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"Uma vez que, como todos os fiéis, são encarregados por Deus do apostolado em virtude do Batismo e da Confirmação, os leigos têm a OBRIGAÇÃO e o DIREITO, individualmente ou agrupados em associações, de trabalhar para que a mensagem divina da salvação seja conhecida e recebida por todos os homens e por toda a terra; esta obrigação é ainda mais presente se levarmos em conta que é somente através deles que os homens podem ouvir o Evangelho e conhecer a Cristo. Nas comunidades eclesiais, a ação deles é tão necessária que, sem ela, o apostolado dos pastores não pode, o mais das vezes, obter seu pleno efeito" (S.S. o Papa Pio XII, Discurso de 20 de fevereiro de 1946: citado por João Paulo II, CL 9; cfr. Catecismo da Igreja Católica, n. 900).

terça-feira, 16 de novembro de 2021

Não se Julgue o Homem Digno de Consolação, mas antes, de Castigo.


1. Alma Fiel.1 Senhor, não sou digno que me consoleis nem que me visiteis espiritualmente; e, por isso, quando me deixais pobre e desamparado, me tratais com justiça.

Ainda que minhas lágrimas corressem abundantes como as águas do mar, não seria digno de vossa consolação.

Só mereço castigos e punições, porque Vos ofendi muitas vezes e gravemente pequei de mil maneiras.

Assim, bem pesadas todas as coisas, sou indigno da menor das vossas consolações.

Mas Vós, Deus clemente e misericordioso, que não quereis que pereçam as vossas obras para manifestar as riquezas da vossa bondade nos vasos de misericórdia, Vos dignais dar ao vosso servo consolações superiores a toda consolação humana e para além de todo seu merecimento.

Não são as vossas consolações como as vãs consolações dos homens.

2. Que fiz eu, Senhor, para merecer alguma consolação do Céu?

Não me lembro de haver feito, bem algum; fui sempre inclinado ao vício e negligente em corrigir-me.

Esta é a verdade e não a posso negar. Se dissesse o contrário, Vós, Vos levantaríeis contra mim e não haveria quem me defendesse.

Pelos meus pecados, que mereci senão o Inferno e o fogo eterno?

Com sinceridade confesso que sou digno de todo escárnio e desprezo e nem mereço ser contado entre os vossos servos.

E ainda que me seja penoso ouvir isto, darei testemunho pela verdade contra mim e acusarei os meus pecados, a fim de que, mais facilmente mereça alcançar a vossa misericórdia.

3. Que direi, cheio de culpas e de confusão? Só esta palavra me vem aos lábios: Pequei, Senhor, pequei, tende piedade de mim e perdoai-me.

Concedei-me ainda algum tempo “para que desafogue a minha dor antes que vá para a região tenebrosa e coberta das sombras da morte”.2

Que mais exigis de um pecador, criminoso e miserável, senão que se arrependa e se humilhe por seus pecados?

O verdadeiro arrependimento e a humildade de coração fazem nascer a esperança do perdão, tranquilizam a consciência perturbada, reparam a graça perdida, preservam o homem da ira futura e reúnem, no ósculo santo, Deus e a alma penitente.

4. Esta dor humilde dos pecados é, Senhor, um sacrifício agradável aos vossos olhos e de muito mais suave odor que o aroma do incenso.

É ainda o bálsamo precioso que quisestes que fosse derramado sobre os vossos sagrados pés, porque “um coração contrito e humilhado nunca desprezastes”.3

É ele o lugar de refúgio contra o furor do Inimigo; nele é que se emendam e purificam todas as manchas contraídas antes.

1ª Reflexão4

Um dia no litoral de Genesaré, quando acabava de falar às multidões de cima de uma barca, disse Jesus Cristo a Simão Pedro:

Toma ao largo e lança as redes para pescar. E Simão respondeu-Lhe: Mestre, trabalhamos toda a noite e nada pescamos; em obediência, porém, à vossa palavra, lançarei as redes. E tendo feito isso, pescaram tantos peixes, que as redes se rompiam com o peso. Fizeram sinal aos companheiros que estavam noutra barca, para que viessem e os ajudassem. Vieram, com efeito, e encheram ambas as barcas, de tal modo que elas ameaçavam ir ao fundo. Vendo isto, Simão Pedro lançou-se aos pés de Jesus Cristo, dizendo: afastai-Vos de mim, Senhor, porque sou um homem pecador”.5

Cansados das lutas da vida, também nós, como os pescadores de Genesaré, a cada passo nos sentimos tristes por não vermos os frutos dos nossos trabalhos. Mas de onde é que nasce o nosso desalento? Da má direção do nosso trabalho: move-nos mais a vaidade do que a caridade, trabalhamos segundo os nossos caprichos e não segundo a vontade de Deus; contamos demasiado com as nossas forças e não procuramos a graça divina. Apesar disso a misericórdia de Deus não nos abandona, vem visitar-nos no cárcere de nosso desterro para nos inspirar alento. Felizes de nós se então soubermos receber a sua visita, como Simão Pedro, com uma perfeita contrição dos nossos pecados!

A miséria de um pecador mede-se pela gravidade de seus crimes: o maior criminoso é o maior miserável. Quando a graça divina ilumina a consciência do pecador e lhe desperta o remorso, é então chegado para ele o momento feliz de cair arrependido aos pés de Jesus Cristo e confessar os seus pecados. É insondável o abismo em que se afundou, e ao volver os olhos para as suas iniquidades encontra mil razões para exclamar: Senhor, afastai-Vos de mim, porque eu sou, não só pecador, mas grande pecador.

Entretanto, se abrir o seu coração à graça que o chama, sentir-se-á movido a confiar no Senhor, que está sempre pronto para receber os arrependidos: “vós, Senhor, não desprezais um coração contrito e humilhado”.6 A contrição purifica dos pecados; a humilhação cura a soberba e dos grandes pecadores faz grandes penitentes.

Trabalha, pois, em juntar a contrição com a humilhação. As consolações são dádivas da misericórdia divina, e não prêmios devidos aos teus merecimentos.

2ª Reflexão7

Buscam alguns com grande ardor as consolações celestiais, e caem no abatimento desde que elas lhes são retiradas. Porém, estas graças que Deus concede ou como recompensa às almas abrasadas do amor divino, ou como estímulo às almas fracas, para ajudá-las a suportar o trabalho da penitência, não nos são devidas de modo algum; e sempre é necessário “levar em nós a mortificação de Jesus, para que a vida de Jesus se manifeste em nós”.8

Onde estaria a expiação, onde o mérito, se não tivéssemos nada que sofrer, ou se nossos sofrimentos fossem sempre acompanhados da unção divina que os tempera, e algumas vezes os torna mais doces do que nenhuma alegria do mundo? De nós mesmos, pecadores miseráveis, não temos direito senão ao suplício, e quereríamos gozar na terra da felicidade do Céu? Bendigamos antes a misericórdia divina, que às penas da eternidade substitui as provas do tempo: bendigamos a deus que não se lembra, durante nossa peregrinação na terra, do que devemos à Sua justiça, senão para o pôr logo em esquecimento para sempre; e digamos-Lhe do fundo de nosso coração contrito, porém, cheio de reconhecimento e amor: “Lavai-me cada vez mais de minha iniquidade, Senhor, e purificai-me do meu pecado; porque bem conheço a minha maldade, e o meu pecado está sempre diante de mim”.9

3ª Reflexão10

Para bem orarmos, é necessário reconhecermos que somos pobres, e humilharmo-nos profundamente: e como vemos que um atirador de balista, quando quer disparar um grande dardo, quanto mais alto quer atirar, tanto mais puxa a corda do arco para baixo, assim devemos fazer, quando queremos que nossa oração chegue ao Céu: necessário é que nos afundemos muito pelo conhecimento de nosso nada.

Davi nos admoesta a fazê-lo por estas palavras: Quando quiserdes fazer oração, diz ele, afunda-te no abismo de teu nada, de modo que possas depois sem dificuldades disparar tua oração, como uma flecha até os Céus.

E não vemos nós que os grandes príncipes, quando querem fazer subir uma fonte ao lugar mais alto de seu castelo, vão tomar a fonte da água em algum lugar muito alto, depois a conduzem por tubos, fazendo-a descer tanto quanto querem que ela suba, pois de outra forma a água nunca subiria; e se lhes perguntais como a fizeram subir, responder-vos-ão, que foi fazendo-a descer.

Outro tanto acontece com a oração; pois se alguém perguntar como pode ela subir ao Céu, deve-se responder, que lá sobe, pela descida da humildade.11


____________________

1.  Imitação de Cristo, Livro III, Cap. LII, pp. 185-187. Tradução do Pe. Leonel Franca, S.J., 4ª Edição, Livraria José Olympio editora, Rio de Janeiro/São Paulo, 1948.

2.  Job X, 20-21.

3.  Ps. LI, 19.

4.  Imitação de Cristo, Livro III, Cap. LII, pp. 277-279. Novíssima Edição, por Mons. Manuel Marinho, Editora Viúva de José Frutuoso da Fonseca, Porto, 1925.

5.  Luc. V, 4.8.

6.  Ps. L, 19.

7.  Imitação de Cristo, Presbítero J. I. Roquette, Livro III, Cap. LII, pp. 358-359. Editora Aillaud & Cia., Paris/Lisboa.

8.  II Cor. IV, 11.

9.  Ps. L, 4-5.

10.  Imitação de Cristo, versão portuguesa por um Padre da Missão, Livro III, Cap. LII, p. 294. Imprenta Desclée, Lefebvre y Cia., Tornai/Bélgica, 1904.

11.  São Francisco de Sales, Sermão de oração IV.


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