguns vasos.

O Bispo do lugar e o governador da Dalmácia, Nicolau Frangipane, avisados do acontecido, e desejando certificar-se da verdade do misterioso depósito, enviaram a Nazaré algumas pessoas. Verificaram estas, que a Casa de São José fora arrancada dos fundamentos (ainda subsistentes); que não havia diferença alguma na natureza das pedras daqueles alicerces, comparada à das pedras da Casa achada na Dalmácia, nem tão pouco nas dimensões do edifício. Deram pois uma relação autêntica, confirmada com juramento; e logo os fiéis acorreram em multidão à Santa Casa. Os milagres operados aumentaram cada vez mais o concurso e devoção dos fiéis.

Três anos e meio após a sua chegada; isto é, a 10 de Dezembro de 1294, a Santa Casa desapareceu aos olhares dos desolados dalmacianos, transportada pelas mãos invisíveis dos Anjos para a Itália, a uma floresta de Renacanati. Mas, como muitos ladrões contaminavam o sagrado bosque com furtos e homicídios, a Santa Casa, oito meses depois, abandonou a floresta profanada, e foi colocada no meio de uma colina (agora chamada Batuorola), pertencente a dois irmãos. Sendo estes os depositários e recebendo grandes dons e numerosas ofertas, cederam à avareza e se deixaram perverter. Então, a Santa Casa se retirou, quatro meses depois de sua chegada, da colina, e, por um terceiro milagre, foi levada pelos Anjos para o meio de uma estrada pública, que vai de Recanati até a beira-mar, onde se encontra ainda hoje, encerrada no recinto da Catedral.

Dizem que nesse lugar existiu em outras épocas um Templo dedicado a alguma falsa divindade, circundado por uma floresta de louros, razão pela qual recebeu o nome de Loreto (laureto), como ainda se chama em nossos dias.

A atual Igreja de Nazaré está encerrada no convento dos franciscanos. À esquerda, por uma escada de mármore de 17 degraus, desce-se a uma capela subterrânea, onde se erguia a Casa da Bem-aventurada Virgem Maria. Ao fundo, há um altar erigido no lugar onde se operou o Mistério da Encarnação; e, sob o altar, no branco mármore do pavimento, leem-se as palavras: VERBUM CARO HIC FACTUM EST. A oficina de São José foi convertida em Capela. Os cristãos de Nazaré, ao acender de tarde as luzes, têm por hábito dizer: Louvado seja o nome de Jesus; e os outros respondem: Sempre e pelos séculos eternos.



Enquanto Maria cuidava da casa, fiava, cosia, pensava nas despesas ordinárias, ia buscar água, preparava as refeições, São José trabalhava em sua oficina.

O doce far niente1 e o passar o tempo comodamente estirados, como costumam os orientais, eram desconhecidos naquela casa, onde cada um costumava tomar o repouso diário, somente depois de ganho.

Quando a idade e as forças permitiram a Jesus ajudar o Pai nos trabalhos, começou este a ensinar-Lhe a arte que, segundo os desígnios de Deus, devia exercer como ação redentora.

Disse um ilustre orador: “Observai São José. Ergue-se do leito ao alvorecer do dia, oferece a Deus o tributo do reconhecimento e da oração, entrega à dileta Esposa e ao Divino Menino todos os encargos do dia, depois vai solícito à sua oficina para retomar cada dia aquele trabalho que lhe é tão caro por amor de Jesus e de Maria. Vede o bom Patriarca, firme na fadiga de seu pesado ofício; interrompe-o apenas para tomar a sua escassa refeição e continua enquanto lhe é suficiente a luz do dia. Abençoados suores, santíssimas fadigas, não pelo desejo de acumular dinheiro, mas para alimentar Jesus e Maria!”

A presença de Jesus na pobre oficina suavizava o peso da fadiga do Santo e inundava-lhe o espírito de celestial consolação. Ao ver-se diante do Supremo Artífice do Universo sob a forma de um rapazinho, sentia-se cheio de reverência e de ternura. Com que devoção trabalhava junto ao seu Divino Discípulo, preparava-Lhe o trabalho, instruía-O e observava com prazer os primeiros trabalhos!

Como seu Coração se terá fundido em ternura e alegria, ao tomar entre as mãos a pequenina destra do Divino Menino, para dirigi-Lo na prática e auxiliá-Lo nas dificuldades! Admirava a diligente perseverança de seu Celeste Discípulo, cujas mãos se enrijeciam na constante fadiga.

No sábado, após as funções da Sinagoga, quantas vezes terá conduzido pela mão o Filho de seu Coração às alturas do monte, donde Lhe terá mostrado a magnífica perspectiva do Hermon com Cesareia de Felipe a seus pés, os contornos do Lago de Genezaré, Cafarnaum, Betsaida; depois a fértil planície de Esdrelon com Naim, o Carmelo e as águas azuis do Mediterrâneo a confinar com o Céu! Aqueles nomes despertavam, na mente do jovenzinho silencioso, tantos pensamentos; já suspirava pelo tempo de operar maravilhas e prodígios pelas almas que O esperavam, para serem salvas. Mas tudo isso, eram ainda um Mistério para São José.

Diz São Lucas em seu Evangelho, que Jesus, na juventude, foi sempre submisso aos pais. Era Deus, a Sabedoria e a Santidade em Pessoa; todavia, na humanidade, crescia de menino a jovem, de jovem a homem. Ora, que benigna autoridade e que bondade de Coração terá exercido São José na família de quem era Chefe? Sabia estar-lhe submisso o Filho de Deus e a Mãe Santíssima, por isso, mais fazia por Si, mais servia que ordenava, e, por sua prudência e caridade, em sua pequena família, tudo era paz, alegria, união e amor.

Um celestial perfume de pureza alegrava aquelas sagradas paredes, entre as quais habitavam juntos o Cordeiro Imaculado, a Rainha das Virgens e o Seu Esposo, puro e santo como os Anjos do Céu. Maria Santíssima depende humildemente do Esposo confiado pelo Céu para seu guia e custódio; Jesus está submisso, qual obedientíssimo filho, a São José e a Maria; e José não tem outra vontade senão a de Deus.

Pouco a pouco o Menino se desenvolvia, aparecia na perfeita juventude e finalmente homem, em todo o vigor da idade viril. E São José sempre a contemplar a beleza do Deus humanado. Podia considerá-Lo nas suas mais diversas ações: no sono, no brilho da alegria, do amor e da contemplação. Quantos Mistérios terá lido naquelas pupilas! O centro de sua existência era Jesus, o seu Salvador, o Filho, o seu Bem, o seu Deus, e conhecê-Lo, amá-Lo e servi-Lo era o objeto de seu espírito, o seu trabalho, o seu desejo, todo o seu ser.

A incompreensível humilhação do Verbo Divino conservava José na mais profunda humildade e reverência. Quando, em vista da missão assumida, ordenava a Jesus, interiormente O adorava com respeito profundo. Vendo-se honrado pela obediência de seu Senhor, considerava cada vez mais o próprio nada, cumprindo assim as palavras do Espírito Santo: “Quanto maior fores, mais te humilhes em todas as coisas”.

A respeito da humildade do Santo Patriarca, diz Bossuet: “Quando Jesus aparecer como Juiz, veremos então, à luz da glória, o que agora não sabemos explicar na vida oculta de São José. Saberemos o que fez e mereceu com a sua humildade nos anos vividos com Jesus, na mais profunda obscuridade e abjeção. Tendo-se feito oculto e pequeno, então Jesus o fará grande e o exaltará na medida da humildade de seu Coração”.

A Casa de Nazaré foi casa de pobres; todavia, quem não inveja a paz e tranquilidade das Três Pessoas que a habitaram? São José, Chefe daquela Sagrada Família, não teria certamente trocado a pequenina casa pelo trono do mais poderoso rei da terra, e, voltando os olhos para Jesus e para a sua puríssima Esposa, teria dito: São estes os meus tesouros. Tenha o mundo tudo quanto estima, ama e julga necessário para tornar feliz e contente o homem: eu, acho-me contente e pago com Jesus e Maria. Sendo pobre, com Eles sinto-me rico e tranquilo.

São José possuía um Coração tão bem disposto para receber a verdade, que a Verdade, habitando com ele, deu-lhe certamente as mais belas, as mais santas e as mais sublimes lições. Por isso, afirmam diversos autores célebres, que Jesus revelou ao seu Pai adotivo, ao fim de sua vida, o grande Mistério da Santíssima Trindade, e lhe deu a conhecer, quanto pode ser concedido a um homem, o Pai Celeste, a Quem afetuosamente adoravam, oravam e obedeciam. Nos amplexos de amor santíssimo que Jesus tantas vezes trocou com São José, ter-lhe-á concedido em abundância, todos os dons e consolações que costuma derramar nas almas humildes e castas.

A São José foi dada a ciência de Deus; e isso nos faz compreender que a verdadeira ciência é conhecer a Deus e amá-Lo; ensina-nos que o caminho para alcançar esse conhecimento e amor é Jesus; Jesus ouvido com docilidade; Jesus meditado assídua e profundamente; Jesus estudado em Seus admiráveis exemplos; Jesus amado e servido com todo o coração, com toda a alma e com todas as forças. Foi este o grande segredo da santidade e da felicidade de São José na vida de Nazaré.


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Fonte: Rev. Pe. Tarcísio M. Ravina, da Pia Sociedade de São Paulo, São José – na Vida de Jesus Cristo, na Vida da Igreja, no Antigo Testamento, no Ensino dos Papas, na Devoção dos Fiéis e nas Manifestações Milagrosas; 1ª Parte, pp. 90-95. Edições Paulinas, Recife, 1954.

1.  Fazer nada; ócio.


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