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"Uma vez que, como todos os fiéis, são encarregados por Deus do apostolado em virtude do Batismo e da Confirmação, os leigos têm a OBRIGAÇÃO e o DIREITO, individualmente ou agrupados em associações, de trabalhar para que a mensagem divina da salvação seja conhecida e recebida por todos os homens e por toda a terra; esta obrigação é ainda mais presente se levarmos em conta que é somente através deles que os homens podem ouvir o Evangelho e conhecer a Cristo. Nas comunidades eclesiais, a ação deles é tão necessária que, sem ela, o apostolado dos pastores não pode, o mais das vezes, obter seu pleno efeito" (S.S. o Papa Pio XII, Discurso de 20 de fevereiro de 1946: citado por João Paulo II, CL 9; cfr. Catecismo da Igreja Católica, n. 900).

domingo, 19 de março de 2017

DO FRUTO QUE SE TIRA DA ORAÇÃO E MEDITAÇÃO.


Porque este breve tratado fala da oração e meditação, bem será dizer em poucas palavras o fruto que deste santo exercício se pode tirar, para que com mais alegre coração se ofereçam os homens a ele.

Notória coisa é que um dos maiores impedimentos que o homem tem para alcançar a sua última felicidade e bem-aventurança é a má inclinação do seu coração, e a dificuldade e má vontade que tem para bem obrar, porque a não estar esta de permeio, facílima coisa lhe seria correr pelo caminho das virtudes e alcançar o fim para que foi criado. Pelo que, disse o Apóstolo: Alegro-me com a lei de Deus, segundo o homem interior; mas sinto em meus membros outra lei e inclinação, que contradiz a lei do meu espírito. E me leva atrás de si cativo da lei do pecado.1 Esta é, pois, a causa mais universal que há de todo o nosso mal. Pois, para tirar este peso e dificuldade e facilitar este negócio, uma das coisas que mais aproveitam é a devoção. Porque, (como diz S. Tomás), devoção não é outra coisa senão uma presteza e ligeireza para bem obrar,2 a qual despede de nossa alma toda essa dificuldade e peso, e nos torna prestes e ligeiros para todo bem. Porque é uma refeição espiritual, um refresco e rocio do Céu, um sopro e alento do Espírito Santo e um afeto sobrenatural; o qual de tal maneira regula, esforça e transforma o coração do homem, que lhe põe novo gosto e alento para as coisas espirituais, e novo desgosto e aborrecimento das sensuais. O que nô-lo mostra a experiência de cada dia, porque, ao tempo em que uma pessoa espiritual sai de alguma profunda e devota oração, ali se lhe renovam todos os bons propósitos; ali estão os fervores e determinações de bem obrar; ali o desejo de agradar e amar um Senhor tão bom e tão doce como ali se lhe tem mostrado, e mesmo derramar sangue por Ele; e, finalmente, reverdece e se renova toda a frescura de nossa alma.

E, se me perguntares por que meios se alcança esse tão poderoso e tão nobre afeto de devoção, a isto responde o mesmo Santo Doutor dizendo: que pela meditação e contemplação das coisas divinas, porque da profunda meditação e consideração delas resulta este afeto e sentimento na vontade (que chamamos devoção), o qual nos incita e move a todo bem. E, por isso, é tão louvado e recomendado por todos os Santos este santo e religioso exercício; porque é meio para alcançar a devoção, a qual, embora não seja mais do que uma só virtude, e é como que um estímulo geral para todas elas. E, se queres ver como isto é verdade, olha quão abertamente o diz S. Boaventura por estas palavras:

Se queres sofrer com paciência as adversidades e misérias desta vida, sejas homem de oração. Se queres alcançar virtude e fortaleza para venceres as tentações do Inimigo, sejas homem de oração. Se queres mortificar a tua própria vontade com todas as suas afeições e apetites, sejas homem de oração. Se queres conhecer as astúcias de Satanás e defender-te dos seus enganos, sejas homem de oração. Se queres viver alegremente, e caminhar com suavidade pelo caminho da penitência e do trabalho, sejas homem de oração. Se queres enxotar de tua alma as moscas importunas dos vãos pensamentos e cuidados, sejas homem de oração. Se a queres sustentar com a gordura da devoção, e trazê-la sempre cheia de bons pensamentos e desejos, sejas homem de oração. Se queres fortalecer e confirmar teu coração no caminho de Deus, sejas homem de oração. Finalmente, se queres desarraigar de tua alma todos os vícios e plantar em lugar deles as virtudes, sejas homem de oração; porque nela se recebe a unção e graça do Espírito Santo, a qual ensina todas as coisas. E, além do mais, se queres subir à altura da contemplação e gozar dos doces abraços do Esposo, exercita-te na oração, porque este é o caminho por onde a alma sobe à contemplação e gosto das coisas celestiais. Vês, pois, de quanta virtude e poder seja a oração? E, para prova de todo o dito (deixado de parte o testemunho das Escrituras Divinas), isto basta agora por suficiente prova de que temos ouvido e visto, e vemos cada dia, muitas pessoas simples, as quais alcançaram todas estas coisas sobreditas e outras maiores, mediante o exercício da oração.3 Até aqui são palavras de S. Boaventura. Pois, que tesouro, que empório se pode achar mais rico, nem mais cheio do que este? Ouve também, o que a este propósito diz outro mui religioso e Santo Doutor, falando desta mesma virtude: Na oração (diz ele), limpa-se a alma dos pecados, apascenta-se a caridade, certifica-se a fé, fortalece-se a esperança, alegra-se o espírito, derretem-se as entranhas, purifica-se o coração, descobre-se a verdade, vence-se a tentação, afugenta-se a tristeza, renovam-se os sentidos, repara-se a virtude enfraquecida, despede-se a tibieza, consome-se a ferrugem dos vícios, e nela não faltam centelhas vivas de desejos do Céu, entre as quais arde a chama do Divino Amor. Grandes lhe são os privilégios! A ela estão abertos os Céus. A ela se revelam os segredos, e a ela estão sempre atentos os ouvidos de Deus.4 Isto basta por hora, para que de alguma maneira se veja o fruto deste santo exercício.



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Fonte: São Pedro de Alcântara, Tratado da Oração e Meditação, Parte I, Cap. I, pp. 41-45; Editora Vozes Ltda., Petrópolis-RJ, 1951.

1.  Rom. 7, 23.

2.  2a. quest. 82, art. 10; 2 v., quest. 83, 3, 1º.

3.  S. Bonav., De vita Christi.

4.  S. Lourenço Justiniano, In Ligno vitae: De oratione, cap. 2.


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