Nascimento,
Pátria, Juventude,
Educação,
Virgindade e Santidade
O que primeiro se deseja
conhecer a respeito de alguma pessoa, são as datas e circunstâncias do
nascimento.
Em nossos dias, ao nascer
uma criança, registra-se-lhe o nome e sobrenome, o lugar, ano, mês e dia em que
nasceu, assim como a condição e procedência dos genitores. O registro é
cuidadosamente conservado; por esta razão é facílimo conhecer o nosso
nascimento ou o de pessoas nascidas em épocas que nos são próximas. Tal uso
porém, nem sempre se praticou. Nos tempos de São José, não se registravam os
nascimentos; o seu não foi registrado nem pelos genitores nem por outros; por
conseguinte, não deve causar surpresa o fato de não saber-se com exatidão
quando sucedeu.
Mas tal nascimento era por
demais importante para permanecer no esquecimento. Por isso, o que não fizeram
os genitores de São José, fê-lo, ao menos em parte, o próprio Deus, inspirando
o evangelista São Mateus a escrever: “Jacó
gerou José, esposo de Maria, da qual nasceu Jesus Cristo”. Com estas
palavras, diz-nos o Evangelho o mais importante a saber-se quanto ao seu
nascimento: o nome de seu pai, que foi Jacó ou Tiago: “Jacó gerou José”.
A melhor conciliação de
São Lucas, que chama a José filho de Heli, com São Mateus, é a seguinte: Heli e
Jacó eram irmãos por parte materna. Tendo Heli morrido sem filhos, Jacó
desposou a viúva, da qual teve José, verdadeiro filho de Jacó, descendente de
Matan, mas, segundo a lei, filho de Heli.
Segundo a opinião mais provável,
São José nasceu em Belém. Prova-o também o Santo Evangelho, ao dizer que o
Santo, de conformidade com o decreto de inscrição publicado por Augusto, para
ali se dirigiu com a sua Esposa, a fim de inscrever-se nos registros do censo.
Tal decreto ordenava que
todo chefe de família se registrasse no lugar de nascimento e não no de origem;
de outra forma, todos os hebreus, então dispersos no Império Romano, teriam de
emigrar de Roma, das Gálias, da Espanha, etc.; para a Judeia, com notável perda
de tempo e com pesadas despesas e aborrecimentos.
Que São José tenha nascido
em Belém, confirmam-nos São Gregório de Nissa e, com mais clareza ainda, São
João Damasceno, que transmitiu muitas outras notícias a respeito da Sagrada
Família. Antes deles, atestara-o São Justino em seu Diálogo com Trifão, dizendo
que São José, por ordem de Augusto, subiu de Nazaré a Belém, sua antiga pátria,
para registrar-se. Depois, chamaram-no “de
Nazaré”, como também se chamou a Jesus de Nazareno, por haverem habitado
ali, embora nascidos em Belém.
Segundo os melhores
cronologistas da Bíblia, São José nasceu em 713 de Roma, isto é, 34 anos antes
do nascimento de Jesus, e contava 33 anos quando desposou a Santíssima Virgem
Maria.
A pátria de São José foi a
Terra Santa. Circundada ao norte pelos cimos alvejantes do Hermon e quase
dividida em duas partes pelo curso do Jordão, estende-se a bela região como
ridente oásis entre o Mediterrâneo e o deserto da Síria e Arábia. Diferentíssima
pelas numerosas planícies e planaltos, rica de prados e vales fecundos a
serpentearem em todas as direções.
Nos tempos de São José, a
Galileia era a parte mais ridente do país, com o seu lago encantador, os oásis
e sombreadas elevações, entre cujos prados sobressai Nazaré, enquanto a Judeia,
de terreno pedregoso e gargantas escarpadas, assumia um aspecto grandioso e, em
conjunto, rígido e severo. Possuía esta uma colina central, o Templo, sede de
Deus e centro da vida religiosa e política da nação. A pouca distância dali,
avistava-se a pobre, mas régia Belém.
A Palestina era justamente
uma terra que só Deus podia dar a seu povo eleito entre as antigas nações,
digna de oferecer moradia e campo de ação ao Verbo Encarnado. Nazaré, Jerusalém
e Belém: eis os três santos lugares onde mais se desenvolveu a vida de São
José.
José era de estirpe tão ilustre
que não existia outra, no Antigo Testamento, capaz de superá-la. De fato,
atestando o Evangelho que José nasceu de Jacó, diz-nos, em primeiro lugar, que
pertenceu à tribo de Judá e à estirpe do Rei Davi, do qual distava 24 gerações,
ou seja, 24 graus de consanguinidade. A tribo de Judá foi a mais célebre das
doze tribos que formaram o povo hebreu. A estirpe de Davi foi o ramo mais
glorioso da tribo de Judá; José pertenceu a esta estirpe; portanto, foi por
nascimento, não só de sangue real, mas do sangue dos reis mais ilustres do povo
hebreu.
O Evangelho, além de
atestar que São José nasceu de Jacó, diz-nos que era parente consanguíneo de
Maria Santíssima, que veio a ser a sua castíssima Esposa. Maria era
efetivamente, como diz o Evangelho, da estirpe do Rei Davi, e portanto,
consanguínea de José. Qual o seu grau de consanguinidade com José, não nos diz o
Evangelho, razão pela qual não se pode saber com certeza. No entanto, é muito
provável fosse a Mãe de Maria irmã de Jacó, e José primo em primeiro grau de
Maria. A nós, mais que o grau de parentesco, importa saber que ele foi parente
de Maria, o que é certo por resultar do Evangelho.
Finalmente, atestando o
Evangelho ter São José nascido de Jacó, diz-nos ter sido parente também de
Jesus Cristo considerado como Homem, e ter Jesus Cristo pertencido à estirpe da
qual devia nascer o Messias prometido por Deus. E Jesus foi verdadeiro filho de
Maria, Maria consanguínea de José, José da tribo de Judá e da estirpe de Davi,
portanto, também Jesus Cristo pertenceu a esta tribo, tribo da qual, segundo as
profecias, devia nascer o Messias.
Se, para proclamar a
fidelidade dos antigos Patriarcas, Deus mesmo achava glória em chamar-se o Deus
de Abraão, de Isaac, de Jacó, e muitas vezes louvava, por meio dos Profetas, a
santidade de Davi, decerto ninguém, no Antigo Testamento, pode vangloriar-se de
descender de estirpe mais ilustre que a de São José. Ele, porém, em vez de
vangloriar-se, procurou imitar-lhes as virtudes e em vez de desejar a
reconquista do reino de Davi, amou e praticou santamente a pobreza e a
humildade, que depois lhe alcançaram, ainda na terra, um tesouro maior que
todos os reinos do mundo.
São José nasceu em tempos
de imensa angústia para a sua nação. As condições da Judeia (assim se chamava a
Terra Prometida depois do cativeiro de Babilônia, pois os hebreus que voltaram
pertenciam quase exclusivamente à tribo de Judá), eram bem deploráveis naquele
tempo. Toda a nação se achava em discórdia.
Depois da tomada de
Jerusalém, Herodes mandara levar ao seu palácio, com o ouro e a prata que
tomara dos ricos, tudo quanto achara de precioso, reunindo assim uma grande
soma. Mandou matar barbaramente os chefes do partido que lhe era contrário,
confiscou-lhes os bens e mais tarde, sempre no desejo de reinar sozinho, mandou
matar alguns de seus parentes e filhos, e até sua esposa Mariana e a mãe desta,
Alexandra. Eis o homem ambicioso e cruel que, como veremos adiante, na
esperança de ferir Jesus Menino, mandara matar barbaramente grande número de
crianças inocentes. Mas em vão, porque Jesus, levado nos braços maternos, irá
ocultar-se durante algum tempo no Egito, por obra de São José.
Em meio a tantas lágrimas
de sua nação, nascera, da estirpe de Davi, São José, a quem pertencia o trono e
o cetro de Judá. Cetro que, na ocasião da vinda do Messias, deveria ser tomado
e dado a estrangeiros; isso aconteceu justamente no tempo de nosso Santo.
A verdadeira glória do
nascimento de São José, foi a sua santificação no seio materno. Não há dúvida,
diz Santo Afonso de Ligório, de que, todo dom ou privilégio que Deus concedeu a
outro Santo, também o tenha concedido, de preferência, a São José. E assim como
Jeremias, no Antigo Testamento, e São João Batista, no Novo, foram santificados
antes de nascer, asseveram muitos Santos Padres, com Gerson, Segneri, São
Leonardo, Cornélio a Lapide, que também São José teve tal privilégio, foi
confirmado na graça e isento do estímulo da concupiscência.
A tal respeito não se
pronunciou ainda a Igreja, mas é justo crer em tudo quanto resulta em honra e
glória do Santo Patriarca. De fato, se Maria, por ser destinada a Mãe de Jesus,
foi preservada do Pecado Original; se o Batista e o Profeta Jeremias, por
estarem destinados a preparar o caminho ao Salvador do mundo com a pregação e
as profecias, foram santificados, purificados do Pecado Original antes do
nascimento, não terá São José, destinado a defensor, custódio e Pai adotivo de
Jesus Cristo, recebido também este privilégio? Dá-nos a resposta o pio e douto
Gerson, com as palavras pronunciadas no Concílio de Constança, em presença de
muitos Bispos: “Pode crer-se piamente que
São José foi santificado antes do nascimento”.
Não significa isso que São
José tenha sido preservado do Pecado Original como Maria Santíssima; apenas que
foi purificado da mácula do pecado antes de nascer. Assim, ao nascer, tinha a
alma bela, cândida, santa e cara a Deus.
No especial privilégio
concedido a São José, entra unicamente a graça de Deus, mas, se o Senhor condescendeu em favorecê-lo de modo tão notável, comprazer-se-á, sem dúvida, em
que o honremos em vista de tal favor. Com alegria, coloquemos pois, na fronte
do Glorioso Patriarca a gema de seu nascimento. Sobre esta gema, escrevamos:
Foi santificado antes do nascimento; é de sangue real; foi parente de Maria e
de Jesus Cristo.
Nos tempos em que nasceu
São José, estava prescrita para o povo hebreu a cerimônia da Circuncisão, a
qual deviam submeter-se todos os filhos varões, no oitavo dia após o
nascimento. Em tal circunstância, impunha-se-lhes o nome e eram agregados ao
povo hebreu.
A lei da Circuncisão fora
dada por Deus a Abraão em sinal de sua aliança, sendo depois renovada por
Moisés. Por sua fé, o povo hebraico, submetido à Circuncisão, recebia a graça
da justiça original em virtude dos méritos do futuro Redentor. Também o nosso
Santo foi circuncidado no oitavo dia, sendo-lhe imposto o nome de José; nome
excelso que significa crescimento, ou filho que cresce.
Atestam diversos e
célebres autores que o nome de José lhe foi dado pelos genitores por impulso do
próprio Deus, pois Deus, destinando-o a um sublime ofício, quis favorecê-lo de
modo particular. Também diz Santo Tomás: “Os
nomes impostos por Deus aos homens significam sempre algum dom especial que Ele
distribui aos mesmos”.
Sobre a infância de São
José, muito pouco nos diz a Sagrada Escritura. Todavia, é certo que, chamado
pelo Evangelho “justo” por
excelência, levou desde criança uma vida virtuosa e edificante. Muitas
circunstâncias, porém, vieram a tornar-se conhecidas pela constante Tradição e
por revelações do Céu a almas pias e santas, as quais chegaram depois até nós.
O modo de educar varia
segundo os tempos, lugares e condições. Por isso, para conhecer a educação de
São José, devemos conhecer os usos dos hebreus nos tempos em que viveu. Não
existiam então escolas públicas, e a instrução à juventude era dada pelos
genitores na própria casa. Havia, entretanto, em cada cidade, uma escola,
chamada Sinagoga, onde se explicava a Escritura.
São José teve dos
genitores a instrução literária de seu tempo, e nos dias festivos, isto é, nos
sábados, frequentava a Sinagoga de sua cidade, onde aprendeu a História e a
verdade da religião.
Entre os hebreus, havia o
costume de ensinar um ofício a todos os jovens, qualquer que fosse a sua
condição. Para José o trabalho era uma necessidade, razão pela qual, chegando à
idade de doze anos, entrou como aprendiz na oficina de um carpinteiro, onde
aprendeu o fatigante ofício que depois exerceu por toda a vida.
Muitos escritores,
baseando-se nas revelações, dizem que foi dotado de muita inteligência, rico de
ciência religiosa e muito experimentado no exercício de sua arte. José era
piedoso e bom, sua figura nobre e atraente, o porte digno e suave, o semblante belíssimo,
parecido ao de Jesus, o mais belo que se viu entre os filhos dos homens.
Assegura-nos, porém, a
história que o Senhor não permitiu que alguns de seus diletos sentissem a
brutal inclinação sexual. De Santo Tomás de Aquino, sabemos que, logo após uma
vitória alcançada contra a impureza, foi cingido pelos Anjos e desde então não
sentiu mais tentação alguma no corpo. De São Luís se acredita tenha sido
preservado deste gênero de perigos contra a santa pureza. O mesmo se assegura
de muitos outros santos. Portanto, se o Senhor se dignou conceder tal
privilégio a muitos Santos, não o teria concedido também a São José,
santificado antes do nascimento, destinado a Esposo da Rainha das Virgens,
Custódio de Jesus, Cordeiro sem mácula que acha suas delícias em apascentar-se
entre os lírios?
Ao favor de não se achar
sujeito a tentações impuras, São José correspondeu entregando-se inteiramente a
Deus, desde criança. O Senhor antecipara a santificação de sua alma e lhe
colocara no coração grande afeição à pureza: Libertara-o da inclinação ao vício
contrário a essa virtude, e ele deu-se inteiramente a Deus. A Ele consagrou os
pensamentos da mente, os afetos do coração, a alma, o corpo, toda a vida e
consagrou-se a Deus, segundo se crê, com o voto de perpétua virgindade, até
então desconhecido e que forma justamente a primeira glória de sua juventude e
de sua vida.
O Evangelho nada nos diz
sobre este voto. Mas a Igreja, como escreve São Pedro Damião, sempre julgou
assim, isto é, tenha permanecido sempre virgem não só Maria, Mãe de Jesus, mas
também São José, seu pai adotivo. Diz Santo Tomás de Aquino não podia ser de
outra maneira, pois: “Assim como Jesus Cristo
escolheu um virgem, São João Evangelista, para, da Cruz, confiar-lhe a sua Mãe,
não podia tão pouco deixar de escolher um homem virgem para ser-lhe o castíssimo
Esposo”.
São José observou o voto
de perpétua castidade e a virtude da pureza por toda a vida. Na infância, na
juventude e na virilidade, foi sempre tão reservado nos olhares, nas palavras,
no tato, nos pensamentos, nas imaginações, nos afetos, nos desejos, foi tão
casto e puro de mente, coração e corpo, que Santo Agostinho não hesitou em
comparar-lhe o candor virginal com o de Maria Santíssima e de chamá-lo igual.
Diz ele: “José tem, com Maria, igual
virgindade”. Chamou-o Cornélio a Lapide: “Mais anjo que homem”; e São Francisco de Sales escreve a seu
respeito: “São José ultrapassou, na
pureza, os Anjos da mais alta hierarquia”.
Como nasceu em São José o
desejo de permanecer virgem, só se pode explicar admitindo um impulso interior
da graça, que lhe fizera conceber elevada estima dessa virtude, chegando ao
ponto de renunciar ao Matrimônio e, portanto, à esperança de ser o genitor do
futuro Messias.
Justamente no instante em
que todos esperavam o nascimento do Redentor, São José, por amor da virgindade
e por um sentimento de humildade, renuncia ao Matrimônio e resolve permanecer
virgem por toda a vida.
Deus aceita o seu heroico
sacrifício e, como prêmio, fá-lo Esposo virginal de Maria e pai adotivo de seu
divino Filho. E assim São José com Maria, primeiro exemplo em toda a história
do mundo, une o estado virginal ao conjugal, tornando de tal maneira mais
esplêndida a sua virgindade, mais divino o seu Matrimônio.
Não obstante ter sido São
José confirmado por Deus na graça e ter recebido muitos outros favores
celestes, todavia, não deixou jamais de desconfiar de si mesmo. Sua virtude,
embora superior a todos os perigos, temia até os mais leves perigos; seu
coração não se julgava seguro, senão fugindo de toda aparência de mal.
Os Santos Doutores admiram
o seu silêncio, como se receasse intemperança em sua língua. Recordam a sua
aplicação no trabalho, como se o ócio lhe fosse um perigo; louvam o seu amor à
solidão, como se o ar do mundo lhe pudesse macular a virtude. Diz São Jerônimo:
“José mereceu o nome de ‘Justo’, porque possuía
de modo perfeito todas as virtudes”.
Estes Santos, com tais
expressões, testemunham a própria persuasão de que São José passou a vida, não
só afastado de toda desonestidade, mas também de que jamais lhe passou pela
mente algum pensamento e pelo coração algum afeto que fosse menos puro e casto.
Diz Suarez: “Se o Senhor, tanto se compraz nos corações
virgens que acha suas delícias em habitar com eles, quanto não se terá
comprazido no coração de São José, que foi dos primeiros a amar e cultivar a
virtude da pureza, e com tanta perfeição a cultivou que foi chamado ‘um anjo em
carne’! Certamente, seu coração foi um ameno jardim de delícias aos olhos do
Senhor e, antes de nascer Maria, foi o mais caro de todos, justamente por ser
virgem”.
No Evangelho, lê-se que
São José, ao desposar Maria Santíssima, era um homem justo. São Jerônimo,
explicando essa palavra, justo, diz que o Senhor ordenou chamar José com tal
nome, não somente por possuir a virtude da justiça, mas por possuir todas as
virtudes e de modo perfeito. Resulta, portanto, do Evangelho, que São José, aos
33 anos de idade, isto é, quando desposou Maria, era um homem perfeito em todas
as virtudes, era um Santo.
Ensina o Espírito Santo e
confirma-o a experiência que, na santidade e na perfeição, procede-se aos
poucos e ninguém se torna santo num instante. Ora, na idade de 33 anos, São
José era perfeito em todas as virtudes; significa isso que estabeleceu os
fundamentos de sua santidade e iniciou a prática das virtudes desde menino.
Está escrito, por ordem do
Espírito Santo, que o jovem, tendo tomado o seu caminho, dele não se afasta nem
quando velho. Isto é, quem é bom e virtuoso na juventude, será bom e virtuoso
também na velhice. Ora, Deus proclamou a São José santo na virilidade e na
idade avançada, portanto, foi bom e santo desde a juventude.
Escolhido para Esposo de
Maria, devemos crer que era o jovem mais rico de virtudes, o mais santo.
Realmente, diz o Espírito Santo que, a um jovem santo, será dada, em prêmio de
suas boas obras, uma esposa santa. Maria, Esposa de São José, foi a mais
perfeita, a mais santa de todas as donzelas; por essa razão, tendo Deus
escolhido São José para seu Esposo, significa ter sido ele o mais santo de
todos os jovens, porque sua Esposa era a mais santa de todas as jovens. Assim como,
se houvesse uma jovem mais santa que Maria, seria ela e não Maria, a eleita
para Mãe de Jesus, assim, se houvesse jovem mais santo, mais perfeito que José,
seria ele e não José o escolhido para Esposo de Maria. Podemos, portanto,
deduzir da santidade de Maria, por Deus destinada a ser a Esposa de José, que
este Santo passou a juventude caminhando sempre na vida da perfeição, e foi na
santidade, muito semelhante a Maria.
Se considerarmos, pois,
que cada pessoa tem uma vocação determinada por Deus, ou seja, que Ele, no ato
de dar existência a uma pessoa, destina-a para determinado ofício; por exemplo,
destina um para lavrar a terra, outro para ser seu ministro e outro ainda para
exercer a medicina; que Deus, no ato de destinar uma pessoa para determinado
ofício, dá-lhe também os auxílios especiais necessários para desempenhar os
deveres inerentes ao mesmo, devemos concluir que muito grande deve ter sido a
santidade do castíssimo Esposo de Maria, depositário dos tesouros de Deus Padre,
representante do Espírito Santo, defensor e custódio de Jesus.
E foi justamente em vista
de tal verdade que São Bernardo diz de São José: “De sua vocação, considerai a multiplicidade, a excelência, a
sublimidade dos dons sobrenaturais com que foi enriquecido por Deus”.
Sendo, pois, certo que o
Senhor enriqueceu São José com dons proporcionados à missão para a qual o
destinara; que a sua missão era a mais sublime a poder existir sobre a terra e
requeria muita santidade; que a correspondência de São José aos divinos favores
foi perfeita, deve concluir-se que passou santamente toda a juventude.
De quanto temos dito,
podemos concluir: São José, antes de desposar Maria, foi modelo da juventude
por sua docilidade, obediência e respeito; foi de grande consolação para seus
genitores com o retiro, silêncio e reserva nas palavras e nos olhares; com sua
atitude edificava a quantos o observavam. Trabalhava para ganhar a vida, mas no
trabalho tinha em vista a glória de Deus. Para Ele achavam-se voltados sua
mente e seu coração. Sua vida era um entrelaçado das mais santas ações,
palavras, pensamentos e afetos, um entrelaçado de todas as virtudes.
Em fins do século XVII, no
nobre e miserável arrabalde de Viena, chamado Laimgrube, que se tornou mais
tarde um dos mais ricos da capital da Áustria, vivia em uma mísera cabana o
célebre músico Paulo Merten, em companhia de sua filha Josefina, de dezesseis
anos, muito hábil na arte do bordado. As últimas guerras, sustentadas pelos
vienenses contra os turcos, os haviam empobrecido. Merten e sua filha, ficando
sem trabalho, iam muitas vezes para a cama com frio e em jejum.
Um dia em que a sua
miséria parecia chegada ao cúmulo, Josefina, não podendo mais contemplar o
desfalecimento e aflição do pai, disse-lhe:
– Pai, deixa que eu vá
procurar um emprego, assim poderei enviar-te os meus lucros. – Mas ele
respondeu:
– Queres também deixar-me,
ó filha minha? Quem então me assistirá? Não, jamais permitirei.
– Mas, caro pai – replicou
Josefina – já não tenho outro meio para auxiliar-te; algum tempo atrás escrevi
ao marido da madrinha, recentemente falecida, e até agora não recebi resposta
alguma.
– Não é para admirar –
respondeu o pai, – é o mesmo que ter escrito ao Diabo.
O pobre Paulo Merten, fora
de si com as privações sofridas, não sabia mais o que dizer.
– Ó meu pai! Que sombrios
pensamentos te dá a miséria! Exclamou a menina, com as lágrimas nos olhos. –
Antes, encomendemo-nos ao caro Padroeiro São José, para que nos alcance do
Senhor auxílio e emprego.
– Julgas na verdade –
replicou o pai com amargura – que o pobre Carpinteiro tenha tanto poder no Céu?
Pois bem, escreve-lhe, se te agrada, e veremos que proveito terás.
– São José é poderosíssimo
no Céu – respondeu suavemente Josefina, – escrever-lhe-ei e a minha rolinha
branca, à qual não posso dar hoje nem uma migalha de pão, servir-me-á de
mensageiro. – Assim dizendo, sentou-se à mesinha de seu pai, e em uma folha de
papel escreveu a seguinte mensagem:
“Deus Te salve, José! Tem
piedade de nós em nossa grande aflição. Não temos trabalho nem meio de
subsistência; pede a Nosso Senhor me faça encontrar um emprego, pois meu pai
está passando fome. Tua fiel Josefina Merten, costureira, filha do músico.
Laimgrube, Rua Maria Helfer, número 13”.
Isto feito, dobrou a
cartinha, prendeu-a ao pescoço da rolinha, e esta logo alçou o voo. Passara-se
apenas uma hora, e eis um elegante senhor batendo à porta do senhor Merten.
– Mora aqui a senhorinha
Merten?
– Sim, senhor – respondeu bruscamente
o pai, lançando ao visitante um olhar perscrutador. – Que deseja?
– Chamo-me José Carlos
Hirte, e sou um joalheiro desta cidade. Moro aqui perto e recebi uma mensagem
de São José de quem sou muito devoto. Venho em seu nome para responder à carta
que lhe foi escrita por vossa filha. Tenho muito trabalho e esta menina poderá
fazê-lo. Além disso, ingressei no coro da Igreja dos Carmelitas e necessito de
lições para aperfeiçoar-me. Quereis aceitar a incumbência?
– Oh, com muito prazer! –
exclamaram Josefina e seu pai.
– Bem! – continuou o
senhor Hirte, – por enquanto, aceitai esta oferta – e, assim dizendo, colocou
cinco ducados na mesinha.
– Ó pai, – exclamou a
menina – vês com quanta bondade recebeu São José a minha carta? Como faremos
para agradecer-lhe?
– É assim, senhorinha, –
acrescentou o senhor Hirte; – fazei sempre assim e jamais estareis sem auxílio.
Enviar-vos-ei por meu empregado todo o necessário para o trabalho e espero
tornar a ver-vos em breve. E vós, senhor, quereis vir amanhã à minha casa para
iniciar as lições? Eis o meu endereço: não é possível extraviar-se, pois na
fachada da casa está pintada uma grande imagem de São José.
Dito isto, saudou-os e
despediu-se.
De que modo acontecera
esse inesperado socorro? É fácil explicá-lo. A rolinha, enfraquecida pelo longo
jejum e cansada por motivo do insólito peso, não pudera voar muito longe, e
procurou refúgio em um lugar próximo. Quis o acaso, ou melhor, estabeleceu a
Providência de Deus, que a rolinha entrasse pela janela aberta de um quarto
onde se achava o senhor Hirte, que, podem todos imaginar, surpreendeu-se ao ver
o inesperado hóspede com uma cartinha ao pescoço. Tomando a misteriosa carta,
leu-a e, comovido pela confiança daquela menina, resolvera atendê-la.
Algum tempo depois, o rico
comerciante, em vista das boas qualidades de Josefina, pediu-a em casamento; e
assim aconteceu que a pobre Josefina Merten se tornou a honrada e estimada
senhora Hirte. Esta, em sinal de gratidão a São José, mandou executar uma
belíssima pintura na casa onde vivera na pobreza; perene testemunho do poder do
glorioso Patriarca.
Oração
a São José
para todo
gênero de necessidades
Quanto é grande a
consolação que experimento, ó meu amável e poderoso protetor, ouvindo dizer à
vossa fiel serva Santa Teresa, que nunca vos invocou em vão e que todos aqueles
que vos tem verdadeira devoção, e reclamam o vosso socorro com inteira confiança,
sempre são atendidos! Animado eu, pois, com esta confiança a vós recorro, ó
digno Esposo da Rainha das Virgens, a vossos pés me acolho e como pecador que
sou, tremendo ouso aparecer diante de vós. Ah! Pelo glorioso título de Pai de
Jesus que tanto vos honrou, não rejeiteis as minhas súplicas, pelo contrário,
dignai-vos ouvi-las e deferi-las favoravelmente, e intercedei em meu favor para
com Aquele que quis ser chamado Filho vosso, e que vos obedeceu na terra como
seu Pai. Amém.
Jaculatórias
indulgenciadas
O Santo Padre Pio VII pelo
Rescrito de 28 de Abril de 1807 concede perpetuamente 300 dias de indulgências,
aplicáveis às Almas do Purgatório, àqueles que recitarem com o coração contrito
as três seguintes jaculatórias:
Amado
Jesus, José e Maria, o meu coração vos dou e a minha alma.
Amado
Jesus, José e Maria, assisti-me na última agonia.
Amado
Jesus, José e Maria, expire em paz entre Vós a minha alma.
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