Dom
Fernando Arêas Rifan*
Muitos consideram
as eleições como expressão da verdadeira vontade popular,
manifestada pela maioria. Chegam mesmo a dizer: “vox populi, vox
Dei”, “a voz do povo é a voz de Deus”. Mas será mesmo assim?
Será que realmente ganham os melhores os mais preparados para o
cargo? Ganha a eleição quem tem mais sabedoria, prudência,
competência, honestidade, ou ganha quem grita mais, quem foi melhor
apresentado pelos marqueteiros e formadores de opinião, criadores de
sonhos no imaginário popular?! Sem considerar muitos outros fatores,
devemos dizer que nem sempre ganha quem merece.
É
a grande discussão sociológica e filosófica sobre a verdadeira
representatividade? Já foi dito com propriedade: “sufrágio
universal, mentira universal!”. Sim, porque muitas vezes o povo
vota influenciado pela propaganda, pelos formadores de opinião, sem
muita reflexão e conhecimento pleno do que significa o seu voto.
Jesus
foi condenado à morte, a pedido da maioria da população. Na
eleição proposta pelo governador romano, Pôncio Pilatos, entre
Barrabás e Jesus, este último foi fragorosamente derrotado, porque
o povo sufragou Barrabás, revolucionário e homicida, condenando o
inocente à morte.
Mas,
por que Jesus perdeu essa eleição? A morte de Jesus foi realmente o
desejo da maioria do povo? Jesus, tão querido por todos, cercado
pelas multidões, aclamado pela população ao entrar em Jerusalém,
foi condenado por esse mesmo povo, cinco dias depois?! Ou será que
esse povo foi manobrado por uma minoria ruim, mas muito hábil? O
Evangelho diz que os chefes, os manipuladores de opinião,
influenciaram o povo a que pedisse Barrabás e condenasse Jesus. Ele
mesmo, ao morrer na cruz, pediu por eles perdão ao Pai, dizendo que
eles não sabiam o que faziam. Já não eram mais povo; tinham se
tornado massa. O povo pensa. A massa é que é manobrada. Nem sempre
podemos dizer que a eleição seja expressão da vontade do povo.
Talvez seja só da massa.
Quando
aconteceu a Ressurreição de Jesus, fato incontestável, diz o
Evangelho de São Mateus (28, 11-15), que os sumos sacerdotes judeus,
com os anciãos, “deliberaram dar bastante dinheiro aos soldados; e
instruíram-nos: ‘Contai o seguinte: ‘Durante a noite vieram os
discípulos dele e o roubaram, enquanto estávamos dormindo’. E se
isso chegar aos ouvidos do governador, nós o tranquilizaremos, para
que não vos castigue”. Eles aceitaram o dinheiro e fizeram como
lhes fora instruído. E essa versão ficou divulgada entre os judeus,
até o presente dia”. Vê-se que o suborno e a mentira são de
longa data. Por analogia, quando da proposta da escolha entre Jesus e
Barrabás, ao lerem os intérpretes a passagem “os sumos sacerdotes
e os anciãos, porém, instigaram as multidões para que pedissem
Barrabás e fizessem Jesus morrer” (Mt 27, 20), concluem que os
inimigos de Jesus distribuíram dinheiro ao povo para que escolhessem
Barrabás. A compra de votos também é de longa data.
*Bispo
da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney
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