O amigo fiel é, na verdade, uma consolação em nossa vida. Ele é, na verdade, um sólido abrigo. Que não seria capaz de fazer um amigo verdadeiro? Que prazer, que vantagem, que segurança ele não nos proporciona? Inutilmente falaremos de mil tesouros: nada vale um verdadeiro amigo.
Falaremos, a princípio, das alegrias relacionadas com a amizade. A presença de um amigo põe o coração em festa e o faz desabrochar; unimo-nos a ele com uma união que enche a alma de uma felicidade indizível; basta a sua lembrança para elevar o nosso pensamento e dar-lhe asas. Falo dos amigos verdadeiros, que têm uma só alma com os seus amigos e consentiram em morrer por eles, daqueles que amam com uma amizade ardente. Não me taxeis de exagerado pensando nos amigos vulgares, simples companheiros de mesa, que de amigos só têm mesmo o nome. Se um de vós possui um amigo daqueles a que me refiro, reconhecerá que estou dizendo a verdade; ainda que o visse todos os dias, não ficaria satisfeito; ele lhe deseja o mesmo bem que deseja para si. Conheço alguém que, invocando os Santos em favor do seu amigo, lhes pedia que intercedessem primeiro por esse amigo, e só depois por ele. Tão grande bem é um amigo verdadeiro, que amamos, em consideração a ele, certos lugares e certas épocas. Do mesmo modo que, dos belos corpos, uma flor de beleza se difunde pelos lugares vizinhos, os amigos comunicam um pouco do seu encanto às regiões que visitaram; e, muitas vezes, encontrando-nos sem eles nestas regiões, choramos e gememos, à lembrança dos dias passados juntos. A alegria causada pela presença dos amigos não se poderia traduzir por palavras; só a conhecem aqueles que passaram por esta experiência. A um amigo pede-se um favor, dele se recebe, sem que a susceptibilidade seja ferida. Se os amigos nos dão uma ordem, nós nos mostramos gratos por isso; se eles hesitam em fazê-lo, ficamos entristecidos. Nada temos que não seja deles. Mesmo se desprezamos os bens terrestres, por causa de nossos amigos não queremos partir deste mundo; eles nos são mais caros que a luz do dia.
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Fonte: São João Crisóstomo, "II Homilia sobre a I Epístola aos Tessalonicenses, 3.
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