O Bom e o Mau Exemplo do Padre
"Colocamos o bom exemplo no fim
das virtudes eclesiásticas, não porque lhes é inferior sob o ponto de vista de
sua importância, mas porque as recorda e
encerra todas, e é como que o seu resumo completo.
Todas as virtudes se encontram no
santo Padre: por isso, o santo Padre edifica a todo o mundo pelo bom exemplo,
que dá.
Pelo contrário, o mau Padre, e
até o tíbio e relaxado, tem falta de algumas virtudes essenciais, ou praticam
muito imperfeitamente as fracas virtudes, que possuem; do mesmo modo sua vida
ou é escandalosa ou muito pouco edificante.
É impossível possuir ou não
possuir virtudes, sem edificar os povos pelo bom exemplo, ou levá-los ao mal
pelo escândalo. Eis o que fazia dizer a Massillon estas notáveis palavras: “O
exemplo é o primeiro dever de nosso estado; sem ele, ou todas as nossas funções
se tornam inúteis, ou são uma ocasião de queda e de escândalo para os povos,
que o Senhor nos confiou em Sua cólera”.
É preciso insistir sobre a
indispensável necessidade, que todo o Padre tem, de edificar os povos pelo
espetáculo de suas virtudes? Não basta um momento de reflexão para ver as
muitas e poderosas razões, que fazem ressaltar esta necessidade?
Lembraremos somente as
principais.
Devemos edificar por uma vida verdadeiramente
santa: Por que? Porque nosso divino Salvador nos dá por missão guiar os povos e
ser sua luz: Vos estis lux mundi. Que é uma luz debaixo do alqueire? Que
é um guia que corre para os abismos?
Devemos edificar: Ainda por que?
Porque a luz, que estamos encarregados de apresentar aos homens, deve
descobrir-lhes a santidade da nossa vida e o resplendor das nossas boas obras: Sic
luceat lux vestra coram hominibus ut videant opera vestra bona.
Devemos edificar os fiéis, porque
assim no-lo recomenda formalmente o grande Apóstolo e em termos, que não
admitem réplica; ponderemos bem todas as
suas palavras: In omnibus teipsum praebe exemplum bonorum operum, in
doctrina, in integritate, etc. Exemplum esto fidelium in verbo, in
conversatione, in charitate, etc.
Devemos edificar, porque a Igreja
em seus Concílios, os Santos por sua doutrina e por seus exemplos, recordam-nos
incessantemente esta rigorosa e fundamental obrigação.
Que coisa mais terminante que
estas palavras do santo Concílio de Trento, que todos nós conhecemos: Habitu,
incessu, sermone, ALIISQUE OMNIBUS REBUS nihil nisi grave, moderantum ac
religione plenum (sacerdotes) prae se ferant.
In incessu, já o tinha
dito Santo Agostinho, de quem o Concílio de Trento parece ter copiado as
palavras, statu, habitu et omnibus motibus vestris, nihil fiat quod
cujusquam offendat aspectum, sed quod deceat vestram sanctitatem.
“Todo pastor, que escandaliza,
diz o mesmo Santo, causa a morte às ovelhas , que deve apascentar”: Omnis
qui male vivit, in conspectu eorum quibus praepositus est, quantum in se est,
occidit oves.
“A vida dos padres, dizia em 1537
um Sínodo de Tours, é o livro dos leigos”: Liber laicorum vita clericorum.
Devemos edificar, porque nossa
missão essencial é salvar almas, e salva-las-emos muito mais pelo exemplo de
uma vida santa, do que por nossos talentos e por nossas pregações.
Devemos edificar, porque para um
Padre, não edificar, é escandalizar e escandalizar é arruinar, é aniquilar o
Sacerdócio; é fazer-se auxiliar do Demônio e destruir o edifício da salvação
dos povos, que Jesus Cristo erigiu por Seu Evangelho, por Seus trabalhos, por
Suas fadigas, por Seus suores e por Seu Sangue.
Devemos edificar, enfim, porque
se damos o exemplo dos vícios em vez do das virtudes, autorizamos os pecadores
a continuar suas desordens, e condenamo-nos à vergonha de não poder dar-lhes
uma repreensão. Como clamar contra os intemperantes, se eles podem dizer: Nosso
pastor faz como nós? Como fulminar o impudico, se ele pode dizer: Certo padre é
meu modelo? Como atacar o avarento, se ele pode dizer: Meu cura entesoura? Como
censurar o amante apaixonado do jogo, se ele pode dizer: Os padres passam nele
os dias e as noites?
O santo Padre pode estigmatizar
todos os vícios, porque sabe-se que não é escravo de nenhum; pode pregar as
virtudes sem excepção de uma só, porque sabe-se que as pratica todas.
Para glória de Deus, queridos
colegas, para honra de nosso Sacerdócio, conservemos a santa liberdade da
palavra; não alienemos nunca o direito, que sempre devemos ter, de combater o
vício e preconizar a virtude...
… Desgraçado ele (o Padre), se
deixa de falar como Deus, para falar como homem!..."
Fonte: Abade H.
Dubois, "O Padre Santificado", pp. 11, 261-279; Trad. do Francês pelo Pe. M. J.
Valente; Livraria Internacional de Ernesto e Eugênio Chardron,
Porto/Braga, 1878.
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