Blog Católico, para os Católicos

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"Uma vez que, como todos os fiéis, são encarregados por Deus do apostolado em virtude do Batismo e da Confirmação, os leigos têm a OBRIGAÇÃO e o DIREITO, individualmente ou agrupados em associações, de trabalhar para que a mensagem divina da salvação seja conhecida e recebida por todos os homens e por toda a terra; esta obrigação é ainda mais presente se levarmos em conta que é somente através deles que os homens podem ouvir o Evangelho e conhecer a Cristo. Nas comunidades eclesiais, a ação deles é tão necessária que, sem ela, o apostolado dos pastores não pode, o mais das vezes, obter seu pleno efeito" (S.S. o Papa Pio XII, Discurso de 20 de fevereiro de 1946: citado por João Paulo II, CL 9; cfr. Catecismo da Igreja Católica, n. 900).

domingo, 12 de abril de 2015

O DETESTÁVEL VÍCIO DA CÓLERA.



Relata-nos São Dionísio Areopagita, através de uma resposta dada a um certo monge, chamado Demófilo, que “um certo pagão seduzira e fizera voltar à idolatria um cristão candiota (que nasceu na ilha de Cândia ou Creta), recém-convertido à fé. Carpo, homem eminente em pureza e santidade de vida, e que há grande aparência de ter sido Bispo de Cândia, concebeu por isso, tamanha cólera como nunca sofrera tal, e deixou-se arrastar tanto por essa paixão, que, levantando-se à meia-noite para rezar segundo seu costume, concluiu consigo mesmo não ser razoável que os homens ímpios vivessem mais, rogando à Divina Justiça matar com um raio aqueles dois pecadores juntos, o pagão sedutor e o cristão seduzido. Vede, porém, Teótimo, o que Deus fez para corrigir a aspereza da paixão de que o pobre Carpo estava dominado. Primeiramente, fez-lhe ver, como a outro Santo Estêvão, o Céu todo aberto, e Jesus Cristo Nosso Senhor sentado num grande trono, rodeado por uma multidão de Anjos que lhe assistiam em forma humana; depois, ele viu embaixo, a terra aberta como um horrível e vasto Inferno e os dois desviados, a quem ele desejara tanto mal. À beira desse precipício, trêmulos e quase desmaiados de pavor, por estarem prestes a cair dentro, atraídos de um lado por uma multidão de serpentes, que, saindo do abismo, se lhes enroscavam nas pernas e com as caudas lhes faziam cócegas e os provocavam à queda; e, do outro lado, certos homens que os empurravam e batiam para os fazerem cair, de modo que eles pareciam estar a pique de ser abismados naquele precipício. Ora, considerai, rogo-vos , Teótimo, a violência da paixão de Carpo. Porque, conforme ele mesmo contava depois a São Dionísio, ele não fazia caso de contemplar Nosso Senhor e os Anjos que se mostravam no Céu, tanto prazer achava em ver embaixo a angústia tremenda daqueles dois míseros maus, incomodando-se somente com o fato de tardarem eles tanto a perecer, e esforçando-se, portanto, para os precipitar por si mesmo; e, não o podendo fazer logo, despeitava-se com isso e os maldizia, até que enfim, levantando os olhos ao Céu, viu o meigo e mui compassivo Salvador que, por uma extrema piedade e compaixão do que se passava, se levantou do seu trono e, descendo até o lugar onde estavam aqueles dois pobres miseráveis, lhes estendeu a Sua mão bondosa, ao mesmo tempo que os Anjos também, uns de um lado, outros doutro, os retinham para impedi-los de cair naquele tremendo abismo; e, por conclusão, o amável e bondoso Jesus, dirigindo-se ao colérico Carpo, diz: olha, Carpo, bate agora em Mim; pois, estou pronto a padecer mais uma vez para salvar os homens; e isto me seria agradável se pudesse suceder sem o pecado dos outros homens. Porém, ademais, reflete o que te seria melhor, estar neste abismo com as serpentes ou ficar com os Anjos que são tão grandes amigos dos homens. Teótimo, o santo homem Carpo tinha razão de entrar em zelo por aqueles dois homens, e o seu zelo excitara justamente a cólera contra eles; porém, uma vez movida, a cólera deixara a razão e o zelo para trás, ultrapassando as fronteiras e limites do santo amor, e por conseguinte, do zelo, que lhe é o fervor. Convertera o ódio do pecado em ódio do pecador, e a dulcíssima caridade em furiosa crueldade.

Assim há pessoas que, pensam, não se possa ter muito zelo se não se tem muita cólera, achando não poderem acomodar coisa alguma se não estragarem tudo, conquanto, ao contrário, o verdadeiro zelo quase nunca se serve da cólera: porque, assim como não se aplica o ferro e o fogo aos doentes, senão quando não se pode fazer de outro modo, assim também, o santo zelo não emprega a cólera senão nas extremas necessidades”. 



Fonte: São Francisco de Sales, “Tratado do Amor de Deus”, Liv. Xº, Cap. XV, pp. 541-543; 2ª Edição, Editora Vozes, Petrópolis-RJ, 1996. Texto extraído do ensaio "Do Ódio ao Próximo e as suas Consequências".

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