“Como
declara o Concílio de Trento,
na terra não se pode ter a certeza da própria Predestinação, a
não ser por Revelação Especial. Nenhum dos justos, a não ser por
Revelação Especial, sabe se perseverará nas boas obras e na
oração...”.
O
Concílio de Trento iniciou as suas atividades em 1545 e as encerrou
em 1563; e Nosso Senhor aparece a Santa Margarida Maria em 1674, numa
sexta-feira pedindo a Hora Santa de Reparação nas quintas-feiras, e
faz a Promessa que mais tarde terá a denominação de “A Grande
Promessa”. 111 anos separam o grande Concílio de Trento da Grande
Promessa do Sagrado Coração de Jesus.
Promessas
Feitas a Todos que Honrarem
o
Sagrado Coração de Jesus Cristo
-
Dar-Lhes-ei todas as Graças
necessárias ao seu estado.
-
A paz reinará nas suas
famílias.
-
Consola-Los-ei em todas as
suas aflições.
-
Serei o seu refúgio seguro
na vida e, sobretudo, na hora da morte.
-
Derramarei abundantes bênçãos
sobre todas as suas empresas.
-
Os pecadores acharão sempre
no Meu Coração a Fonte e o Oceano infinito de misericórdia.
-
As almas tíbias, muda-Las-ei
em fervorosas.
-
As almas fervorosas,
eleva-Las-ei em pouco tempo a um alto grau de perfeição.
-
Abençoarei as casas em que
se achar exposta e honrada a imagem do Meu Sagrado Coração.
-
Darei aos Sacerdotes o dom de
abrandarem os corações mais endurecidos.
-
As pessoas que propagarem
esta Devoção, terão os seus nomes escritos no Meu Coração, de
onde jamais serão riscados.
-
A Grande Promessa:
Prometo, na excessiva misericórdia do Meu Coração, que o Meu Amor
Todo-Poderoso concederá a todos os que comungarem nas Primeiras
Sextas-feiras de nove meses consecutivos, a Graça da Penitência
Final (a Graça da Boa Morte), fazendo que não morram em desgraça
Minha, nem sem receber os Meus Sacramentos, e achando eles no Meu
Divino Coração um asilo seguro nessa última hora.
Explicações
das Promessas feitas
pelo
Sagrado Coração de Jesus
a
seus Devotos
1ª
Promessa
“Darei
a todos os devotos do Meu Coração
todas
as graças necessárias
ao
seu estado de vida”
I.
Na sociedade humana existem diversos estados. Cada um deles tem suas
satisfações, seus prazeres, como também seus deveres, trabalhos e
afanos.
Antes
de escolher um estado, é necessário consultar a Deus, examinar as
nossas disposições e faculdades para cumprir com os deveres do
estado a que aspiramos, a fim de não errar. Do contrário,
a carga e as dificuldades do estado, que escolhermos, pesarão tanto
sobre nossos ombros, que a vida se nos converterá em tormento.
É
certo que Deus dá graças particulares aos diversos estados e
vocações, para cumprir com os deveres inerentes a esses estados.
Contudo, vemos frequentemente pessoas descontentes com sua
sorte. E por que? É porque não sabem aproveitar as graças e
auxílios que Deus lhes dá.
II.
Que fazer nestas circunstâncias? Aguentar com paciência e
resignação os trabalhos, e tratar de cumprir com o nosso dever sem
desanimar.
Querer
o que Deus quer, é nossa felicidade na terra; pois, Deus quer
somente o nosso bem. “Seja
feita a Vossa Vontade, assim na terra como no Céu”, rezamos todos
os dias no Pai Nosso.
A
Vontade de Deus manifesta-se-nos nas obrigações de nosso estado.
Para melhor cumprir esta Vontade Divina, dirijamo-nos ao
Sagrado Coração de Jesus, que prometeu aos Seus devotos todas as
graças necessárias ao seu estado.
Provam esta verdade as páginas
do “Mensageiro do Divino Coração”, que relatam as graças
recebidas em diversas circunstâncias por várias classes de pessoas.
III.
É preciso que compreendamos a necessidade de não esperar sermos
devotos do Sagrado Coração, somente no momento ou nas
circunstâncias que nos põem em apuros. Não, a promessa é para
todos os que são devotos deste Divino Coração; quer dizer, para
aqueles que nunca deixarem de praticar esta devoção.
A proteção de Jesus é o
prêmio da nossa fidelidade, se nos recordamos d'Ele em todas as
circunstâncias da nossa vida. Se nos momentos de felicidade não nos
lembramos d'Ele, nos momentos difíceis como poderemos pretender que
nos atenda? Devemos conduzir-nos de tal modo que possamos dizer, até
com certo direito, esta súplica das ladainhas: “Coração de
Jesus, rico para todos os que Vos invocam, tende piedade de nós”.
Amém.
2ª
Promessa
“Concederei
a paz às Famílias daqueles que
tiverem
uma grande Devoção ao Meu Coração”
I.
Coisa bem desejável é a paz; onde ela existe, está a bênção de
Deus, e onde está Deus, não há tribulação.
“Et in terra pax hominibus,
bonae voluntatis – e na terra paz aos homens de boa vontade”:
assim cantaram os Anjos do Céu no Nascimento de Nosso Senhor Jesus
Cristo.
“Anjo de paz” se chama a
uma pessoa pacífica, porque se assemelha a esses Anjos, e porque é
ofício destes trazer a paz; enquanto, pelo contrário, trazer a
discórdia, a desunião, foi o ofício do Demônio no Céu,
desobedecendo a Deus, e no Paraíso terrestre, seduzindo a nossos
antepassados.
Que estado lamentável
apresentam a Família, a Sociedade e as Nações, se nelas não
reinar a paz! As consequências da discórdias experimentamos
atualmente. Ódios, suicídios, homicídios, vinganças, guerras e
misérias de toda sorte, são o resultado da falta da paz e união
nos povos.
II.
A fraqueza e as paixões humanas, triste herança do Pecado Original,
provocam discussões e contrariedades entre os homens. Porém, para
um bom cristão há muitos meios de reconciliação.
Um
deles é a palavra do Apóstolo São Paulo, que nos incita, dizendo:
“Não deixeis pôr-se o sol, estando zangados com alguém”.
E por que? Porque ignoramos a hora de nossa morte, que nos pode
surpreender e levar-nos ante o Tribunal de Deus, para darmos contas
de todas as nossas ações, palavras e pensamentos.
Outra
ocasião que se nos apresenta para nos reconciliarmos com o próximo,
é a assistência à Santa Missa nos Domingos e nas Festas, pois a
Sagrada Escritura nos diz: “Se te lembrares que teu irmão tem uma
coisa contra ti, vai primeiro reconciliar-te com ele, e então, vem e
oferece o teu sacrifício”.
Estas palavras significam que,
as nossas orações não serão aceitas por Deus, se guardarmos ódio
ou rancor ao nosso próximo. Antes do Santo Sacrifício da Missa
devemos, pelo menos de coração, reconciliar-nos com ele.
Uma terceira ocasião se nos
oferece pela recepção dos Santos Sacramentos da Confissão e
Comunhão; pois, claro está que não podemos esperar perdão dos
nossos pecados, se não perdoarmos a nosso próximo de todo coração,
conforme no-lo ensinou nosso Divino Salvador, ao rezar o Padre Nosso:
“Perdoai-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos
nossos devedores”.
Recebendo depois a Santa
Comunhão, abrigando em nosso coração o “Príncipe da Paz”,
isto é, a Jesus Cristo, que desceu do Céu para trazer a paz,
necessariamente temos de sentir em nós os efeitos de uma boa
Comunhão, que são a caridade, a paz e a concórdia.
Quantas almas há, que deixam
passar estas boas ocasiões, todas estas graças divinas que lhes
facilitariam a reconciliação com os seus irmãos! Contudo,
continuam em seu estado lastimável, levando ao sepulcro o ódio e o
rancor em seus corações, que lhes merecem as penas eternas.
III.
Ora, qual é então, o meio e remédio para manter em nós, nas
Famílias e na Sociedade a paz e a concórdia?
É o Sagrado Coração de
Jesus, que prometeu conceder a paz às Famílias daqueles que lhe
tivessem uma grande devoção.
Devemos
venerar ao Sagrado Coração não só por palavras e sentimentos, mas
também por fatos, imitando-O; pois, nos exorta a isso, dizendo:
“Aprendei de Mim, que Sou manso e humilde de coração, e achareis
descanso para vossas almas”.
Estejamos
também prontos a fazer sacrifícios para manter a paz com o próximo,
à semelhança de Nosso Senhor, que os fez imensos para nos
reconciliar com Seu Eterno Pai. Então, poderemos esperar o
cumprimento destas palavras: “Bem-aventurados os pacíficos, pois,
serão chamados filhos de Deus”.
Teremos o sublime título de “filhos de Deus” com Jesus Cristo, o
verdadeiro Filho de Deus, que é o “Príncipe da Paz”. E para que
se realize em nós esta preciosa promessa de Jesus, digamos-lhe:
“Coração de Jesus, paz e reconciliação nossa, tende piedade de
nós”. Amém.
3ª
Promessa
“Aqueles
que tiverem uma grande devoção
ao
Meu Coração, serão consolados,
por
Mim, nas suas aflições”
I.
É bem sabido que, nesta vida, todos os homens tem que passar por
muitas tribulações, penas e trabalhos, que são a triste
consequência do Pecado Original e da maldição de Deus sobre os
nossos antepassados, Adão e Eva no Paraíso terrestre.
Estamos num “vale de
lágrimas”, como dizemos na “Salve Rainha”.
Há homens perseguidos por
tribulações até à morte; a dor os acompanha como a sombra ao
corpo. Às vezes, assim como a sombra aumenta ao pôr-do-sol, assim
também os sofrimentos crescem no ocaso da vida, na velhice.
Há aflições que não se
pode, nem se quer confiar a outros, ou pelas quais não se encontra
consolação nem compreensão, pelo contrário, às vezes só
escárnios.
II.
Porém, não devemos desesperar. Existe um coração que excede a
todos em compaixão. É o Divino Coração de Jesus, que prometeu:
“Eu vos consolarei em todas as aflições”. É o Coração que
nas Ladainhas chamamos “cheio de bondade e amor”.
Quantas almas consolou o
Divino Mestre na Sua vida mortal! Consolou a viúva de Naim, Maria
Madalena, as mulheres piedosas que O seguiram na Via Sacra do
Calvário.
Jesus
cumpriu exatamente o que prometeu, dizendo: “Vinde a Mim todos os
que estais aflitos e carregados, e Eu vos aliviarei”.
Só a Seu povo não pode
ajudar nem consolar, pois, o Povo de Israel não o quis conhecer.
Jesus chorou sobre esse povo, manifestando assim a doçura e
misericórdia de Seu Coração, sempre disposto a salvar e perdoar.
Foram lágrimas de um Rei
sobre um povo pérfido, de um Pai sobre o filho desgraçado, de um
Amigo sobre o amigo perdido.
Como então, assim também
presentemente, Jesus vive entre nós. Nas Sagradas Hóstias dos
nossos tabernáculos palpita o Coração Divino do nosso Amigo, do
nosso Rei, do nosso Pai, sempre disposto a ajudar-nos e a
aliviar-nos.
Corramos com toda a confiança,
em nossas necessidades, a este Divino Coração, que há de enxugar
as nossas lágrimas.
III.
Observemos, contudo, que o Salvador não disse que os Seus devotos
nunca padeceriam contradições nem tribulações. Ele disse: “Eu
vos consolarei nas vossas aflições”.
Se
abrirmos a história dos Santos, veremos confirmadas as palavras da
Sagrada Escritura: “São muitas as tribulações que vem sobre os
justos, mas de todas os salva o Senhor”.
Dirigem-se
a todos os homens as palavras que Deus disse a Adão e Eva no Paraíso
terrestre: “Com o suor do teu rosto deves comer o teu pão... a
terra te dará abrolhos e espinhos”.
Por este motivo, todos os
homens, tanto os justos como os pecadores, tem que sofrer o peso de
enfermidades, raios, tempestades, terremotos, guerras e toda sorte de
desgraças.
Parece estranho que os justos
caiam sob esta lei das tribulações da vida.
Tem
que ser assim por muitas razões: primeiro,
por causa do Pecado Original; segundo,
para expiar as próprias culpas; terceiro,
para ter ocasião de praticar as virtudes; quarto,
para mostrar e provar a Deus a nossa fidelidade, segundo o exemplo do
paciente Jó.
Por isso, a súplica do Pai
Nosso: “livrai-nos do mal”, a devemos entender, principalmente,
do mal espiritual da nossa alma, isto é, do pecado, que é o maior
mal que existe no mundo.
É certo, que Deus não livra
os justos, nesta vida, de males temporais; porém, eles tem direito à
realização desta promessa do Salvador: “Eu vos consolarei nas
vossas aflições”.
IV.
Para participar desta promessa, não devemos começar a devoção ao
Sagrado Coração nos dias de tribulação; pois, a Sagrada Escritura
nos diz: “Lembrai-vos do Criador no tempo da mocidade, antes que
sobrevenham as tribulações”.
Portanto,
devemos venerar e amar o Sagrado Coração, sempre, em todos os
tempos, em todas as circunstâncias da vida, sejam estas felizes ou
adversas. Então, sim, teremos direito à promessa de Jesus: “Aqueles
que tiverem uma grande devoção ao Meu Coração, serão consolados,
por Mim, nas suas aflições”; e, a sermos ouvidos, quando nas
Ladainhas dizemos: “Coração de Jesus, fonte de toda a consolação,
tende piedade de nós”. Então, sim, poderemos exclamar com o
Apóstolo São Paulo: “Superabundo de alegria em toda minha
tribulação”.
Amém.
4ª
Promessa
“Àqueles
que tiverem uma grande devoção
ao
Meu Coração, serei um asilo seguro
na
vida e, principalmente,
na
hora da morte”
“A
vida do homem sobre a terra é um combate contínuo”,
diz a Sagrada Escritura.
Com efeito, nós mesmos bem
experimentamos este combate. Temos de combater continuamente contra o
tríplice inimigo de nossa salvação: a carne, o Demônio e o mundo.
Um
deles está em nós mesmos; pois, como diz o Apóstolo: “A carne
recalcitra contra o espírito”;
quer dizer, a concupiscência, as paixões, as más inclinações da
nossa natureza corrupta querem dominar o espírito, arrastando-nos ao
pecado e aos vícios.
O
segundo inimigo é a mesma Serpente infernal que seduziu os nossos
primeiros pais no Paraíso terrestre, e que, tendo inveja de nossa
sorte, nos rodeia, conforme se expressa São Pedro, como um leão
rugente, procurando devorar-nos.
O terceiro inimigo é o mundo,
que, com suas frivolidades, insinuações e maus exemplos, nos induz
a transgredir os Mandamentos de Deus.
Vemos, pois que, em todos os
lugares, tempos e idades temos de lutar contra este tríplice inimigo
da nossa alma. Teremos descanso somente no sepulcro.
II.
Não havemos de desanimar. Assim como no Antigo Testamento havia
certas cidades para refúgio dos perseguidos e condenados, onde estes
encontravam asilo para pôr-se a salvo, assim também nós
encontraremos asilo seguro no Sagrado Coração de Jesus contra as
tribulações, tentações e ataques do Demônio, do mundo e da
carne. Isto nos prometeu Jesus, dizendo: “Ser-lhe-ei seguro asilo
na vida, porém, especialmente na hora da morte”. Sim, na hora da
morte, nessa hora tão terrível, da qual depende nossa eterna sorte,
nesse transe difícil, o Demônio redobra seus esforços para nos
perder.
Nos grandes hospitais,
especialmente, se pode bem observar e presenciar os efeitos da
devoção ao Sagrado Coração, na morte tranquila e serena de seus
devotos, e na desesperada e triste dos que não creem.
Mesmo nosso Divino Salvador
quis experimentar uma agonia dolorosa; cravado na Cruz, não tendo
consolação nem do Seu Pai celeste, exclamou: “Meu Deus, por que
Me abandonaste?”
Prevendo desde a Cruz a morte
de todos os homens, e em todos os tempos, resolveu abrir-lhes um
Fonte especial de graças para essa temida hora, um refúgio seguro
dentro de Seu Divino Coração, aberto pela lança do soldado.
III.
A promessa do Salvador tem importância especial para os nossos
tempos, em que, pelas novas invenções, e pela atividade e comércio
da via moderna, estamos expostos a tantos perigos, desgraças e a uma
morte repentina. Os diários, continuamente, comentam as desgraças
provocadas pela atividade, e os mil perigos que se encontram nas ruas
da cidade. Verifica-se, a cada passo, a verdade destas palavras: “No
meio da vida estamos rodeados pela morte”.
Daí a necessidade de vivermos
sempre preparados. Sabemos, pela Doutrina Cristã, que, para obtermos
a absolvição dos pecados mortais, precisamos do Sacramento da
Confissão, feita, pelo menos, com atrição, ou arrependimento por
termos merecido o Inferno. Porém, não nos podendo confessar, é
necessário um ato de contrição perfeita ou de amor, isto é,
sentirmos pena e dor por termos ofendido a um Deus tão bom e tão
grande, a nosso Pai e Benfeitor.
Por isso, assegurarmo-nos de
uma morte ditosa, temos de venerar e amar ao Divino Coração de
Jesus. Ele não deixará morrer sem Sacramentos os Seus devotados
filhos ou, pelo menos, sem ter a contrição perfeita; pois, é do
Sagrado Coração, dessa Fonte de amor, que haurimos o amor.
“Oh! Quão suave e doce é a
morte de quem, durante a vida, venerou o Coração d'Aquele que um
dia nos há de julgar!” Assim exclamava Santa Margarida Maria
Alacoque, e assim foi a morte desta esposa predileta do Divino
Coração.
Para alcançarmos morte
semelhante, digamos todos os dias: “Coração de Jesus, que
padecestes a agonia, tende compaixão dos moribundos, e também de
nós, quando estivermos para morrer”.
“Coração de Jesus,
esperança dos que morrem em Vós, tende piedade de nós”. Amém.
5ª
Promessa
“Derramarei
abundantes bênçãos sobre as
empresas
dos devotos de Meu Coração”
I.
Muitas vezes ouvimos dizer: “Este homem não tem sorte; fulano de
tal não tem a bênção de Deus; aquele outro nasceu para ser
desgraçado”.
Se
bem que não alcancemos em nossa vida, tudo o que desejamos e
pretendemos, isto ainda não é prova de que não temos a bênção
de Deus; pois, Ele mesmo nos diz: “Os Meus pensamentos não são
vossos pensamentos, e vossos caminhos não são Meus caminhos”.
Acontece a muitos lhes correr
a vida de modo bem diverso do que se imaginavam na mocidade; porém,
isto lhes acontecem por sua própria ventura. Eles não o
compreendem, e por isso desanimam.
Contam que um europeu queria
partir para a América. Chegando ao porto, o vapor, no qual devia
embarcar, já tinha partido. Aquele homem tornou-se triste e abatido.
Ao final de alguns dias teve a notícia de que o vapor tinha
naufragado.
De igual maneira acontece em
nossa vida. Se fossemos dirigidos, exclusivamente, por nossa própria
vontade, muitas vezes teríamos naufragado.
II. Portanto, se o
Coração Divino nos promete a bênção, isto significa que Ele
governa e guia as nossas ações, empresas e vida, da maneira que nos
é mais útil e vantajosa. Nosso Senhor encara, principalmente, o
nosso bem-estar espiritual e a nossa salvação eterna.
A devoção ao Sagrado Coração
não é meio seguro para adquirir bens terrestres. Contudo, no devoto
do Coração de Jesus verifica-se a palavra de Santo Agostinho: “Deus
ouve toda a prece, não sempre segundo nossa vontade, mas, sempre
para nossa salvação”.
III. Contaremos com a
bênção prometida sob estas condições: 1º se venerarmos o
Coração Divino sempre, e em todas as circunstâncias de nossa vida;
2º se as nossas empresas não são pecaminosas; 3º se
mesmo nos desejos bons nos conformarmos com a Vontade Divina sem lhe
impôr a nossa vontade, nem lhe prescrever em que a bênção há de
consistir.
Havia uma mulher que
experimentou a cruel dor de ver adoecer gravemente o seu filhinho. O
estado do infeliz menor agravava-se e a mãe, cheia de angústia,
correu a consultar um Sacerdote.
Este lhe aconselhou que se
resignasse com a Vontade de Deus, porque só Ele sabia o motivo pelo
qual o pequeno sofria tanto.
Ela, apesar das sábias
insinuações do Ministro de Deus, exclamou: “Não, neste mundo, eu
desejo unicamente a saúde de meu pobre filho”.
Voltou, pois, a dirigir suas
preces ao Senhor, rogando-Lhe que tivesse piedade daquele
inocentinho. Os rogos desta mãe aflita foram ouvidos. Deus, que é
todo misericordioso, concedeu àquela mulher o prazer de ver o filho
com saúde. Mal sabia ela que aquela criança tão inocente viria,
mais tarde, ser a causa de suas desventuras, do seu muito grande
sofrer!
Ao passo que o pequeno ia
crescendo, suas tendências viciosas também se desenvolviam. Aos
trinta anos de idade, cometeu um crime, sendo preso e condenado à
morte!
Eis, pois, o triste exemplo de
uma mulher que, não querendo sujeitar-se à Vontade de Deus, foi
castigada pela má conduta de seu filho.
A fim de evitarmos castigos
semelhantes a esse, devemos imitar a Jesus, quando no Horto das
Oliveiras orava: “Pai, não se faça a Minha vontade, mas a Vossa”.
Em seguida rezemos com todo o fervor estas palavras que Ele mesmo nos
ensinou: “Seja feita a Vossa Vontade, assim na terra como no Céu”.
Se pedíssemos ao Divino
Coração que nos concedesse esta disposição de entregarmo-nos, com
confiança, à paternal Vontade de Deus, em todas as nossas ações e
empresas, não tardaria em secundar a nossa vontade, de maneira que
viríamos a experimentar quanto lhe pedimos com esta súplica das
Ladainhas: “Coração de Jesus, rico para com todos os que Vos
invocam, tende piedade de nós”. Veríamos cumprir-se em nós esta
promessa: “Derramarei abundantes bênçãos sobre as empresas dos
devotos de Meu Coração”.
6ª
Promessa
“Os
Pecadores acharão em Meu Coração
a
fonte e o mar imenso da misericórdia”
I. Quem é, nesta vida,
o ser mais desgraçado? É, sem dúvida alguma, o pecador. E por que?
Porque o pecado mortal é a maior desgraça que pode acontecer a um
homem.
Perder a saúde é uma
desgraça; porém, maior infelicidade ainda é perder a vida,
principalmente a vida sobrenatural da alma pelo pecado mortal,
perdendo assim a Graça Santificante, a amizade de Deus, a herança
do Céu, expondo a alma à eterna condenação no fogo do Inferno.
Isto sim, é o que chamamos verdadeira desgraça. Com toda a razão,
pois, é o homem pecador o ser mais infeliz, mais desgraçado deste
mundo.
Os Santos, porque possuíam um
conhecimento mais nítido e perfeito da infinita Majestade de Deus e
da fealdade do pecado, tinham a este verdadeiro horror.
Conta-se que São
Bernardo preferia ser queimado num forno de cal do que cometer um
pecado mortal.
Dona Branca, mãe de Luiz IX,
rei da França, dizia a seu filho: “Ah, meu filho, preferiria
ver-te morrer diante de mim, do que te ver manchado com pecado
grave!”
II. Se o homem, pelo
pecado mortal, perde a vida sobrenatural da alma e se expõe à
eterna condenação, não deve desesperar. Há um remédio contra
este mal: é o Divino Coração de Jesus. Ele mesmo no-lo oferece,
dizendo: “Os pecadores acharão, no Meu Coração, uma fonte
inesgotável de misericórdia”.
Jesus é a Fonte. Quer isto
dizer que Ele é o Princípio e a Origem de perdão e misericórdia,
não se podendo obter perdão sem a intervenção d'Ele. Jesus nos
abriu esta Fonte de compaixão na Cruz sobre o Calvário, derramando
ali todo o Seu Sangue, que, gota a gota, correu da Ferida feita pela
lança cruel de um soldado.
Cumpriu-se, na morte do
Salvador, o que dizemos nas Ladainhas: “Coração de Jesus, Fonte
de vida e santidade, tende piedade de nós”.
Assim como no Egito os
israelitas ficaram isentos da morte pelo sinal feito com o sangue do
cordeiro nas portas de suas habitações, assim também nós nos
tornaremos livres da morte eterna e alcançaremos perdão e
misericórdia por intermédio do Preciosíssimo Sangue do Cordeiro
Divino, derramado sobre nossas almas, as quais são respeitadas pelo
Eterno Pai em atenção ao Preciosíssimo Sangue de Seu Filho.
O Divino Coração é a Fonte
sagrada, cuja água é o Preciosíssimo Sangue que lava e purifica
nossas almas de toda mancha.
Não só é a Fonte, mas
também o imenso mar de misericórdia, quer por sua amplitude, quer
por sua profundidade e extensão. Quer isto dizer que, por grandes e
numerosos que sejam os nossos pecados, a Divina misericórdia os
apaga e perdoa.
III. Deus, porém, não
é só misericórdia, é também justo.
O homem não pode,
impunemente, provocar a infinita Majestade de Deus. A Justiça Divina
exige o castigo do pecado.
Portanto, todo pecador só
terá direito à promessa do Sagrado Coração sob a condição de
que não fique obstinado na sua malicia, mas se levante e procure o
remédio dos Santos Sacramentos, que são as fontes da Graça Divina.
Os que morrem no pecado mortal, não podem ter no Coração de Jesus
uma fonte de misericórdia, pois, no outro mundo reina só a Justiça.
Para que se realize em nós a
promessa de Jesus, digamos-lhe: “Coração de Jesus, paciente e
misericordiosíssimo; Coração de Jesus, propiciação por nossos
pecados; Coração de Jesus, atribulado por causa dos nossos pecados;
Coração de Jesus, Vítima dos pecadores, tende compaixão de nós”.
Amém.
7ª
Promessa
“As
almas tíbias tornar-se-ão fervorosas
pela
devoção ao Meu Coração”
I. A tibieza é uma
ociosidade e preguiça, é uma insensibilidade e indiferença para
com a virtude e o pecado.
O cristão tíbio é como um
paralítico que vive, mas não se move; é como o tísico, que não
acredita na sua morte; é paciente só quando não tem que sofrer; é
manso só até que se lhe não contradiga.
O tíbio deseja ser bom
cristão, porém, sem que lhe custe sacrifícios; quer a virtude,
porém, sem a mortificação, como quem quer a rosa sem espinhos;
quer ganhar o Céu, porém, sem trabalhar.
Não lhe agradam as palavras
de Jesus que diz: “Quem quer vir comigo, renuncie a si mesmo, tome
a sua cruz e siga-Me”.
Nem se convence da verdade desta sentença: “O Céu padece
violenta, e só aqueles que a fazem, o adquirem”.
O tíbio, deixando a oração,
a abnegação, os sacrifícios, e perdendo o sentimento do dever e os
princípios sobrenaturais, aceita facilmente os axiomas mundanos e se
interessa exclusivamente no bem-estar físico, nas comodidades
terrenas e nas riquezas.
A tibieza ofusca a razão,
pelo que o tíbio conhece muito dificilmente seu estado lastimoso,
enfraquece a boa vontade e desponta a consciência, de modo que o
tíbio não faz caso dos pecados, principalmente dos pecados veniais
deliberadamente cometidas.
Compreende-se daí o estado
perigoso da tibieza e as palavras severas que Deus dirige ao tíbio
pela boca de São João no Apocalipse: “Porque não és nem frio
nem quente, Eu te vomitarei da Minha boca”;
querendo com isto significar que o tíbio lhe é nauseabundo e tão
repugnante como nos é a água tíbia ou tépida.
Disse São Beda, o Venerável,
que os cristãos tíbios, mais dificilmente se convertem do que os
pagãos. E São Pedro Damião: “Melhor é um penitente fervoroso
que um inocente tíbio”.
II. A tibieza é uma
doença espiritual, cuja raiz está no egoísmo exagerado com que o
tíbio ama a si próprio, e procura só o que está de acordo com as
suas comodidades.
Há, entretanto, um remédio
contra esse mal, que consiste em combater esse egoísmo, fazendo ao
mesmo tempo, aumentar o amor de Deus. A 7ª promessa de Jesus, nos
oferece este remédio. De fato, nada é tão apropriado para excitar
em nós este amor, como a devoção ao Sagrado Coração.
O coração é o símbolo do
amor, de modo que as palavras amor e coração tem quase a mesma
significação entre os homens.
Não é só o símbolo, mas
também, de alguma maneira, o órgão do amor e de todos os afetos,
pois, quando amamos uma pessoa, sentimos e experimentamos em nós
mesmos que o nosso coração é, por assim dizer, a sede e a fonte da
qual brota a torrente do amor, que é como uma fogueira, onde arde o
fogo do amor.
Como Jesus tinha um coração
humano, como nós, aconteceu também a Ele o que nos acontece.
Nas aparições a Santa
Margarida Maria Alacoque, Jesus se apresentou com o Seu Coração
visível no peito, todo rodeado de chamas resplandecentes, como
submerso num fogo ardente. Em cima do Coração via-se uma pequena
Cruz, ao redor deste a coroa de espinhos e, ao lado, a Chaga aberta.
Com tudo isso, Jesus nos
queria mostrar, de um modo perceptível, que o Seu Coração é cheio
de bondade e amor, que é como uma fornalha ardente de caridade para
conosco. Eis porque O invocamos nas Ladainhas: “Coração de Jesus,
cheio de bondade e amor; Coração de Jesus, fornalha ardente de
caridade, tende piedade de nós”.
A cruz colocada sobre o
Coração, nos recorda o Seu amor infinito que o impeliu a
submeter-se à morte no patíbulo da Cruz, para nos remir da
escravidão do Demônio. A Chaga do Coração não é outra coisa
senão a chaga do amor, a porta pela qual Ele quer que entremos, a
fim de participarmos do Seu amor, da sua glória, da Sua Divindade.
Ao contemplarmos assim o
Coração de Jesus, as chamas, a cruz, a coroa de espinhos, a chaga,
reconhecemos que tudo isso nos revela amor, tudo nos clama amor
infinito e divino.
“Com eterno amor te amei”,
exclama Jesus, “e por isso na Minha misericórdia te atraí a
Mim”.
O Seu amor, porém, é esquecido, desprezado, rejeitado.
Contudo, Jesus suspira pelo
nosso amor; pede-nos, reclama o nosso coração: “Meu filho, dá-Me
teu coração”. Como somos ingratos! Quantas amarguras não
experimenta o Seu Divino Coração! Esta dor se assemelha à de uma
mãe que se vê esquecida por seu filho, à de uma esposa que é
desprezada por seu esposo.
“Se alguém não amar a
Nosso Senhor Jesus Cristo, seja anátema”, exclama São Paulo,
isto é, seja amaldiçoado, excluído da Comunidade da Igreja,
privado das graças.
III.
Ora, queremos saber se somos frios ou fervorosos, tíbios, talvez?
Queremos saber se amamos ao
Divino Coração, não só por palavras e sentimentos, mas de fato?
Então examinemo-nos, se
estamos prontos a fazer sacrifícios por amor de Jesus, observando os
Mandamentos de Deus?
Se estamos prontos a perdoar
ao próximo; a sofrer, com paciência, as contrariedades da vida; a
evitar o pecado mortal e suas ocasiões, como também o pecado
venial?
Se nos alegramos com o triunfo
da Igreja e deploramos e choramos as perseguições que Ela sofre?
Se contribuímos com o nosso
óbulo e zelo para que se estenda mais e mais, o Reinado de Cristo no
mundo?
Se não tomamos a peito todos
estes interesses do Divino Coração e se ficamos indiferentes, sinal
certo será de nossa tibieza.
Se fosse assim, seria tempo
para começar a venerar o Sagrado Coração para em nós realizar sua
promessa: “As almas tíbias tornar-se-ão fervorosas”.
IV.
Depois que o Profeta Samuel tinha consagrado a Saul rei de Israel,
lhe disse: “Virá ao teu encontro uma turba de Profetas que
descerão do alto, e de repente, o Espírito do Senhor virá sobre ti
e profetizarás com eles e serás mudado em outro homem”.
Aquele que começa a devoção
ao Sagrado Coração, virá também ao seu encontro uma turba de
Santos, que são modelos desta devoção e que o ajudarão para que,
por esta devoção, se mude em outro homem, e se torne fervoroso
Cristão.
Sejam nossos Padroeiros
especiais: Santa Gertrudes, Santa Margarida Maria Alacoque, São
Bernardo, São Boaventura, São Francisco de Assis, São João
Evangelista.
Peçamos a estes Santos que,
intercedam diante do Divino Coração, para que nos faça surgir do
leito da paralisia, da tibieza.
Invoquemos a Jesus, com esta
súplica: “Coração de Jesus, vida e ressurreição nossa, tende
piedade de nós”. Amém.
8ª
Promessa
“As
almas fervorosas,
por
meio desta devoção,
elevar-se-ão
rapidamente
a
uma grande perfeição”
I.
Não só estamos obrigados à observância dos Mandamentos de Deus e
da Igreja, senão também à prática das virtudes, conforme o nosso
estado, para podermos alcançar a perfeição, e a glória que Deus,
desde toda a eternidade, nos destinou.
“Na
Casa de Meu Pai há muitas moradas”,
disse Jesus. Estas moradas, que nos estão reservadas, são
diferentes. Havemos de ocupar um dia aquela que corresponde ao grau
de nossa santidade.
Os
filhos devem parecer-se com o pai; por isso, o Salvador nos exorta,
dizendo: “Sede perfeitos, assim como Vosso Pai celestial é
Perfeito”.
São
João nos convida com estas palavras: “Quem é justo, justifique-se
mais; quem é santo, santifique-se mais”.
Embora
não pretendamos alcançar a honra dos altares, “o espírito, onde
quer, espira”,
isto é, a distribuição das graças depende de Deus; contudo, a nós
compete cooperar às que recebemos.
II.
Apesar de nossa boa vontade e de tantas graças recebidas, recaímos
em nossas faltas e imperfeições, que aderem à nossa natureza
corrupta, como a pele ao nosso corpo.
O caminho que conduz ao Céu é
árduo e penoso.
Um meio eficacíssimo para nos
livrar de nossas faltas, e progredir na prática das virtudes e na
perfeição, nos oferece Jesus, por meio da 8ª promessa: “As almas
fervorosas atingirão à mais alta perfeição”.
Com efeito, não poderia ser
de outra maneira, sendo o Coração de Jesus um Coração Divino e,
por conseguinte, o “abismo de todas as virtudes”, título que lhe
dá a Igreja nas Ladainhas!
Basta haurir desta “fonte de
vida e santidade”, as águas cristalinas das virtudes, para fartar
a nossa sede de santidade.
A perfeição consiste no
amor. “A caridade é o vínculo da perfeição”,
diz o Apóstolo São Paulo, e, “agora permanecem estas três
virtudes: a Fé, a Esperança e a Caridade, porém, a maior é a
Caridade”.
“Deus é a Caridade, e quem
permanece na caridade, permanece em Deus e Deus nele”,
diz São João.
O Coração de Jesus é o
receptáculo e o centro sensível do amor, é a “fornalha ardente
de caridade”, como o chamamos nas Ladainhas. Basta acercar-se às
chamas desta fogueira celestial, para participar do fogo do Divino
Amor, e, por conseguinte, de Sua santidade.
A devoção ao Sagrado Coração
é um meio eficacíssimo para renovar e santificar não só o
indivíduo, mas também as Famílias e a Sociedade em geral,
dando-lhes um florescimento religioso. A história do Apostolado da
Oração comprova o fato.
Para que se verifique em nós
a 8ª Promessa de Jesus, digamos-lhe: “Coração de Jesus, abismo
de todas as virtudes; Coração de Jesus, fonte de vida e santidade,
tende piedade de nós”. Amém.
9ª
Promessa
“Abençoarei
as casas nas quais
a
imagem do Meu Coração
estiver exposta e venerada”
I.
Por que, hoje em dia, não se encontra paz e concórdia nas famílias?
Porque delas fugiu a piedade e o temor de Deus, e em seu lugar
entraram o espírito mau e os seus companheiros: os diários
irreligiosos, livros maus, conversações frívolas, companhias
libertinas, modas indecentes, imagens e representações indecorosas.
Se a vista e todos nossos
sentidos recebem impressões tais, que lisonjeiam a nossa
concupiscência e excitam as paixões baixas de nossa natureza
corrupta pelo Pecado Original, claro está que o Espírito puro e
casto de Deus, que penetrou em nosso coração no Santo Batismo, há
de sair por não poder morar com o espírito mau na mesma alma.
Com o Espírito de Deus sai
necessariamente da alma e também da casa e da família a paz e a
concórdia; pois, o Espírito de Deus é o Espírito de paz e de
amor, ao passo que pelo contrário, o espírito do Demônio é o
espírito de discórdia e de inveja.
II.
Desejamos que em nosso lar reine a união, a caridade, a paz e a
bênção de Deus? Expulsemos dele o mau espírito e os seus
companheiros acima mencionados, e procuremos fazer tudo de modo que,
em toda nossa vida e conduta, em todos os objetos de nossa casa
resplandeça o Espírito de nossa Santa Religião, o Espírito de
Jesus Cristo.
Como bons cristãos e
discípulos de Cristo, não podemos reconhecer outro Rei e Chefe
senão a Ele, e isto não só interiormente, mas também
exteriormente.
Assim como os bons patriotas
publicamente manifestam sua adesão e acatamento ao Chefe de Estado,
expondo seu retrato no salão da casa, assim também nós, como bons
Cristãos, faremos outro tanto com nosso Chefe e Senhor, o Sagrado
Coração de Jesus.
Ele prometeu a Sua especial
bênção para as casas, onde esteja exposta e venerada a Sua Sagrada
Imagem.
Para facilitar a realização
desta promessa, nossa Santa Igreja entroniza, com uma cerimônia
solene e especial, a Imagem do Sagrado Coração nos lares daquelas
famílias que se queiram consagrar ao Divino Coração, e tê-Lo por
seu Chefe e Rei.
Sem dúvida alguma, aos se
agruparem os membros dessas famílias ao redor do Coração de Jesus,
“Rei e Centro de todos os corações”, como O invocamos nas
Ladainhas, há de reinar entre eles a paz, a concórdia e a
felicidade como efeito da especial bênção de Deus.
10ª
Promessa
“Aqueles
que trabalham pela salvação das almas,
obterão
a graça de converter
os
corações mais endurecidos”
I.
Aqueles que trabalham pela salvação das almas são, em primeiro
lugar, os Sacerdotes. Compete-lhes diretamente esta tarefa pelo seu
Caráter Sacerdotal e mandato expresso do Salvador: “Ide e ensinai
a todas as gentes, batizando-as em Nome do Pai, do Filho e do
Espírito Santo”.
Os Sacerdotes hão de
continuar a missão salvadora de Cristo, hão de ser à imitação de
Seu Chefe: Pais, Médicos, Pastores e Mestres da Humanidade.
O amor às almas há de ser o
móvel no Ministério Sacerdotal.
Ora, donde tirará o Sacerdote
este amor senão do Divino Coração, Modelo do Ministério
Sacerdotal? A devoção a este Coração lhe aumentará o amor, e o
amor a união com Seu Divino Mestre. Quanto mais intima for esta
união, tanto mais amor terá o Sacerdote e, por conseguinte, tanto
mais poder e direitos obterá nos tesouros inefáveis do Divino
Coração.
Eis todo o segredo do
Sacerdote para converter os pecadores mais endurecidos.
II.
Além dos Sacerdotes, trabalham em prol das almas os membros das
Congregações religiosas e de outras instituições, os Zeladores do
Apostolado da Oração, os Mestres de escola, os pais de família.
Todos acharão os meios
necessários ao seu Apostolado no Sagrado Coração de Jesus.
Uma
mãe de família talvez chore a incredulidade ou indiferença
religiosa de seu filho ou esposo? Pois bem, dirija-se ao Sagrado
Coração de Jesus, que “não quer a morte do pecador, mas que se
converta e viva”,
e a alma mais endurecida, pouco a pouco, derreter-se-á pelos raios
da Graça Divina.
Queremos dar às nossas
súplicas maior força? Ajuntemos-lhes sacrifícios, penitências e
mortificações.
Jesus
disse aos Seus Discípulos, quando estes lhe perguntaram por que não
haviam podido expulsar o Demônio de certa pessoa: “Há espíritos
que não podem ser expulsos senão pela oração e o jejum”.
III.
Tratando-se dos pecadores, há ainda outro meio eficaz para
assegurar-se, em favor deles, dos tesouros e das graças do Divino
Coração.
É o Imaculado Coração de
Maria.
Foi por Maria que chegou o
Filho de Deus, Autor e Fonte de todas as graças, e este mundo; e
assim também nós mesmos não podemos acercar-nos de Jesus senão
por Maria.
Ela é invocada nas Ladainhas
como “refúgio dos pecadores e Mãe da Divina Graça”.
As conversões referidas nos
Anais da Arquiconfraria do Imaculado Coração de Maria, estabelecida
na igreja de Nossa Senhora das Vitórias, em Paris, comprovam a
verdade e exatidão destes títulos atribuídos à Mãe de Deus.
Conforme se expressam os
Teólogos e Santos Padres, sendo a Virgem Santíssima a dispensadora
das graças divinas, não há dúvida que, pela Sua intervenção, se
obtenha mais prontamente a conversão dos pecadores endurecidos.
O Coração de Maria é o
coração de uma mãe, que tem compaixão das misérias de seus
filhos, aplacando, pela Sua intercessão, a justiça e a ira da
Divina Majestade.
Sejam, portanto, as nossas
frequentes jaculatórias: “Coração de Jesus, tende piedade de
nós”; “Doce Coração de Maria, sede minha salvação”. Amém.
11ª
Promessa
“As
pessoas, que propagarem esta devoção,
terão
os seus nomes inscritos
em
Meu Coração, e
nunca
serão dele
apagados”
Nas promessas anteriores,
Jesus oferece as Suas graças àqueles que tenham devoção ao Seu
Coração; porém, nesta, promete graças aos que propagarem esta
devoção.
“Da abundância do coração
fala a boca”.
Quem estiver cheio de amor
para com o Divino Coração, não poderá reter as chamas deste amor
no seu coração, e tratará de inflamar neste amor, nesta devoção
outros corações.
Os meios de propagar esta
devoção são:
I.
A oração. O próprio
Salvador nos ensina a rezar, no Pai Nosso: “Venha a nós o Vosso
Reino”.
Não devemos ser egoístas,
pedindo só por nós. Devemos orar também para que se cumpram os
desejos e a vontade de Deus: o Reinado do Sagrado Coração nas
almas, o seu conhecimento em todo o mundo, e para que, em toda parte,
se levante esta voz: “Louvado seja o Coração Divino, que nos deu
a salvação”.
Entre os interesses mais
íntimos do Divino Mestre, encontra-se a conversão dos gentios,
hereges, cismáticos e judeus, como também os trabalhos dos
Missionários e Sacerdotes, e a perfeição dos Religiosos. Devemos
orar por todos esses interesses, e também pela extinção das
Sociedade Secretas, a exaltação de nossa Santa Mãe, a Igreja, e
para que, em breve, não haja mais do que “um só rebanho e um só
Pastor”.
Inscrevendo-se no “Apostolado
da Oração”, todos estes interesses do Coração de Jesus serão
interesses nossos, visto que essa Associação tem por fim a extensão
do Reinado do Divino Redentor.
A
união dá a força. Nosso Senhor Senhor disse: “Onde estiverem
duas ou três pessoas congregadas em Meu Nome, Eu estarei no meio
delas”.
Também a “Guarda de Honra”
é uma instituição que defende os interesses do Sagrado Coração.
Tem por fim dar glória, amor, reparação ao Divino Coração em
certas e determinadas horas do dia.
II.
O segundo meio para estender esta devoção ao Coração de Jesus são
as obras e o bom exemplo.
O
fiel cumprimento dos deveres católicos, a prática das virtudes que
o Salvador nos ensina com estas palavras: “Aprendei de Mim, que Sou
manso e humilde de Coração, e achareis descanso para vossas
almas”,
nos levarão a conquistar almas para o Céu.
Nosso
Senhor disse também: “Resplandeça a vossa luz diante dos homens,
para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o Pai, que está
nos Céus”.
As palavras ensinam, os
exemplos arrastam.
Aos Zeladores do Apostolado da
Oração compete alistar novos sócios; convidar as famílias a
consagrar-se ao Divino Coração, entronizando-O em seus lares;
encarecer a importância da Novena das 1ª sextas-feiras do mês;
finalmente, devem ser os coadjutores dos Sacerdotes na propagação
do Reino de Cristo sobre a terra.
III.
O terceiro meio, o melhor e mais eficaz, é o sacrifício a que nos
submetemos para que o Divino Coração seja conhecido, amado e
imitado, e se estenda sempre mais o Reinado de Cristo sobre a terra.
O
verdadeiro amor se manifesta pelos sacrifícios. O próprio Salvador
no-lo provou com a Sua Morte na Cruz, e disse: “Ninguém tem maior
amor do que aquele que dá a sua vida pelos seus amigos”.
Todos os dias Nosso Senhor
está sacrificando-Se pelo mundo, por meio do Santo Sacrifício da
Missa, que é a renovação incruenta do Sacrifício da Cruz. Ali Ele
é o Holocausto e a Vítima perpétua pelos nossos pecados, ali se
sacrifica pela salvação do mundo.
Sendo discípulos de Cristo,
membros de Seu Corpo Místico, a Igreja, nós devemos ser também
vítimas em união com Ele, oferecidas à Divina Majestade. Devemos
oferecer-Lhe todos os sacrifícios, tribulações e dificuldades
desta vida pela conversão dos pecadores, exaltação da Igreja
Católica, santificação dos Sacerdotes e glória de Deus.
É por esta união que a nossa
vida de sacrifícios participa do valor infinito do Sacrifício da
Vítima Divina sobre os nossos altares, e, portanto, é de maior
eficácia.
Ser “Alma-Vítima” é o
mais alto grau a que pode chegar um devoto do Sagrado Coração, cujo
desejo deve ser levar uma vida de imolação com Jesus Hóstia pela
salvação do mundo.
A
vida da “alma-vítima” está resumida nesta oração: “Ecce
venio, eis-me aqui, ó bom e dulcíssimo Jesus, Divino Cordeiro,
perpetuamente imolado sobre os nossos altares pela salvação do
mundo: eu quero unir-me a Vós, sofrer convosco, imolar-me, como Vós,
em união com todas as almas-vítimas. Com este fim, ofereço-Vos as
penas, as amarguras, as humilhações e as cruzes que a Vossa
Providência semeou em meus passos; eu vo-las ofereço nas intenções
pelas quais se oferece e se imola o Vosso dulcíssimo Coração.
Possa
o meu fraco sacrifício recair em bênçãos sobre a Igreja, sobre o
Sacerdócio, sobre a minha Pátria e os pobres pecadores, meus
irmãos! Dignai-Vos aceitá-lo pelas mãos da Santíssima Virgem
Maria e em união com as imolações do Seu Coração Imaculado.
Amém”. (Do
Manual da “Guarda de Honra”)
IV.
Eis a oração, as obras e os sacrifícios, meios adequados e
eficazes para nos tornarmos verdadeiros Apóstolos do Sagrado Coração
de Jesus e dignos de que os nossos nomes sejam indelevelmente
inscritos n'Ele.
12ª
Promessa
“A
todos os que comungarem nas Primeiras Sextas-feiras
de nove meses
consecutivos,
concederei
a Graça da Perseverança Final;
não morrerão no Meu desagrado,
nem
sem receber os Santos Sacramentos”
I.
Esta promessa é chamada “Grande Promessa”, pois, oferece a graça
da Perseverança Final, da qual depende a nossa salvação eterna.
Sendo revelada a São
Francisco de Assis a certeza de sua glória celestial, foi tal a sua
alegria, que não pode nem comer nem dormir durante três dias.
Entende-se
bem isto, pois, a Sagrada Escritura nos diz que “não temos certeza
absoluta de sermos dignos de amor ou de ódio da parte de Deus”.
E o mesmo Apóstolo São Paulo, na Epístola aos Coríntios,
confessa que, ainda que não
lhe remorda a consciência de coisa alguma, não por isso se tem por
justificado, sendo o Senhor
quem o julga.
A
esse respeito também a nossa Santa Mãe, a Igreja, pelo Concílio de
Trento nos ensina: “Embora
a nenhum cristão seja lícito duvidar da misericórdia de Deus, dos
méritos de Cristo e do poder e da eficácia dos Sacramentos,
contudo, cada um, considerando a si mesmo, a sua própria fraqueza
e a sua preparação deficiente, pode temer e inquietar-se a respeito
de seu estado de graça, pois que ninguém, com certeza de fé, pode
saber se adquiriu a graça de Deus”.
Se é, portanto, incerto o
nosso atual estado de graça, muito mais incerto, sem dúvida, e se
continuaremos e perseveraremos até ao fim de nossa vida na prática
do bem e, por conseguinte, no estado da graça de Deus.
Há na história muitos
exemplos de tais, que começaram bem, e acabaram mal.
Caim começou, sem dúvida,
bem, porém, oferecendo a Deus os sacrifícios imperfeitos, acabou
fratricida.
Saul, rei de Israel, eleito
pelo próprio Deus, acabou por suicidar-se.
Salomão, rei sapientíssimo,
tornou-se idólatra.
Judas,
Apóstolo do Senhor, foi traidor e deicida, e acabou
a sua vida enforcando-se.
Em vista da nossa fraqueza e
da inconstância do nosso caráter e de tantos perigos e tentações
a que estamos expostos, temos também nós que recear a recaída.
O
Concílio de Trento anatematiza àquele que, a não ser por uma
revelação especial, afirma, com certeza absoluta, que obterá esse
“grande dom da perseverança final”.
Mas a incerteza do nosso atual
estado de graça e da perseverança final não deve diminuir a nossa
esperança e confiança em Deus, nem paralisar a nossa assiduidade e
os nossos esforços no caminho do dever, da virtude e da perfeição.
Pois,
conforme se expressa muito acertadamente Santo Tomás: “A esperança
não se baseia tanto sobre a graça que já possuímos, mas sobre a
onipotência e misericórdia divina, pelas quais aquele que não está
na graça a pode adquirir, para assim obter a vida eterna. Porém, da
onipotência e da misericórdia divina cada um, que tem a fé, está
certo”.
Daí, por conseguinte, resulta
a firmeza de nossa esperança.
Do
mesmo parecer é o Concílio de Trento
quando diz que, apesar da
incerteza da perseverança final, devemos pôr toda a nossa firme
esperança no auxílio de Deus, conforme nos exorta São Paulo,
escrevendo aos Filipenses: “Eu
tenho uma firme confiança que, quem começou em vós a boa obra da
vossa salvação, a levará a cabo até o dia da vinda de Jesus
Cristo”.
São
também a propósito as palavras que o mesmo Apóstolo escreve aos
Hebreus: “Não é Deus injusto, para esquecer-se do que fizestes e
da caridade que por respeito ao seu nome manifestastes,... porém,
desejamos que cada um de vós mostre o mesmo fervor até o fim, para
o cumprimento ou a perfeição de sua esperança”.
Com
toda a razão, pois, podemos firmemente confiar e esperar e esperar
da misericórdia e bondade divina o grande dom da perseverança
final, se continuarmos na prática da Religião, embora não
tenhamos uma certeza infalível e absoluta de nossa salvação.
II.
Para fortalecer e aumentar em nós ainda mais esta confiança e
esperança, Jesus dignou-se fazer aos devotos de seu Coração a
promessa seguinte: “A todos os que comungarem nas Primeiras
Sextas-feiras de nove meses consecutivos, concederei a graça da
perseverança final; não morrerão no meu desagrado, nem sem receber
os Santos Sacramentos”.
Pela
importância do grande dom da perseverança final, esta promessa é
chamada “a Grande”. A misericórdia e bondade do Divino Coração
nos oferece, com esta
promessa, quase um penhor seguro da nossa salvação.
Em vista da condição desta
promessa tão fácil para cumprir-se, quem não quereria assegurar-se
deste penhor de nossa salvação?
Um empregado de estrada de
ferro ouviu, um dia, falar, num sermão, desta promessa de Jesus.
Então disse para consigo: “A garantia de uma boa morte vale tudo”.
Resolveu assegurar-se desta promessa. Tinha que estar de serviço,
precisamente, todas as sextas-feiras e a noite anterior. Não
obstante fez o sacrifício de ficar em jejum, para poder comungar, na
noite das Primeiras Sextas-feiras do mês.
Imitemos este exemplo de fé
viva e amor para com Jesus, e de interesse pela nossa alma.
Compreende-se que, para ser
eficaz esta Novena de comunhões, devemos continuar a vida de bom
Cristão.
III.
Outro meio para conseguirmos a graça desta promessa e dos seus
efeitos é o cuidado em procurar que os moribundos recebam os Santos
Sacramentos.
É
o último e melhor serviço que
podemos prestar ao próximo, tratando-se da sua salvação eterna.
A
Sagrada Escritura diz: “Com a mesma medida com que medirmos,
seremos medidos”.
As dificuldades e incômodos,
que encontremos neste serviço cristão, nos serão recompensados no
Céu, e também na hora da nossa morte.
Quando chegará essa hora?
Ignoramos o dia, a hora e as circunstâncias; porém, cumpramos,
prontamente, o desejo de Jesus para termos parte na “Grande
Promessa”, e digamos: “Coração de Jesus, esperança dos que
morrem em Vós, tende piedade de nós”. Amém.
Outras
Explicações sobre a Grande Promessa
1ª
“Por
aqui se vê claramente que a Devoção ao Sagrado Coração de Jesus
destina-se a todas as classes de pessoas: almas fervorosas ou
pecadoras, Sacerdotes, seculares, Religiosos, todos, enfim.
A
Promessa mais bela e mais importante é a última; ela comove
profundamente o coração dos devotos. Qual de nós não tremeu,
porventura, diante do pensamento terrível da nossa sorte na
eternidade? Até os Santos mais insignes da Igreja, depois de haverem
atingido tão altos píncaros de perfeição, que parecia que
estivessem nos Umbrais do Céu, gelavam de temor, pensando nos Juízos
divinos e na fragilidade do coração humano, que pode, num instante,
perverter-se e faltar a Graça, como aconteceu com Judas Iscariotes,
Tertuliano e outros infelizes apóstatas.
Abramos,
porém, o coração à Esperança e entoemos um hino de louvor e
agradecimento ao Divino Coração. Ele nos promete que, se
comungarmos todas as primeiras sextas-feiras durante nove meses
seguidos, e Lhe formos devotos, não morreremos em Sua desgraça. A
Devoção ao Sagrado Coração de Jesus é, pois, um penhor
(garantia) de Predestinação e quem a pratica imprime na sua alma o
distintivo dos eleitos, recebendo sobre sua fronte um raio da eterna
glória do Céu”.
2ª
“O
Mistério da Predestinação recorda-nos que, sem a Graça de Cristo,
não podemos fazer nada em ordem à salvação.
Mas, por outro lado, a Predestinação não torna supérfluo o
trabalho da santificação, porque os adultos devem merecer a Vida
Eterna; ninguém poderá entrar no Céu, se não morrer em Estado de
Graça e ninguém irá para o Inferno, senão, por culpa sua”.
“Conforme
testemunho de J. Bainvel,
que se dedicou bastante ao estudo desta questão, 'tal Promessa
encontra-se numa carta da Santa à Madre de Saumaise, que as editoras
publicaram em Maio de 1688: Numa sexta-feira, durante a comunhão, o
Senhor disse para a Sua indigna escrava, se não está em erro, estas
palavras: Prometo-Te, na imensa misericórdia... nesse último
momento'.
J.
Bainvel acrescenta precisamente: 'a Promessa é absoluta, supondo
somente as comunhões feitas e bem feitas, evidentemente. Não se
promete a Perseverança no bem durante toda a vida; nem a recepção
dos Sacramentos à viva força. O que se promete é a Perseverança
Final, compreendendo a Penitência e os últimos Sacramentos na
medida em que forem necessários'. O que se promete é a Graça da
Boa Morte e a Promessa absoluta refere-se mais aos pecadores do que
às almas piedosas. Esta Grande Promessa do Coração de Jesus supõe
que a Graça de fazer nove comunhões bem feitas, durante nove meses
seguidos, na primeira sexta-feira de cada mês, constitui um dom que
só se concede aos eleitos, que se arrependem sempre das suas faltas
antes de morrerem”.
3ª
“O
Cardeal Richard, Arcebispo de Paris, no seu conhecido Catecismo do
Sagrado Coração de Jesus,
procurou dissipar as dúvidas que o conhecimento dessa extraordinária
Promessa costumava suscitar no espírito dos que a ouvem pela
primeira vez, formulando as perguntas e respostas que adiante
reproduzimos.
1ª. É certa esta
Promessa? Esta Promessa é certa quanto à origem e quanto
aos efeitos. Foi certamente feita a S. Margarida Maria, como fazem
crer os escritos autênticos da Serva de Deus, os quais foram
examinados pela Santa Sé por ocasião da sua Beatificação.
Cumprir-se-á, pois, certamente, em favor de todos aqueles que
satisfizerem as condições a que está subordinada.
2ª. Como devemos
interpretar esta Promessa?
É preciso compreender esta Promessa no seu verdadeiro sentido e
livrar-se de toda a interpretação falsa.
Nosso Senhor não disse que
todos aqueles que cumprissem as condições estipuladas ficariam
dispensados de uma atenta vigilância para evitar o pecado, de um
combate corajoso para vencer as tentações e cumprir todos os
Mandamentos, do emprego assíduo dos meios que reclama a vida cristã,
sobretudo da oração e da penitência. Assegura somente que aqueles
que fizerem estas nove comunhões obterão as graças necessárias
para guardar perfeitamente os Preceitos e os Conselhos Evangélicos
para carregar a cruz que lhes for destinada, todos os dias da vida, e
para perseverar até à morte no caminho estreito que conduz ao Céu.
Examinando atentamente esta
Promessa, percebemos o que se pode chamar a admirável tática do
Amor Divino. Para ir ao Céu, é preciso que nossas almas vivam da
vida de Jesus Cristo, que Lhes é comunicada pelos Sacramentos,
sobretudo pela Eucaristia. Ora, desde muitos séculos, os homens
afastaram-se em massa da Mesa Santa, e a maior parte daqueles que
ainda são fiéis à Comunhão Pascal limitam-se sistematicamente a
cumprir o Preceito: – Comungar uma vez por ano, ao menos, pela
Páscoa da Ressurreição. A Sociedade Cristã está acometida de uma
pavorosa languidez (desânimo) espiritual, definha por falta de
comungar e nada pode despertá-la desta letargia (entorpecimento).
3ª.
Que meio empregará Nosso Senhor, para tirar os homens
desta invencível apatia, vizinha da morte?
Ele vai servir-Se do desejo de salvar-se, que estes cristãos tão
negligentes ainda conservam. Com o auxílio desta última centelha
escondida sob a cinza da tibieza, vai procurar reanimar as chamas do
amor dos homens, fazendo-os tornar ao caminho da Mesa Santa. Não
lhes pedirá diretamente a Comunhão frequente, porque sabe que não
seria atendido, mas, pede-lhes uma série de comunhões,
transitórias, é verdade, mas bastante multiplicadas e acompanhadas
de circunstâncias assaz difíceis para habituar, ao menos, à
Comunhão mensal.
4ª.
Quais são as condições necessárias para se ter
direito aos frutos desta Grande Promessa?
Três:
1ª. A Comunhão deve ser
feita numa sexta-feira, a primeira do mês, e não em outro dia.
2ª.
Deve ser feita em nove meses consecutivos. A novena, porém, deverá
ser recomeçada, se na série das primeiras sextas-feiras houver uma
interrupção, salvo se esta interrupção for ocasionada
pela Sexta-feira Santa: neste caso bastará prolongar por mais um
mês a série das sextas-feiras.
3ª. Deve não somente ser
feita em Estado de Graça, como também na intenção especial de
honrar o Sagrado Coração. Essas condições, fáceis na aparência,
apresentam dificuldades tais que é preciso o cristão amar
verdadeiramente Nosso Senhor, para se sujeitar a elas.
5ª. Aqueles que, logo
depois de terem feito com sincera piedade as nove comunhões,
afastarem-se da frequência dos Sacramentos, ou pecarem, perderão o
direito aos frutos da Promessa Divina?
Não, certamente, porque os
benefícios de Deus não são suscetíveis de arrependimento. O
Sagrado Coração saberá pelos efeitos de Seu Amor tirar do abismo
do pecado esses pobres náufragos, e preservá-los do abismo do
Inferno.
As graças obtidas pelas nove
comunhões são, porém, tão abundantes, que esse esquecimento
completo dos deveres essenciais à vida cristã só poderá ocorrer
como rara exceção ou, pelo menos, será momentâneo.
Estas
explicações devem impelir todos os cristãos a abraçar uma prática
tão salutar. Podemos começá-la em qualquer mês. Aconselhamos,
entretanto, começar na 1ª sexta-feira de Outubro,
a fim de terminar na primeira de Junho, nas proximidades da Festa do
Sagrado Coração. Que maior garantia de sucesso do que colocarmos
nossos esforços sob a proteção da Virgem Santíssima? Ela é
invocada sob o Título de Nossa Senhora do Sagrado Coração. Os
exercícios do mês do Rosário, fazendo-nos honrar a Mãe de Deus,
serão um estimulante para nossa piedade; pelo Rosário bem meditado,
penetraremos melhor nos segredos do Divino Coração de Jesus; pelo
Rosário rezado com mais devoção obteremos a graça de ver nossas
súplicas apresentadas por Maria a Seu Divino Filho”.
Epílogo
Depois de ter Jesus revelado a
Santa Margarida Maria Alacoque estas promessas, acrescentou as
seguintes palavras:
“Anunciai e manda
anunciar a todo o mundo, que não porei limites nem medida às Minhas
graças, para com aqueles que as buscarem no Meu Coração”.
Sigamos,
pois, este honroso convite e participaremos, neste mundo, destas
promessas e graças, para que se verifique um dia, no Céu, o que
pedimos nas Ladainhas: “Coração de Jesus, delícias de
todos os Santos, tende compaixão de nós”. Amém.
Maria Santíssima
é o caminho que leva
ao Sagrado Coração de
Jesus
Quem
quer o fruto deve ir à árvore; ora, Jesus é o fruto do seio de
Maria; para chegar ao Coração de Jesus, ser-nos-á necessário ir a
Maria. Ninguém
pode vir a Mim,
dizia o Divino Salvador, se
Meu Pai não o trás,
a
princípio por Sua graça, e também, parece ajuntar, se Minha Mãe
não o atrai por Suas orações. Com muita razão esta doce Rainha é
chamada por São Bernardo a roubadora
dos corações,
porque Ela arrebatou o Coração de Jesus para
o dar aos homens, para os atrair ao Coração de Jesus.
Maria,
com efeito, arrebatou o Coração de Seu Deus por Suas sublimes
virtudes, principalmente por Sua fé, por Sua humildade
e por Sua caridade.
A
Ela
é
que se dirigia o Esposo divino, quando dizia à Sua esposa: Feristes
o Meu Coração por um de Vossos olhos e por um de Vossos cabelos.
Este
olho da esposa designa a fé da Santíssima Virgem, que A tornou tão
agradável ao
Coração do Filho de Deus; e este cabelo simboliza a humilde opinião
que Ela tinha de Si, pois, nada mais insignificante que um cabelo.
Esta humildade de Maria atraiu o Verbo Divino do Seio do Pai Eterno
para o Seu seio virginal. Mas por Sua ardente caridade
principalmente, Maria pareceu tão bela aos Olhos Divinos, que o
Filho Unigênito de Deus quis descer ao Seu seio para se fazer homem;
o que faz São Bernardo soltar dos lábios esta bela exclamação:
Eis
aqui então uma Virgem que, por Seu amor, feriu e cativou o Coração
de Deus!
Maria
conduz para este Coração Divino os corações dos homens, que seus
atrativos maternais
conquistam. O Senhor disse um dia à Santa Catarina de Sena: Eu
criei Maria, esta filha muito amada, como um delicioso encanto para
tomar e atrair a Mim os corações dos homens, e principalmente os
dos pecadores. Este
texto dos Provérbios: O
coração de seu esposo confia nela, e não lhe faltarão despojos,
pode-se aplicar a Maria: porque Deus pôs o Coração de Jesus nas
mãos desta Virgem bendita a fim de que se ocupe com esmero em O
fazer amado dos homens; ora, desta maneira Ele não poderia deixar de
conquistar despojos, isto é, almas, porque Maria O enriquece com
todas as que Sua poderosa proteção arrebata ao Inferno. Oh! Quantos
pecadores obstinados são atraídos todos os dias a Deus por este ímã
dos corações, como
a Si mesma se nomeou a Virgem Santíssima, falando a Santa Brígida:
Como
o ímã atrai o ferro,
diz Ela, assim
Eu atraiu os corações mais endurecidos para os reconciliar com
Deus.
Nossa
Senhora
do Sagrado Coração,
canal das Graças
Ainda
que o Coração de Jesus seja o reservatório universal das graças,
e a oração o vaso destinado a recebê-las, contudo, só as
obteremos por intermédio da Santíssima Virgem. Lemos no Gênesis,
que Eliezer, servo de Abraão, chegou sequioso às bordas de um poço:
Vindo Rebeca ao mesmo lugar, ele pediu-lhe de beber. Ela respondeu,
que de boa vontade daria a água, não somente a ele, mas também a
todos os seus camelos. Maria nos é admiravelmente representada aqui
sob a figura de Rebeca; quanto ao poço, não poderia ele significar
o Coração de Jesus? A Maria só pertence o cuidado de tirar as
graças nesta Fonte
de vida eterna: precioso privilégio que lhe mereceu o nome de Nossa
Senhora do Sagrado Coração.
Neste poço divino, Ela pode
tirar tanto quanto quiser por Suas orações. Maria tem um certo
direito sobre todas as graças do Coração de Jesus, diz Suarez,
por sua qualidade de Mãe. Também São Bernardo chama a Maria
Onipotência Suplicante: Omnipotentia supplex.
Quando Ela pede, é com certa autoridade de Mãe, suas orações tem
alguma coisa de ordem, e é impossível que Ela não obtenha o que
pede. Maria é tão poderosa, que se pode dizer, que nada existe
acima do seu poder; tudo o que Ela quer, faz. Não é coisa digna do
Filho de Deus honrar assim Sua Mãe, pois que Ele veio, não para
ab-rogar, mas para cumprir a lei, que nos manda, entre outras coisas,
honrar nossos pais? Ele quer por este meio satisfazer uma dívida de
reconhecimento para com aqu'Ela que lhe deu o ser humano. Seu amor
para com Maria é tão grande, que basta que Ela fale, para ser
ouvida, diz Guilherme de Paris. Santa Brígida ouviu um dia Jesus
dizer a Maria: Minha Mãe, pedi o que quiserdes, não Vos
recusarei nada. Ó bondade admirável do Coração de Jesus! Ele
se dignou nos dar por Advogada aqu'Ela que pode obter d'Ele por Suas
súplicas tudo o que quer.
Outra que não Rebeca teria
podido dar água do poço ao servo de Abraão; mas Jesus, diz São
Bernardo, fez um Decreto pelo qual Ele não quer nos conceder seus
favores senão por meio de Sua Mãe. Ele encheu Maria de todas as
graças, a fim de que recebamos por Ela, como por um canal, todos os
bens que podemos esperar. Por este canal salutar é que os dons
celestes descem continuamente sobre nós. Holofernes, querendo
reduzir a cidade de Betulia, ordenou que seus aquedutos fossem
cortados. Assim procede o Demônio: ele se esforça o mais que pode,
para conseguir que as almas percam a devoção a Maria, porque, uma
vez desviado este benéfico canal, as graças do Coração de Jesus
não podem mais chegar até nós. Consideremos, pois, ajunta
São Bernardo, com que afetuosa devoção Jesus quer que honremos
Sua Mãe, recorrendo à Sua proteção, pois, Ele pôs n'Ela a
plenitude de todos os bens, de sorte que nenhuma graça nos vem do
Coração de Jesus sem passar por Maria.
Eliezer foi feliz por ter
encontrado Rebeca; mil vezes mais felizes seremos nós se achamos a
Maria. Achando Maria, achamos todos os bens, diz o abade de
Celles; n'Ela temos todas as graças, todas as virtudes, pois que,
por Sua poderosa intercessão, do Coração de Seu Filho, obtemos
tudo o que nos é necessário para sermos ricos dos dons celestes.
Ela mesma nos diz que tem entre Suas mãos todas as riquezas do
Céu, isto é, as graças divinas, para as distribuir àqueles
que A amam.
Rebeca era tão boa, que, apenas o servo de Abraão falou, obteve
água no mesmo instante. Quem poderá nos dizer a bondade de Maria?
Não basta dizer que Ela é nossa Mãe? Ah! Para compreender o abismo
de amor deste Coração maternal, seria preciso compreender o abismo
do Coração de Jesus. Sim, é necessário conhecer o Coração de
nosso Salvador, para conhecer de nossa Mãe: porque, tendo o amor
tornado inseparáveis os Corações de Jesus e Maria, eles buscam,
com acordo comum, nossa felicidade e salvação. Se a lembrança
de nossos pecados nos separa de Deus, porque ofendemos nele uma
Majestade infinita, aproximemo-nos de Maria, em que nada achamos de
terrível. Sem dúvida, Ela é Imaculada, a Rainha do Universo, a Mãe
de Deus; mas, tem a mesma origem que nós, é filha de Adão como
nós; n'Ela tudo é bondade, tudo é doçura; Ela se faz tudo para
todos; por Sua grande caridade, Ela se tornou devedora para com os
justos e pecadores, abre a todos Seu Coração cheio de misericórdia,
a fim de que todos vão haurir dele. Maria tem para nós Coração de
Mãe, coração formado de propósito para nos amar, coração no
qual Seu Divino Filho derramou Sua bondade, misericórdia, amor, e de
alguma sorte Seu Coração mesmo. E temeríamos recorrer a Ela? Mas
que pode sair de uma Fonte de bondade, senão bondade? Diz
São Bernardo. Por isso, é que Ela é comparada à
oliveira,
porque, se do fruto da oliveira não sai outra coisa que óleo,
símbolo da misericórdia, do Coração de Maria não podem sair
senão graças e misericórdias.
Mas, dirá alguém, eu sou tão
grande pecador! Maria quereria ainda se interessar em meu favor? –
Sim; se Rebeca se apressou a dar água aos camelos de Eliezer, que
felicidade não experimenta o Coração de nossa Mãe, quando pode
socorrer algum pobre pecador? Maria é chamada Rainha de
misericórdia, diz São Bernardo, porque abre o abismo de Sua
misericórdia (que é o Coração de Seu Filho), para quem Ela
quer, quando quer, como quer. Nenhum pecador pode então perecer
se Maria o protege. Ah! Como Ela deseja salvar todos os homens, ainda
os mais criminosos! Os homens Me dão o nome de Mãe de
misericórdia, dizia Ela a Santa Brígida, e nisto vão bem: o
Coração todo misericordioso de Meu Filho Me fez toda misericordiosa
para com os pecadores. Ó clemência admirável do Coração de
Jesus! Não querendo que tenhamos que temer muito a sentença que Ele
deve pronunciar na nossa causa, destinou-nos uma Advogada que é Sua
Mãe e nossa, de sorte que Ela é bastante poderosa para o dobrar,
bastante compassiva para procurar salvar-nos. Oh! Que motivo de
confiança! Minha salvação depende do Coração de Jesus, o mais
terno dos irmãos, e do Coração de Maria, a mais amável e
misericordiosa das mães!
Que é que Maria exige do
pecador para o salvar? Uma só coisa: que a invoque com o desejo de
se corrigir. Aquele que põe sua confiança n'Ela, nunca será
confundido. Eu convido, nos diz Ela, todos os homens a recorrerem a
Mim, com paciência os espero e tenho vivo desejo de os socorrer;
estou pronta sempre a lhes obter as graças, o perdão, a salvação;
porque o Coração todo misericordioso de Meu Filho Me fez toda
misericordiosa.
Confiança, pois, em Maria,
diz Ubertino de Casal; se queremos achar lugar no Coração de
Jesus, dirijamo-nos para Ele com esta boa Mãe. Ainda que
fôssemos os maiores pecadores do mundo, Ela nos convida com o Profeta
Isaías a nos aproximarmos d'Ele: Vinde, diz Ela, vinde
pecadores, ao Coração de Meu Jesus;
Ele está sempre aberto para vos receber; vinde arrependidos, e Ele
vos acolherá.
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