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"Uma vez que, como todos os fiéis, são encarregados por Deus do apostolado em virtude do Batismo e da Confirmação, os leigos têm a OBRIGAÇÃO e o DIREITO, individualmente ou agrupados em associações, de trabalhar para que a mensagem divina da salvação seja conhecida e recebida por todos os homens e por toda a terra; esta obrigação é ainda mais presente se levarmos em conta que é somente através deles que os homens podem ouvir o Evangelho e conhecer a Cristo. Nas comunidades eclesiais, a ação deles é tão necessária que, sem ela, o apostolado dos pastores não pode, o mais das vezes, obter seu pleno efeito" (S.S. o Papa Pio XII, Discurso de 20 de fevereiro de 1946: citado por João Paulo II, CL 9; cfr. Catecismo da Igreja Católica, n. 900).

segunda-feira, 6 de março de 2017

SPES OMNIUM CARMELITARUM, ORA PRO NOBIS.



A Oração Mariana Mais Antiga


A oração intitulada em latim Sub tuum praesidium ("Sob tua proteção"), de origem grega muito antiga, foi-se propagando em línguas e culturas diferentes ao longo da história, o que fez com que hoje hajam muitas variantes. Com preocupação de fidelidade a uma das fontes, poderia ser traduzida assim:

Sob o amparo de tua misericórdia, nós nos refugiamos, ó Mãe de Deus; não deixeis cair em tentação os que te suplicam, mas livra-nos do perigo, somente tu casta e bendita”.

Embora nós costumamos recitá-la assim: “À vossa proteção recorremos, Santa Mãe de Deus. Não desprezeis nossas súplicas em nossas necessidades, mas livrai-nos sempre de todos os perigos, ó Virgem gloriosa e bendita”.

Esta oração, à primeira vista tão simples, desperta hoje um interesse especial: é, comprovadamente, a oração mais antiga dirigida diretamente a Maria que se tem conhecimento. Em 1917, uma folha de papiro medindo 18x9,4 cm, foi adquirida no Egito pela John Rylands Library de Manchester (que catalogou o papiro como Pap. Ryl. 470), mas que o publicou somente em 1938. Embora com o texto um pouco corrompido, seu conteúdo era o Sub tuum praesidium. O Egito havia sido a pátria de origem dessa oração. A demora entre a descoberta desse papiro e sua publicação é significativa. Segundo alguns, C. H. Roberts, protestante, famoso papirólogo encarregado da publicação, se viu num “embaraço confessional”, já que o papiro traz confirmações importantes para o culto a Maria. Os protestantes afirmam que o culto à Virgem é um fenômeno tardio e deturpante na Igreja. Esse papiro vem desmentir essa afirmação. Ao publicá-lo, Roberts o datou como sendo do século IV. Mas seus próprios colegas desmentiram essa datação: o papiro não pode ser posterior ao século III. Na verdade, Roberts queria datar o papiro como sendo posterior ao Concílio de Éfeso, realizado em 431, o que possibilitaria afirmar que o Concílio provocou o culto a Maria, enquanto a verdade histórica parece ser outra: o Concílio recolheu a fé da Igreja, testemunhada pela sua liturgia, como nessa oração, ou seja, com este papiro não se pode mais negar a existência de formas de piedade mariana anteriores ao Concílio. Foi mérito de Feuillen Mercenier, do mosteiro de Chevetogne, ter reconhecido nos fragmentos do papiro o Sub tuum praesidium, propondo uma reconstrução do texto.

Como todas as orações litúrgicas antigas, também o Sub tuum praesidium se inspira em textos bíblicos, utilizando termos característicos da tradução grega conhecida como Septuaginta, ou seja, Setenta, principalmente dos salmos que pedem o socorro imediato do Senhor, refúgio e proteção. Aqui, são aplicados à Virgem, em quem se crê e de quem se espera proteção. O contexto histórico deve ser a perseguição pela qual passava a Igreja, com muitos mártires: sob Valeriano, por exemplo, foi martirizado na África são Cipriano e em Roma, o papa Sisto II e o diácono são Lourenço.

Para nós, teologicamente, é de suma importância, algumas palavras que aparecem no papiro: casta (virgem), bendita (ou gloriosa) e Theotókos. A principal é, sem dúvida, Theotókos, literalmente, “genitora de Deus”, ou seja, “Mãe de Deus”. No Concílio de Éfeso (em 431) este título foi definido solenemente como uma verdade de nossa fé. Este Concílio não estava preocupado com a questão mariana em si, mas com as interpretações que se vinham fazendo em torno da pessoa de Jesus. O Concílio de Nicéia definiu que Jesus é verdadeiro Deus e verdadeiro homem, mas não havia entrado no mérito de como compreender isso. Buscando esclarecer a unidade da pessoa de Jesus na duplicidade de suas naturezas, a humana e a divina, entraram em choque dois grupos: o patriarca de Constantinopla, Nestório e seu grupo, que afirmava que em Jesus a humanidade e a divindade estavam bem delimitadas, não se fundiam. Um autor moderno, para explicar isso com uma comparação atual, disse que é como uma casa de dois andares, em que se tocam apenas pela laje. Em consequência, Maria só poderia ser chamada de “mãe de Jesus” e não “mãe de Deus”. Uma das preocupações de Nestório era salvar a preexistência do Verbo, conforme o prólogo do Evangelho de João. O problema é que assim fazendo, Nestório rompia a unidade da pessoa de Jesus. São Cirilo, então bispo de Alexandria, se opôs a Nestório escrevendo algumas cartas a ele, condenando sua teologia.

O Concílio de Éfeso, reunido em 431, assumiu a postura de Cirilo como aquela que expressava a verdade cristã e condenou a de Nestório. Vale a pena lermos um trecho da carta de Cirilo assumido pelo Concílio de Éfeso: “As naturezas (humana e divina) se juntam em verdadeira unidade, e de ambas resulta um só Cristo e Filho, [...] Pois não nasceu primeiro um homem comum da Santa Virgem, e depois desceu sobre ele o Verbo de Deus. Mas sim, unido desde o seio materno, se diz que se submeteu a nascimento carnal, como quem faz o seu nascimento da própria carne, [...] Dessa maneira, (os santos padres) não tiveram receio de chamar ‘Mãe de Deus’ à Santa Virgem Maria” (DH 251). Concluindo o Concílio: “Deus é, segundo a verdade, o Emanuel, e por isso a Santa Virgem é mãe de Deus, pois deu à luz carnalmente ao Verbo de Deus feito carne” (DH 252).

Concluo com as palavras de I. Calabuig: “O texto do Sub tuum praesidium exprime com rara eficácia a confiança na intercessão da Virgem: ela, a ‘mãe de Deus’, a ‘única pura’ e a ‘única bendita’, é para a comunidade cristã um ‘refúgio de misericórdia’. Nele a comunidade se sente segura e, portanto, expressa a sua firme convicção de que a Virgem não rejeitará as súplicas de todos os que a invocam na hora da necessidade e do perigo”.


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Março de 2017

Pe. Luiz Antônio Belini - labelini2016@gmail.com



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