A Missa continua e renova a Ceia.
Grandeza e simplicidade desse Sacrifício.
Unir-se ao Sacerdote,
confessar os próprios pecados
para lhes obter o perdão.
Reconheçamos, pois cristãos, que todas as graças abundam nesse Sacrifício. Jesus morreu uma vez, e só uma vez pôde ser oferecido desse modo; do contrário, haveria que concluir que a virtude dessa morte seria perfeita. Mas aquilo que Ele fez uma vez dessa maneira, que era oferecer-se assim todo ensanguentado e todo coberto de Chagas, e exalar a Alma com todo o Sangue, continua-o Ele todos os dias de maneira nova no Céu, onde vimos, por São Paulo, que Ele não cessa de se apresentar por nós, e na sua Igreja, onde todos os dias se torna presente sob esses caracteres de morte.
Povo redimido, congregai-vos, para celebrar as misericórdias de vosso Pai celeste por Jesus Cristo imolado por vós. Onde está o Corpo de Jesus, aí está o lugar da vossa assembleia: “Onde estiver esse corpo, aí devem acorrer as águias”.1 E que faremos nós aí? Que fez Jesus? Tomou pão; benzeu; deu graças em cima; fez santas preces; tomou uma taça: fez o mesmo em cima. O Sacerdote faz como Ele; come-se, bebe-se esse Corpo e esse Sangue, diz-se o hino, sai-se.
Sejamos atentos; sigamos o Sacerdote que age em nosso nome, que fala por nós; lembremo-nos do costume antigo de oferecer a matéria desse Sacrifício celeste. A cerimônia mudou, o espírito dela permanece; nós todos oferecemos com o Sacerdote; consentimos em tudo o que ele faz e em tudo o que diz. E que diz ele? Rogai irmãos, que o meu sacrifício e o vosso sejam agradáveis ao Senhor nosso Deus. E que respondeis? Que o Senhor o receba das vossas mãos. Que? O nosso sacrifício e o vosso. E que diz ainda o Padre? Lembrai-Vos dos vossos servos, por quem Vos oferecemos. E é só? Ele acrescenta: ou que Vos oferecem este Sacrifício. Ofereçamos, pois, também com ele; ofereçamos Jesus Cristo, ofereçamo-nos a nós mesmos com toda a sua Igreja Católica, espalhada por toda a terra.
O Padre benze, dá graças sobre aquele pão e sobre aquele vinho, que vai ser convertido no Corpo e no Sangue; ora por toda a Igreja: benzei, dai graças, orai. Chega-se a essa especial bênção, pela qual se consagram esse Corpo e esse Sangue; escutai, crede, consenti. Oferecei com o Sacerdote; dizei Amém sobre a sua invocação, sobre a sua oração. Ei-Lo pois; Ele está presente, a palavra teve o seu efeito; eis Jesus tão presente como está no Céu, onde Ele aparece ainda por nós ante a face de Deus. Essa Consagração, essa santa cerimônia, esse culto cheio de Sangue, e todavia incruento, em que a morte está em toda parte, e onde todavia a Hóstia está viva, é o verdadeiro culto dos cristãos, sensível e espiritual, simples e augusto, humilde e magnífico ao mesmo tempo.
Como! Durante tão grande Mistério nenhum suspiro sobre os vossos pecados, nenhum sentimento de compunção! Assistis de corpo somente! Oh, como! Jesus só está aqui segundo o Corpo? Seu espírito não está também conosco? E que quer então dizer o Sacerdote, quando nos saúda, dizendo: dominus vobiscum: O Senhor seja convosco? E com vosso espírito, respondeis vós. É portanto, ao espírito do Sacerdote, ao espírito do Sacrifício, que vos deveis unir; e o vosso corpo está ali como morto, sem espírito, sem fé! Como então, não sentis nada? Não pensais em que aquelas espécies sagradas são o invólucro onde está encerrado o Corpo do vosso Salvador, e como que o lençol mortuário de que Ele está coberto? Assistis ao túmulo, onde está vosso Pai que morreu perfurado de Chagas para vos salvar; e ficais insensível? Despertais àquelas palavras; mas pensais bastante que esse Jesus aqui presente não vos quer ver com o menor ressentimento de vosso irmão contra vós? Os vossos outros desregramentos não lhe causam menos horror. Ide, hipócritas, que só me honrais com os lábios, e cujo coração está longe de mim: retirai-vos. Não, voltai: reanimai-vos, tornai a entrar em vós mesmos; dai, ao menos, um suspiro ao deplorável estado de vossa alma. Dizei: Confessarei a Deus o meu pecado, e Vós m’o perdoareis. Sim; podereis confessá-lo com tanta compunção e de tão bom coração, que Ele vos será perdoado incontinenti.
______________________
Fonte: Jacques-Bénigne Bossuet, Bispo de Meaux, “Meditações sobre o Evangelho” – Opúsculo “A Eucaristia”, Cap. XVI, pp. 80-83. Coleção Boa Imprensa, Livraria Boa Imprensa, Rio de Janeiro/RJ, 1942.
1. Mat. XXIV, 28.
Nenhum comentário:
Postar um comentário