“Imaginemos
uma grande procissão eucarística. A custódia é preciosa e
artística, os paramentos riquíssimos, o canto e a música
executados com perfeição, as regras litúrgicas guardadas com
toda a escrupulosidade, enorme concurso de povo, o comportamento
de todos tão respeitoso que não se poderia desejar melhor. Mas
tudo isso de nada serviria, nem teria razão alguma de ser, se a
branca Hóstia não fosse consagrada, ou tivesse cessado a Presença
Real de Nosso Senhor Jesus Cristo, por causa da corrupção das
espécies.
De
modo idêntico, pode-se chegar a uma Paróquia (o mesmo se pode
afirmar de outras instituições) onde a igreja é bonita,
grande, muito bem enfeitada. O badalar dos sinos é melodioso, o
órgão artístico, o arquivo é perfeito, a administração
procede regularmente e sem defeitos. O horário é guardado com
rigor, e as funções religiosas, pela solenidade e riqueza com que
se desenrolam, rivalizam com as da Catedral. O povo enche a
igreja e respeita o Pároco que, pelas suas raras qualidades
pessoais, é estimado e tido na mais alta consideração pelas
melhores famílias da cidade. Porém, apesar destas invejáveis
circunstâncias, pode-se e deve-se levantar o problema: 'As
almas foram consagradas, isto
é, foram postas na Graça de Deus? E essa consagração dura,
ou já cessou, porque os fiéis caíram e vivem em pecado
mortal?'

Está
claro que, neste último caso, faltaria ainda àqueles pobres fiéis
o 'unum
necessarium', que
é indispensável a todos para entrarem no Céu. É
Verdade de Fé que, se fossem atingidos pela morte no estado em
que se encontram, cairiam logo no Inferno.
Se
essa pergunta é vital para os fiéis, o é igualmente para o
apóstolo. O
fim de todo o apostolado é divinizar o homem, pondo-o na Graça
Santificante, sem a qual não se pode conseguir a salvação
eterna.
Com
a mesma franqueza com que o general Foch, dirigindo-se a um oficial
de ligação, dizia: 'Não me digais o que me pode agradar; mas
dizei-me simplesmente a verdade', nós, apóstolos, devemos
perguntar-nos: 'Quantos
fiéis vivem na Graça de Deus?'
Devemos
com toda a sinceridade dar a esta pergunta uma resposta conforme
à realidade.
Fechar
os olhos para não a ver, pior ainda, tecer rosadas ilusões e
depois embalar-se descuidadamente em cômodo otimismo, será
para o apóstolo, enganar-se a si mesmo e trair cruelmente
as almas.
Às vezes a prudência aconselha a esconder a gravidade do mal
ao doente, a fim de que não perca a coragem. É sempre necessário,
porém, que o médico a conheça em toda a sua realidade,
senão seria impossível aplicar os remédios. 'Ao médico é de
mister tocar na ferida', disse o Exmo. Card. D. Jaime de Barros
Câmara (Carta Pastoral de 1947).
Somente
fundamentando o trabalho apostólico sobre a realidade positiva
das coisas, ficaremos certos de nos tornarmos verdadeiramente
úteis às almas.
E
preservar-nos-emos de erros e ilusões no conhecimento da verdadeira
realidade das coisas, estudando-as e julgando-as à luz
segura e infalível da Fé.
O
apóstolo, mesmo o mais solícito, se prescindir destes critérios,
reduz-se a um 'currere
quasi in incertum', a
um 'pugnare,
aërem verberans' (cfr.
I Cor. 9, 26).
Quem
combate golpeando o ar, faz da batalha um jogo de 'cabra-cega'. E
assim diverte os inimigos em lugar de pô-los em fuga. Ainda
mais, dá-lhes tempo e meios de se organizarem e reforçarem
melhor, preparando maiores ruínas.
Por
isso, todo o apóstolo deveria fazer sua a observação do Pe. Plus:
'Quando
alguém passa perto de mim, pergunto-me muitas vezes: vive... ou está
morto? - Quanta gente vive e nem suspeita que já está morta há
longo tempo! Poucos têm a coragem de ficar sozinhos num
quarto junto a um cadáver; mas, apesar disso, muitos vivem
levando consigo uma alma morta' (R.
Pe. Raul Plus, S. J., “Viver com Deus”, cap. 3).
Quantos
são aqueles que levam uma alma morta?” (RR.
PP. Mário Corti e G. M. Gardenal, S. J., “Viver em Graça”,
cap. I, I, 2ª ed., Paulinas, 1961).
Um comentário:
Lamentavelmente essa verdade está esquecida pela nossa Igreja.Os fiéis já não se preocupam com isso.Será que está faltando quem lhes avise ou é indifetença mesmo? Lembremo-nos das palavras de Jesus: "Acaso quando o Filho do Homem voltar ainda haverá fé sobre a terra? É para meditar mesmo..
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