"Nenhuma
ideologia pode cancelar do espírito humano a certeza de que só existe
matrimônio entre duas pessoas de sexo diferente, que através da
recíproca doação pessoal, que lhes é própria e exclusiva, tendem à
comunhão das suas pessoas." (Bento XVI)
Depois de longos meses de discussões e intensos debates públicos, a
Assembleia Nacional da França - espécie de Câmara dos Deputados -
aprovou por 331 votos a favor e 225 contra a lei que reconhece as uniões
homossexuais como família e o direito à adoção por esses pares. A
decisão foi tomada nesta terça-feira, 23/04, sob forte pressão contrária
dos franceses. Embora a ideologia gay veja o fato como uma
vitória, na verdade, ele constitui uma derrota tanto para os
homossexuais, quanto para a França, outrora "filha mais velha da Igreja".
Nesta polêmica sobre as uniões homossexuais, é recorrente a acusação
de que aqueles que se posicionam contrários a essas propostas sejam
motivados por preconceito ou fundamentalismo religioso. Acusação
nada mais falaciosa, pois a verdade fundamental de que o matrimônio
seja algo genuinamente formado por um homem e uma mulher não é, nem
nunca foi, de ordem religiosa, mas natural. Por isso não é
justa a argumentação laicista que pretende excluir os católicos dessa
discussão, pois ela fere diretamente o ordenamento jurídico da sociedade
e sua moral.
Quando a Igreja se posiciona nestes temas relacionados à moralidade -
leia-se aborto, uso de células-tronco embrionárias, camisinha, etc. -
ela não o faz por dogmatismos, mas por fidelidade à racionalidade. Assim
recordava o Santo Padre Bento XVI no seu discurso ao Parlamento Alemão:
"o cristianismo nunca impôs ao Estado e à sociedade um direito
revelado, um ordenamento jurídico derivado duma revelação. Mas apelou
para a natureza e a razão como verdadeiras fontes do direito".
A equiparação das relações homossexuais ao matrimônio nasce
justamente de uma frágil compreensão a respeito da pessoa humana.
Entende-se "pessoa" como apenas o aspecto consciente e volitivo do eu.
Neste sentido, o corpo seria um mero instrumento e não parte
constitutiva da pessoa humana. Com efeito, quando se aceita essa
proposição dualista do ser humano, abre-se espaço para qualquer tipo de
relação, pois a unidade pessoal não seria mais através dos corpos, ao
contrário, as pessoas se uniriam emocionalmente. Ora, salta aos olhos o
absurdo desse raciocínio.
Contra essas proposições, o professor de jurisprudência da
Universidade de Princeton, Robert P. George, recorda o direito
matrimonial histórico e aquilo que Isaiah Berlin (1909-1997) chamou de
tradição central do pensamento ocidental. Segundo o professor, "longe de ser um mero instrumento da pessoa, o corpo é intrinsecamente parte da realidade pessoal do ser humano".
Dessa maneira, George conclui que "a união corporal é, pois, união
pessoal, e a união pessoal integral - a união conjugal - está fundada na
união corporal".
O que Robert P. George defende pode ser claramente encontrado na
Teologia do Corpo do Bem-aventurado João Paulo II, ou seja, a unidade
pessoal do homem e da mulher que decorre do ato sexual. Quando ambos se
unem formam um único organismo. Isso só é possível graças à natureza
sexual do homem e da mulher. Mesmo que o casal seja estéril, a sua
relação forma um único organismo, pois seus órgãos estão naturalmente
ordenados para essa união. E aqui, a crítica da ideologia gay cai por
terra, já que nenhum de seus órgãos são capazes de se unirem de fato num
único organismo, como acontece na união sexual entre heterossexuais.
Ainda sobre o raciocínio de Robert P. George, vale a pena citar este parágrafo de um artigo seu publicado na Revista Communio:
"O que é singular acerca do casamento é o fato de se ver
verdadeiramente uma partilha integral de vida, uma partilha fundada na
união corporal tornada singularmente possível pela complementaridade
sexual de homem e mulher - uma complementaridade que torna possível a
dois seres humanos tornarem-se, na linguagem bíblica, uma só carne - e
que, portanto, torna possível a esta união de uma só carne ser o
fundamento de um relacionamento no qual é inteligível a duas pessoas se
ligarem uma a outra em votos de permanência, monogamia e fidelidade".
Fica claro, assim, que de forma alguma a Igreja está privando os
homossexuais de um direito civil ou marginalizando-os, como alguns mal
intencionados querem sugerir. Muito pelo contrário, a Igreja apenas
questiona as expressões de "amor" que não estão fundamentadas na verdade
acerca do ser humano e as ideologias interessadas em solapar a família,
privando-a de sua identidade. Aprovar as uniões homossexuais é dar
carta branca para todo tipo de união que, a pretexto de um
sentimentalismo duvidoso, queira exigir do Estado direitos e subsídios
que, a priori, deveriam pertencer somente à família.
Apesar dessa lamentável decisão dos políticos franceses, a Igreja continuará a defender a dignidade da família e os seus direitos.
A Igreja continuará firme na defesa do sagrado matrimônio, pois crê na
verdade fundamental e tantas vezes lembrada pelo Papa Emérito Bento XVI
de que "nenhuma ideologia pode cancelar do espírito humano a
certeza de que só existe matrimônio entre duas pessoas de sexo
diferente, que através da recíproca doação pessoal, que lhes é própria e
exclusiva, tendem à comunhão das suas pessoas."
Por: Equipe Christo Nihil Praeponere
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